O papel da mulher na definição da descendência dos patriarcas de Israel*

Por Marcelo Cunha**

O presente ensaio se destina a extrair mensagem teológica na história dos patriarcas do povo de Deus. O foco será dado às mulheres dos patriarcas, na segunda parte do Gênesis, capítulos 12 a 50, excetuando a esposa de José do Egito, Assenet (cf. Gn 41,45), pois para esta a Escritura não nos revela um papel quando da adoção dos filhos de José (Manassés e Efraim) por Jacó (cf. Gn. 48,17-20).

 

A filialidade nos patriarcas

Deus revela a dignidade e a autoridade moral da mulher no momento-chave da realização de parte da Promessa que diz respeito à descendência, e a outra parte da Promessa (sobre a posse da Terra Prometida) não será objeto deste ensaio. Então, a pergunta-chave é como acontece a filialidade dos patriarcas.

Especificamente, é Abraão ou Sara quem define o “filho da promessa”? É Isaac ou Rebeca quem define o “filho abençoado”? No caso de José do Egito, que é o filho amado da mulher amada, é ainda mais estranho, pois serão os filhos de José (Manassés e Efraim) adotados por Jacó e este reconhece em Efraim o maior de todos (cf. Gn 48,19).

Sara, por angústia de ser estéril (cf. Gn 16,1-4) encaminha Abraão para sua serva, Agar. Entretanto, contrariando o costume da época[1] Sara manda Abraão expulsar Agar e Ismael. Abraão o faz, mas não sem expressar sua contrariedade (cf. Gn 21,8). Notadamente, é Sara e não Abraão quem define o “filho da promessa”.

No caso de Rebeca, ela recebe, ainda na gestação, a revelação de que, entre os gêmeos, “o mais velho servirá ao mais novo” (Gn 25,23). Portanto, contra a preferência de Isaac (cf. 25,28) por Esaú, Rebeca corre o risco de receber maldições (cf. Gn 27,13) e conduz para que Jacó receba a benção de Isaac no lugar de Esaú.

No último caso, de José do Egito, a quantidade de filhos (e filhos do filho – no caso de José) e a ausência de matriarcas, não nos permite inferir a dignidade ou não da mulher. Entretanto, cabe ressaltar que Jacó se casa com Lia, garantindo sua dignidade perante os parentes, somente para cumprir o costume de que a mais velha também seja contemplada no casamento da mais nova (Raquel, que Jacó amava).

 

Conclusão

Portanto, em tempos de igualdade de gênero podemos ver que há muito o projeto de Deus nos revela que o homem necessita da mulher em seus momentos de indecisão, em seus momentos-chave.

Sara é portadora da fraqueza e da força; Rebeca recebe, ela mesma, a revelação; Lia e Raquel (e suas servas) garantem a descendência para as doze tribos de Israel.

 

* Elaborado para o curso de Teologia, disciplina Pentateuco (professora Leila Ribeiro), em outubro de 2014.
** Membro da equipe de liturgia da comunidade São José da Paróquia São Sebastião, Gama-DF e colabora na coordenação das pequenas comunidades da mesma Paróquia. Facebook: <https://www.facebook.com/marcelocunha.gama>; e-mail: <marcelocunha.gama@gmail.com>; WhatsApp: 61 – 9.8173-9513.
[1] “… as leis de Nuzi protegiam a escrava e os seus filhos diante de possíveis ciúmes da esposa.” (FERNÁNDEZ, Florentino Díez. “Os patriarcas e a arqueologia”. In LÓPEZ, Félix Garcia. O Pentateuco. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 35).