Leituras: Jr 20,7-9; Sl 63(62); Rm 12,1-2; Mt 16,21-27
POESIA
CRISTO NOS ENSINA A DOAÇÃO
Sigamos o Cristo da doação,
Tendo como sinal a sua cruz,
Que olha para nosso sofrimento,
Sendo força de paz que nos conduz,
Ensinando-nos os frutos do amor,
Que pelo seu chamado nos seduz.
Ofereçamos nosso culto espiritual,
Num sacrifício vivo e agradável,
Elevando ao altíssimo a nossa alma,
Numa atitude santa e louvável,
Entregando-nos de todo o coração,
Aos braços de nosso Deus amável.
Que a tentação da fuga da missão,
Não venha a nos incomodar,
Que abracemos a vida por inteiro,
Mesmo que venhamos a tropeçar,
E aceitemos a vida de Nosso Senhor,
E nas glórias e fadigas a perseverar.
Despeçamo-nos da velha criatura,
Para a nova criatura resplandecer,
Retomemos a viva imagem de Deus,
Que para o mundo quer aparecer,
Para vencer as ilusões e fantasias,
E abraçar o caminho que faz viver.
Deixemo-nos seduzir por Deus amado,
Que dá sentido ao nosso existir,
Que nos faz pedras de construção,
Da Igreja que faz seu povo reunir,
Ao redor da Palavra e da Eucaristia,
Comungando na alegria de existir.
HOMILIA
As chaves e os tijolos da construção espiritutal
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mt 16,24). Será que compreendemos essa máxima de Jesus, ao carregar um crucifixo em nosso peito? Refletindo de forma mais profunda esse versículo, somos capazes de aceitar essa condição humana do sofrimento como consequência da nossa resposta a Cristo?
Quando Jesus começou a explicar para os seus discípulos que as consequências da sua missão seriam também o sofrimento, a cruz e a morte, Pedro não aceitou e o repreendeu. Ele que, pouco tempo antes (domingo passado), tinha sido elogiado por Jesus por ter dado uma resposta vinda de Deus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16,16), agora decepciona seu mestre por pensar como o demônio: “Deus não permita tal coisa, Senhor!” (Mt 16,22).
A resposta anterior de Pedro estava fundamentada ainda na compreensão de um Deus apenas triunfante, onde o sofrimento e a derrota não faziam parte. Nesse sentido talvez também pensassem os outros discípulos. O pensamento de afastar o sofrimento e a cruz do caminho da redenção é considerado diabólico. A vida não é feita só de glórias e a de Cristo também não foi. A nossa caminhada, quando é feita de compromissos e respostas a Deus, trará também, naturalmente, como consequência o sofrimento. Por isso Jesus chama a atenção de Pedro: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço…” (Mt 16,21).
Pedro, que antes foi denominado de pedra de construção da Igreja, por uma resposta de acordo com a vontade de Deus, agora é denominado um tropeço. Isso porque a sua resposta desta vez não foi de acordo com o querer de Deus mas com o pensamento totalmente humano. O caminhar com Jesus é diferente do caminhar com os projetos ilusórios do mundo. Tirar a cruz do itinerário da vida cristã é como mergulhar num mar de alienação e de ilusões. Seria um cristianismo desvirtuado do caminho anunciado por Jesus.
Faz-se necessário deixar-se seduzir por Deus, como nos falou o profeta Jeremias: “Seduziste-me Senhor, e deixei-me seduzir…” (Jr 20,7). Quando nós deixamos nos seduzir por Deus, conseguimos entender o sentido da nossa caminhada com o Senhor. Entendemos que a vida é feita de tristezas e alegrias, de derrotas e vitórias. A vida em Cristo nasce da nossa resposta consciente de caminhar com ele em todas as dimensões humanas rumo a glorificação.
Faz necessário oferecer a nossa vida em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, um culto espiritual, como nos falou São Paulo (cf. Rm 12,1). Neste sentido, o discípulo viverá livre das tentações que querem o desviar do caminho da vida. Olhando para Pedro, podemos ver que o nosso caminhar com Cristo ainda é parecido com o dele (uma expectativa triunfalista). Às vezes também queremos somente um Cristo glorioso, longe do sofrimento e da dor. E não sendo possível, poderá haver decepção ou distorção do Evangelho.
Com o tempo os discípulos foram aprendendo que viver com Cristo é viver as duas realidades que fizeram parte de seu ministério salvífico. É preciso que na caminhada de anúncio do Reino possamos renunciar ao homem velho o qual é carregado de interesses humanos e inspirado nas concepções de glórias do mundo. O mundo dos homens não quer aceitar um Deus que foi derrotado na cruz. Quer um Deus totalmente triunfante longe das misérias e das dores humanas.
Caminhar com o Senhor é busca-lo numa entrega em nossa oração e no nosso culto agradável, de toda alma e de todo o coração, como a terra que precisa da água da vida. Rezemos com o salmo 63(62): “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água!” Amém.