XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Nm 11,25-29; Sl 18(19); Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48

 

POESIA

MÃOS, PÉS E OLHOS PARA O SENHOR

Dai-me Senhor,
Mãos que abençoam e que promovem a paz,
Mãos que escrevem uma história de amor capaz,
Que seguram firme para não romper o cordão da ciranda,
E que sejam para Ti força para que o Reino se expanda.

Livra-me Senhor das mãos da violência,
Que provocam escândalo e tantas carências…
Corta-me as atitudes que destroem a fraternidade
E que promovem a morte e a desigualdade.

Dai-me Senhor,
Pés que caminham para missão
Que vão em busca do encontro com o irmão;
Livra-nos das veredas do mau caminho
E da tentação de querer caminhar sozinho.

Abençoa os caminheiros da perseverança,
Pelas estradas da existência que às vezes cansa,
Pés que pisam o chão da comunidade em união
Que dançam na festa da paz e da comunhão.

Enfim, ensina-nos a enxergar um mundo novo,
Com o teu olhar na vida do povo,
Contemplando as tristezas e alegrias,
Mas esperando o teu Reino como o novo dia.

 

HOMILIA

Jesus nos ensina a não escandalizar os pequeninos

Queridos irmãos e irmãs, este último domingo de setembro a Igreja dedica à Bíblia Sagrada. Todos são convidados a viver o amor à Palavra que é o próprio Cristo que se encarnou e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14). A Bíblia é o livro ou coleção de livros mais publicada e lida do mundo e por isso temos que aceitar que o seu conteúdo vai além dos nossos templos, casas, capelas e grupos.

No Evangelho desta liturgia podemos constatar mais um ato vergonho dos discípulos diante de Jesus: eles espalham, equivocadamente, que alguém estava expulsando demônios em seu nome e por isso até querem impedir a ação dessa pessoa (cf. v. 38). A intervenção de Jesus é imediata, advertindo que fazer o bem não é um privilégio do grupo dele, mas também de outros, que, ao fazê-lo, também se incluem ao lado de Jesus (cf. v. 40). É o que vemos também na primeira leitura, quando Moisés quer partilhar o seu dom de profetizar com os setenta anciãos. Josué discípulo de Moisés cai também no mesmo erro de querer proibir Eldad e Medad de profetizar por não fazerem parte dos setenta (cf. v. 28). Mas Moisés, numa atitude de sábio e profeta de Deus, fala: “quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor e lhe concedesse o seu Espírito” (cf. v. 29).

O Evangelho de Marcos traz em seguida outros pontos que merecem ser refletidos com profundidade como o escandalizar os pequeninos que crêem. A esses é melhor se afogar no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. v. 42): os pobres, os doentes, os órfãos, os imigrantes, os sem-lar são pequeninos que, muitas vezes, são escandalizados pela sociedade do acúmulo e do poder. Infelizmente, muitas vezes são os cristãos que também promovem tais escândalos.

Outra preocupação de Jesus é o cuidado com o uso do nosso corpo físico (tais como mãos, pés, olhos, língua, etc), pois o mau uso pode levar-nos ao inferno. Ou seja, é preciso cortar as atitudes más que brotam do nosso corpo físico pois estas devem estar a serviço da fraternidade. Servem para escrever uma nova história, para levantar os que estão no chão, oferecer a caridade e não para roubar o salário dos pobres ou para matar o outro. É o que São Tiago nos alerta na segunda leitura: “O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (v. 4).

Quanto ao “pé”, temos de cortar as atitudes que nos levam ao caminho errado, o caminho do mal. Precisamos usá-los para levar a Palavra, semear o amor e fazer com que Cristo seja conhecido e amado. O mundo precisa de tantos caminheiros do bem que visitem os pobres, os doentes e todos os sofredores marcados pela exclusão social. Como missionários, somos chamados a vestir os pequeninos da dignidade de filhos de Deus.

Os nossos “olhos” também podem nos levar à perdição quando olhamos para o outro com inveja, com más intenções, com atitudes de julgamento e de desprezo. Devemos perceber a necessidade que o outro tem da nossa atenção e, desta forma, enxergar as coisas boas do Reino de Deus ou a outras pessoas que não estão no nosso grupo e que fazem o bem, mostrando a face de Cristo pela sua caridade.

O grande ensinamento da liturgia deste domingo é que para ser discípulos do Senhor precisamos mudar a nossa maneira de agir e de pensar diante do mundo.

Convido agora a refletirmos a caminhada que o evangelista Marcos fez conosco durante o mês de setembro:

02/09/18 (XXII Dom.): “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15). Do nosso coração sai o amor, o olhar verdadeiro sobre a vida, expressa no carinho, no caminho com os irmãos da nossa comunidade, do nosso grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossa mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

09/09/18 (XXIII Dom.): “Aos seus pés trazem um surdo e mudo para ser curado, era alguém que não podia ouvir, e para falar tinha dificuldades” (Mc, 7,32). Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

16/09/18 (XXIV Dom.): “quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29); “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga…” (Mc 8,34). O primeiro requisito para ser cristão é saber quem é Jesus. Este saber quem é Ele exige o conhecimento do seu projeto, do seu plano de amor, da postura diante do mundo e suas realidades adversas e, sobretudo, a coragem de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do próprio martírio.

23/09/18 (XXV Dom.): “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todo” (Mc 9,37). Seguir Jesus é ter consciência dos sofrimentos, é comprometer-se com o outro, é um estar com Ele na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança);

E neste último domingo de setembro aprendemos muito sobre o ser discípulo de Jesus, que precisa primeiramente está aberto aos outros que querem também servir e amar. A caridade não uma propriedade única dos cristãos, outros fazem a experiência do amor aos irmãos e até mesmo da missão.

Peçamos ao Espírito Santo o dom de amar e de viver a comunhão em Cristo querendo ser discípulo seu, “vivendo como ele viveu, amando como ele amou e pensando como Ele pensou”[1].

 

[1] (Pe. Zezinho).

 

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