Leituras: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7; Sl 80(79); 1Cor 1,3-9; Mt 13,33-37
POESIA
COMO PORTEIROS DO SENHOR
Nas noites e madrugadas do nosso existir,
Esperemos o Senhor que quer chegar,
Para encontrar-nos sempre vigilantes,
Sem medo de se decepcionar,
E como o porteiro, sempre atento,
A cada passo e a cada momento,
Deixemos a promessa se realizar.
Também nos dias de chuva e de sol,
Faz-se necessário também vigiar,
Porque não sabemos qual o momento,
Em que Senhor vai nos chamar,
Porque nossa vida é de atenção,
Pela escuta e pela oração,
Nesta dinâmica do esperar.
Do sono da vã indiferença,
Busquemos sempre despertar,
Acordando para a vida verdadeira,
Que precisa sempre desabrochar,
E o otimismo em nossa existência,
Que não pode ser vítima da demência,
Que muitas vezes quer nos sufocar.
Que o culto seja o momento,
Da Palavra que vem nos sacudir,
Para não vivermos na ignorância,
Mas como despertos possamos seguir,
Reunindo com os nossos irmãos,
E na Paz vivemos a comunhão,
Eucaristia sempre a nos nutrir.
E como porteiros eficientes,
Que não cochilam na portaria,
Fiquemos atentos a quem quer entrar,
Seja na noite, seja no dia,
Porque nossa vida é esta morada,
Desta palavra que é encarnada,
Cristo, o amor, a nossa alegria.
HOMILIA
Esperemos alegres e vigilantes o Senhor que vem!
Iniciamos um novo ano no tempo da Igreja, na caminhada de filhos e filhas de Deus. Tempo em que somos chamados a viver a espera alegre do Senhor que se encarnará no nosso meio e nos abrirá as portas para a nossa salvação.
A cada ano que passa, seja litúrgico ou civil, quando chega ao seu final, é uma volta completa que damos na estrada cíclica da nossa vida. Precisamos nos perguntar: quantas voltas já fomos capazes de realizar na nossa existência? Quantas voltas Deus nos permitirá? Como fiz estes percursos? E como pretendo fazer os próximos caminhos?
O Advento é o tempo propício para nos perguntar sobre a nossa vida, nesta caminhada de encontros e desencontros, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas. Tempo de vigiar. Vigiar numa atitude meditativa onde o encontro com o Senhor pela sua Palavra e pelo seu corpo e sangue, nos faça continuarmos caminhando e crescendo na experiência de discípulos missionários que esperam a volta do Senhor.
Cada celebração é oportunidade de aprofundarmos nossa intimidade com o Senhor através da virtude da esperança. Somos marcados pela experiência da espera em Cristo, vivemos sempre expectativas de dias, meses e anos melhores onde possa haver em nossos ambientes mais condições para prosperidade, paz e fraternidade.
O evangelho de Marcos nos leva a refletirmos sobre a vigilância. Vigiar é estar em comunhão com o Senhor numa atitude de escuta da sua palavra viva que orienta e fortalece a nossa vida. “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã.” (Mc 13,35).
Neste versículo do evangelho de Marcos, Jesus nos alerta para que vigiemos durante o dia e a noite. Porém, prevalece momentos do período da noite, tais como a meia-noite, de madrugada e ao amanhecer. Isso significa que devemos vigiar a todos os momentos da nossa vida. Momentos em que estamos sobre a luz do dia e momentos em que caminhamos pelas trevas da noite.
Lembrando daqueles que são porteiros ou vigilantes nos condomínios, nos bancos e nos prédios de nossas cidades, podemos refletir sobre a importância da vigilância. É preciso que estejamos atentos para que o ladrão não roube o lugar pelo qual estamos responsáveis. Neste sentido o Evangelho também nos faz refletir sobre o estar desperto. É preciso está bem acordado para não vacilar e não ser enganado.
E nossa vida espiritual e psicológica, precisamos estar atentos para que no dia a dia de nossas atividades de desafios e sofrimentos não sejam roubadas a nossa alegria, nossa esperança, nossos sonhos. No emaranhado de ideologias e culturas do pessimismo, da desconfiança, da violência e do descréditos, devemos ficar atentos para não nos infectarmos destas realidades.
E como batizados, não deixemos que o sono do comodismo e da omissão nos impeça de seguir a Cristo na construção da comunhão, da paz e da fraternidade. Quando deixamos de lado nossa atenção ao Senhor e à sua Palavra corremos o risco de cairmos no sono espiritual e deixar nossa vigilância de lado. Neste momento as portas de nossa existência estarão abertas para que entre o mal, ladrão que rouba nossa esperança…
Devemos deixar que Deus nos molde à sua ação santificadora como fala o profeta Isaías (64,7) na primeira leitura: “Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos.” Vigiar é muitas vezes entender que, em diversos momentos da nossa vida, é o Senhor quem age, quem nos transforma e nos ensina por onde devemos seguir. “É ele também que vos fortalecerá até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Cor 1,8).
Quando perdemos a atitude de vigília ficamos perdidos e caímos nas confusões da vida. Por isso a importância da oração pessoal, comunitária e a nossa missão na comunidade onde estamos inseridos. Caminhar vigilante, como o porteiro que fica atento a todos que passam pela porta. Vigiar sem cair no sono espiritual é o que nos pede o tempo do Advento.
Portanto esta vigilância e esta espera não deve ser carregada de temor, mas de alegria, porque já temos a posse e a certeza de que o Senhor já está conosco pela sua Palavra, pelo seu corpo, pelos sacramentos e no nosso irmão.
O que nos cabe é fazer nossa parte: deixar que ele venha e possa nascer em nossa vida e trazer a salvação. O Advento é o momento de revermos como está a nossa espera, a qual deve ser constante durante todo o ano litúrgico. Amém.