VIGÍLIA PASCAL DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  Gn 1,1-2,2; Sl 103; Ez 36,16-17a.18-28; Sl 50; Ex 15; Rm 6,3-11; Mc 16,1-7

POESIA

A PÁSCOA DE CRISTO EM NÓS

Acompanhados da Luz do vivente,
Caminhamos como amigos e irmãos,
Vencendo as trevas e iluminados,
Fortes, vencendo a escuridão,
Seguindo-o vamos em frente,
Na procissão como povo crente,
Em busca do altar da comunhão.

Pela companhia da Palavra Santa,
Vamos ouvindo o novo mandamento,
Aprendendo e caminhando com o Senhor,
Vivendo a salvação como ensinamento,
Não como algo que ficou no passado,
Que aconteceu e ficou desprezado,
Mas no hoje de nossa vida fundamento.

Banhados pela água batismal,
Renovando o compromisso que se selou,
Sigamos a mesma fé professando,
Vivendo a nossa Páscoa que chegou,
A cantar o cântico dos renascidos
Como discípulos fiéis e redimidos,
Com o Jesus que conosco ressuscitou.

Encontro da mesa e do vinho novo,
Comungamos do corpo do ressuscitado,
Que nos convida e nos oferece a alegria,
Vem trazer a paz aos desanimados,
Na fraternidade sempre a seguir,
Com coragem e sem desistir,
No mundo novo que agora é recriado.

 

HOMILIA

Cristo é a Luz da nova Criação

 

A celebração da Vigília Pascal faz memória da história da Salvação desde a Criação do mundo e do homem até a nova Criação. A nova aliança que se dá na última ceia e se concretiza na ressurreição do Senhor.

É uma liturgia repleta de rituais com uma simbologia muito profunda e que nos insere no mistério da vida nova em Cristo. Ele vem como luz da nova criação. Nele somos banhados pelo batismo para fazermos parte do novo povo de Deus como sacerdote, profeta e rei, na dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para mergulharmos profundamente no sentido desta liturgia iremos vivenciar quatro momentos bem definidos. Primeiro adentramos na liturgia da luz, que é a celebração da Páscoa cósmica, marcando pela a passagem das trevas para luz. O círio aceso na fogueira, em frente ou ao lado da igreja, é a luz do ressuscitado que irá se espalhando por todo o espaço da assembleia, através das nossas velas, as quais nos lembra o dia de nosso batismo, o dia do nosso novo nascimento.

No segundo momento, na liturgia da palavra, revivemos pelas leituras bíblicas, a Páscoa histórica, enfatizada nos principais momentos da história da salvação. A Páscoa do povo Judeu e a páscoa da nova aliança, quando seremos um povo renovado pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Em terceiro lugar viveremos a liturgia batismal que celebra a Páscoa da Igreja, povo de Deus nascido da Fonte do Batismo. Neste momento a Igreja batiza e o povo renova seu compromisso batismal de discípulos e discípulas de Cristo.

Por último a liturgia Eucarística que celebra a Páscoa perene e futura quando seremos julgados definitivamente por Cristo, no final dos tempos. A Páscoa de todos os dias quando vamos à Missa e mergulhamos no mistério do banquete do Cordeiro que se oferece como alimento para a festa da vida e da esperança.

Portanto, os símbolos da Luz, da água, do Pão e do Vinho, acompanham toda a nossa vida de filhos e filhas de Deus em Cristo. A cada momento de nossa vida temos esses elementos vitais e sensíveis em nossa caminhada. Em cada celebração renovamos nosso compromisso de caminhar com o Senhor esperando a sua vinda gloriosa.

No Evangelho desta liturgia, ouvimos o testemunho das mulheres, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, com também de Salomé que vão ao túmulo vazio. A força da vida nova rompeu a pedra que queria impedir a vida. Como grão que arrebenta a terra para nascer, Cristo cm sua força salvífica arrebentou as barreiras da escuridão e da tristeza. Como nos fala São Paulo na carta aos Romanos, Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem pode sobre ele. (cf. 8,6).

As mulheres ainda iam ver o cadáver, o Cristo entre os mortos. Queriam ungir o corpo corruptível, mas ele já se tinha transformado para sempre em um corpo novo e cheio de vida. Nós também, muitas vezes, queremos cultuar um Cristo morto por não querer acreditar que ele nos trará vida nova. Queremos visitar os túmulos de nosso pessimismo, de nossas dúvidas e de nossa falta de esperança. No batismo somos novas criaturas e sinais de Cristo, luz do mundo.

A Páscoa não é um acontecimento do Passado, Crer em Cristo ressuscitado é portanto, acreditar nele agora e para sempre. Não podemos perder esse foco da fé. Cristo é o coração do Mundo, como disse o teólogo K. Ranner (*1904+1984). Nele está a nossa esperança de uma existência nova, redimida e transformada já aqui na nossa caminhada terrena.

Ele está em nossas lágrimas, como força, e nas dores como consolo permanente e vitorioso sobre nossos sofrimentos. Ele está em nossos fracassos e impotências como força segura que nos defende. Ele nos visita em nossas depressões, acompanhando-nos nossa solidão e nas nossas tristezas; Ele age em nossos pecados, nos oferecendo a misericórdia e o seu perdão como possibilidade de um novo significado para a nossa vida cotidiana e comunitária no caminho da santidade.

A ressurreição não é somente um só dogma, mas um contato vital e concreto com Cristo. Não podemos viver e crer na Ressurreição como uma teoria. Nós ressuscitamos na vida em comunidade, na experiência da casa entre esposo e esposa, pais e filhos. Também nas relações fraternas que realizamos, seja na dimensão família, laboral ou comunitária.

A experiência no Ressuscitado significa acreditar que ele está vivo, aqui e agora entre nós. É acreditar que ele está com a gente na comunidade reunida, na catequese, na liturgia, no Terço dos Homens, nos Terços nas casas, quando saímos em missão, quando nos encontramos para a Missa e em muitos outros momentos que vivenciamos na nossa comunidade a união e a alegria do evangelho.

Jesus tem força para ressuscitar a nossa vida, renovar a nossa esperança. Não são os bens materiais que nos dão a vida nova, mas a paixão e o amor à vida, alimentada pela mística espiritual do encontro, da partilha e da busca de harmonia com o supremo Deus que nos coloca na dignidade de filhas e filhos muito amados.

Como a mulheres, testemunhas primeiras da ressurreição, saiamos pelo mundo para pregar a vida nova em Cristo como algo concreto em nossas vidas. Não considerando um acontecimento do passado, mas do presente que se faz a cada momento do nosso existir.

Cristo ressuscita em nós todas as vezes que nos sentimos renovados pela cura de nossos rancores, ressentimentos, prepotências e profundas angústias e tribulações. Disse o Senhor: “Tende Paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem eu venci o mundo” (João 16,33).

Que a experiência da ressurreição do Senhor nos faça também pessoas pascais, ou seja, marcadas pela vida nova no amor do Senhor e no compromisso com a Paz e a justiça do Reino de Deus. Busquemos vencer a morte que está nas tantas realidades humanas – nas guerras, nas injustiças e nas pobrezas materiais e espirituais.

O Senhor está conosco, em todos os dias de nossas vidas até o fim dos tempos (Mt 28,20b). Sigamos com a vida e a esperança na força do ressuscitado, na busca de um mundo novo. Façamos algo pelo Reino de Deus!