XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 145(146); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

EFATÁ

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.

Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvireis as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a fraternidade.

 

HOMILIA

Discípulos em escuta e missionário na fala

A liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum nos alerta para que nos curemos da nossa surdez e da nossa mudez na nossa experiência de discípulos missionários do Senhor. Discípulos que seguem a Cristo através da escuta da sua Palavra e proclamam o amor, encontrando em Deus a graça da cura porque o Senhor tocou os ouvidos e a língua para que anunciem ao mundo as maravilhas do Reino de Deus.

O Evangelho desta liturgia apresenta Jesus em território pagão, na região de Tiro e Sidônia, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado. Era alguém que não podia ouvir e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão e toca nos seus ouvidos e também na sua língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai abrindo a possibilidade do falar e do escutar para aquele homem que estava fora da comunidade e que foi trazido por seus amigos para ser curado, porque não era mais possível até então caminhar sozinho em busca de Jesus.

Esta ação de Jesus já era anunciada em Isaías quando fala ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5). Em Jesus se cumpre o que anunciou o profeta.

Na segunda leitura, São Tiago nos alerta para que, na nossa fé em Jesus Cristo não admitamos acepções de pessoas, porém fala que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus que exclui, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

A Palavra de Deus é a verdadeira referência para escutarmos a verdade. É pela escuta da Palavra nas celebrações, nos encontros, na leitura orante em comunidade e/ou individual que podemos ser curados da nossa surdez e da nossa mudez. É a palavra de Cristo que penetrando em nossos ouvidos leva-nos a entrar na comunidade. O isolamento nos tira da escuta, nos tira a vivacidade da comunicação com os irmãos. Por isso precisamos que alguém que já faça parte da comunidade nos encaminhe a Cristo.

É por amor e aceitação à Palavra que o próprio Cristo, Verbo encarnado, nos dá a capacidade para ouvir o clamor dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra. É pelo encontro com o Senhor, muitas vezes na escuta silenciosa, que somos motivados a abrirmos a nossa boca para proclamarmos a justiça, a caridade e vivermos a fraternidade no nosso caminho cristão em favor do mundo.

Façamos esse exercício do encontro com o Senhor, pela Eucaristia, pela leitura da Bíblia e escutando o Espírito Santo na voz da Igreja. É somente pela constante escuta do Senhor, à Palavra, que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida. Somente um proclamar insistente das maravilhas de Deus poderá transformar a nossa vida e a vida dos irmãos. É pela constante leitura da Sagrada Escritura e escuta da Igreja, o Corpo Místico de Cristo, que nos tornamos íntimos de Cristo e da sua proposta na vida nossa de cada dia.

A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, trazendo como consequência na escuta, na conversão e na fala a esperança na salvação, inserindo-nos na comunidade dos amigos de Cristo que constantemente aprende a ouvir os apelos de Deus em favor da humanidade, que em muitas situações precisa ser curada da surdez do individualismo que traz tanto sofrimento às pessoas. Amém.