XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Eclo 27,33-28,9; Sl 102(103); Rm 14,7-9; Mt 18, 21-35

POESIA

O PERDÃO TOTAL

Perdão de Deus sem se limitar,
Que na prática não quer se enumerar,
E quantos retornos é preciso fazer,
Quando as quedas vêm a acontecer.
Porque o importante é a conversão,
Que tira o filho da confusão,
Para o seu caminho de novo fazer.

Perdão de Deus que se dá no amor,
É o perdão que não guarda rancor,
Que se dá pela santa e forte acolhida,
Na misericórdia sempre vivida,
Na história ativa de um caminheiro,
Deus presente como um companheiro,
Que abraça no retorno que traz à vida.

Perdão de Deus que vem nos reconstruir,
Para que o caminho possa-se prosseguir,
Buscando na trilha de santidade,
Que se faz na vida de humildade,
Perdoando sempre e sempre perdoado,
Abraçando e também abraçado,
Para retomar a fraternidade.

Perdão de Deus que promove a paz,
Na busca do Reino que se refaz,
Quando a violência quer sufocar,
E o ser humano quer escravizar,
Impedindo a vida de comunhão,
Que se faz viva no vinho e no Pão,
E a comunidade a sustentar.

Perdão de Deus para a humanidade,
Que vence as guerras e atrocidades,
Lição divina para o mundo ver,
Para as nações a paz promover,
E as injustiças e opressões,
Sejam vencidas nos corações,
Para o Reino de Deus acontecer.

HOMILIA

Perdoar sem limites

“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?” (Mt 18, 21). Esta é a pergunta do discípulo que quer acertar na caminhada com Jesus. Porém, a pergunta de Pedro expressa ainda a limitação do quanto deve-se perdoar o irmão. A resposta de Jesus [“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22)], vem carregada de sentido, pois, o número sete, na Bíblia, quer dizer completude, perfeição. O perdão perfeito é o que deve ser dado sempre e que não tem limites. É nesta dinâmica que a comunidade dos irmãos em Cristo cresce e se aperfeiçoa na construção do Reino de Deus.

O que seria do mundo, se não houvesse o perdão entre os humanos? O que seria da comunidade cristã, se a vida de cada membro não tivesse o precioso sacramento da confissão? E se Deus colocasse limites, quando durante a nossa vida, fôssemos pedir a confissão ao sacerdote? O amor de Deus por nós é insuperável e infinito. Ele não leva em conta as nossas imperfeições e limitações.

A nossa vida entre os irmãos, no dia a dia, tem sempre falhas, erros, misérias e os mais diversos pecados. E a nossa convivência se mantêm porque toleramos essa condição de pessoas com equívocos e fraquezas perante o outro e com o outro. Por isso, perdoar sempre é a condição para fazermos crescer a fraternidade e a paz no mundo.

Deus é esse Pai (patrão) que, tendo compaixão de nós, perdoa as nossas dívidas impagáveis e nos liberta da escravidão do erro e da condenação, para prosseguirmos a vida (cf. Mt 18,27). Por isso, quando somos perdoados por Deus devemos também perdoar o irmão que pecou contra nós.

Ao sairmos do confessionário, não devemos fazer como aquele empregado da parábola de Jesus, que ao ser perdoado e libertado pelo seu patrão, foi incapaz de perdoar o seu irmão (cf. Mt 18,30). A sua insensibilidade o cegou e o encaminhou de volta a escravidão.

O perdão será sempre a atitude que vencerá a vingança, a violência e os ressentimentos contra o irmão. Neste sentido o livro do Eclesiástico nos dirá: “Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados” (Eclo 28,2).

Perdoar é permitir que o outro cresça na santidade e também a possibilidade de libertar-nos daquilo que nos angustia, nos escraviza e nos emperra na caminhada do nosso discipulado. A vida de santidade será sempre esse empenho em buscar o perdão do outro e de Deus, como também, praticar o perdão quanto for solicitado.

Esta é a exigência de Cristo para conosco. Somos dele e vivemos nele e para ele, como nos fala a carta de São Paulo aos Romanos: “… vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,9). Viver em Cristo e para Cristo, é colocar em prática a oração que ele nos ensinou: “Perdoai a nossas dívidas [ofensas], assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12).

Portanto, o perdão é que nos impulsiona a seguir na nossa experiência com a nossa família, no nosso grupo de Igreja, com os colegas de trabalho e na nossa resposta vocacional a qual nos dispomos a assumir. A vida de perdão não significa ser conivente com as injustiças e atrocidade, mas a possibilidade de reconstrução e ressignificação da vida do outro e também da nossa. Perdoar será sempre a atitude que poderá levar a conversão e a transformação de uma pessoa que quer recomeçar.

Peçamos as luzes e a força do Divino Espírito Santo, para que nos encha de sua sabedoria e da sua graça, para que aprendamos, de Deus Pai misericordioso, a vivência do perdão, por que ele “é bondoso, compassivo e carinhoso. Pois ele te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão” (Sl 102/103). Amém!