XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13; Mc 10,17-30

 

POESIA

COMO GANHAR A VIDA ETERNA?

Ansiando a vida eterna
Alguém a Jesus procurou,
Dos mandamentos sabia,
Mas isso não lhe bastou
Precisava algo mais:
Deixar bens materiais
Para seguir o Senhor.

Jesus logo respondeu
O que era preciso:
Viver o desprendimento
E não ficar indeciso.
Mas o homem desistiu,
E muito triste saiu,
Chorando e sem sorriso.

Vender todos os seus bens
Não estava nos seus planos.
Jesus foi muito exigente
Sem mostrar nem um engano.
Para ser seu seguidor,
Tem que lhe prestar amor
Sem desvio ao profano.

Com as palavras de Jesus
Os discípulos se espantaram,
Surgiram interrogações.
Muitas coisas questionaram,
Pra poder no céu entrar
Como então se preparar,
São poucos os que sobraram.

Pra Deus tudo é possível.
Jesus então respondeu,
Ter uma mudança de vida,
Ao jovem ele esclareceu.
Viver o desprendimento,
Ir além dos mandamentos,
Venceu o egoísmo seu.

Olhando esta narração
Que nos leva ao seguimento
Precisamos refletir
Sobre o desprendimento.
A Jesus o amor primeiro,
As coisas por derradeiro,
Sem apego e fingimento.

O nosso discipulado
É marcado pelo amor.
Tendo Jesus por primeiro,
Mesmo diante da dor.
Pois pra ter a salvação,
Temos que amar o irmão
Sem reserva e sem rancor.

Buscar a sabedoria
Que vem da fonte divina
Para ser um bom discípulo,
Como Jesus nos ensina.
Estar aos pés do Senhor
Para não perder o ardor,
Ter também a disciplina.

Também desprendimento
Dos métodos ultrapassados,
Fazem parte do roteiro
Do nosso discipulado,
A conversão pastoral
Sem desprezo ao social,
Atenção e amor doado.

Peçamos as luzes divinas
Supremas do Deus Trindade,
Para a nossa caminhada.
Que nos dê a santidade,
E que a nossa missão,
Nunca venha a ser em vão,
Mas, caminho à eternidade.

 

HOMILIA

Viver além dos preceitos

Irmãos e irmãs, caminhamos com Jesus neste 28º domingo do tempo comum, numa busca de aprofundar cada vez mais a natureza missionária e a vivência da caridade, que devem ser as marcas principais dos cristãos.

O Evangelho nos apresenta desta vez alguém que quer seguir Jesus. Numa atitude de reverência, ajoelha-se aos pés do Senhor e pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). Pelo texto podemos deduzir que esta pessoa já observava os mandamentos desde muito jovem e que queria algo mais que saber de forma decorada a lei de Deus.

Então Jesus lança o desafio: “Vai vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21). Jesus pede o desprendimento de tudo que amarra, do que é obstáculo, daquilo que desvia do Caminho. Pede também que partilhe com os que não têm nada. Depois destas condições poderá segui-lo. Com a exigência da renúncia aquela pessoa desiste, pois é demais para ela viver uma prática de partilha e de mudança radical de vida.

Seguir a Jesus exige uma reflexão constante sobre o desprendimento das coisas materiais, as quais muitas vezes são obstáculos fortes na vida. A primeira leitura nos faz refletir profundamente sobre esse assunto: “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). Jesus, nas conversas com os discípulos fará sua formação, usando o tema dos ricos e suas riquezas. E neste momento, eles se espantam a ponto de duvidarem que alguém possa ser salvo (cf. Mc 10,26).

Ouvindo seus discípulos e as dificuldades de entenderem sua exigência, Jesus os conforta, dizendo que é Deus quem age quando alguém quer ser seu seguidor. E Jesus vai mais além ao dizer que a vida do discípulo missionário implica em deixar muitas vezes casa, irmãos, mãe, pai, filhos e campos em favor do Evangelho.

Os pontos levantados acima, no Evangelho e na 1ª leitura, sugerem duas reflexões dentro da vocação cristã. Primeiro sobre o seguimento das vocações específicas, tais como a vida consagrada e o presbiterato, vocações essas que exigem do homem ou da mulher, o deixar a família, o emprego e até a sua terra, quando se decide pela vocação missionária além-fronteiras.

O segundo ponto é sobre a vida profissional dos jovens, dos casais, das comunidades de vida e de aliança e dos leigos em geral, que na vida secular decidem por seguir Jesus de forma autêntica dentro da sua condição particular, nas diversas realidades do mundo. Nesta condição, nem sempre é possível deixar os bens, mas é possível sim ser desapegados das coisas, ou melhor, colocar os bens materiais no seu devido lugar.

Quando servimos ao Senhor na evangelização, muitas vezes a nossa casa é colocada à disposição para as reuniões, nosso carro para conduzir pessoas, o nosso computador para elaborar os conteúdos de formação, nossos instrumentos musicais para animar os encontros e celebrações e, sobretudo, o nosso tempo de dedicação. Tudo isso é partilha também.

Podemos, ainda, refletir que o nosso desprendimento como discípulos missionários de Cristo também passa pelo desapego às nossas ideias pessoais e/ou métodos, que, muitas vezes, já não funcionam no nosso trabalho pastoral. Para isso é necessária uma conversão pastoral, como nos fala o Documento de Aparecida nº 370, o qual cito, abaixo, na íntegra:

“A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que ‘o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária.”

Neste sentido, podemos olhar para a carta aos Hebreus que nos diz que a Palavra de Deus é como “espada de dois gumes e que penetra todo o nosso ser e nos julga nas nossas ações e intenções do nosso coração” (Hb 4,12). A Palavra do Senhor quando entra em nosso coração transforma, questiona nossas atitudes e nossos esquemas egoístas. Às vezes nos desconstrói e nos orienta a vivermos uma conversão no nosso caminhar. Por isso ela nos corta como espada, nos inunda como a água da chuva e não volta para o Senhor, sem antes produzir frutos em nós (cf. Is 55,10-11).

Portanto, é praticando esta Palavra que nos tornamos verdadeiros discípulos e missionários de Cristo, na doação aos irmãos, no desprendimento, na partilha dos bens e na conversão pessoal e pastoral. Para seguir o Senhor temos que caminhar com o coração livre, isto é, pautado na Palavra viva que nos transforma e com uma atenção ao chamado e ao mandato de Cristo, os quais estão além de simplesmente observar preceitos. Amém.