II Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Gn 12,1-4; Sl 32(33); 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

Da transfiguração à missão

Mt 17,1-9

 

O 2º Domingo da Quaresma nos traz o texto de Mateus (cf. 17,1-9), o qual nos apresenta transfiguração de Jesus. Nesta liturgia, portanto, somos convidados a subir à montanha com Pedro, Tiago e João e contemplarmos o rosto transfigurado de Jesus que, como o sol, ilumina todo homem, com seu amor e nos faz santos como o Pai do Céu é santo.

Diante da transfiguração de Jesus, Pedro foi tentado a se acomodar e ficar somente na glória e não se envolver com a missão após a descida do monte (cf. Mt 17,4). Neste sentido, Deus Pai intervém apresentando o Filho e pedindo que o escutem (cf. Mt 17,5). É preciso viver o discipulado orientado pela Palavra de Jesus.

Há, ainda, a presença de Moisés e Elias na cena apresentada por Mateus. Eles representam a Lei e os profetas para nos afirmar que em Jesus a Lei é cumprida plenamente porque ele é o novo Moisés, aquele que conduz o novo povo de Deus. Em Jesus também está a profecia, o anúncio da justiça e da fraternidade, o Dom da vida plena, porque a Palavra de Deus – Jesus – agora se encarnou no meio dos homens e fala conosco como irmão.

Os discípulos se deliciam com a experiência mística da transfiguração e querem ficar lá, com tendas armadas para cada um. Isso confirma a vontade humana de ficarmos sempre num ambiente de conforto. O Papa São Leão Magno (395-461) nos fala que a principal finalidade da transfiguração foi afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo[1].

Apesar de que todos nós precisamos ficar um pouco usufruindo o bem-estar com a família, com os amigos, precisamos parar um pouco para nos abastecer no aconchego da nossa casa, saborear espiritualmente da maravilhosa e edificante força e encontro com a Eucaristia. Sempre precisamos louvar e buscar a alegria que preenche o nosso coração. Às vezes somos tentados a querer uma vida sem desafios, sem dor e sem problemas, mas não é possível neste mundo. Somos caminheiros da vida em meio aos obstáculos, sofrimentos que vem ao nosso encontro através das enfermidades físicas e mentais, dos lutos, das lutas, dos desesperos e decepções. Mas o Senhor que se transfigura na Palavra, na Eucaristia, nos encontros com os irmãos e irmãs, desce do Monte (Altar) para caminhar conosco pelas estradas da nossa vida!

Precisamos nos levantar e, como o Senhor pediu aos seus discípulos, seguir em frente. Faz-se necessário descer do monte da transfiguração, para que, iluminados e fortalecidos pela luz do Senhor, continuemos caminhando, prosseguindo com Cristo e anunciar o Reino de Deus com o nosso testemunho, nossa perseverança, na esperança, para que o mundo não nos desfigure com tantos barulhos, luzes artificiais, filmes, propagandas e outros recursos que podem nos impedir de guardar tesouros no céu (cf. Mt 6,20).

Muitas vezes, faz-se necessário sairmos do nosso lugar de mesmice, cômodo, da nossa segurança material e bem-estar pessoal, como fez Abrão, que deixa sua terra e se abre a uma nova experiência de vida, uma vida transfigurada, de acordo com o que Deus o chamou e, ao mesmo tempo, o enviou (cf. Gn 12,4).

A Quaresma é este tempo de rezarmos, silenciarmos, fazermos penitência e aperfeiçoar cada vez mais na nossa vivência cristã através da oração, da penitência, da caridade e do sacramento da confissão. Resumindo: praticando jejum, oração e esmola.

No Brasil, e em outros países, temos a Campanha da Fraternidade, como mais um elemento de vivência do tempo quaresmal, que é parte do grande ciclo pascal. Por isso, nos encontros semanais (Via-Sacra, encontros em família, rodas de conversa, nas celebrações, formações) somos convidados a uma atitude de contemplação sobre as realidades sociais como campos de nosso envolvimento e vivência concreta da nossa fé, no que se refere aos diversos problemas e carências da vida humana.

Deixemos que o Espírito Santo venha nos guiar com sua luz e nos faça obedientes ao que Deus Pai nos pede: Escutar o Filho. Que em nossas subidas e descidas às montanhas de nossa existência possamos estar acompanhados de Cristo e de sua Palavra. E a nossa oração seja sempre voltada ao seguimento fiel de Cristo que nos chama a realizarmos nossa missão a favor de seu Reino de amor e paz.

——–

[1] Dos sermões de São Leão Magno, Liturgia da Hora II, 2º Domingo da Quaresma.

 

***

⇒ POESIA ⇐

É bom ficarmos aqui

 

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

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