XV Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Is 55,10-11; Sl 65(64); Rm 8,18-23; Mt 13,1-23

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Semeador Divino

Mt 13,1-23

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje o mistério pascal apresentado pela liturgia do XV Domingo do Tempo Comum. Contemplemos o mestre sentado às margens do mar para ensinar, lançando sementes do Reino. E o Evangelho deste Domingo está em Mateus (cf. 13,1-23).

Jesus usa uma parábola para nos contar que um semeador (Deus) vem jogar a semente (a Palavra) nos diversos terrenos (coração do homem) para que fecunde e produza frutos (amor, paz e comunhão). De acordo com o teólogo Armellini, a colheita não depende tanto da semente e do semeador, mas da qualidade da terra (o coração do homem). Se estiver duro como um chão batido o Evangelho não penetra; se é inconstante a semente cai como numa pedra logo germina, mas é queimada pelo sol; se é inquieto diante das circunstâncias a semente é sufocada; se é um coração bom produz frutos em abundância[1].

Em cumprimento à profecia de Isaías (cf. Is 55,11), quando a semente é plantada em nossos corações, a Palavra do Senhor produz ações transformadoras. Faz nascer em nós a esperança para caminharmos como missionários, também semeadores do Reino de Deus. Em nosso apostolado, às vezes, temos a impressão de que semeamos em terreno estéril. Esta foi a mensagem de Jesus: É preciso continuar anunciando, sem prejulgamentos, mesmo que não enxerguemos os resultados. Fazendo a nossa parte, perseverando na semeadura, muitos acolherão e deixarão que algo possa nascer e dar bons frutos. Principalmente em nosso mundo, tão marcado por falta de esperança, pelo individualismo, pelas diversas formas de violência. Um tempo carente de Paz e de união entre os filhos de Deus e ainda comandado por diversas ideologias que manipulam as riquezas e tentam impedir que a mensagem e os frutos de vida nova possam acontecer.

Como nos fala São Paulo, a autossuficiência do homem se confunde com a liberdade e a autonomia em busca da vida e da fraternidade (cf. Rm 8,20). O apóstolo também nos diz que a fuga e/ou a falta de acolhimento à Palavra de Deus, como semente que traz nova vida, causa sofrimento à humanidade (cf. Rm 8,22). Sendo assim o que vale então a liberdade em não acolher o bem?

Somos, muitas vezes, esse terreno batido, pedregoso, espinhento, árido que dificulta a semente que quer transformar nossas vidas, fecundar as virtudes da alegria e da esperança e, como consequência, a salvação. Lembremos que a semente é a mesma, o que muda neste processo é a predisposição de receber ou não a Palavra semeada. Somos chamados a preparar o nosso terreno (nosso coração) para acolher a semente que não volta vazia sem antes realizar tudo que for da vontade de Deus (cf. Is 55,11).

A Igreja, portanto, precisa de semeadores que levem a Palavra aos diversos corações. Somente com o testemunho de terreno que acolhe a palavra podemos colaborar com a semeadura que Cristo nos pede.

Agora, olhemos para Maria e José que se fizeram terrenos bons para acolher a encarnação do Verbo e sua semente em favor da salvação. Por isso se tornaram colaboradores da salvação para aqueles que vieram antes como Adão, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, José do Egito, Moisés, juízes e profetas. Também contemplemos e veneremos os Apóstolos, os discípulos e as santas mulheres que deixaram a voz do Senhor ressoar em seus corações, acolhendo as exigências do convite para continuarem a semeadura do Reino de Deus, se tornando sinais vivos do Evangelho no mundo.

E por fim, olhemos para todas as pessoas que se deixaram tocar pelo chamado de Cristo nos dias atuais e são testemunhos do Senhor nas diversas opções de vida cristã: missionários(as), consagrados(as), ordenados, celibatários(as), casados e tantos jovens disponíveis a semear a palavra do Senhor com a boca e o coração em favor da vida e da salvação das almas.

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[1] Cf. ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 274-275.

 

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⇒ POESIA ⇐

Palavra Semente

Palavra,
Que se fez carne,
Veio à terra e se fez humana,
No homem fez o seu templo,
E ascendeu-lhe uma nova chama.

Palavra,
Que vem de mansinho,
Semeada com amor,
Quase sem ser percebida,
Mas cheia de muito vigor.

Palavra,
Semente do Reino,
Evangelho semeado,
Nos mais diversos terrenos,
Para serem fecundados.

Palavra,
Que se espalhou,
Entre as pedras ou espinhos,
Grão da vida em terra boa,
Também a beira do caminho.

Palavra,
Que se faz esperança,
Na alma de tanta gente,
Na vida do dia a dia,
Alimenta a fé do crente.

Palavra,
Que fortifica a caminhada,
Nos fazendo alegria
Dá-nos força e muita paz,
Retoma nossa harmonia.

Palavra,
Semeada em nós,
Cristo, o semeador,
O Evangelho em nossas vidas,
Por obra do seu amor.

Palavra,
Que se faz partilha,
Que ecoa e é doada,
Aos ouvidos e à boca,
Da assembleia convocada.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o semeador divino, ilumine o seu caminho! ***

 

XIV Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Za 9,9-10; Sl 144(145); Rm 8,9-11.13; Mt 11,25-30

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Palavra de Jesus é um jugo suave

Mt 11,25-30

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje o mistério pascal apresentado pela liturgia do XIV Domingo do Tempo Comum, que ressoa em nossos ouvidos o chamado libertador de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso.” (Mt 11,28). Diante deste chamado, contemplamos o quão maravilhoso é o nosso Deus que, em vez de nos impor obrigações e tecer, nos oferece descanso e refúgio. Neste sentido o Senhor nos leva também a nos perguntar: O que causa os nossos sofrimentos? Quais nossos fardos? E o Evangelho deste Domingo está em Mateus (11,25-30).

Naquele tempo, Jesus percebeu o cansaço dos galileus – trabalhadores da roça, pescadores, mulheres. Eram oprimidos com o jugo do Império Romano em consonância com as autoridades judaicas. Viviam e sofriam às margens sociais e econômicas. Eram julgados pelo peso das tantas normas religiosas e políticas. As palavras simples de Jesus chegavam àquelas pessoas, porque ele se compadecia do cansaço e dos pesados fardos de seu povo. Suas palavras curavam, aliviavam o sofrimento, faziam muita gente tomar uma nova direção em suas vidas, encontrando o sentido de sua existência.

Também sentimos, muitas vezes, o cansaço como consequência do dia a dia. O tempo é pouco na nossa rotina, impossibilitando o descanso e o alimento do Espírito. E assim, dificilmente, nossas férias oferecem descanso e relaxamento. Somos oprimidos e sufocados por tantas obrigações às quais nos impedem do encontro restaurador conosco, com Deus e também com o outro. Precisamos buscar no Senhor o nosso repouso e a vida de verdade. Muitas vezes nos afogamos no ativismo e no barulho, obstáculos para o rezar e o meditar sobre o sentido de nosso existir.

Outro aspecto que podemos também refletir inspirado neste Evangelho dês XIV Domingo do Tempo Comum é que, na atualidade, também sentimos o peso das leis de morte, de opressão, de mentiras que maltratam os pobres (os pequeninos), colando o fardo da fome, do desemprego e da desigualdade social. Além da corrupção que massacra grande parte da população mundial. Como nos diz o papa Francisco: “os pobres são os primeiros a sentir os efeitos da corrupção.”[1]

E diante da mensagem de Jesus, de que seu jugo é suave e o seu fardo é leve (cf. Mt 11,30), podemos entender que a primeira e a principal lei de Cristo é o amor e a misericórdia, um messianismo diferente, mas que já havia sido predito pelos profetas como nos indica a primeira leitura desta Liturgia (cf. Zc 9,9-10). Deus acolhe a pessoa como ela é, nas suas fragilidades e angústias para depois propor o caminho, que é libertador e salvador. O jugo leve é esta forma de Jesus pregar o Reino no mundo. Jesus acolhe com amor, cuida das feridas e restaura os que o buscam ou os que são chamados por ele.

Os discípulos de Cristo foram os primeiros a serem cuidados por ele e iniciaram um processo de um novo caminhar. Eles são os pequeninos a quem Jesus se dirige e quer que encontrem segurança e repouso. Os pequeninos foram escolhidos no meio do povo, homens simples, mas abertos à mensagem do Reino.

Os batizados tem o Espírito de Cristo (cf. Rm 8,9) e vivem na certeza de que o nosso Deus é amor e humildade e nos ensina a vivermos neste mundo. Também como cristãos somos agraciados pela força do Senhor que nos deu vida nova. Nele, aliviamos nossos fardos diários, quando somos alimentados pela Palavra e pela Eucaristia. Porque o Senhor “sustenta todo aquele que vacila e levanta todo aquele que tombou” (Sl 144,14). Amém.

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[1] PAPA FRANCISCO. Papa: os pobres são os primeiros a sentir efeitos da corrupção. Disponível em: <http://br.radiovaticana.va/news/2017/06/30/papa_os_pobres_s%C3%A3o_os_primeiros_a_sentir_a_corrup%C3%A7%C3%A3o/1322324>. Acesso em: 7 jul. 2017.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

O descanso com o Senhor

 

“Vinde a mim os que estão cansados”,
Diz o Senhor a nos acolher,
Pois sua Palavra é luz a nos fortalecer,
Faz nascer a esperança e traz o ardor,
Quer que vençamos as fadigas a nos invadir,
Para superarmos o cansaço e assim prosseguir,
Nesta vida alimentada pela fé e o amor.

“Aprendei de mim que sou manso e humilde”,
Outro convite que nos vem ressoar,
Porque sua mensagem nos vem libertar,
Tirando o cansaço que a vida quer nos trazer,
Para caminharmos rumo a libertação,
Vivendo a cura do nosso coração,
Que no Senhor quer se converter.

Tomai sobre vós o meu jugo,
É a promessa segura que vem do Senhor,
Julgamento realizado pelo seu amor,
Que alivia o peso da condenação,
Pois sua lei é para a liberdade,
Realiza-se pelo cuidado e pela caridade,
Buscando tirar todos nós da perdição.

Sou manso e humilde de coração,
Esta é a atitude do Mestre a nos ensinar,
Ação do Santo Espírito a nos iluminar,
Que mora em nós e nos dá a vida,
Porque o que atrai é a humildade,
Prática de quem busca a santidade,
E quer ser um porto de acolhida.

Só no Senhor o repouso completo,
Que nos preenche e nos dá sentido,
Deixando nosso ser fortalecido,
Quando nas labutas da peregrinação,
Precisamos parar em nossa estrada,
E quando vem o cansaço da jornada,
Consequência do caminhar na missão.

Seja o Senhor o alimento procurado,
Quando paramos para nos abastecer,
Acolhendo a Palavra a nos preencher,
Sentando-se à mesa da fraternidade,
Para partilhar da santa refeição,
Comida e bebida que gera união,
Que sustenta a vida da comunidade.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que é manso e humilde de coração, ilumine o seu caminho! ***

 

Solenidade de São Pedro e São Paulo

 

Leituras: At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19

 

⇒ HOMILIA ⇐

Pedro e Paulo: colunas da Igreja

Mt 16,13-19

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje a solenidade de São Pedro e São Paulo, as colunas da Igreja, que levaram a mensagem amorosa do Ressuscitado ao mundo. Ambos foram martirizados em Roma[1]. O Evangelho desta solenidade está em Mateus (16,13-19).

Contemplemos primeiramente Pedro, pescador do mar da Galileia, lugar que Jesus o encontrou e o chamou para tornar-se pescador de pessoas. No percurso deste seguimento, Pedro teve altos e baixos, inclusive as negações antes do cantar do galo. Nesta liturgia, Jesus pergunta a seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13), Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,3.16). Pedro recebe de Jesus as chaves, para ligar e desligar no Céu e na Terra aquilo que convém ou não ao Reino (cf. Mt 16,19). Ele é a pedra sobre a qual a Igreja de Cristo está edificada. Por isso a Igreja é apostólica, por estar fundada nesta missão de levar ao mundo a Boa-Nova. Após a Ressurreição, Pedro é fortalecido e encorajado para andar na contramão das autoridades judaicas e do Império Romano. Ainda em Jerusalém foi preso, mas o anjo de Deus rompeu as correntes para que Pedro pudesse ser missionário do amor e da paz. A presença do anjo também serviu para ter a certeza de que, na luta contra o medo e a opressão, o Senhor caminha junto com sua Igreja (cf. At 12,7-11).

Sobre Paulo também temos muito a aprender também. Foi um doutor da lei, que zelava pela doutrina da lei e dos profetas, patrimônio espiritual do “reino de sacerdotes e povo santo” (Ex 19,3). Foi perseguidor dos primeiros seguidores de Cristo. Mas um dia Cristo também o conquistou de forma impressionante, quando estava em viajem na estrada de Damasco, com a missão de prender cristãos, “quer homens, quer mulheres” (At 9,2). Após convertido, Paulo coloca toda a sua força para propagar a fé no Ressuscitado. Viajou a diversos lugares e formou comunidades entre os judeus e pagãos. Por Cristo foi perseguido, maltratado e martirizado. Paulo combateu o bom combate, completou a corrida, guardou a fé (cf. 2Tm 4,7). Suas cartas foram e continuam sendo de uma imensa riqueza espiritual e pastoral para a Igreja, alcançando a liturgia, a catequese, os grupos, as comunidades e a vida missionária da Igreja no mundo inteiro.

A liturgia de hoje está repleta do testemunho destes dois apóstolos, as colunas da Igreja. Eles nos fazem refletir que Deus chama os pecadores para serem santos, portadores da mensagem do Reino ao mundo inteiro, formando comunidades de amor e de comunhão. Vimos que o Senhor chama a todos, desde que abertos às exigências da vivência da Boa-Nova.

A Igreja de Cristo continua sendo conduzida por um descendente de Pedro, o Papa Francisco (o 266º papa da Igreja). Ele orienta e faz crescer, na unidade e na caridade, o rebanho do Senhor. É o condutor da barca do Senhor, que é a Igreja. Esta Igreja que enfrenta as tempestades no imenso mar que é o mundo.

Por fim, irmão e irmãs, somos motivados a seguir, na nossa vida em missão, levando a mensagem do Ressuscitado aos vários cantos do mundo, com coragem e determinação frente às consequências da pregação do Evangelho. O exemplo de São Pedro e São Paulo, fundamentos da vida apostólica e missionária, nos ensina a caminharmos com e em Cristo, superando nossas fragilidades e pecados… Amém.

—–

[1] Foram martirizados entre 64 e 67 d.C., quando Nero imperava em Roma (54-68). Nero nasceu no ano 37 e aos 17 anos assumiu o governo do Império. Cometeu suicídio no ano 68 aos 31 anos de idade. No dia 18 de julho de 64 aconteceu o que ficou conhecido como o “grande incêndio de Roma”, que queimou por uma semana até ser controlado. No ano 66, Nero ordenou a perseguição aos cristãos acusando-os de serem os responsáveis pelo incêndio.

 

***

⇒ POESIA ⇐

As colunas da Igreja

 

Um é o pescador
Pescador dos mares da existência,
Chamado pelo Senhor,
Para uma experiência,
Segue-O pelo caminho
Não viverá sozinho,
Mas terá as exigências.

Outro é o doutor,
O sábio, o rigoroso,
Que seguiu sem temor,
O Senhor amoroso,
Deixou a estrada da morte,
E seguiu firme e forte,
Apaixonado, fervoroso.

Os dois seguem andando,
Superando as barreiras,
Cristo os foi conquistando,
Para a missão primeira,
Que é o Reino implantar,
E a Palavra semear,
Pela sua vida inteira.

Pedro viveu com o Senhor,
Ainda neste mundo,
Conheceu seu amor,
Mais forte e mais profundo.
E quando o Senhor partiu,
E então ressurgiu,
Ele saiu pelo mundo.

Paulo viveu diferente,
Toda a sua conversão,
E foi seguindo em frente,
Caminhando em missão,
Formou muitas comunidades,
E pregou toda a verdade,
Na busca da comunhão.

Hoje Pedro, o nosso Papa,
Segue firme, a remar,
Essa barca, que é a Igreja,
E o mundo, o imenso mar,
Vai sempre anunciando,
E com Cristo caminhando,
Sem medo de afundar.

E nós, os tantos cristãos de hoje,
Da nossa atualidade,
Como ser comunhão?
Nesta sociedade,
Como ser sal e luz?
Como carregar a cruz?
E formar comunidade?

Somos Pedro, somos Paulo,
Pelas várias estradas,
Comunhão e missão,
São as nossas jornadas.
Somos a fraternidade,
Vivendo a caridade,
E sendo vidas doadas.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, a Boa-Nova em pessoa, ilumine o seu caminho! ***

 

XII Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Jr 20,10-13; Sl 69(68); Rm 5,12-15; Mt 10,26-33

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Não ter medo de anunciar

Mt 10,23-33

 

Meus irmãos e irmãs, estamos no 12º Domingo do Tempo Comum, quando a Liturgia da Palavra nos apresenta o texto do Evangelho de Mateus (Mt 10,26-33). “Não tenhais medo dos homensNão há nada que esteja escondido que não seja revelado” (Mt 10,26). s poderes do mundo tentam esconder suas tramas e seus planos, mas o Evangelho é luz na escuridão, pois ilumina e faz aparecer a verdade que está escondida.

As consequências da pregação nem sempre são as multidões em louvores ou as igrejas cheias. Muitas vezes é viver em meio ao medo e às fugas. Para isso, precisamos buscar a coragem e a luz no Espírito Santo para seguirmos. Ser discípulo é, em muitos momentos, viver o desprendimento, a entrega total da vida e caminhar também ao encontro da morte do corpo material. Na história cristã, muitos entregaram seu corpo através do batismo de sangue (martírio), por que, pela vivência da dimensão profética, colocaram toda sua esperança e força em Cristo.

Ao apresentar a proposta do Reino Divino, em diversos momentos, podemos até encontrar hostilidade e perseguição, pois a Palavra semeada traz provocações contra as ideologias que estimulam a opressão, a alienação, a manipulação e o relativismo.

Esta Liturgia nos vem mostrar que viver o Evangelho também traz sacrifícios em favor de um propósito. Deixar que a luz da Palavra ilumine a vida das pessoas para não serem manipuladas pode causar a intriga e a perseguição por parte dos ideólogos da opressão e da manipulação.

O profeta, Jeremias nos apresenta um destino daqueles que lutam pelo bem comum das pessoas, que sofrem com a iminente invasão do rei da Babilônia. Diante da opressão ele grita e lamenta: “Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: denunciai-o, denunciemo-lo” (Jr 20,10). Este texto prefigura o Evangelho: ser profeta é perceber a realidade de sofrimento e denunciá-la, sem medo. Não podemos ficar alheios ao chão que pisamos. A Palavra de Deus deve nos ajudar em nossa percepção acerca dos que sofrem.

Devemos denunciar os frutos do pecado iniciados com o primeiro homem, o velho Adão. Pelo pecado entrou a morte (cf. Rm 5,12). Em Cristo, o novo Adão, somos inseridos na vida e na luta contra a morte eterna.

Na comunidade cristã deve reinar um ambiente de segurança e de coragem, pois ela deve está fundamentada pela alegria e pela força do Evangelho. Em contrapartida, a comunidade deve apresentar a misericórdia de Deus como o sinal de salvação.

Portanto, levemos ao nosso coração o conselho desta Liturgia: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutai ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!” (Mt 10,27). Que a experiência com a Palavra e a vida de intimidade com o Senhor nos faça proclamadores ao mundo no dia a dia de nossa missão.

E nos momentos de aflições e inquietações, nossa ou do próximo, elevemos nossa oração de confiança e entrega a Deus como nos reza o salmista: “Elevo para vós minha oração, neste tempo favorável, Senhor Deus! Respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha! Senhor ouvi-me, pois suave é vossa graça, ponde os olhos sobre mim com grande amor.” [Sl 69(68)]. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

O Evangelho vence o medo

 

Pregar o Santo Evangelho,
Não é status e honraria,
Mas um mandato exigente,
Que se vive a cada dia,
Muitas vezes vem o medo,
Que espanta a alegria.

Com Cristo vencemos o medo,
Das garras da perseguição,
Dos fortes maus-tratos terrenos,
Consequência da missão,
Dos fracassos e da morte
Que causam a desilusão.

Como discípulos amados
Queremos seguir em frente,
Vencer as tantas barreiras,
Que enfrenta o povo crente,
Porque Evangelizar,
É tarefa exigente.

Ser discípulos do Senhor,
Exige-se a doação,
Entregar-se a uma causa,
A favor da salvação,
Pregando sempre a verdade,
Com coragem e decisão.

Caminhar como cristão,
Com Cristo Nosso Senhor,
Vence-se o medo e a dúvida,
E afasta-se o temor,
Segue-se na segurança,
Numa trilha de amor.

A consequência do anúncio,
É também perseguição,
Pois o mundo distorcido,
Traz desprezo e opressão,
E assim os missionários,
Sofrem também a repressão.

Olhemos para os profetas,
Que foram ignorados,
Por pregarem a verdade,
Muitos foram torturados,
E nos reinos poderosos,
Os seus sangues derramados.

Que a Santa Comunhão,
Forte e vivo alimento,
Do discípulo caminheiro,
Seja sempre o alimento,
Dando força à vida inteira,
Em todos os seus momentos.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que orienta seus discípulos a vencerem o medo, ilumine o seu caminho! ***

 

XI Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Ex 19,2-6a; Sl 99(100); Rm 5,6-11; Mt 9,36-10,8

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A missão do discípulo: curar, ressuscitar, purificar, expulsar o mal

Mt 9,36-10,8

 

Na liturgia da palavra deste 11º domingo do Tempo Comum, temos o texto de Mateus (cf. 9,36-10,8). O evangelista nos apresenta Jesus se compadecendo pela multidão, porque era como que ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36), pois aqueles que deviam conduzir o povo (fariseus, saduceus, mestres da lei, anciãos) estavam desprezando, hostilizando, explorando as ovelhinhas de Israel. A opressão era sentida em toda a dimensão social – seja religiosa, política, econômica.

É a realidade de opressão que provoca em Jesus a compaixão, que é sentir nas entranhas a dor do sofredor, percebendo não somente a necessidade de pão orgânico, mas, sobretudo, de libertação, de justiça, de dignidade humana.

Consequentemente, Jesus percebe a necessidade de verdadeiros anunciadores do Reino e pede que se faça a oração para que o dono da messe suscite mais operários (cf. Mt 9,38) da missão salvífica, não somente depois desta vida terrena, mas ainda aqui, para que o Reino de Deus, que é amor, se faça presente na fraternidade e na paz, espalhando a Boa-Nova por entre as ovelhas perdidas (cf. Mt 10,6). O mesmo povo que, pelas mãos de Moisés, recebeu de Deus a promessa da aliança e de sua fidelidade, agora é chamado a viver a Nova Aliança. Os Doze, chamados e, ao mesmo tempo, enviados, lembra as doze tribos da aliança no Sinai, depois da libertação do Egito.

Os eleitos vão com mensagem e missão específica: anunciar que o Reino está próximo, curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os espíritos maus (cf. Mt 10,8).

E nós, cristão de hoje, somos o povo da Nova Aliança, chamados a ter compaixão dos sofredores e a rezar para que novos evangelizadores respondam ao chamado para anunciar, com a vida, a Boa-Nova. O dono da messe continua contando com os bispos, os padres, os diáconos, os religiosos, os catequistas, os mesces, os leigos dos mais diversos apostolados, que vivem em meio a tantas doenças, violências, divisões maléficas que destroem famílias e demais relações humanas.

Podemos nos perguntar o que significou para os discípulos na Galileia e o que significa para os de hoje esta missão, a qual Jesus designou a todos nós batizados em seu nome.

Curar os enfermos é a atitude de libertá-los de tudo o que é contra a vida ou ajudar as pessoas a aceitarem as enfermidades irreversíveis, como um caminho de experiência e conversão espiritual. Ressuscitar os mortos como um processo de ajudar a reacender a esperança na vida de alguém em desespero existencial. Limpar os leprosos é a luta contra as impurezas que a mentira, a falsidade, as ações hipócritas constroem contra a humanidade; é trazer a verdade, a simplicidade, a justiça e resgatar a honradez. Expulsar os demônios é afastar tudo aquilo que é mal e que divide a vida das pessoas, combatendo a idolatria aos bens materiais e os apegos a tantas ideologias e interesses obsessivos.

Eis a missão amorosa da Igreja nos dias de hoje: fazer com que as doenças, as mortes, as lepras e os demônios sejam banidos da vida da humanidade. Fazer com que o Reino de Deus aconteça já na caminhada das comunidades, das famílias, dos grupos, dos movimentos e dos trabalhos missionários em favor da fraternidade e da paz.

Cristo é a razão da nossa existência. Por isso devemos buscar, constantemente a reconciliação com ele. São Paulo nos diz na sua carta aos Romanos: “Nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação.” (Rm 5,11). Cristo é misericordioso e se compadece por todos nós. Ele quer curar nossas doenças e feridas, limpar nossas lepras que tanto nos oprimem, nos ressuscitar para uma vida nova e expulsar o mal que nos afasta do caminho da Salvação. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

A missão dos discípulos de Jesus

 

Eis o tamanho da messe,
Que Jesus a contemplou,
Tendo compaixão do povo,
Quando aos discípulos chamou,
Pra levar a libertação,
Pela evangelização,
Que ele mesmo instaurou.

Pra curar todos os enfermos,
Jesus chamou seguidores,
Pra levar a libertação,
Das doenças e das dores,
Pra levar o amor e a vida,
Força e paz distribuídas,
Pelos anunciadores.

Pra ressuscitar os mortos,
Dos abismos e ilusões,
Pra renascer a esperança,
As forças e as motivações,
Pra trazer a divina coragem,
De Deus retomar a imagem,
E pulsar dos corações.

Pra expulsar as tantas lepras,
Jesus também nos envia,
Limpar as tantas feridas,
Que a muitos angustia,
As mentiras combater,
A hipocrisia vencer,
E espalhar a alegria.

Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vendo ovelhas sem pastor,
Pede-nos pra que rezemos,
Pela missão do amor,
Construir libertação,
Anunciar a salvação,
Do Reino do Criador.

Que a Palavra e a Eucaristia,
Fortifique a nós cristãos,
Pra vivermos o dia a dia,
As obras da santa missão,
E o Reino anunciarmos,
Jesus Cristo comungarmos,
Isto sim, é comunhão.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que orienta seus discípulos na missão de curar, ressuscitar, purificar, expulsar o mal, ilumine o seu caminho! ***

 

Santíssima Trindade, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Ex 34,4b-6.8-9; Sl Dn 3,52-56; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-18

 

⇒ HOMILIA ⇐

O nosso Deus é uma Comunidade Santa

Jo 3,16-18

 

Após o domingo de Pentecostes temos a solenidade da Santíssima Trindade, de suma muita importância para os cristãos. Esta celebração é um reconhecimento à particularidade que tem o Deus dos Cristãos. Nosso Deus é comunidade perfeita: Pai e Filho e Espírito Santo. O Deus dos cristãos não é solitário. Também não está distante; ele caminha conosco, como nos prometeu o próprio Jesus Cristo: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20).

Sendo Deus presente e que está em todos os momentos, ele também é misericordioso, cheio de compaixão e de infinito amor. É Deus Pai, fonte de tudo! Que criou o mundo, nos criou e quer continuar nos recriando, pela nossa conversão, pelo seu perdão, no seu caminho de salvação. É Deus Filho, que se encarnou e veio morar conosco, nos ensinando o mandamento novo do amor, o qual supera toda a Lei e toda manipulação do poder e da escravidão. É Deus Espírito Santo, que desde a Criação pairava sobre as águas, que falou pelos profetas, que veio a Maria para a encarnação do Verbo, que soprou sobre os apóstolos e fez nascer o novo povo de Deus, a Igreja, no dia de Pentecostes.

A comunidade cristã, os batizados, pertence à família de Deus. São filhos, membros do mesmo Pai, irmãos do único Filho, Jesus Cristo, e são animados pelo mesmo Espírito.[1] E todos devem contemplar a perfeição da Santíssima Trindade como modelo para a vida da Igreja.

O evangelista João nos fala na liturgia desta solenidade: “Deus não enviou seu filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Muitas vezes temos uma compreensão que Deus se encarnou no mundo para ficar apontando os erros humanos a fim de condenar as pessoas de forma cruel.

O nosso Deus, Santo e Trino, não é um vigia, que fica de longe para ver nossos pecados, nossos erros. Em Jesus Cristo somos instruídos para o amor e para aprendemos a comunhão. Ele veio nos mostrar a face misericordiosa do Pai e nos ensinar como amar, perdoar e cuidar do irmão que carece de cura, de libertação e de pão. Primeiramente, nosso Deus é puro e perfeito amor.

O nosso Deus não é um castigador. Ele não castiga. Quem nos castiga é o nosso pecado, como consequência das nossas escolhas, porém às vezes equivocadas em relação ao caminho que o Senhor nos mostra. Quantas escolhas nós fazemos as quais nos levam às trilhas da perdição, do sofrimento, e às trevas do pecado. Quando reconhecemos os equívocos em nossa vida e queremos refazer o nosso caminho de volta à casa de nosso Deus, ele prontamente nos acolhe, vem e nos abraça nos devolvendo a dignidade de filhos inseridos na mesma comunidade de amor e perdão.

São Paulo, na sua segunda carta aos Coríntios, nos exorta com uma saudação muito comum em nossas celebrações: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13). Trata-se de uma saudação trinitária. É isso que devemos fazer em primeiro lugar, no início de nossos momentos de oração, em nossos encontros, nas nossas reuniões… Todos os cristãos, quando se encontram, devem ter a consciência de estarem na presença da Trindade Santa.

Que o Pai e o Filho e o Espírito Santo nos converta com a sua Palavra e o seu Corpo, a Eucaristia, e nos Anime com o fogo do amor corajoso, esplendor da verdade Santa a fim de vivermos nossa missão de sermos sal e luz do mundo. E com perseverança e a consciência de filhos do mesmo Pai, irmãos em Cristo, sejamos iluminados e fortificados pelo amor do Espírito Santo. Amém.

 

***

[1] Cf. ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 177-183.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Santíssimo Deus Trinitário

 

Deus Santíssimo e amável,
Que nos reúne no amor,
Que fica próximo de nós
Para nos dá força e vigor,
Guiando os nossos caminhos.
Que não nos deixa sozinhos,
Origem, imagem e defensor.

Deus Santíssimo e presente,
Na História da Salvação,
Que conduziu o seu povo,
Guiando-o na compaixão,
Que trouxe os mandamentos,
Dando maná como alimento,
Em busca da libertação.

Deus Santo e misericórdia,
Perfeita comunidade,
Que vence o individualismo,
A ferir a humanidade.
Deus de nossa Salvação,
Que nos faz ser comunhão,
E viver a fraternidade.

Deus Santo e Encarnado,
Rosto humano se mostrou,
Que veio nos trazer a paz,
E a verdade nos ensinou,
Conosco veio morar,
A vida nova nos dar,
Por isso ressuscitou.

Deus da vida e a da Paz,
Três pessoas em união,
Que sempre vem nos mostrar,
A romper a solidão,
Vence as trevas do egoísmo,
É contra qualquer terrorismo,
E a favor da união.

Deus Santo que nos reúne,
Pra vivermos a unidade,
Pai, Filho e Santo Espírito,
Perfeita comunidade
No templo a nos ensinar,
Ao mundo a nos enviar,
A viva fraternidade.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos mostrou a face misericordiosa de Deus, ilumine o seu caminho! ***

 

Solenidade de Pentecostes

 

Leituras: At 2,1-11; Sl 103(104); 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Manifestação pública do Espírito Santo

Jo 20,19-23

 

Celebramos neste domingo a Solenidade de Pentecostes, a descida do Espírito sobre a Igreja nascente, agora não somente sobre os Apóstolos, mas também sobre as nações e culturas, as quais compreendem a mensagem do amor e da fé, pelo Espírito, em sua própria língua.

O que antes era uma experiência do grupo dos Apóstolos, agora se expande pelo mundo com a ação do Espírito Santo, que nos foi dado por herança, tanto pelo sopro do Ressuscitado (cf. Jo 20,22) quanto pelas línguas como de fogo descido do céu (cf. At 2,3). O que estava preso a um grupo, homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçarem a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal, período que se inicia com o Domingo de Páscoa, porque inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão do Senhor foi sinalizado pela liturgia da Palavra, pois o mesmo Senhor que sobe aos céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João faz memória da Ressurreição, quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo. Por isso estão fechados em si e de portas fechadas (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a Paz para o grupo e, ao mesmo tempo, os envia para a missão, com o objetivo de anunciar ao mundo o Reino de Deus.

A partir desta experiência, de encontro com Cristo ressuscitado, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminhar, pregando a experiência da Ressurreição.

Na primeira leitura (cf. At 2,1-11), temos a narração de Pentecostes como uma teofania[1] (manifestação divina), quando todos os discípulos estavam reunidos e vivenciam a manifestação do Espírito Santo. Um evento diferente e inédito para a humanidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2,4). Aquilo que Jesus anunciou, antes e depois da Ressurreição, agora se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo é para que os seus discípulos anunciem a Boa-Nova do Reino até os confins do mundo, em suas diversas línguas, culturas e realidades.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua Luz, sua Força a quem ele quiser agraciar, desde que os convocados, na sua liberdade, queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer que é exatamente a sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja, que é sacramento da Santíssima Trindade (cf. Catecismo, 747)[2], ao longo de dois mil anos, que conseguiu chegar a nós, em pleno século XXI.

Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos, que carregados de coragem, consciência missionária e também de suas fragilidades, que fez a messe do Senhor crescer e dar frutos, sendo espalhada pelos imensos espaços do mundo, até nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo, apresentada na 2ª leitura, que merece a nossa reflexão: Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6).

São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito. Os cristãos, como membros de um mesmo Corpo, recebem dons para serem ofertados no serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação da Igreja no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços, para que a Obra de Deus esteja presente em toda humanidade.

Quantos e quais dons nós podemos oferecer a Deus? Desde o simples acolhimento na porta do templo, o canto, a preparação do Altar, a pregação para o povo, a coordenação de um grupo ou de comunidades, a visita de famílias. Enfim, a Messe é grande, como afirmou o Senhor (cf. Mt 9,37).

E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra? No cuidado quando estamos a evangelizar, por exemplo. Também a arte de compor ou canta uma música, de fazer poemas, na partilha de conteúdos (aulas, palestras, escritos), ao defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais.

Tudo isso são dons do mesmo Espírito, o qual estava no início da Criação (cf. Gn 1,2), que falou pelos profetas, que anunciou a Maria a encarnação do Verbo, que esteve presente no Batismo de Jesus, que o conduziu ao deserto e também durante sua missão.

O mesmo Espírito animou os Apóstolos após a Ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos. E em quantas realidades primordiais podemos certificar a presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais etc.

Agradeçamos a Deus pelos tantos dons do Espírito Santo, oferecidos à Igreja para o serviço do Reino. E quanto a nós, devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior é pela força do Espírito Santo. Ele mesmo que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova a face da terra (cf. Sl 103) e que nos santifica na vida de seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado.

***

[1] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral em 31/5/2000. Disponível em: <http://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/2000/documents/hf_jp-ii_aud_20000531.html>. Acesso em 27 maio 2020.

[2] Catecismo da Igreja Católica (CIgC), disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>. Acesso em 27 maio 2020. Ver também as perguntas nº 144 e 145 do Compêndio do CIgC, disponível em: <http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html>.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Ele é o mesmo em todo o tempo

 

Presente desde o início,
Está o santificador,
Nas águas da Criação,
Presença viva de amor,
Que conduziu os profetas,
Nas suas lutas e alertas,
Junto ao povo sofredor.

Presente está em Maria,
Na sua Anunciação,
Quando fala para ela,
Do plano da salvação,
Presente também em José,
Que fez o caminho a pé,
Nos tempos de perseguição.

Presente também em Jesus,
No Batismo e no deserto,
Na caminhada do povo,
Dizendo o caminho certo.
Nos encontros de alegria,
Na vida de cada dia,
Um Deus sempre muito perto.

Presente na Ressurreição,
Como sopro de alegria,
Vencendo o medo e o desânimo,
Que nos discípulos existia,
Fazendo um caminho novo,
Junto a multidão do povo,
A Igreja que já nascia.

Presente em Pentecostes,
Ao mundo manifestado,
Para as diversas culturas,
Para o mundo anunciado,
Dom de amor incomparável,
Imenso e insondável,
Deus de amor ilimitado.

Presente em nós, cristãos,
Com força e santa alegria,
Com inumeráveis dons,
Que no caminho nos guia,
Que nos tira da tristeza,
Que nos dá a fortaleza,
Na vida de cada dia.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que anunciou a vinda do Espírito Santo, ilumine o seu caminho! ***

 

Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo – Ano A, São Mateus

 

Leituras: At 1,1-11; Sl 46(47); Ef 1,17-23; Mt 28,16-20

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo subiu ao céu para nos elevar à santidade

Mt 28,16-20

 

Neste domingo da Ascensão do Senhor celebramos a plena glorificação de Cristo e a vitória de todos os seus seguidores. Todos nós estamos destinados à santidade porque o nosso Deus é santo e nos faz santos.

“Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo…” (Mt 28,19). A Igreja é fundada neste mandato missionário que os discípulos recebem de Cristo. E ela nasce a partir do Batismo, sacramento que insere todos no caminho da santidade, como filhos e filhas do mesmo Deus. Caminho da santidade porque ser batizado significa ser santificado, lavado do pecado original e de todos os pecados. As manchas que colocamos em nossa vida após o batismo serão lavadas pelo sacramento do perdão e da reconciliação.

Porém não é suficiente somente batizar, mas é necessário que os enviados por Cristo ensinem os convertidos a observarem tudo o que o Senhor os ordenou (cf. Mt 28,20). O discipulado é aperfeiçoado pelo ensinamento do Evangelho na vida de batizado, para que, na sua existência, ele conheça cada vez mais a vida em Cristo. Esta tarefa na Igreja cabe aos ordenados, aos consagrados e aos catequistas, os quais recebem tal mandato de preparar as famílias (crianças, jovens e adultos) para o encontro com Jesus, nos sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma).

Naquela despedida de Jesus, ele encerra dizendo: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Todos os que evangelizam e vivem a experiência com Cristo, devem ter esta certeza: O Senhor caminha com a gente. Porque a subida de Cristo ao céu não significou ausência do seu Espírito em nossas vidas. Significa sim que ele se elevou para também nos elevar à santidade e ao seu reino eterno.

Cristo estará sempre presente na missa, encontro com seu corpo e sangue, que é a Eucaristia. Ele permanece na Palavra proclamada, nos altares, no meio da família, nos encontros, nas caminhadas penitenciais, romarias. Sua Palavra também faz nas pastorais sociais, nas ações de amor, de caridade, de justiça, de paz e na convivência fraterna. Também quando partilhamos nossas alegrias e angústias e queremos que ele nos ajude e nos aponte o caminho a seguir.

Outro aspecto importante da nossa vida cristã é que somos marcados por realidades humanas e celestes. Os discípulos, no momento da Ascensão, ficaram quase que atordoados com a visão das nuvens. Diante disso, eles recebem a mensagem dos homens de branco: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1,11). Esta mensagem nos ensina que o nosso olhar deve está voltado para Cristo que caminha conosco, pois ainda vivemos as situações terrenas. Não podemos ficar somente na contemplação, mas também partir para a ação evangelizadora. É preciso seguir em frente para a missão até os confins do mundo.

Muitas vezes temos a tentação de nos fixar somente num dos extremos da vida Cristã: Ou somos muito espirituais ou somos muito ativistas. Buscamos somente a Igreja institucional, sua hierarquia, nos voltamos para a sua estrutura. Em outros momentos ficamos quase que flutuando com os pés distantes do chão, olhando para as nuvens como aqueles discípulos. A experiência de oração e de escuta constante da Palavra nos faz encontrar o equilíbrio.

Não podemos esquecer que toda a nossa vida é guiada pelo Espírito Santo, o Espírito da verdade e da sabedoria. São Paulo, na sua carta aos Efésios, nos fala: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a Glória, vos dê um espírito de sabedoria… Que ele abra o vosso coração à luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá…” (Ef 1,17.18). É este espírito de sabedoria que ilumina, que guia e que dá força ao discípulo missionário de Cristo no mundo.

Portanto, depois destes quarenta dias de vida pascal, nós, irmãos e irmãs, como os discípulos daquele tempo, lá na Galileia, somos chamados e enviados a vivermos o Evangelho nas nossas diversas realidades concretas, fora dos muros da Igreja e com os pés no chão. Porque Cristo está conosco, ele caminha ao nosso lado para nos dá perseverança e nos capacitar para a semeadura da sua Boa-Nova. A Ascensão é o acontecimento mais profundo da ressurreição de Jesus, porque a sua elevação também nos eleva. A sua santificação é para a nossa santificação pela ação do Pai e do Filho e do Espírito Santo. É este o nosso destino. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Cristo nos eleva à santidade

 

Igreja que nasce do mandato de Cristo,
Gerada no mistério da ressurreição,
Que é chamada a viver e espalhar o amor,
Sendo sinal de paz, justiça e libertação,
Sobre a força viva do consolador,
Conduzindo seus filhos a santificação.

Povo novo nascido do lado de Cristo,
Animado pela beleza de se viver,
Enviado além da pequena Galileia,
E o coração vivo sempre a arder,
Chamando os povos à Santa Assembleia,
Semeando o Evangelho sem esmorecer.

A Santidade de Cristo também é nossa,
Ele subiu ao céu para a nossa santificação,
Esperando um dia também a nossa santidade,
Porque ele nos veio para a nossa salvação,
E neste mundo pregou sempre a igualdade,
Nos conduzindo para uma vida de comunhão.

E nesta caminhada de filhos peregrinos,
O Senhor está sempre conosco a caminhar,
Nos guia, nos ensina e nos faz missionários,
Para o Evangelho pelo mundo inteiro semear.
E nós devemos ir aos tantos destinatários,
Para na vida nova de santidade apresentar.

Cristo cumpre sua promessa de estar conosco,
Nos diversos momentos de nossa existência.
Ele está conosco na Santa e viva Eucaristia,
Na sua palavra Sagrada e divina ciência,
Na caridade, no bem da vida de cada dia,
Nos encontros, na missão e na benevolência.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos, se mostrou vivo aos escolhidos e diante dos olhos destes subiu aos céus, ilumine o seu caminho! ***

 

VI Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 8,5-8.14-17; Sl 65(66); 1Pd 3,15-18; Jo 14,15-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Preparando-nos para Pentecostes

Jo 14,15-21

 

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Esta frase de Jesus nos leva a pensar: quando a gente ama alguém, e confia nesta pessoa, sempre guardamos suas palavras e seus conselhos. Portanto, guardar os mandamentos de Cristo é permanecer ligado a ele, como o ramo deve ficar ligado à videira (cf. Jo 15,4-5).

Esta foi a motivação que Jesus fez para orientar os seus seguidores sobre a continuidade da sua missão. O discípulo que ama o Senhor guardará no seu coração e na sua vida, através de suas ações, o mandamento novo do amor. Viverá como Jesus viveu, permanecerá ligado a ele e buscará sempre ser uma presença que manifeste a imagem e o amor de Deus.

Jesus também promete: “eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro defensor para que permaneça convosco” (Jo 14,16). Este outro defensor é o Espírito Santo que estará sempre com os seguidores do Senhor, nas mais diversas realidades do mundo. Os desafios serão imensos na propagação da Palavra de Deus e o Espírito Santo estará conduzindo a missão pelo Reino, pois ele é o dom permanente de Cristo Ressuscitado que age no mundo.

O sexto Domingo da Páscoa nos coloca, portanto, num clima de expectativa para Pentecostes, onde o próprio Jesus é o precursor[1]. Trata-se de uma espera alegre. E já preparando toda a Igreja para a manifestação pública do outro Paráclito sobre a Igreja que está nascendo. O Espírito Santo é aquele que estará ao lado dos primeiros missionários de Jesus e, ao mesmo tempo, germinando e fortalecendo o nascimento de novas comunidades.

Após a ressurreição de Jesus, a promessa dele se cumprirá: o Espírito Santo descerá para iluminar, defender e conduzir todo o percurso dos apóstolos. Eles sairão pelo mundo, encontrarão perseguições, denúncias, martírio, mas o Espírito os defenderá da tentação do medo e da desistência. Iluminados e conduzidos pelo Espírito, eles irão perseverar e seguirão em frente fazendo o bem. Curando as pessoas e, sobretudo, fazendo nascer a Igreja, novo povo, em torno do Ressuscitado.

No livro de Atos dos Apóstolos (cf. 8,5-8), podemos comprovar a missão de Filipe. Ele é um dos primeiros diáconos instituídos, como ouvimos na primeira leitura do domingo passado. Fugindo das perseguições vai à Samaria. Lá as multidões seguem com atenção o que ele falava, porque viam os milagres e prodígios que ele fazia. (cf. At 8,6). Pedro e João vão também àquela cidade para que a comunidade, após o batismo, seja confirmada no Espírito Santo (cf. At 8,17).

Pedro, na sua primeira carta e diante dos sofrimentos e perseguições, nos fala: “Estejam sempre prontos a da razão da vossa esperança, a todo aquele que vo-la pedir”. (1Pd 3,15). Esta consciência da fé em Cristo dos primeiros apóstolos motivou a adesão de judeus e gentios a viverem a partilha, a mansidão, o amor, a união e a conversão, pois, foi isto que Jesus pregou e viveu com os seus discípulos na Galileia.

Esta mesma fé, este mesmo Espírito, está presente na vida da Igreja hoje. E a mesma missão também deve ser vivida por todos os cristãos. O Ressuscitado está na comunidade reunida, na família em oração, na assembleia que atenta escuta a Palavra de Deus. A presença e a ação do Espírito Santo mantém a comunidade viva, iluminando, conduzindo e defendendo o discípulo de tudo daquilo que pode afastá-lo da vida nova em Cristo.

As perseguições poderão vir, as provocações poderão bater em nossa porta, as tentações poderão nos provocar, mas se temos motivos para viver o nosso amor e a nossa fé no Ressuscitado, seguiremos em frente e faremos nascer novas comunidades em Cristo. Como também nos curaremos e ajudaremos muitos a se curarem e a encontrarem a razão e o motivo de sua esperança em Deus.

Os cristãos devem levar aos outros a alegria, o entusiasmo e a motivação diante das dificuldades, das doenças, das pandemias, das derrotas, as quais, muitas vezes, tiram o chão dos pés de muitos irmãos e irmãs e desencorajam a prosseguir o caminho da fé e da esperança e da caridade.

Portanto, tudo depende do amor aos mandamentos de Cristo na sua Palavra e também a nossa certeza na presença do outro Paráclito em nossa vida de discípulos. E, sobretudo, da confiança num Deus que veio para nos comunicar o seu amor, sua misericórdia, sua paz, nos ensinando como vivermos na irmandade e em comunidade.

Um Deus que não nos deixou órfãos, mas nos fez filhos através de seu Filho, nos dando o Espírito de Verdade e nos fazendo participantes do seu Reino, levando a alegria do Evangelho ao mundo. Amém.

——-

[1] cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012. p. 86.

 

***

⇒ POESIA ⇐

O Espírito Santo, ao nosso lado

 

Mandamento novo é o amor,
Que nos faz guardar no coração a verdade,
Que nos faz caminharmos na confiança,
Deixando que a vida seja liberdade,
Fazendo-nos mantermos a esperança.

Fazendo-nos mantermos a esperança,
Nos dias do nosso desafiante discipulado,
Mantendo-nos filhos fiéis e queridos,
Sob a luz do Espírito, o nosso advogado,
Por Cristo Nosso Senhor prometido.

Por Cristo Nosso Senhor prometido,
O Espírito Santo é nosso defensor,
Que veio em Pentecostes, publicamente,
Trazendo à Igreja um novo vigor,
E levando a Santa Palavra a todo gente.

E levando a Santa Palavra a todo gente,
Rompendo as barreiras de Israel,
Espalhando pelo mundo uma nova vida,
Como uma nação santa e povo fiel,
Construindo comunidades bem fortalecidas.

Construindo comunidades bem fortalecidas.
Na esperança e também na conversão,
Para o mundo velho assim transformar,
Dando para esperança sempre uma razão,
Deixando a semente do Reino germinar.

Deixando a semente do Reino germinar,
Na vida do trabalho e de cada dia,
Nos encontros de irmãos sempre reunidos,
Alimentados pela Palavra e pela Eucaristia,
Igreja, novo povo, por Cristo redimido.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, enviado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

V Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 6,1-7; Sl 32(33); 1Pd 2,4-9; Jo 14,1-12

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus, no Caminho, Verdade e Vida

Jo 14,1-12

 

Estamos no 5º domingo da Páscoa quando o evangelho para esta liturgia está em Jo 14, 1-12: “Eu sou o Caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Estas palavras foram ditas para os seus discípulos momentos após o gesto do Lava-pés, quando Tomé se declara um pouco angustiado sem saber para onde ir (cf. Jo 14,5). Jesus se apresentando como o caminho, indica que para segui-lo, seus discípulos devem estar em constante movimento. E abraçar a peregrinação da missão pelo mundo, levando, com o testemunho, a verdade e a vida.

Felipe faz um pedido: Senhor mostra-nos o Pai, isso nos basta (cf. Jo 14,8). Diante destes sentimentos dos discípulos, Jesus responde que o seu rosto misericordioso é a imagem do Pai (cf. Jo 14,9-11). Olhar para ele, ver suas ações, seu jeito de lidar com as pessoas, seu acolhimento e seu perdão, expressam a ação e a imagem de Deus Pai.

Os discípulos, após a ressurreição, como continuadores da missão de Jesus e em comunhão com ele, deverão apresentar em suas ações, a presença de Cristo ressuscitado que viveu em comunhão perfeita com o Pai e que, após a sua ressurreição, encarregará todos os seus seguidores de agirem como seu mestre.

Na leitura de Atos dos Apóstolos (cf. 6,5-6), podemos conferir que a missão se expande e se faz necessário eleger mais discípulos para que o serviço do amor seja executado. Nesse momento são escolhidos os sete primeiros diáconos da Igreja, para que estejam a serviço da caridade em favor dos necessitados. A Igreja nasce do amor aos pobres e necessitados, porque Cristo viveu toda a sua caminhada terrestre em função do amor aos necessitados e do serviço da justiça e da paz entre as pessoas. Hoje devemos retomar a Igreja dos Atos dos Apóstolos, voltando o nosso olhar e a nossa ação para o serviço dos carentes materiais, espirituais e humanos.

São Pedro na sua primeira carta vai nos dizer: “Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai o edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Cristo” (1Pd 2,5). Assim serão todos os batizados, discípulos de Cristo, em favor do Reino de Deus, os quais são enviados a mostrarem o rosto misericordioso e caridoso do Pai, como pedras vivas, na edificação de um mundo novo.

Nas primeiras comunidades, os seguidores de Jesus viveram a experiência de missão além da Galileia. O desafio foi espalhar a Palavra de vida pelo mundo e, para esse fim, foi necessária a expansão com novos discípulos para dar continuidade a missão de Cristo na Igreja nascente. Também era preciso que os missionários tivessem a consciência de que deveriam ser pedras vivas e edifícios espirituais.

Hoje, são os cristãos as pedras vivas para a construção de uma Igreja que vive a missão da caridade, da evangelização e da formação de novos discípulos. Os batizados são chamados a espalharem o amor também, pelas famílias sem muros, através do serviço aos necessitados e abandonados. Esta é também a Vinha do Senhor que precisa de cuidado e carinho dos seus discípulos.

Hoje os cristãos são chamados a serem sinais de Cristo além dos altares e dos templos, acolhendo, escutando e cuidando das pessoas isoladas e machucadas pelas tantas realidades de sofrimentos. Cristãos, sal da terra e luz do mundo, nestes tempos de pandemia, onde muitas pessoas sofrem e morrem com o Covid-19, com outras doenças e, ao mesmo tempo, estes seres humanos são hostilizados pelo vírus da indiferença, da falta de cuidado, falta de respeito, falta de compaixão e de solidariedade. Muitos perderam a esperança e a coragem de lutar por um mundo de paz e de justiça, outros foram embriagados pelas ideologias que trazem como consequências a revolta, o vazio e a angústia da desestruturação familiar e social.

Enfim, o rosto amoroso e misericordioso de Cristo deve está presente em cada um de nós. Somos batizados (inseridos) em Cristo para expressarmos a imagem dele neste mundo, como sacerdotes a serviço do culto verdadeiro, como profetas anunciadores da Palavra da verdade e reinando com o Senhor sobre as potestades e pestes que afligem o nosso mundo. Este é nosso caminho, busquemos e ajudemos as pessoas a encontrarem o caminho da vida e da esperança, o próprio Cristo e sua Palavra que liberta e salva. Amém!

 

***

⇒ POESIA ⇐

Cristo, rosto de Deus

Não se perturbe teu coração,
Mas tenha a fé no Senhor,
Porque ele é o caminho,
Rosto divino do amor,
Que nos ensina a caridade,
Que nos leva a eternidade,
Ele é nosso redentor.

O Senhor também é vida,
Para a nossa alegria,
Faz-nos seus missionários,
E dá-nos paz a cada dia,
Sua vida é sempre nova,
Sua ressurreição é a prova,
De tudo que ele anuncia.

Somos nele pedras vivas,
Ele, a Pedra angular,
Somos também nação santa,
Para o mundo edificar.
Nossa fé nos faz honrados,
Em Cristo somos banhados,
Banho que nos vem salvar.

E abraçando a caridade,
Em favor de toda a gente,
O Senhor nos convocou,
A servi-lo para sempre,
Vivendo a diaconia,
Na noite e também no dia,
Em favor do irmão carente.

Ele, nossa divina verdade,
Que nos dar a esperança.
Nós seguimos com coragem,
Vivendo na temperança.
Palavra que nos orienta,
Corpo e sangue que sustenta,
Trazendo-nos a segurança.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, ilumine o seu caminho! ***