IV DOMINGO DO ADVENTO – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Mq 5,1-4a; Sl 80(79); Hb 10,5-10; Lc 1,39-45

 

POESIA

MÃE DO SILÊNCIO DA ESCUTA

No silêncio e na escuta do mensageiro,
Mas também questionando,
Entrega-se ao Senhor que forte lhe chama,
Coloca-se a disposição por que muito ama,
Mãe de Deus e da humanidade,
Para Deus é toda gratuidade,
Como poetisa um poema exclama.

Apressada parte caminhando,
Nos caminhos longos das tantas montanhas,
Para viver a missão em caridade,
Sentindo o chamado em simplicidade.
Leva consigo o Deus criança,
Parte sem medo e com muita esperança,
Para servir com humildade.

Traz ao mundo o Verbo encarnado,
Na sua vida de exigente e de peregrina,
Carrega no colo com muita coragem,
Levando a sério a divina mensagem,
Por que será a mãe de um Rei de amor,
Colaborando no plano salvador,
Deus virá em carne, além da imagem.

Denuncia os tantos erros do mundo
Com o canto alegre de profecia,
Vê os poderes que machucam os humanos,
Percebe as riquezas do mundo como engano,
Quando são usados para oprimir,
Somente Deus poder corrigir,
A deficiência dos homens e os seus planos.

E nesta missão divina que recebeu,
É Cheia de Graça em abundância,
Repleta da Palavra do Senhor,
Cantora dos pobres em sua dor,
Está consciente de sua missão,
Vive ativa e sem omissão,
É mãe dos apóstolos com pleno amor.

 

HOMILIA

Maria, exemplo de caminheira, de silêncio e de espera

 

O quarto domingo do Advento nos traz o texto do evangelista Lucas que apresenta duas mulheres, mães e santas, as quais fazem uma ligação da Antiga à Nova Aliança. Nelas, e através delas, Deus realiza as maravilhas da Salvação. Nessa mesma situação, há também o encontro de duas crianças: o precursor, o último dos profetas da primeira Aliança e depois o Emanuel, o Deus conosco, que confirmará a sua presença entre os homens, participando das situações próprias dos homens, menos no pecado.

O interessante é que se trata de realidades onde comprovamos a frase que o próprio Lucas coloca na boca do Anjo: “Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37). Vejamos: Maria era virgem e ficaria grávida. Deus lhe propõe um projeto, mas apesar dos questionamentos e perturbações (cf. Lc 1,29) ela abraça este plano com o seu sim. Isabel era idosa, já não havia possibilidades para engravidar e o Senhor faz o impossível às convicções humanas. O ventre de Isabel guarda João Batista, aquele que preparou os caminhos do Senhor. Em Maria, Sacrário Santo! Deus se encarna para recriar o homem à sua imagem e semelhança.

Voltemos nossa atenção para Maria, a escolhida para colaborar no plano da Salvação. Ela parte apressadamente, porque sente a necessidade de ajudar a Isabel, porque o tempo das promessas de Deus começa a se realizar e é preciso caminhar rápido. A sua visita é mais que uma presença física, é um ato missionário e de serviço à sua prima Isabel. Aqui está presente o cuidado de Maria, na caridade que brota do seu coração totalmente disponível a Deus.

Maria vive toda esta realidade por que acreditou e acreditar é próprio dos que obedecem a Deus. Maria é a Bem-Aventurada, a cheia de Graça, a mulher da escuta e do silêncio. Por isso, de uma forma ousada podemos dizer que ela é a poetisa de Deus. Sua declamação (poesia), o magnificat, brota de sua constante oração, escuta e leitura da Palavra de Deus anunciada pelos profetas. Não é fantasia de uma jovem judia, mas um olhar voltado para o mundo, no chão onde ela pisa, através da consciência de que Deus faz “maravilhas, que demonstra o poder de seu braço, que dispersa os orgulhosos, derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes”[1].

A disposição de Maria como serva do Senhor já se realiza na presença caridosa à Isabel que a acolhe na simplicidade e alegria. Isabel poderá também significar todas as mães e crianças que necessitam da presença da caridade cristã que se traduz no zelo e cuidado de Deus para com os pobres. Aqueles que acolhem a mãe de Deus e o salvador em sua casa e em sua vida.

Toda a realização da chegada de Jesus em Belém já estava anunciada pelo Profeta Miquéias que diz: “E tu, Belém-Éfrata, pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que governará Israel.” (Mq 5,1).

Na segunda leitura temos a ação de Cristo, sua missão e identidade diante do mundo. É o filho de Deus que veio para fazer a vontade do Pai, assim diz a carta aos Hebreus: “E graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas.” (Hb 10,10).

A liturgia do IV Domingo do Advento, portanto, nos convida a olharmos para Maria e seguirmos seu exemplo de serva fiel ao Senhor. Ela nos ensina a sermos obedientes ao chamado de Deus, colaborar com o seu Plano de Salvação, acolhendo Jesus que vem. Faz-se necessário acreditarmos no que Deus nos diz e nos chama a fazer, mesmo que muitas situações ainda não estejam tão claras no caminho com ele.

Por fim, para viver de forma completa a experiência com Deus não podemos ser intimista ou individualista. Devemos nos voltar para o próximo percebendo as necessidades mais plausíveis e indispensáveis de nossa presença, ou seja, a vivência cristã nunca será completa se não vivermos a caridade.

Portanto, quando estamos cheios da Graça de Deus e de sua Palavra, nossa boca proclama naturalmente as maravilhas d’Ele e ao mesmo tempo nossas palavras são proféticas, nossas ações são pautadas no amor, a nossa vida no testemunho que às vezes dispensam as palavras.

Peçamos a Deus a graça da perseverança e a coragem de mudarmos nossa vida para uma atitude cada vez mais orante. Peçamos como o salmista: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos!” Amém.

[1] Cf. Cântico Evangélico “Magnificat”. In Liturgia das Horas: segundo o rito romano. Vozes; Paulinas; Paulus; Ave Maria, 1999.

 

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