DOMINGO DE RAMOS – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

“Entrada de Jesus em Jerusalém” (1842), por H. Flandrin (1809-1864)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Entre aclamações e a Cruz

Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

A liturgia deste Domingo de Ramos nos apresenta dois textos do evangelho de Lucas. O primeiro narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém aclamado como Rei, ele vem de forma simples e sem exércitos de força, para nos mostrar que o seu Reino tem como base principal o amor e a paz. O segundo texto narra a Paixão nos mostrando as consequências da missão de Jesus neste mundo.

Jesus rompeu com um culto antigo, que com tantas leis, oprimiam e rejeitavam os pobres, deixando-os sem voz, sem vez e às margens da sociedade. As leituras e o salmo responsorial nos colocam na meditação deste início da Semana Santa.

O profeta Isaías nos apresenta o servo sofredor, paciente diante da humilhação: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). São Paulo nos confirma que este servo sofredor que se esvazia na humilhação é de condição divina: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens” (Fl 2,6). No salmo responsorial temos o lamento no sofrimento e no abandono máximo o qual passa a natureza humana de Deus e que se solidariza com todos aqueles que carregam a cruz na caminhada da vida.

A liturgia deste início de Semana Santa, portanto, nos leva a meditar sobre estes dois acontecimentos no final da vida de Jesus. Primeiro, a aclamação do povo e dos discípulos na entrada de Jerusalém com ramos tapetes: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38), nos lembrando dos pastores em Belém, na noite do nascimento.

Alguns querem silenciar as aclamações e manifestação dos discípulos, Jesus, porém, repreende, pois são os discípulos que aclamam e caminham com Ele. Ser discípulo é anunciar a presença de Cristo no meio do povo, não é possível calar a voz dos missionários, dos pregadores e dos profetas.

O caminho de Jesus não tem volta, ele segue em direção à Cruz e à sua Paixão. Por isso é importante que juntemos os dois textos de Lucas nesta liturgia. Precisamos caminhar com o Senhor aclamando como Rei de amor, porém ao mesmo tempo somos chamados a contemplarmos a sua Paixão, a sua cruz, que também aparece em nossa vida, nas mais diversas realidades. É a cruz que nos leva à vitória e a redenção.

Qual seria a nossa reposta se começássemos a refletir sobre nosso caminhar com Jesus na nossa história? Seríamos um Cireneu que ajudou a carregar a Cruz? Seríamos como Maria que ficou ao Pé da Cruz? Ou Estaríamos de longe, com medo, fugindo e negando que éramos discípulo dele?

Considera-se importante esta reflexão por que, ainda hoje, Cristo é crucificado, nas crianças abortadas, nos jovens assassinados, nos pais de família que enfrentam a violência, nos desempregados, nos refugiados e nas tantas mulheres vítima da exploração sexual, moral e social.

E para proclamá-lo ressuscitado no meio do mundo, precisamos também viver a experiência da ressurreição, quando somos vencedores com o Senhor mesmo diante de tantos desafios e barreiras que se põem à nossa frente.

Precisamos nos envolver na pregação do Evangelho em nossa vida e na proclamação de seus valores para que a existência humana seja libertada das tantas cruzes, dos tantos sofrimentos a fim de vida nova ressurja em cada pessoa.

Que a Semana Santa nos leve a vivermos cada passo do Senhor a caminho da Ressurreição e que sejamos marcados pela convicção e alegria da nossa fé no Deus que é vida para todos.

 

⇒ POESIA ⇐

Com Jesus na Cruz e na nossa vida

Vamos caminhar com Jesus
Com cantos de alegria,
Com ramos nas mãos sem hipocrisia,
Caminhemos com ele até a Cruz,
Sejamos discípulos do amor e da luz,
Façamos por inteiro nosso peregrinar,
Expusemos o medo de com ele caminhar.

Façamo-lo Rei,
Não da força e da prepotência,
Mas do amor, da Paz e da paciência,
Num caminhar sereno e de prontidão,
Seguindo a estrada na partilha e na união,
No culto novo e cheio de amor,
Além do que se pede a lei e seu rigor.

Entre a fama e a cruz,
Há um caminhar ainda a se fazer,
Há violentos e assassinos a se atrever,
Há também os traidores,
Há os medrosos, os fujões e desertores,
Mas há os que são solidários,
Que caminham até o fim, mesmo solitários.

Triste é saber, e ver,
Que no mundo, neste caminhar,
Ainda há muitos crucificados a gritar,
Marcados pelo flagelo e a humilhação,
Que gemem com o peso da opressão,
Que esperam os “cirineus” para os ajudar,
Para os seus sofrimentos aliviar.

Olhemos para Jesus,
Que caminha com a gente e sem desistir,
Fazendo sua aliança conosco cumprir,
Caminhando sem medo e com humildade,
Totalmente entregue e na liberdade,
Para nos dá o prêmio da vida por ele anunciado,
Para nos conduzir ao Reino, pelo Pai preparado.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.