IX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 5,12-15; Sl 80; 2Cor 4, 6-11; Mc 2,23-3,6

POESIA

A VIDA ACIMA DA NORMAS

Acima das normas ultrapassadas,
A vida vem em primeiro lugar,
Porque o Senhor veio trazer nova lei,
Que traz à existência o dignificar,
Pois seu amor veio promover a inclusão,
Dos que ficam fora da multidão,
Após a cura vem o novo caminhar.

Jesus que somente na vida fez o bem,
A todos os doentes e pobres acolhendo,
Trouxe um modo novo de viver a lei,
Deixando que os sábios fossem entendendo
Que a lei verdadeira sempre quer incluir,
E que somente amando pode-se cumprir,
Os estatutos que Deus está nos oferecendo.

É preciso buscar o sentido da nossa vida,
Buscando momentos fora das distrações,
Descansando e parando para refletir,
Na escuta, na oração e nas meditações,
Porque é importante buscar nossa essência,
Mas, é um trabalho feito em nós, com paciência,
Numa busca, num encontro e sem imposições.

Nosso Deus é amigo das suas criaturas,
Ele ama a todos sem discriminação,
Coloca o homem acima do sábado,
E o acolhe com dignificação,
Chama o enfermo e o coloca no meio,
Porque foi pra isso que ele mesmo veio,
Fazer o bem, e aos doentes a restauração.

Na nova aliança, com a ressurreição,
O novo povo vive o dia do Senhor,
Domingo primeiro dia para o descanso,
Inaugurado por Cristo, o Salvador,
Dá-nos o sentido do encontro e do pão,
Da partilha que se faz entre os irmãos,
Para depois saírem para semear o amor.

E assim o domingo vem a questionar,
As imposições da pós-modernidade,
Que ocupa as pessoas a todo o momento,
Sem o repouso que traz a dignidade
Para o encontro com a família reunida,
Na alegria das relações a serem mantidas,
No compromisso de paz e fraternidade.

 

HOMILIA

O que está acima da Lei?

Quando lemos o Evangelho desta liturgia, podemos responder ao tema desta homilia. O objetivo da Lei, para Jesus, é, em primeiro lugar, promover a vida e a dignidade. Quando as normas oprimem as pessoas perdem o seu sentido e os seus objetivos.

É no contexto da colheita das espigas no dia de sábado, que Jesus proclama a famosa frase: “O sábado foi feito para o homem, e não o sábado para o sábado” (Mc 2, 27). Porque era permitido (pela lei) colher espigas, mesmo na plantação de outros, quando alguém estivesse com fome, porém, não era permito colher no dia sagrado do descanso[1]. Mas o que era essencial naquele momento? Os peregrinos seguidores de Jesus, talvez pelo os dias exaustivos de caminhada na missão com o mestre, tivesse fome e esta necessidade, para Jesus, estava acima da lei.

É também no contexto da cura do homem da mão seca que Jesus entra em conflito com os fariseus e os questiona: “É permitido no sábado fazer o bem, ou fazer o mal” (Mc 3,4). Dá a entender que obedecer a lei naquele contexto era fazer o mal. Nestes dois momentos, podemos entender que havia uma distorção desumana das normas, na vida do povo, principalmente quando os doentes, os famintos e os descriminados tinham necessidades vitais inadiáveis.

O povo de Israel também tinha suas leis, as quais nasceram para o bem das pessoas, como vimos na primeira leitura (cf. Dt 5,12-15). Com o tempo, várias outras normas iam sendo criadas e muitas vezes eram usadas em contextos que não mais respondiam ao seu objetivo original. Como vimos no evangelho, os pobres eram os mais atingidos, como são ainda hoje, quando a leis do capitalismo, do poder político, dos tribunais e tantas emendas na constituição do país, estão contra a vida e a dignidade humana.

E nós cristãos, o que temos a ver com este tema da liturgia de hoje? Como entendemos e acolhemos a posição de Jesus no nosso contexto atual? Também na Igreja temos nossas normas, códigos e estatutos. Estas terão sentido e proveito quando usadas de modo evangélico. Sim, e quando estão a favor da vida e dignidade das pessoas.

Já mencionei em outras homilias, que precisamos entender o objetivo dos mandamentos da lei de Deus. Eles são como sinais que apontam para o caminho correto e que devem levar à vida e ao livramento dos perigos. Precisamos também ver e ficarmos atentos, quando as normas e os códigos julgam demais e não inclui as pessoas no centro da comunidade, como fez Jesus com o homem da mão seca (cf. Mc 3,3).

Os cristãos são chamados à profecia, ou seja, devem levar o Evangelho de modo que possa dar fundamentos à lei que orienta o caminhar e que leva à inclusão na vida comunitária, nas celebrações, nos encontros, nas festas, momentos que dão sentido e alegria à vida de fraternidade.

Somos chamados a transformar as correntes que escravizam e encarceram a vida humana no individualismo, no egoísmo e na opressão das leis que massacra o povo, isto, em nome de um progresso econômico que torna cada vez mais decadente a situação das criaturas de Deus. É a caridade e a sensibilidade pela vida em plenitude que coloca em prática o Evangelho e a posição de Jesus na liturgia de hoje. Neste sentido acolhamos as palavras do Papa Francisco na sua mensagem ao mundo para o primeiro dia dos pobres, em 19 de novembro de 2017: “não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade”. Amém.

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[1] No hebraico, שבת, sábado (sabá) quer dizer “descanso, inatividade”. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabá