XXV Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 54(53); Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Aprendendo a Ser Servo e Acolhedor

Mc 9,30-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXV Domingo do Tempo Comum, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar Cristo que nos indica formas de como ser Servo sofredor, acolhedor. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 9,30-37.

O Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus ainda em movimento, agora Ele atravessa a Galileia, ocultamente, pois queria estar a sós com os discípulos para melhor prepará-los. Neste texto do Evangelho segundo São Marcos, Jesus faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e Ressurreição (cf. Mc 9,30-32). Mais uma vez, Ele surpreende os discípulos e os alerta das consequências do discipulado.

Num primeiro momento, pela segunda vez, Jesus fala sobre o seu calvário e também sobre a Ressurreição após três dias, mas os discípulos não conseguem entender, pois ainda estavam presos às honrarias humanas do costume judaico, além da importância do status de determinados cargos ou postos (cf. Mc 9,34).

Jesus prossegue dizendo que, para ser Seu discípulo, é preciso que primeiro seja aquele que serve, aquele que acolhe os pequeninos, pois quem acolhe uma criança em Seu nome na verdade está acolhendo o Pai do Céu (cf. Mc 9,37). Acolher e ajudar o indefeso e sem voz é acolher o próprio Deus.

Essa experiência de segui-lo terá suas consequências de sofrimento, mas Deus o defenderá e acontecerá o livramento de seus inimigos, como nos indica o livro da Sabedoria (cf. Sb 2,18), na primeira leitura desta Liturgia. Somente quem faz a opção e vive a radicalidade do seguimento em favor do Reino poderá entender esta dimensão da vida cristã.

Na segunda leitura desta Liturgia, São Tiago nos fala que a sabedoria que vem do alto será a base dos valores dos que vivem a fé autêntica em Jesus Cristo. Esta sabedoria é pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimentos (cf. Tg 3,17).

Diante destes fundamentos bíblicos, iluminados pela Liturgia da Palavra, podemos refletir que seguir Jesus supõe estar na contramão das ideologias desumanas presentes no mundo pós-moderno, onde é valorizado aquele que chega primeiro, que se projeta, que quer aparecer diante de todos.

Outro aspecto do seguimento de Jesus é a consciência do sofrimento, é comprometer-se com o outro, é estar com Cristo na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança). É se entregar com simplicidade nas mãos de Deus, tendo disposição para suportar as perseguições, as calúnias, as incompreensões. É não ter medo do mundo (cf. 1Jo 2,15-17) e ser consciente das consequências.

Sem a compreensão do verdadeiro seguimento, como caminho de redenção, fica difícil ser um seguidor autêntico de Cristo. Para isso, é preciso meditação constante e atenta à Palavra para não correr o risco de ficar preocupado com o supérfluo, com as honrarias, com o estrelismo, a popularidade, desaguando assim na inversão da proposta do Reino.

E neste mês da Bíblia, continuemos o exercício do encontro com a Palavra de Deus pela Carta aos Gálatas. A primeira passagem nos remete ao tema “A Filiação divina como cumprimento da Promessa” em Gl 4,1-7, em que São Paulo apresenta como Cristo, descendente de Abraão, nos liberta da escravidão, além de conter a primeira referência à Virgem Maria no Novo Testamento(1) (cf. Gl 4,4). A segunda passagem nos apresenta o tema “A Vida no Espírito conduz a Igreja à Missão universal” em Gl 5,13-26, em que o Apóstolo nos exorta a nos libertar dos instintos para servir os irmãos, evitando as obras da carne e alimentando as obras do Espírito, tais como a paz, a alegria, a paciência, a generosidade, o domínio de si mesmo, entre outras.

Por fim, e retomando o mistério pascal desta Liturgia, peçamos ao Espírito Santo que nos dê forças para que, santificados, possamos enfrentar as tentações e que nosso olhar esteja fixo nas “coisas do alto” (Cl 3,1), mas nossas obras falem onde quer que estejamos, sendo servos e acolhedores para que a luz do Reino dos Céus brilhe na realidade dos desprotegidos e desamparados. Amém.

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(1) Cf. KRIEGER, Dom Murilo S. R. Com Maria, a Mãe de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 44.

 

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⇒ POESIA ⇐

Viver no Senhor

Quero estar contigo, Senhor,
No silêncio do meu quarto interior;
Na escuta das Tuas Palavras cortantes;
Que me convertem a cada instante;
Fazendo-me olhar o mundo com Teu amor.
*
Quero caminhar contigo Senhor
Querendo ser servo no discipulado,
Querendo ser o seguidor menor,
Querendo ser o último e melhor,
Querendo ser como criança, por Ti amado…

*
Ajuda-me a colocar a toalha da caridade,
E caminhar num mundo de tanto sofridos,
Ensina-me a lavar os pés machucados,
Dos caminhantes sem rumo, às vezes chagados…
Que precisam de um lugar para serem acolhidos.

*
Aos poucos vou entendendo
A essência do discípulo em fidelidade:
Sendo servo, perseverando,
Ser sal, luz, se entregando,
Neste mundo carente de fraternidade.
*
Ser trigo triturado, esmagado…
Ou caído na terra para germinar,
Nos caminhos do mundo, frutificando,
Na vida também a cruz carregando,
Sendo semente do Reino em todo lugar.

 

*   *   *

 

Referência da imagem: “São Paulo Escrevendo Suas Epístolas” (Saint Paul Writing His Epistles) – 1618-1620, por Valentin de Boulogne, In wikipedia.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos indica modos de como ser Servo sofredor, ilumine o seu caminho!

XXIV Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Is 50,5-9a; Sl 116(114-115); Tg 2,14-18; Mc 8,25-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Palavra de Vida Eterna em Nosso Caminho

Mc 8,25-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXIV Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar Cristo como Servo sofredor que nos indica o Caminho que requer consciência das consequências da nossa opção de discípulos. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 8,25-37.

A Igreja, com esta Liturgia, nos motiva a abraçarmos a Palavra, conscientes do Chamado para proclamarmos as maravilhas do Reino de Deus, da sua Justiça e da sua Misericórdia. O Espírito Santo continua abrindo nossos ouvidos para que possamos contemplar o Mistério divino que se abre a nós.

A Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus novamente em movimento, agora em Cesareia de Felipe. No caminho, Jesus faz uma pergunta aos seus discípulos: “quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29). Parece que, para alguns, não estava tão claro quem era Jesus. É de Pedro que sai a resposta inspirada: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Porém, em seguida Pedro cai pois ainda não compreende o novo messianismo que Jesus apresenta no primeiro anúncio da sua Paixão (cf. Mc 8,31-33).

Pedro e os outros discípulos ainda pensam segundo a realidade humana. Por isso Jesus não autoriza que saiam falando sobre suas obras, pois ainda não tinham consciência da verdadeira missão de Jesus e das suas consequências: sem honrarias, sem fama e sem status, que passa por fracassos, humilhações, dores e mortes. E Jesus conclui: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mc 8,34). Quem estava ou está preparado para este projeto?

A primeira leitura desta Liturgia profetiza o sofrimento de Jesus como Servo sofredor: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba…” (Is 5,6). Em Jesus se cumprirá a profeta de Isaías, pois é o Servo sofredor que, por sua vez, vencerá a morte e trará a salvação para todos os homens.

O discipulado exige a prática do seguimento, como nos exorta São Tiago na segunda leitura. A fé sem obras é morta (cf. Tg 2,17). Implica, portanto, que a fé reflita numa realidade concreta. Por isso, o cristão precisa saber quem é Jesus: seu projeto de amor e sua postura diante do mundo. Ser cristão é ter vontade de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do martírio. É defender a vida na luta contra o aborto, contra a eutanásia ou quando somos solidários com os que estão em abandono. Tudo isso, muitas vezes, exige do cristão firmeza e tranquilidade diante de uma realidade desconfortável e não uma fuga para ficar com a consciência tranquila.

E neste mês da Bíblia, e em consonância com o subsídio das Edições CNBB, continuemos o exercício do encontro com a Palavra de Deus pela Carta aos Gálatas. A primeira passagem nos remete ao tema “O Batismo nos torna filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”(1), em Gl 3,23-29, onde está localizado texto inspirador do lema do Mês da Bíblia “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). A segunda passagem nos apresenta o tema “Chamados a construir a Unidade da Igreja”, em Gl 1,11-24, em que São Paulo expõe a experiência da sua vocação, do chamado de Deus e de sua resposta que resultou no apostolado que difundiu a Palavra de Deus para todos os povos do Império Romano.

Por fim, e retomando o tema desta Liturgia, somente entenderemos o verdadeiro sentido da cruz quando soubermos quem é Cristo Jesus e vivermos verdadeiramente sua fé, sua obra, sua cruz, sem fingimentos e sem falsidades, como nos motiva o salmista “Andarei na presença de Deus, junto a Ele, na terra dos vivos.” Amém.

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(1) Os temas aqui apresentados são os dois primeiros encontros propostos no subsídio “Encontros Bíblicos para o Mês da Bíblia 2021 – Carta aos Gálatas”, Edições CNBB (versão eletrônica).

 

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⇒ POESIA ⇐

Quem És Tu Senhor?

 

Quem és Tu ó meu Senhor?
Que me chama pra Te seguir.
Que me trata como amigo…
Que me é sincero e não me enganas,
Pro Teu caminho assumir.
*
És Pão e Palavra que vem do alto,
Alimento dos que estão unidos,
Dos que sonham sempre juntos,
Dos que caminham na Tua escuta.
Dos que procuram abrigo.

*
Tens Palavras de vida eterna,
Mas também Palavras duras.
A Teus discípulos é exigente,
Porque é um mestre diferente,
E com amor nos segura.

*
Pra Te seguir conscientes,
As consequências teremos,
O Teu mandato é exigente.
Tem cruz e humilhações,
Mas a vida encontraremos.
*
O que fazer então, ó Senhor?
Para Te responder coerente,
A verdade do meu coração,
Que ainda Te desconhece,
Como age tanta gente.
*
Somente continuar Te seguindo,
No Teu caminho de ensinamento,
Nas Tuas perguntas curtas,
Que me incomodam, mas limpa
Todo o meu entendimento.

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Referência da imagem: “Cristo aparecendo a São Pedro na Via Ápia” (Domine quo vadis?) – 1602, por Annibale Carracci, In wikipedia.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos indica o Caminho que requer consciência das consequências da nossa opção de discípulos, ilumine o seu caminho!

XXIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 146(145); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Discípulos em Escuta e Missionários na Fala

Mc 7,31-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXIII Domingo do Tempo Comum, do Ano B, nos motiva a contemplar a ação salvífica que quer curar nossas deficiências para que possamos escutar a Palavra e proclamar as maravilhas do Reino de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 7,31-37, passagem que está localizada no início da terceira parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “Viagens de Jesus fora da Galileia”.

A Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus em movimento, em território pagão – na região de Tiro e Sidônia –, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado, pois não ouvia e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão, toca nos seus ouvidos e na língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai. E aquele homem, que estava afastado da comunidade e por isso precisou ser carregado, agora escuta e fala – caminha com autonomia.

Com esta passagem, Jesus cumpre o que profetizou Isaías quando falou ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus. Diz o profeta na primeira Leitura desta Liturgia: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5).

Já na segunda leitura desta Liturgia, ainda é São Tiago quem exorta para que, na nossa fé em Jesus Cristo, não admitamos acepções de pessoas e que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus o promotor da exclusão, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos numa realidade poluída sonora e visualmente e sem o discernimento que a Palavra de Deus nos oferece podemos acabar como aquele pagão, surdo-mudo. É Cristo quem nos oferta a cura para que possamos escutar o chamado que nos leva à comunidade. E quando necessário Deus provê quem nos leve. Cristo quer que estejamos ao alcance dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra e que estejamos disponíveis para abrir a boca para proclamar as maravilhas do Reino de Deus.

E neste mês da Bíblia, façamos um exercício do encontro com o Senhor para escutarmos o Espírito Santo na voz da Igreja, seja pela Eucaristia seja pela leitura diária da Bíblia. É pela constante escuta do que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida e de justiça num mundo de sofrimento (cf. Dt 4,1-2.6-8). A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, propiciando a cura do individualismo que se manifesta, muitas vezes, na avareza ou no consumismo.

Neste ano, a Igreja nos oferta o lema “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), da Carta de São Paulo aos Gálatas, que é o livro escolhido para este mês. Rezamos para que possamos ser realizadores em nossa pessoa do lema de sermos um em Cristo, que possamos escutar e proclamar as maravilhas que nos foram deixadas pelo Pai, pelo Jovem Galileu e pelo outro Paráclito (cf. Jo 14,16). Peçamos à Virgem Maria que rogue por nós para que o seu “Sim” ao Pai, sua acolhida ao Espírito e a sua dedicação ao Filho sejam nutrientes para enfrentarmos os desafios e as tentações neste vale de lágrimas. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Efatá

 

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.
*
Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvires as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

*
Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na Ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

*
E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a Fraternidade.

*   *   *

 

Referência da imagem: J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos quer proclamadores das maravilhas do Reino de Deus, ilumine o seu caminho!