V Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 126(125); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Pedras dos nossos Julgamentos

Jo 8,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do filho pródigo ou do Pai Misericordioso, que foi reflexão do Domingo passado.

Enquanto no texto do 4º Domingo da Quaresma o filho volta arrependido por sua própria iniciativa, neste 5º Domingo, o evangelista são João (8,1-11) narra que uma mulher, sem nome, adúltera é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada por adultério (cf. Jo 8,3).

Segundo o livro do Levítico (20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados, homem e mulher. E diz: “se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte”. Também no Deuteronômio (22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). O autor do cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano de 2022 supõe que Jesus escreveu “amor e sabedoria”. Outros ainda especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

A postura de Jesus e suas palavras de sabedoria fizeram com que todos largassem as pedras no chão. Seus ensinamentos com amor gerou uma reflexão não somente no coração da mulher, mas também no coração dos acusadores. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que obviamente era o mais experiente e tinha maior conhecimento da lei, porém faltava-lhe no coração o amor, o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora. E o tempo agora é somente para Jesus e a mulher. A misericórdia e a miséria. O pecador e o perdão. Deus e o humano. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

Daquele momento em diante aquela mulher viverá uma vinda nova, caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor e da misericórdia de Deus. Ela voltará justificada com certeza, porque atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Que ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o amor e a misericórdia do Senhor? Olhando para os fariseus podemos também nos perguntar: quando é que agimos como aqueles fariseus e doutores da lei julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossos pecados, nossas fragilidades e nossos erros absurdos também.

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração. E por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais, pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

E chegando já para o final deste tempo quaresmal, nós somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, Ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, porque ama a todos dentro das suas limitações. Porém, nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade, que acontece mais visivelmente no Tempo da Quaresma e traz o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, nós teremos no próximo dia 10, Domingo de Ramos, o dia nacional da coleta da solidariedade. É importante saber que desta coleta financeira, 60% fica na própria diocese e é gerido pelo fundo diocesano de solidariedade, com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% arrecadados compõem o fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Por fim, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados e iluminados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, que Ele nos ajude a purificar nossas mãos das pedras da arrogância e dos julgamentos contra os nossos irmãos e irmãs, para podermos a Palavra e a Eucaristia, que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e irmãs e de corações livres para construir a paz e a fraternidade como sinais do Reino de Deus no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Tira-nos Senhor, as pedras de nossas mãos


Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser transformados pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.
*
Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que dificultam a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.
*
Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a própria prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.
*
Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.
*
Ilumina Senhor com a Tua Palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Seu amor e na Sua misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

II Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 27(26); Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar a Transfiguração do Senhor, segundo o evangelista São Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,28-36, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia”.

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está, segundo uma tradição, no Monte Tabor, na proximidade de Naim e há aproximadamente 40 quilômetros de Cafarnaum, a cidade do Senhor e que fica na margem norte do Mar da Galileia.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor mostrando toda a Sua glória, sinal da glória infinita de Deus e prefiguração de Sua Ressurreição, com o testemunho de Moisés e de Elias (o Antigo Testamento) e de Pedro, Tiago e João.

Com a Transfiguração em São Lucas, a Igreja nos coloca diante de portas para acessarmos o mistério de Deus. Aqui, Moisés e Elias aparecem revestidos de glória e conversam com Jesus sobre a Sua morte (cf. Lc 9,31), um dado que nos é revelado apenas pelo evangelista São Lucas. Durante a Transfiguração, os discípulos adormecem e quando despertam encontram Jesus em Sua glória.

Ao acordar, Pedro propõe armar as tendas para continuarem por ali, mas é interrompido pela manifestação da nuvem. Os discípulos entram nela e ouvem a voz do Pai que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). A Palavra nos indica que a escuta ao Filho é mais importante que a contemplação da glória do Filho, que o seguimento consciente é a marca do discípulo.

Deus, em sua pedagogia, nos mostra que a oração é a chave para viver os mistérios que Deus, através da Igreja, nos revela constantemente, inclusive as consequências da Missão. E a presença de Moisés e Elias confirma tudo o que foi prometido no Antigo Testamento e que Pedro, Tiago e João são os portadores da revelação, sobretudo a partir de Abraão.

Precisamos subir também ao Monte a partir do convite do Senhor para vivermos a oração pessoal e comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, de zona de conforto, mas para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo. E a tenda, mais do que um local para descanso, é uma referência à Tenda do Encontro de Moisés que encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Portanto, irmãos e irmãs, neste Tempo quaresmal em que somos convidados a vivermos mais intensamente a escuta da Palavra, orando e revendo nossa caminhada para, ao entrarmos na nuvem, possamos escutar o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” (Lc 9,35).

E a nossa escuta também deve estar dirigida à contemplação aos diversos gritos no mundo, os quais estão expressos nos angustiados, nos presos, nos doentes, nos órfãos, nos abandonados nas ruas, nas nações vítimas da cruel guerra, nos refugiados e nas vítimas da opressão econômica expressa no desemprego e na carestia.

E neste Domingo, queremos fazer mais uma abordagem da Campanha da Fraternidade que traz como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Tendo como referência o cartaz da Campanha, reserve um momento para olhar esse Cartaz. Dele, destacamos a mulher frágil e as pedras. A pessoa humana, representada pela mulher frágil, é o objeto da educação e a pedra representa o instrumento de correção e de punição.

No entanto, Jesus, Divino Mestre, oferece à frágil mulher e aos seus acusadores uma alternativa que não se limita à educação como transmissão de conhecimento, senão também como valorização da pessoa humana e a correção como condução pelo caminho reto(1). A mulher não ficou mais fragilizada e os seus acusadores saíram dali com um desafio: encontrar mecanismos de correção que supere o pecado, mas que preserve a vida e as relações humanas na vivência do amor e da misericórdia.(2)

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para sermos fiéis à missão de testemunhar plenamente a glória do Filho de Deus, isto é, escutando o Filho e fazendo a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Texto-Base CF 2022, n. 24-25.
(2) Cf. Texto-Base CF 2022, Apresentação.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vamos Subir ao Monte de Deus


Subamos ao Monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-Lo e contemplá-Lo na Sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é o Senhor da nossa história.
*
Desçamos do Monte
Em caminhada firmes, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continuemos firmes a sua oração.
*
Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do Seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.
*
Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do Monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!


*   *   *

 

Obra: “A Transfiguração”, de C. H. Bloch. In pt.wikipedia.org.

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho!