Domingo de Ramos e da Paixão, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 22(21); Fl 2,6-11; Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Entre Aclamações e a Cruz

Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do Domingo de Ramos nos motiva a contemplar o mistério salvífico numa dupla dimensão: a primeira é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando é aclamado Rei e que vem de forma simples e sem exércitos de força, para nos mostrar que o Seu Reino tem como base principal o amor e a paz e a segunda é a paixão e morte, nos mostrando as consequências da missão de Jesus neste mundo.

O Evangelho de hoje nos coloca, neste início da Semana Santa, diante da ação em que Jesus rompe com o culto antigo, que com tantas leis oprimiam os pobres, deixando-os à margem da sociedade. As demais leituras da Liturgia deste Domingo de Ramos nos fornecem a dimensão do verdadeiro culto em toda a História da Salvação.

O profeta Isaías nos apresenta a figura do servo sofredor, paciente diante da humilhação. Diz o Profeta: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). São Paulo nos confirma que este servo sofredor que se esvazia na humilhação é de condição divina (cf. Fl 2,6). No salmo responsorial temos o lamento no sofrimento e no abandono máximo o qual passa a natureza humana de Deus e que se solidariza com todos os que carregam a cruz na caminhada da vida.

A liturgia deste início de Semana Santa, portanto, nos leva a meditar sobre os dois acontecimentos no final da vida de Jesus. Primeiro, a aclamação do povo e dos discípulos na entrada de Jerusalém com ramos tapetes: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38), nos lembrando dos pastores em Belém, na noite do nascimento.

Alguns querem silenciar as aclamações e manifestação dos discípulos, Jesus, porém, repreende, pois são os discípulos que aclamam e caminham com Ele. Ser discípulo é anunciar a presença de Cristo no meio do povo, não é possível calar a voz dos missionários, dos pregadores e dos profetas.

O caminho de Jesus não tem volta. Segue em direção à sua paixão e à cruz. Por isso é importante que juntemos os dois textos de Lucas nesta Liturgia. Precisamos caminhar com o Senhor aclamando como Rei de amor e contemplando a sua paixão, no calvário e na cruz. É a cruz que nos leva à vitória e a redenção.

Qual seria a nossa reposta se começássemos a refletir sobre nosso caminhar com Jesus na nossa história. Seríamos um “Cireneu” que ajudou, involuntariamente, a carregar a cruz? Seríamos como Maria que ficou, voluntariamente, ao pé da cruz? Ou estaríamos de longe, com medo, fugindo e negando ser discípulo d’Ele?

Esta reflexão é importante tendo em vista que, ainda hoje, o Filho de Deus é crucificado nas crianças abortadas, nos jovens assassinados, nos pais de família que enfrentam a violência e o desemprego, nos refugiados, nos fugitivos das guerras e nas tantas mulheres vítima da exploração sexual, violência doméstica, exploração moral e social.

E para proclamá-Lo Ressuscitado no meio do mundo, precisamos também viver a experiência da ressurreição, quando somos vencedores com o Senhor mesmo diante de tantos desafios e tribulações inerentes à vida no “vale de lágrimas”.

Precisamos nos envolver na pregação do Evangelho em nossa vida e na proclamação de seus valores para que a existência humana seja libertada das tantas cruzes, dos tantos sofrimentos a fim de que uma vida nova ressurja em cada pessoa.

Recordemos ainda que neste mês de abril as intenções do Papa Francisco, Vigário de Cristo e Bispo de Roma, estão voltadas pelo êxito dos profissionais de saúde na assistência aos doente e idosos, sobretudo nas localidades mais pobres e carentes.

Também neste dia, a Igreja, no Brasil, está voltada para o dia nacional da coleta da solidariedade referente à Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, cujos recursos são geridos tanto pelas dioceses quanto pelo fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora da Piedade que ela interceda por nós para que, nesta Semana Santa, possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para, junto com Jesus, passarmos pelo triunfalismo e fazer a vontade do Pai. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Com Jesus na Cruz e na Nossa Vida


Vamos caminhar com Jesus
Com cantos de alegria,
Com ramos nas mãos sem hipocrisia,
Caminhemos com Ele até a cruz,
Sejamos discípulos do Amor e da Luz,
Façamos por inteiro nosso peregrinar,
Expusemos o medo de com Ele caminhar.
*
Façamo-Lo Rei,
Não da força e da prepotência,
Mas do amor, da paz e da paciência,
Num caminhar sereno e de prontidão,
Seguindo a estrada na partilha e na união,
No culto novo e cheio de amor,
Além do que se pede a lei e seu rigor.
*
Entre a fama e a cruz,
Há um caminhar ainda a se fazer,
Há violentos e assassinos a se atrever,
Há também os traidores,
Há os medrosos, os fujões e desertores,
Mas há os que são solidários,
Que caminham até o fim, mesmo solitários.
*
Triste é saber, e ver,
Que no mundo, neste caminhar,
Ainda há muitos crucificados a gritar,
Marcados pelo flagelo e a humilhação,
Que gemem com o peso da opressão,
Mas aparecem os “cireneus” para ajudar,
Para o peso do sofrimento aliviar.
*
Olhemos para Jesus,
Que caminha com a gente e sem desistir,
Fazendo Sua aliança conosco cumprir,
Caminhando sem medo e com humildade,
Totalmente entregue e na liberdade,
Para nos dar o prêmio da vida por Ele anunciado,
Para nos conduzir ao Reino, pelo Pai preparado.


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Ouça o áudio preparado para esta Liturgia.


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Obra: “A Procissão nas Ruas de Jerusalém”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos aproxima da verdadeira Sabedoria e do verdadeiro Amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

V Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 126(125); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Pedras dos nossos Julgamentos

Jo 8,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do filho pródigo ou do Pai Misericordioso, que foi reflexão do Domingo passado.

Enquanto no texto do 4º Domingo da Quaresma o filho volta arrependido por sua própria iniciativa, neste 5º Domingo, o evangelista são João (8,1-11) narra que uma mulher, sem nome, adúltera é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada por adultério (cf. Jo 8,3).

Segundo o livro do Levítico (20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados, homem e mulher. E diz: “se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte”. Também no Deuteronômio (22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). O autor do cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano de 2022 supõe que Jesus escreveu “amor e sabedoria”. Outros ainda especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

A postura de Jesus e suas palavras de sabedoria fizeram com que todos largassem as pedras no chão. Seus ensinamentos com amor gerou uma reflexão não somente no coração da mulher, mas também no coração dos acusadores. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que obviamente era o mais experiente e tinha maior conhecimento da lei, porém faltava-lhe no coração o amor, o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora. E o tempo agora é somente para Jesus e a mulher. A misericórdia e a miséria. O pecador e o perdão. Deus e o humano. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

Daquele momento em diante aquela mulher viverá uma vinda nova, caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor e da misericórdia de Deus. Ela voltará justificada com certeza, porque atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Que ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o amor e a misericórdia do Senhor? Olhando para os fariseus podemos também nos perguntar: quando é que agimos como aqueles fariseus e doutores da lei julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossos pecados, nossas fragilidades e nossos erros absurdos também.

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração. E por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais, pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

E chegando já para o final deste tempo quaresmal, nós somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, Ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, porque ama a todos dentro das suas limitações. Porém, nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade, que acontece mais visivelmente no Tempo da Quaresma e traz o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, nós teremos no próximo dia 10, Domingo de Ramos, o dia nacional da coleta da solidariedade. É importante saber que desta coleta financeira, 60% fica na própria diocese e é gerido pelo fundo diocesano de solidariedade, com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% arrecadados compõem o fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Por fim, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados e iluminados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, que Ele nos ajude a purificar nossas mãos das pedras da arrogância e dos julgamentos contra os nossos irmãos e irmãs, para podermos a Palavra e a Eucaristia, que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e irmãs e de corações livres para construir a paz e a fraternidade como sinais do Reino de Deus no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Tira-nos Senhor, as pedras de nossas mãos


Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser transformados pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.
*
Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que dificultam a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.
*
Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a própria prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.
*
Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.
*
Ilumina Senhor com a Tua Palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Seu amor e na Sua misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

IV Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas (Domingo Lætare)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 34(33); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Os Braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo Lætare (ou “o Domingo da Alegria”), nos motiva a contemplar a misericórdia de Deus que é compassivo com os que se perdem dentro e fora de Sua Casa. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-3.11-32, passagens que estão situadas no início da metade final da quinta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Subida para Jerusalém”(1).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor revelando a misericórdia de Deus aos publicanos e pecadores, que se aproximaram para ouvi-Lo, e aos fariseus e escribas, que criticavam sobre Jesus.

Com a parábola do “Pai das Misericórdias” (ou conhecida também como “parábola do filho pródigo”) a Igreja nos coloca diante da alegria preconizada por Isaías (cf. Is 66,10) e por São Paulo (cf. Fl 4,4). Também diante da alegria de Josué em escutar a confirmação da promessa da Terra Prometida (cf. Js 5,9a). Já o Papa Francisco nos recorda que a atitude de São José de acolher a Virgem Maria e Jesus pode ter sido uma das inspirações para a parábola do “Pai das Misericórdias”(2).

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: o filho mais novo, o pai e o filho mais velho. O mais novo toma a iniciativa de pedir a parte da herança, o mais velho também recebe a sua parte e o pai cede as duas partes.

O mais novo quer se distanciar para dissipar os bens. Quando acabou a última moeda e a última gota de vinho e diante da miséria social desejou matar a forme com a comida dos porcos (cf. Lc 15,16). Diante de sua angústia, renuncia ao seu orgulho e pensa em pedir perdão ao pai e a Deus e deseja ser tratado como empregado e não como filho. Depois disso, toma a iniciativa de voltar para a casa do Pai.

Ainda estava longe ele é alcançado pelo olhar e abraço do pai. O Pai dispensa as palavras do filho e acolhe com alegria, com veste, anel no dedo e sandálias e também com um banquete.

O mais velho ao retornar da jornada de trabalho é surpreendido com a festa e não acolhe o mais novo. O mais velho devia ter mais experiência, era trabalhador, mas não conhecia a misericórdia de seu Pai. Também o mais velho precisava renunciar ao seu orgulho para aprender sobre o amor que o Pai transmitia diariamente desde a ausência do filho mais novo.

O filho mais velho é a figura dos fariseus que conheciam a Lei mas não a Misericórdia e o amor. Também figura os cristãos que se acham autossuficientes e incapazes de acreditar no amor da misericórdia de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu, ou seja, a misericórdia e a alegria de Deus que, sem acolher o pecado, sempre acolhe Seus filhos pecadores, independente da sua dignidade.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da Sua Palavra e do Seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração, pela nossa volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a Ele e à Sua Casa.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

E neste IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, continuemos a nossa atenção e reflexão sobre o tema e o lema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Educação” e “Fala com amor, ensina com sabedoria” (cf. Pr 31,26). Na parábola do “Pai das Misericórdias”, Jesus nos fala com sabedoria sobre a ação do Pai misericordioso, de como o nosso Deus age com Seus filhos errantes. O Senhor também nos ensina com amor, nos educa para a vivência da misericórdia, para com o irmão que se perde e quer se reencontrar com o amor divino.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para renunciarmos ao nosso orgulho e possamos escutar o Filho e fazer a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém, o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. §§ 32.40 da Carta Apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Abraço Alegre do Pai


Nas minhas idas e voltas,
Peço-Te agora, ó Senhor,
Que me acolha no Teu amor,
No meu arrependimento,
Também no meu sofrimento,
Aliviando-me a dor.
*
E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como Teu Filho amado,
Na Tua simplicidade.
*
Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.
*
Preciso, então, aprender,
Ser filho, Contigo,
Sendo Teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.
*
Perdoando o pecado mal que fiz,
Te bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos revela o Pai das Misericórdias, ilumine o seu caminho! 

 

 

III Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Ex 3,1-8a.13-15; Sl 103(102); 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9

 

 

 

 

 

 

 

*   *   *

 

Que a Palavra e a Luz do Senhor, que nos ensina a paciência divina, ilumine o seu caminho!

 

 

II Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 27(26); Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar a Transfiguração do Senhor, segundo o evangelista São Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,28-36, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia”.

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está, segundo uma tradição, no Monte Tabor, na proximidade de Naim e há aproximadamente 40 quilômetros de Cafarnaum, a cidade do Senhor e que fica na margem norte do Mar da Galileia.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor mostrando toda a Sua glória, sinal da glória infinita de Deus e prefiguração de Sua Ressurreição, com o testemunho de Moisés e de Elias (o Antigo Testamento) e de Pedro, Tiago e João.

Com a Transfiguração em São Lucas, a Igreja nos coloca diante de portas para acessarmos o mistério de Deus. Aqui, Moisés e Elias aparecem revestidos de glória e conversam com Jesus sobre a Sua morte (cf. Lc 9,31), um dado que nos é revelado apenas pelo evangelista São Lucas. Durante a Transfiguração, os discípulos adormecem e quando despertam encontram Jesus em Sua glória.

Ao acordar, Pedro propõe armar as tendas para continuarem por ali, mas é interrompido pela manifestação da nuvem. Os discípulos entram nela e ouvem a voz do Pai que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). A Palavra nos indica que a escuta ao Filho é mais importante que a contemplação da glória do Filho, que o seguimento consciente é a marca do discípulo.

Deus, em sua pedagogia, nos mostra que a oração é a chave para viver os mistérios que Deus, através da Igreja, nos revela constantemente, inclusive as consequências da Missão. E a presença de Moisés e Elias confirma tudo o que foi prometido no Antigo Testamento e que Pedro, Tiago e João são os portadores da revelação, sobretudo a partir de Abraão.

Precisamos subir também ao Monte a partir do convite do Senhor para vivermos a oração pessoal e comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, de zona de conforto, mas para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo. E a tenda, mais do que um local para descanso, é uma referência à Tenda do Encontro de Moisés que encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Portanto, irmãos e irmãs, neste Tempo quaresmal em que somos convidados a vivermos mais intensamente a escuta da Palavra, orando e revendo nossa caminhada para, ao entrarmos na nuvem, possamos escutar o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” (Lc 9,35).

E a nossa escuta também deve estar dirigida à contemplação aos diversos gritos no mundo, os quais estão expressos nos angustiados, nos presos, nos doentes, nos órfãos, nos abandonados nas ruas, nas nações vítimas da cruel guerra, nos refugiados e nas vítimas da opressão econômica expressa no desemprego e na carestia.

E neste Domingo, queremos fazer mais uma abordagem da Campanha da Fraternidade que traz como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Tendo como referência o cartaz da Campanha, reserve um momento para olhar esse Cartaz. Dele, destacamos a mulher frágil e as pedras. A pessoa humana, representada pela mulher frágil, é o objeto da educação e a pedra representa o instrumento de correção e de punição.

No entanto, Jesus, Divino Mestre, oferece à frágil mulher e aos seus acusadores uma alternativa que não se limita à educação como transmissão de conhecimento, senão também como valorização da pessoa humana e a correção como condução pelo caminho reto(1). A mulher não ficou mais fragilizada e os seus acusadores saíram dali com um desafio: encontrar mecanismos de correção que supere o pecado, mas que preserve a vida e as relações humanas na vivência do amor e da misericórdia.(2)

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para sermos fiéis à missão de testemunhar plenamente a glória do Filho de Deus, isto é, escutando o Filho e fazendo a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Texto-Base CF 2022, n. 24-25.
(2) Cf. Texto-Base CF 2022, Apresentação.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vamos Subir ao Monte de Deus


Subamos ao Monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-Lo e contemplá-Lo na Sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é o Senhor da nossa história.
*
Desçamos do Monte
Em caminhada firmes, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continuemos firmes a sua oração.
*
Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do Seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.
*
Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do Monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!


*   *   *

 

Obra: “A Transfiguração”, de C. H. Bloch. In pt.wikipedia.org.

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho!

 

 

I Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 91(90); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Tentações de Jesus e as tentações do Cristão

Lc 4,1-13

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do I Domingo da Quaresma, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a experiência de Jesus no deserto, segundo o evangelista Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 4,1-13, passagem que conclui a terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Preparação do ministério de Jesus”(1).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está no deserto da judeia. A tradição diz que se trata de uma colina (conhecida como “colina da tentação”), situada há uns 10 quilômetros de Bethabara (cf. Jo 1,28), que quer dizer “Casa do Deserto” ou “Lugar da Passagem”, às portas de Jericó, local em que foi batizado por São João Batista.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor vivendo um tempo de penitência, não que Ele precisasse de uma penitência, pois não pecou. No entanto, Sua experiência de tempo penitencial, cujo ápice foram as tentações, é para nós um modelo de como viver o tempo quaresmal.

No deserto, Jesus vence as três tentações: quando chega a fome há uma tentação de transformar as pedras em pães (cf. Lc 4,3). Em um segundo momento, diante dos reinos do mundo, o tentador promete todas as riquezas para que Jesus as adore (cf. Lc 4,7). Por fim, Jesus é tentado a se jogar do ponto mais alto (cf. Lc 4,8).

Diante destas tentações contra a sua natureza humana, Jesus se faz fiel ao plano do Pai e, por isso, tem sempre uma resposta firme perante o tentador, pois é conduzido pelo Espírito.

Na fome, Ele se ampara no alimento imperecível que é a oração constante ao Pai e responde ao tentador que “não só de pão vive o homem” (Lc 4,4). Diante da tentação do poder, Jesus é fiel ao projeto do Reino, pois somente ao Deus verdadeiro se deve adorar e servir (cf. Lc 4,8). Diante da tentação da falsa segurança, não Se coloca no perigo, pois, pelas Escrituras, não podemos tentar a Deus somente porque que Ele se prevê poderoso.

O ser humano vive num constante deserto. Nele sofremos todo tipo de tentações para resolver nossas necessidades pessoais, nossas ambições perante coisas e pessoas ou mesmo tentando que Deus faça a nossa vontade. Entretanto, não percebemos quantas coisas boas o Senhor nos dá no deserto de nossa existência, com as quais enfrentamos nossas lutas, nossos desafios, nossas provações. Deus quer nos ajudar a vencer e para isso nos ensina muito mais do que os sucessos mirabolantes baseados apenas em interesses terrenos e perecíveis.

A fé cristã é exatamente a consciência de que em cada momento da nossa vida estamos caminhando para a eternidade, pois o Senhor está conosco nos fortalecendo pelos desertos de nossa da vida, nos dando a vitória rumo à libertação e à salvação.

O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma deste ano(2), nos exorta a cultivar relações humanas mais íntegras e integrais, concretizadas no corpo-a-corpo, numa prática alegre e generosa da esmola, inclusive a esmola do tempo, pois a Quaresma é tempo de visitar o solitário e de nos aproximarmos do irmão que sofre e que é necessitado da Providência de Deus.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, possamos vencer as tentações que enfrentamos nos desertos de nossa existência e fazermos a vontade de Deus em todas as circunstâncias de nossas vidas. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém (Paulus, 2013), o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. Papa FRANCISCO. Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/20211111-messaggio-quaresima2022.html>. Acesso em: 4 mar. 2022.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Deserto da Vida


No deserto desta vida,
Muitas coisas enfrentamos,
Tentações de todo tipo,
Que às vezes duvidamos,
Mas Jesus está com a gente,
Caminhando firmemente,
É nEle que acreditamos.
*
Muitas vezes ao caminhar,
O deserto fica quente,
Vem a sede e vem a fome,
Que vai castigando a gente,
Então vem a esperança,
O Senhor é a bonança,
Pois na vida está presente.
*
Temos tantas tentações,
No nosso mundo atual,
Consumir pra mais da conta,
Cultivando o capital,
Somos tentados a comprar,
E ainda adorar,
O ídolo material.
*
Não podemos esquecer,
Que a vida do cristão,
Deve ser simplicidade,
Vivendo a contemplação,
Com Jesus sem desistir,
O caminho a prosseguir,
Pra viver a conversão.
*
A caminhada é longa,
No deserto da existência,
Mas nós vamos aprendendo,
A viver com paciência,
Com jejum e oração,
Caridade em ação,
Santa e viva penitência.
*
Viver o tempo quaresmal,
Para o cristão é importante,
Faz muito a gente crescer,
E seguir perseverante,
A Palavra é fundamento,
Oração como alimento,
Testemunho a todo instante.


*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos ensina a vencer as tentações, ilumine o seu caminho!

 

 

V DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

“A mulher adúltera – Jesus escrevendo no chão”, 1886–1894, J. Tissot (1836–1902)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

As pedras, dos nossos julgamentos

Jo 8,1-11

 

A liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém, com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do Filho Pródigo, objeto de reflexão no domingo passado. Vejamos: enquanto no texto do 4º domingo da quaresma, o filho volta arrependido, por sua própria iniciativa, neste 5º domingo, o texto do evangelista, narra que uma mulher (sem nome) é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada, por adultério (cf. Jo 8,3).

Ninguém falou ou não se sabia do cúmplice, todos estavam com pedras nas mãos para assassinar a mulher. Estavam armados para cumprir a lei, de acordo com os preceitos machistas, preconceituosos e discriminatórios daquela época. Neste caso, não havia se quer uma atitude de misericórdia e nem defesa do acusado, por que segundo o Levítico (cf. 20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados (homem e mulher): “Se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte.” Também no Deuteronômio (cf. 22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei Judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). E outros especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

As palavras e a postura de Jesus fez com que todos jogassem suas pedras no chão. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que, obviamente, era o mais experiente, tinha conhecimento maior da lei, porém faltava-lhe no coração o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora e o tempo agora é somente para Jesus e a Mulher. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

De agora em diante aquela mulher viverá uma caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor de Deus, voltará justificada com certeza, por que atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Quantos ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o Senhor? Olhando para os fariseus podemos nos perguntar: quando é que agimos como eles, julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossas fragilidades e erros absurdos?

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração, e por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

No final deste tempo quaresmal, somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo 125(126): “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, por que ama a todos dentro das limitações, porém nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Quando entendermos isso e deixarmos enraizar no nosso íntimo essa espiritualidade, poderemos dizer como o apóstolo Paulo: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo.” (Fl 3,8). Conhecer a Cristo consiste, portanto, testemunhar esse amor que acolhe, que escuta, que perdoa e que ajuda a prosseguir o nosso caminhar na santidade.

Peçamos ao Senhor misericordioso, que nos ajude a purificar nossas mãos para podermos receber a Palavra e a Eucaristia… que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e de coração livre para construir a paz e a fraternidade, como sinais do Reino, no mundo. Amém.

 

⇒ POESIA ⇐

TIRA-NOS SENHOR, AS PEDRAS DE NOSSAS MÃOS

Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser vencidos pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.

Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que não se juntam para a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.

Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.

Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.

Ilumina Senhor com a tua palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

IV DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Js 5-9a.10-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

“O Retorno do Filho Pródigo” (1661–1669), por Rembrandt (1606-1669)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ POESIA ⇐

O ABRAÇO ALEGRE DO PAI

Nas minhas idas e voltas,
Peço-te agora, ó Senhor,
Que me acolha no teu amor,
No meu arrependimento,
Também no sofrimento,
Aliviando-me a dor.

E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como teu filho amado,
Na tua simplicidade.

Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.

Preciso, então, aprender,
Ser filho, contigo,
Sendo teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.

Sem olhar para o mal que fiz,
Bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

O retiro quaresmal de todos os cristãos continua. Prosseguimos em busca de uma vivência espiritual marcada pelos exercícios de penitência e de escuta da Palavra, agradecidos com a dádiva de um Pai misericordioso que nos acolhe no abraço, na alegria e faz festa quando a ele retornamos.

A liturgia deste 4º domingo da quaresma, que a Igreja também chama de Domingo da Alegria (Laetere), pois estamos mais próximo do grande dia da celebração da vida nova, nos dada pela ressurreição do Senhor. O texto é de Lucas (cf. 15,1-3.11-32), o qual apresenta a parábola do Filho Pródigo. O cenário e o conteúdo descrito por Lucas para apresentar este belíssimo texto, traz os fariseus criticando Jesus por acolher pecadores (cf. 15,2) e em seguida a parábola que nos mostra a face misericordiosa de Deus (cf. 15,3s).

A parábola é resposta de Jesus para com os fariseus, os primeiros destinatários da mensagem, os quais não conheciam o amor e a misericórdia de Deus e por isso eram hipócritas por se considerarem corretos e autossuficientes para julgar as pessoas.

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: O filho mais novo quer a herança que lhe cabe (cf. 15,12). Este filho parte para ficar distante, para esbanjar a herança nos prazeres desenfreados do mundo e se esvazia até a última moeda e última a gota de vinho. Vem a miséria, a fome e a perda da dignidade humana, a ponto de desejar matar a forme com a comida dos porcos (cf. 15,16). A sua angústia chega ao limite máximo e o seu orgulho cai por terra. Ele cai em si.

O filho arrependido ensaia algumas das palavras para dizer ao Pai quando retornar: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.” (Lc 15,18-19). Depois de pensar nisso, decide por uma escolha: tomar o caminho de volta e fazer o que planejou.

Ainda estava longe quando lhe vem a surpresa do abraço do Pai, que com certeza tantas vezes olhava o caminho para ver se o filho voltava. As palavras formais ensaiadas pelo jovem não interessaram ao Pai, pois a atitude da volta para os seus braços já era o suficiente para ser acolhido na alegria, no abraço e na festa e não somente isso: um anel no dedo, sandálias nos pés, um banquete e, com certeza, roupas novas (cf. Lc 15,22), atitudes que expressaram o perdão e o acolhimento misericordioso do Pai.

O filho mais velho, que também estava fora, tinha saído para trabalhar, ao retornar, não acolheu o seu irmão no seu retorno e também não quis entrar na casa. Este filho mais velho, estava sempre com o Pai, era correto, devia ter mais experiência, era trabalhador, mas também não conhecia o Pai na sua misericórdia e acolhimento. Ele também precisava se converter, porque não aprendeu do seu Pai sobre o seu amor.

Este filho mais velho é a figura dos fariseus, que não aprenderam a amar e serem misericordiosos como Deus ensina. Também é a figura dos cristãos quando se acham autossuficientes e incapazes de acreditar naqueles que se convertem radicalmente e querem tomar o caminho de volta para os braços de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu: a misericórdia e a alegria de Deus ao acolher os pecadores, que não erram apenas uma vez, tantas vezes vão e outras tantas podem voltar. Nós cristãos somos assim, estamos sempre buscando o perdão de Deus para a nossa santificação.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da sua Palavra e do seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração na volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a ele.

Quantas vezes julgamos os outros como sendo alguém mais pecador do que nós ou até incapaz de conversão. A nossa santidade não consiste apenas em sermos corretos, à nossa maneira, e pertencermos a um grupo de privilegiados da Igreja, mas sim, consiste em reconhecermos que precisamos nos converter e aprender todos os dias. Também vivemos a santidade e a misericórdia de Deus quando acolhemos o irmão e o ajudamos a restaurar a sua dignidade com o abraço amoroso e caridoso.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

Peçamos ao Senhor que converta o nosso coração para atitudes de perdão, de acolhida e de misericórdia, para amar os irmãos e irmãs como Deus nos ama. Que possamos viver um testemunho de alegria pelos que retornam à casa de Deus com súplicas de perdão e dispostos a viverem a conversão. Seja para nós, a quaresma, este período de uma oração mais profunda e de uma penitencia coerente neste caminhar de discípulos missionários que sobem à Jerusalém para com Jesus viver a sua Paixão, morte e Ressurreição.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

III DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Ex 3-1-8a.13-15; Sl 102; 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9

 

⇒ POESIA ⇐

A PACIÊNCIA DE DEUS

 

Peço-te Senhor
A tua paciência,
Na minha deficiência,
Nas minhas murmurações,
E também nas decepções,
Que me fazem desviar,
Este meu caminhar,
Para as ilusões.

Peço-te Senhor,
A tua sabedoria,
Que me alumia,
Sem nada cobrar,
Mas quer me encaminhar,
Para a estrada correta,
Que também me alerta,
Aonde devo chegar.

Obrigado Senhor,
Em ti minha esperança,
Que espera e não se cansa,
Cuidando com carinho,
Indicando-me o caminho,
Para a santificação,
Sem que esqueça o meu chão,
E sem que eu fique sozinho.

Sigo em frente Senhor,
Neste meu caminhar,
Sei que vais me ajudar,
Nesta vida peregrina,
Tua Palavra me ensina,
Quero então prosseguir,
Firme e sem desistir,
Pois teu amor me anima.

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Palavra de Deus nos faz fecundos

Lc 13,1-9

 

Seguimos em frente com o Senhor neste tempo quaresmal em busca da santidade, que é construída através da nossa conversão constante. O Evangelho deste 3º domingo da quaresma está em Lucas (13,1-9) e é constituído de duas partes.

Na primeira, a narração de algumas pessoas que chegam a Jesus para falar sobre o massacre de Pilatos contra alguns galileus. Jesus por sua vez, também lembra o desastre da torre de Siloé (cf. Lc 13,1-4). A intenção das pessoas que foram interrogar Jesus era saber sobre a posição dele a respeito destes acontecimentos. Jesus esclarece que estes fatos não são castigos de Deus, por causa dos pecados das pessoas, embora Deus queira que todos reconheçam seus pecados e tomem consciência da necessidade de conversão e, porém, os desastres e massacres não são uma vingança divina por causa dos pecados pessoais, mas muitas vezes, estas realidades são consequência dos atos humanos, do descuido, da violência, da opressão, da desumanidade e da tirania.

A segunda parte do evangelho trata da parábola da figueira estéril. A vinha é imagem do povo de Israel, sendo que o dono dela é o próprio Deus, que cuida com calma, carinho e misericórdia.

Diante de texto, podemos tirar vários ensinamentos para o processo de nossa conversão. O dono da vinha fala: “E Jesus contou esta parábola: ‘Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’. Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”. (Lc 13,6-9).

Podemos refletir que os três anos de Jesus na sua caminhada pública com os seus discípulos, junto ao povo e nos conflitos com os fariseus e outras lideranças, foi este período de cuidado e espera na busca dos frutos de conversão. Inicialmente ele pouco encontrou nos seus ouvintes e seguidores esta realidade.

Mas aqui entra a paciência e a espera de Deus para que a figueira seja renovada, adubada para dar frutos. No início desta vinha na caminhada do povo, na Bíblia, está Moisés que é chamado a cuidá-la, cultivá-la e livrá-la de toda a opressão imposta pelo faraó do Egito. Moisés foi o cuidador da vinha divina e durante muito tempo enfrentou o desafio dos murmúrios do povo, da sua idolatria e incredulidade para com o Deus da aliança. No chamado de Moisés está a memória de todos os percursos da história do seu povo desde os primeiros pais: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó” (Ex 3,6).

Paulo também faz memória da caminhada do povo da primeira aliança: “todos foram batizados em Moisés, sob a nuvem e pelo mar; e todos comeram do mesmo alimento espiritual, e todos beberam da mesma bebida espiritual” (1Cor 10,3-4).

Precisamos refletir sobre nossas raízes espirituais e bíblicas, lembrando-nos do povo de Deus na sua caminhada pelo deserto e contemplarmos o percurso até nós, o povo da nova aliança. Nisto percebemos que Deus sempre caminhou conosco, o seu povo, mesmo em meio aos erros e durezas de nosso coração. Neste olhar e neste refletir, reconhecemos que ele sempre foi paciente, misericordioso e cuidadoso conosco, inclusive nos dando inúmeras chances de nos revermos e mudarmos de vida.

Os cristãos são chamados a buscarem nesta quaresma o cuidado, o preparo (adubo) com suas raízes espirituais, para poderem produzir a unidade, a fraternidade, o amor e a justiça, como sementes que fazem crescer a messe do Senhor.

Às vezes em alguns momentos de nossa vida, o nosso comodismo e a nossa indiferença com o Evangelho, passa a ser a expressão da figueira estéril, a qual será descartada, pois não fará sentido a sua existência se não produzir frutos.

Faz-se necessário que a nossa vida seja regada pela Palavra de Deus, alimentada pela Eucaristia, fortificada pela vida de oração, revisada pela penitência, vivida na caridade e ao mesmo tempo motivada para a missão evangelizadora, produzindo assim os frutos que se expressam no autêntico testemunho de cristãos, sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14).

Peçamos ao Senhor a sua graça para que nos conceda a perseverança na nossa busca de conversão e nos fortaleça com a sua Palavra para tornar o nosso caminhar fecundo e cheio de sentido.

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

II DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 26; Fl 3,17-41; Lc 9,28b-36

 

⇒ POESIA ⇐

VAMOS SUBIR O MONTE DE DEUS

 

Subamos ao monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-lo e contemplá-lo na sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é Senhor da nossa história.

Desçamos do monte
Em caminhada firme, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continua firme a sua oração.

Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.

Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Continuamos nossa caminhada com Jesus rumo a Jerusalém neste período quaresmal, alimentados pela certeza na Ressurreição. Neste segundo domingo da Quaresma, contemplemos Jesus e os três discípulos que vão ao monte para orar. Lá acontecerá a Transfiguração, sinal da glória infinita de Deus que é prefiguração da Ressurreição do Senhor.

Podemos refletir várias realidades nesta narração de Lucas: Jesus escolhe Pedro, Tiago e João para estarem com ele na oração do monte; aparecem dois representantes da primeira aliança: Moisés e Elias, os quais conversam sobre o tipo de morte de Jesus em Jerusalém (cf. 9,31).

Na oração, os discípulos adormecem e quando despertam veem Jesus transfigurado: seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante e junto a ele estão dois homens, Moisés e Elias, os três aparecem revestidos de Glória (cf. 9,31).

Há uma sugestão de Pedro para armar as tendas para continuarem por ali. O Evangelista fala que Pedro não estava entendendo (cf. 9,31-33). Isto significa que ele queria apenas a segurança do monte sem a passagem pela Cruz. E uma nuvem envolve a todos e desta saiu a voz de Deus que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35).

Toda esta realidade apresentada pelo evangelista Lucas nos ensina que se faz necessário a oração para o maior entendimento do projeto do Reino. Que é preciso o seguimento consciente nos caminhos do Senhor.

A presença dos profetas confirma tudo o que foi anunciado no primeiro Testamento sobre o novo êxodo, a libertação de todo homem na nova Aliança. Precisamos subir também ao monte em vista do encontro com o Senhor, para vivermos a oração pessoal ou comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, mas, para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo.

O interessante é que os três discípulos que Jesus chamou, coincidentemente, tinham dificuldades de entender a proposta do Reino, vejamos: Pedro, quando Jesus anuncia que irá sofrer e morrer não aceita naquele momento de maneira alguma esta realidade (cf. Mt 16,21-23); Tiago e João já haviam pedindo sobre um lugar de honra discutido sobre quem seria o maior (cf. Mc 10,35-38.43-45). Vemos que Jesus na sua pedagogia de Mestre os chama para viverem uma experiência de oração, para que se possa ficar clara para eles as consequências da Missão junto ao seu Mestre.

O despertar dos discípulos poderá significar a nova visão sobre o sentido da missão com o Senhor. A tendas também fazem referência à tenda do encontro, onde Moisés encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Na primeira leitura, Abraão, o nosso Pai na fé, é convidado a observar as estrelas, vê e pensar na promessa que Deus lhe confiou (cf. Gn 15,5). Ele nos ensina a confiar nas promessas de Deus e não duvidar. Quantas vezes somos fracos na nossa vida de cristãos e até duvidamos dos que acreditam e colocam sua vida totalmente nas mãos de Deus, mesmo diante das dificuldades e derrotas humanas.

São Paulo nos conforta: “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21). Toda a nossa vida de discípulos de Cristo é em vista da Ressurreição quando seremos também glorificados e viveremos eternamente com Deus.

Portanto, neste tempo em que somos convidados a vivermos uma escuta da palavra mais intensa, uma vida de oração mais profunda e rever a nossa caminhada através de um exame de consciência, faz-se necessário que escutemos o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” ( Lc 9, 31-35).

Precisamos silenciar para exercitar a escuta, não somente a escuta numa atitude de contemplação da voz de Deus, mas também ser mais ouvinte dos outros e estarmos atentos aos diversos gritos do mundo os quais estão expressos nos angustiados, nos órfãos, no povo da rua, nas penitenciárias e outras situações. Também ouvir os que estão mais próximos de nós.

Peçamos ao Espírito Santo o dom do discernimento para podermos descobrir aquilo que é mais necessário para chegarmos a uma vida transfigurada pelo amor, uma nova convivência juntos aos irmãos e irmãs, em direção à verdadeira felicidade a qual se encontra somente em Deus.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.