XXIV Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Eclo 27,33-28,9; Sl 103(102); Rm 14,7-9; Mt 18,21-35

 

⇒ HOMILIA ⇐

Perdoar sem Limites

Mt 18,21-35

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje o mistério pascal apresentado pela Liturgia do XXIV Domingo do Tempo Comum, em que o Senhor nos motiva a perdoar ilimitadamente. E o Evangelho para esta Liturgia está em Mateus 18,21-35, uma sequência ao Evangelho do Domingo passado.

“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?” (Mt 18,21). Esta é a pergunta do discípulo que quer acertar na caminhada com Jesus. Porém, a pergunta de Pedro expressa ainda a limitação do quanto deve-se perdoar o irmão. E a resposta de Jesus [“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22)] vem carregada de sentido, pois, o número sete, na Bíblia, quer dizer completude, perfeição. Portanto, Jesus nos motiva a praticar 0o perdão perfeito.

O que seria do mundo, se não houvesse o perdão entre os humanos? O que seria da comunidade cristã, se a vida de cada membro não tivesse o precioso sacramento da confissão? E se Deus colocasse limites, quando durante a nossa vida, fôssemos pedir o perdão ou a confissão ao sacerdote? O amor de Deus por nós é insuperável e infinito. Ele não leva em conta as nossas imperfeições e limitações. O amor de Deus é incondicional.

Em nossa vida fraterna em Cristo há falhas e misérias, mas a convivência (interna e externa) é sustentada pelo perdão. Deus é esse Pai (o patrão da parábola que nós ouvimos no Evangelho), esse patrão que perdoa as nossas dívidas e nos liberta da escravidão, para prosseguirmos a vida (cf. Mt 18,27). Ao sairmos do confessionário, não devemos fazer como aquele empregado da parábola, que ao ser perdoado e libertado ele foi incapaz de perdoar o seu irmão (cf. Mt 18,30). A sua insensibilidade o cegou e o encaminhou de volta a escravidão.

O perdão será sempre a atitude que vencerá a vingança, a violência e os ressentimentos contra o irmão. Neste sentido o livro do Eclesiástico nos dirá: “Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados” (Eclo 28,2). A vida em santidade será sempre esse empenho na busca do perdão. Perdão de mim, do outro e de Deus, como também perdoar quando necessário, numa atitude de dentro para fora. Esta é a exigência do ser cristão, como nos fala São Paulo: “… vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14,9). Viver em Cristo e para Cristo é colocar em prática a oração que ele nos ensinou: “Perdoai a nossas dívidas [nossas ofensas], assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12).

Portanto, o perdão é que nos impulsiona a seguirmos na nossa experiência, seja na família, na pastoral ou na sociedade, a responder ao nosso chamado vocacional, como rocha e não como pedra de tropeço. O perdão não significa ser conivente com as injustiças, mas indica a possibilidade de ressignificação da nossa vida. O perdão fortalece a conversão, o levantar e o recomeçar da nossa existência.

E neste segundo Domingo do Mês da Bíblia peçamos as luzes ao Espírito Santo, para que a sabedoria do Evangelho seja nossa força motriz na vivência do perdão, por que ele “é bondoso, compassivo e carinhoso. Pois ele te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão” (Sl 102/103).

 

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⇒ POESIA ⇐

O Perdão Total

 

Perdão de Deus sem se limitar,
Que na prática não quer se enumerar,
E quantos retornos é preciso fazer,
Quando as quedas vêm a acontecer.
Porque o importante é a conversão,
Que tira o filho da confusão,
Para o seu caminho de novo fazer.

Perdão de Deus que se dá no amor,
É o perdão que não guarda rancor,
Que se dá pela santa e forte acolhida,
Na misericórdia sempre vivida,
Na história ativa de um caminheiro,
Deus presente como um companheiro,
Que abraça no retorno que traz à vida.

Perdão de Deus que vem nos reconstruir,
Para que o caminho possa-se prosseguir,
Buscando na trilha de santidade,
Que se faz na vida de humildade,
Perdoando sempre e sempre perdoando,
Abraçando e também abraçado,
Para retomar a fraternidade.

Perdão de Deus que promove a paz,
Na busca do Reino que se refaz,
Quando a violência quer sufocar,
E o ser humano quer escravizar,
Impedindo a vida de comunhão,
Que se faz viva no vinho e no Pão,
E a comunidade a sustentar.

Perdão de Deus para a humanidade,
Que vence as guerras e atrocidades,
Lição divina para o mundo ver,
Para as nações a paz promover,
E as injustiças e opressões,
Sejam vencidas nos corações,
Para o Reino de Deus acontecer.

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos propicia acesso à Sabedoria para perdoar ilimitadamentea, ilumine o seu caminho! ***