Santíssima Trindade, Solenidade, Ano C, São Lucas

 

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Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Santíssima Trindade: Um Deus que é Comunidade

Jo 16,12-15

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a dimensão comunitária da Santíssima Trindade. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 16,12-15, passagem que está situada no final do contexto da “A Última Ceia de Jesus com Seus Discípulos” (cf. Jo 13,1-17,26).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está em Jerusalém para a festa da Páscoa, segundo o calendário judaico, momentos antes da agonia no Monte das Oliveiras (cf. Lc 22,39-46).

E neste Domingo, a Igreja nos conduz a um “território místico” no qual podemos, com a Graça de Deus, vislumbrarmos a glória de Deus Uno e Trino e ali possamos entregar-nos em adoração.

Na Segunda-feira semana após o Domingo de Pentecostes, nós retomamos o Tempo Comum. Trata-se do percurso mais longo dentro do Ano Litúrgico. Após a Celebração do Domingo passado, o Círio Pascal foi recolhido para a proximidade da fonte batismal. Agora, os cristãos, alimentados pela força da Luz de Cristo (o Círio) e do Espírito Santo, vivenciados no Tempo Pascal, são chamados a serem luz do mundo, velas acesas da fé nas várias realidades da vida.

Dentro do Tempo Comum, teremos várias solenidades e a primeira é a da Santíssima Trindade, celebrada neste Domingo, a qual nós celebramos no Domingo seguinte ao de Pentecostes. A Trindade Santa é o fundamento da nossa vivência cristã, pois tudo o que celebramos ou vivemos, segundo a vontade de Deus, é em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Há uma reflexão belíssima, inspirada na Exortação Apostólica Verbum Domini (Palavra do Senhor), do Papa Emérito Bento XVI, que pode nos servir muito bem no que se refere à Santíssima Trindade: “Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.”(1)

É a voz que chamou Abraão, Moisés e orientou os profetas na caminhada do povo e que é apresentada na primeira leitura desta Liturgia como a Sabedoria que existe antes de tudo. Esta voz é o próprio Deus que falou na história e fala para nós, é o Pai de onde tudo procede (cf. Pr 8,22-31).

A Palavra também tem um rosto, o Verbo encarnado que também estava no princípio. É Ele quem nos revela o sentido pleno e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa: Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos confirma o que o texto do Gênesis diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gn 1,26), pois nós nos parecemos com Deus e Jesus não somente é parecido conosco como também assumiu a nossa natureza.

No Evangelho desta Liturgia, Ele próprio nos fala do Espírito da verdade e do Pai. Tudo o que o Pai possui é d’Ele (cf. Jo 16,13.15), ou seja, Ele revela a missão do Espírito Santo e apresenta o Pai para os discípulos. E podíamos completar: a Palavra também tem uma fonte de amor que distribui os dons e anima os caminhos da Igreja fazendo criar comunhão e unidade. Ele que, segundo o Credo Niceno-Constantinopolitano, é o “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado e que falou pelos profetas.”

Tudo isso, irmãos e irmãs, para dizer que a Trindade Santa é esse Deus único, que é comunidade, é comunhão, que nos chama a vivermos o amor a partir d’Ele. Santo Hilário (*300+368), no seu Tratado sobre a Trindade, nos diz: “um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita.”(2) Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na imagem, a atividade no dom.

Queremos recordar que foi numa Liturgia da Santíssima Trindade, no dia 9 de junho de 1895, que Santa Teresinha do Menino Jesus, “Irmã e Amiga dos Sacerdotes”, registrou sua oferenda de si ao Amor Misericordioso, à “Trindade Bem-Aventurada”(3). A “Florzinha de Lisieux” expressa o desejo de que cada batimento do coração seja a renovação do Oferecimento.

Peçamos a Nossa Senhora, coroada pela Santíssima Trindade, que interceda por nós junto à Trindade, que é o nosso Deus comunhão que nos acompanha na nossa vida litúrgica e no cotidiano da nossa caminhada pelo “vale de lágrimas”, pois sempre iniciamos e terminamos nossas celebrações, encontros e momentos de oração em nome da Santíssima Trindade. Também recebemos os sacramentos em nome da Trindade. Por fim, o nosso dia será sem sentido e a nossa noite incompleta se não iniciarmos e terminarmos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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(1) Cf. Resumo da mensagem do Sínodo dos Bispos ao povo de Deus, em 24 out. 2008. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/resumo-da-mensagem-do-sinodo-dos-bispos-ao-povo-de-deus/>. Acesso em: 12 jun. 2019.
(2) Cf. Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Sexta-feira da 7ª Semana da Páscoa.
(3) Cf. SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. História de uma Alma: manuscritos autobiográficos. São Paulo: Paulus, 2012, 29. reimpressão, pág. 328-331.

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus Comunidade

 

Poder de onde tudo inicia,
Que ama e que cria,
Que nos faz parecido com Ele.
Que tudo nos dá de presente
Ele é o Pai onipotente.
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Rosto para nós revelado,
Que por nossas fraquezas é doado,
Que também está no princípio,
Natureza humana oferecida,
Caminho, verdade e vida.
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Força de sabedoria e amor,
Também criador,
Que pairava sobre as águas,
Que seus dons a nós oferece,
Que anima e que aquece.
*
Deus que é comunidade,
Que nos ensina a unidade,
Envolvendo toda a nossa existência,
Que nos reúne como irmãos,
Que nos envia em missão.

 

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Imagens principais: “The Last Supper” e “The Last Sermon of Our Lord”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org. Imagem da Rosa: In <gratispng.com/png-uj22en>

 

⇒ Irmãos e irmãs, que estejamos prontos, com a graça, para sermos moradas da Trindade guardando tudo o que Cristo nos ensinou e que a graça de Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo esteja sempre em seu caminho!