XII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Zc 12,10-11;13,1; Sl 62; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24

 

“A profissão de fé de São Pedro” (1886-1894), por J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A identidade de Jesus

Lc 9,18-24

 

Neste 12º domingo do tempo comum, contemplamos Jesus em oração com os seus discípulos. O evangelista Lucas (cf. 9,18-24) nos apresenta duas perguntas concretas sobre Jesus. Primeiro: o que as pessoas dizem sobre ele? Em seguida ele se dirige aos discípulos e pergunta: E vós, quem dizeis que eu sou? Neste trecho podemos constatar o testemunho de Pedro na sua profissão de fé quando responde a Jesus: “és o Cristo de Deus” (Lc 9,20), … ou seja, o ungido, o escolhido ou o enviado do Pai (cf. Lc 9,20).

O evangelho prossegue com mais dois momentos bem distintos: Jesus apresenta o primeiro anúncio da sua paixão, morte e ressurreição – O filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia (cf. Lc 9,22). Depois Jesus fala para os discípulos sobre as condições para segui-lo (cf. Lc 9,23-24). Para quem quer segui-lo, deve saber que neste caminho encontrará o sofrimento, a perseguição, a cruz.

No tempo dos discípulos, naquele momento, a pergunta era mais para Jesus na sua natureza humana entre os homens (Jesus histórico) do que para o filho de Deus, o enviado do Pai. Necessariamente se teria uma resposta da parte dos que estavam convivendo com ele na sua caminhada (os discípulos) e outra resposta da parte dos que viam Jesus de longe, nas suas pregações, milagres e curas ou os que ouviam falar dele.

Estes últimos conseguiam vê-lo pelos menos como um grande profeta (os curados ou convertidos), ou como um blasfemo, agitador do povo (os fariseus). Mesmo as escrituras mostrando sobre a vinda de Deus aos homens; mesmo os profetas anunciando a realidade da qual Jesus viveria, não era possível acolher a mensagem do filho de Deus. O profeta Zacarias, na primeira leitura, faz referência ao que Jesus iria passar (a cruz): “Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” (Zc 12,11).

Quanto à resposta de Pedro [“és o Cristo de Deus” (Lc 9,20)], esta deve ser também a resposta dos que hoje vivem a experiência do ressuscitado na comunidade dos batizados, dos que buscam viverem mais fortemente a comunhão. Ou seja, os que vivem a experiência de oração com o Senhor, na Eucaristia, na escuta da sua palavra e o veem como o Deus que salva, que os ama e que está glorificado, ressuscitado, para glorificar todos aqueles que abraçaram o seu amor e se abriram para o infinito da vida celestial.

Porém existem muitos que o enxerga como o “reencarnado”, o “curandeiro”, o “mago”, o “psicológo”, o “sociólogo”, o “grande profeta” etc… Menos como Deus verdadeiro. Isto é o que lemos como títulos de diversos livros espalhados pelo mundo a fora.

Agora podemos também nos perguntar: quem é Jesus para nós batizados? Como acolhemos a sua proposta de vida em nosso caminhar, nos nossos dias claros e nas nossas “noites escuras”?

É importante refletir que a nossa vida de cristãos tem estas três dimensões espirituais e humanas apontadas por Lucas: a oração com o Senhor; a fé na sua ressurreição e consequentemente na nossa; e a consciência de que no caminho do Senhor sempre teremos cruz. Sempre teremos desafios a superar, mas temos uma certeza: ele está conosco nos fazendo uma comunidade fraterna, nos tornando irmãos e irmãs como referência para a paz e a fraternidade no mundo e, ao mesmo tempo, nos encaminhando para a vitória, nos conduzindo e nos preparando para o Céu.

Esta experiência de compromisso nasce do nosso batismo como nos fala São Paulo na segunda leitura: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Portanto aos batizados que vivem a experiência de comunidade, vem o compromisso de viverem as mesmas atitudes de Cristo, porque são revestidos da sua presença e vida. E aos que estão de fora, batizados ou não, também o nosso mandato de nos dirigirmos para anunciar a Boa-Nova do Reino, para que estes possam viver um reencontro com Senhor, por que somente nele encontramos a liberdade, a paz e a felicidade perfeita.

A nossa adesão perseverante e consciente ao seu caminho é nossa melhor resposta ao que ele nos perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E os cristãos darão sempre uma resposta de fé e que deve ser de plena convicção, quando na oração Eucarística o sacerdote anuncia o mistério da fé e nos respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!” Meditemos nesta resposta durante a semana.

 

 

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⇒ POESIA ⇐

Quem é este Senhor?

 

Quem é este Senhor?
Repleto de PAZ,
Que o amor nos traz,
Que nos questiona,
Mas não nos aprisiona,
Que nos mostra o caminho,
E não nos deixa sozinho.

Quem é este Senhor?
Primeiro vivente,
Que de repente,
Faz-me parar,
Para meditar,
E vai me perguntando,
Quando vou caminhando.

Quem é este Senhor?
Que me é sincero,
Quando não espero,
Fazendo-me rezar,
Para a cruz carregar,
Sem decepção,
Rumo a redenção.

Ele é a Verdade,
Nele está a Vida,
Dando-nos a medida,
Para o bem viver,
Para na fé crescer,
Todos que a ele ama,
E não se desengana.

Ele é o vencedor,
O Ressuscitado,
Nosso bem-amado,
Que nos tira da morte,
Com ele somos fortes,
E nas diversas dores,
Faze-nos vencedores.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Cristo de Deus ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15

 

 

Os três anjos que visitaram Abraão, como símbolo da Trindade. (cf. Gn 18), por A. Rublev (*1360+1430).

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Santíssima Trindade: um Deus que é comunidade

Jo 16,12-15

 

Na segunda semana após o dia de Pentecoste iniciamos outro momento na Igreja, o tempo comum. Trata-se do percurso mais longo dentro da caminhada litúrgica dos cristãos católicos. No domingo passado, o Círio Pascal foi recolhido para um espaço mais reservado, porque agora são os cristãos que, com a força do Espírito Santo e alimentados da experiência do Tempo Pascal, são chamados a serem luz do mundo, velas acesas da fé nas várias realidades da vida.

Dentro do tempo comum teremos várias solenidades, a primeira é a da Santíssima Trindade, a qual celebramos no domingo após Pentecostes. A Trindade Santa é o fundamento da nossa vivência cristã, pois tudo o que celebramos ou vivemos, segundo a vontade de Deus, é em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Há uma reflexão belíssima, inspirada na exortação apostólica Verbum Domini (Palavra do Senhor), de Bento XVI, que pode nos servir muito bem no que se refere à Santíssima Trindade: “Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.”[1]

É a voz que chamou Abraão, Moisés e orientou os profetas na caminhada do povo, que é apresentado na 1ª leitura, como a sabedoria que existe antes de tudo. Esta voz é o próprio Deus que falou na história e fala para nós, é o Pai de onde tudo procede. (cf. Pr 8,22-31).

A Palavra também tem um rosto, o Verbo encarnado que também estava no princípio. É ele quem nos revela o “sentido pleno” e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa: Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos confirma o que o texto do Gênesis diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gn 1,26). Porque nós nos parecemos com Deus e Jesus não somente é parecido conosco como também assumiu a nossa natureza.

No Evangelho desta liturgia, ele próprio nos fala do Espírito da verdade e do Pai. Tudo o que o Pai possui é dele (cf. Jo 16,13.15), ou seja, ele revela a missão do Espírito Santo e apresenta o Pai para os discípulos.

E podíamos completar: A Palavra também tem uma fonte de amor que distribui os dons e anima os caminhos da Igreja fazendo criar comunhão e unidade. Ele, que segundo o Credo Niceno-Constantinopolitano, é o “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado e que falou pelos profetas.”

Tudo isso para dizer que a Trindade Santa é esse Deus único, que é comunidade, é comunhão, que nos chama a vivermos o amor a partir dele. Santo Hilário, Bispo (*300+368), no seu tratado sobre a Trindade, nos diz: “um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita.”[2] Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no dom.

Portanto, a Santíssima Trindade é o nosso Deus comunhão que nos acompanha na nossa vida litúrgica e no dia-a-dia da nossa caminhada terrena, pois sempre iniciamos e terminamos nossas celebrações, encontros e momentos de oração, em nome da Santíssima Trindade. Também recebemos os sacramentos em nome da Trindade. Por fim, o nosso dia será sem sentido e a nossa noite incompleta se não iniciarmos e terminarmos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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[1] Resumo da mensagem do Sínodo dos Bispos ao povo de Deus, em 24 out. 2008. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/resumo-da-mensagem-do-sinodo-dos-bispos-ao-povo-de-deus/>. Acesso em: 12 jun. 2019.

[2] Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Sexta-feira da 7ª Semana da Páscoa.

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus comunidade

 

Poder de onde tudo inicia,
Que ama e que cria,
Que nos faz parecido com ele.
Que tudo nos dá de presente
Ele é o Pai onipotente.

Rosto para nós revelado,
Que por nossas fraquezas é doado,
Que também está no princípio,
Natureza humana oferecida,
Caminho, verdade e vida.

Força de sabedoria e amor,
Também criador,
Que pairava sobre as águas,
Que seus dons a nós oferece,
Que anima e que aquece.

Deus que é comunidade,
Que nos ensina a unidade,
Envolvendo toda a nossa existência,
Que nos reúne como irmãos,
Que nos envia em missão.

 

*** Que a Palavra e a Luz da Santíssima Trindade ilumine o seu caminho ***