Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, Solenidade, Ano C, São Lucas

 

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Leituras: Gn 14,18-20; Sl 109(110); 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17

 

Ouça o áudio preparado para esta Liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Verbo de Deus, o Pão que Desceu do Céu

Lc 9,11b-17

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia da Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, Corpus Christi, neste Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia”, nos motiva a contemplar o alimento perfeito que atualiza tanto a Multiplicação dos Pães e Peixes quanto a Última Ceia. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,11-17, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia” (cf. Lc 4,14-9,50).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está num deserto próximo de Betsaida (cf. Lc 9,10), que ficava há aproximadamente quatro quilômetros de Cafarnaum e também nas proximidades do Mar da Galileia (que é o Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré).

E nesta Solenidade, a qual celebramos sempre na Quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja nos mantêm num “território místico”, ou seja, numa realidade espiritual, no qual podemos, com a graça de Deus, continuar vislumbrando a glória de Deus Uno e Trino, entregar-nos em adoração, agora com a Liturgia voltada para a presença real de Nosso Senhor na Eucaristia.

O dia da semana, a Quinta-feira, nos reporta ao dia da instituição da Eucaristia e da realização do Lava-pés. E agora, depois do Tempo da Páscoa, a Igreja dedica uma Quinta-feira para celebrar, de forma solene, o Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo. E mesmo celebrando a Eucaristia diária ou semanalmente, faz-se necessário, neste dia, aclamar, fazer procissão, pintar tapetes nas passarelas da Igreja e asfaltos, produzir artes e adorar o Senhor que nos dá o seu Corpo e o seu Sangue para nos alimentar na caminhada, suportando os desertos da nossa existência ou mesmo os cansaços ou as tribulações.

No Evangelho desta Liturgia, São Lucas nos apresenta Jesus fazendo missão com os Seus discípulos e, ao mesmo tempo, acompanhado por muita gente do povo, sedento de cura, do corpo e da alma. E quando a tarde chega os Apóstolos sugerem a Jesus que dispense a multidão já que estão num lugar deserto (cf. Lc 9,12).

Esta foi a tentação dos principais seguidores de Jesus (e talvez, em algum momento, nossa também): seguir o caminho mais fácil, ou seja, se livrar do povo para que possamos até rezar em paz. No entanto, Jesus vendo que a multidão estava com fome disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). E havia entre eles ainda algo para partilhar aparentemente tão insignificante para tanta gente: cinco pães e dois peixes, ou seja, sete itens de alimento.

Na Bíblia, o sete é um número que significa perfeição, totalidade. Por isso tudo estava perfeito para a ação, para o milagre de Deus, pois existiam elementos materiais para que Jesus operasse o milagre. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o Céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos Apóstolos para distribuí-los à multidão (cf. Lc, 9,16). Estes gestos e palavras nos reportam ao momento da Última Ceia. Assim, Jesus sinaliza como será a Sua missão entre os homens: ser alimento, marcado pelo milagre da saciedade infinita onde todos são chamados a partilhar do seu Banquete e não ter mais fome e nem sede, além de ser fonte de realização e felicidade plena.

O milagre do deserto também tem outros ensinamentos que não podemos deixar de lado: a comunidade que escuta a Palavra do Senhor no deserto da vida é também a mesma que precisa do “maná” para se alimentar durante o caminho com Ele. Os cristãos ao mesmo tempo em que são membros do Corpo de Cristo também precisam de exercícios espirituais para manter-se unidos ao seu Corpo, recebendo a Eucaristia, vivenciando a comunhão, pois é nas mãos abertas e no amém que confirmamos e concretizamos o que são Paulo proclamou diante da comunidade de Corinto: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha.” (1Cor 11,26).

Portanto, irmãos e irmãs, celebrar Corpus Christi é meditar e contemplar o imenso milagre da Eucaristia que nos torna capazes de vivermos unidos como irmãos, partilhando o que temos para o nosso crescimento espiritual da comunidade, mas, ao mesmo tempo, também é considerar o cotidiano com suas lutas, carências e projetos, na busca de uma vida onde haja o pão de cada dia, casa para o aconchego da família e dignidade humana para todos.

Peçamos a Nossa Senhora, a cheia de graça (cf. Lc 1,28) que gerou o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Lc 1,31; Mt 1,20), que ela interceda por nós nesta caminhada a qual precisamos viver na certeza de que o Senhor voltará e que devemos proclamar a nossa fé em Deus, Ele que veio morar entre nós, morreu e Ressuscitou e que nós ressuscitaremos com Ele e com Ele viveremos para sempre. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Alimento Perfeito

 

Dos altares de todo o mundo
Brota o alimento perfeito,
Que nos sacia e nos fortalece,
Indicando-nos o caminho direito,
Que não se perde e jamais perece,
Que nos reúne como povo eleito.
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E pelo deserto da nossa vida,
O Teu milagre é a comunhão,
Que nos conduz à fraternidade,
A nos chamar todos de irmãos,
E vivendo sempre na unidade,
Onde não mais a solidão.
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Assim seguimos a caminhada,
Querendo seguir sempre o Senhor,
Mesmo que as vezes sendo tentado,
Agindo como se fosse um traidor,
Mas o Senhor está ao nosso lado,
Para não seguirmos o tentador.
*
Eucaristia alimento perfeito,
Desta Igreja viva em peregrinação,
Que no encontro se fortalece,
Na grande busca da união,
E o estar junto quase se eternece,
No esperar da ressurreição.

 

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Obra: “The Miracle of the Loaves and Fishes”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que alimenta abundantemente, ilumine o seu caminho!