XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 144(145); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

POESIA

A PARTILHA DO REINO

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.

Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do divino amor.

O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao pão da vida eterna tenha procurado.

E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.

Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o pão do amor e da comunhão,
Para beber o vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho leva vida e à salvação.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina a guardar o que sobra

Neste 17º domingo do tempo comum vamos aprender de Jesus a verdadeira partilha, a qual suscita o grande milagre que é a multiplicação do pão para todos. A multidão procura Jesus para aclamá-lo como rei de Israel porque ainda não compreendeu o sentido completo da sua vinda ao mundo.

Durante cinco domingos iremos ler o capítulo 6 de João, que inicia nesta liturgia com a multiplicação dos pães e prossegue o grande discurso sobre o pão da vida, alguns momentos no monte e em outros na sinagoga de Cafarnaum.

Jesus atravessa o mar e uma grande multidão o segue, estava próxima a Páscoa, Jesus percebe que o povo tem fome e provoca um de seus discípulos, Felipe, perguntando como resolver o problema da falta de alimentos. André percebe que há um menino com cinco pães e dois peixes.

Cada uma destas atitudes nos leva a refletir sobre o que ensina Jesus para a nossa caminhada cristã. Podemos perceber um paralelo entre o Antigo e o Novo Testamento: Jesus atravessa o mar da Galileia, como Moisés também atravessou o mar Vermelho, Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto. Há o milagre do pão como o maná no Deserto. Porém há algo novo no Evangelho: Jesus é o novo Moisés que caminha com a multidão, conduzindo-a ao Reino de Deus.

O Pão agora deve ser preservado e guardado para que os outros participem da graça do milagre de Jesus. O Pão da vida, a Eucaristia, deve alimentar o sentimento de justiça e também suscitar a percepção de que há irmãos necessitados do pão de cada dia e por passarem fome por causa do acúmulo das riquezas nas mãos de poucos.

A liturgia de hoje nos ensina o valor da partilha e da experiência da gratuidade diante do outro. Mesmo diante da fome de uma multidão necessitada, há sempre alguém a oferecer algo para que seja partilhado. O grande milagre necessário para os nossos dias é a conversão do coração humano para a partilha dos seus acúmulos.

O Evangelho quer nos ensinar que a Eucaristia é vivida quando o pão material também é disponível na mesa de todos. Não há uma comunidade eucarística onde não se sente a necessidade do outro, onde não se incomoda com as pessoas que precisam do pão de cada dia.

Outra realidade que podemos refletir nesta liturgia: a fome pode ser resolvida quando forem recolhidas as sobras das mesas fartas como um louvor pelo grande milagre da abundância oferecida por Deus. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino perdido na multidão, ou como “o homem de Baal-Salisa, que veio trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

O Papa Francisco[1],em sua encíclica, nos lembra que “desperdiçamos no mundo aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS,50). Esse é o grande pecado da humanidade e deve ser confessado e transformado em ação de partilha e sensibilidade pelos irmãos e irmãs da nossa casa comum, que é a terra, como nos fala o Papa.

As nossas celebrações precisam ser continuadas nas missões, onde devemos anunciar aos outros o quanto podemos contribuir com o milagre de Jesus, que é o alimento oferecido a todos. A Eucaristia deve também nos conduzir à fraternidade e a alegria do encontro onde todos são acolhidos e ajudados a viverem com a dignidade de irmãos no mesmo amor de Deus, que é justo e misericordioso.

O nosso pecado contra a Eucaristia acontece quando nos deixamos levar pela nossa obsessão ao consumismo e a nossa omissão no envolvimento com as políticas públicas de distribuição de renda. A verdade é que somos dominados pelo mercado, que presta culto ao deus do lucro, e pelo capitalismo, que exclui tantos irmãos ao acesso aos bens mais básicos de sobrevivência.

A segunda leitura nos exorta a olharmos para a nossa condição de batizados e agirmos como um povo que forma “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6). É em nome da unidade que podemos possibilitar o milagre do pão oferecido a todos, onde as mesas não estarão mais vazias do alimento material e também haverá a Eucaristia comungada e vivida como condição para a construção do Reino de Deus.

Que o Senhor tenha compaixão de nós, abrindo nossos olhos e nossos ouvidos, curando nossas paralisias diante da pobreza material, para que possamos ser sinal de Cristo, como foi o menino, que entregou tudo o que tinha: 5 cinco pães de cevada e 2 peixinhos. E que a partir daí possa acontecer um milagre, onde o amor possa alimentara a multidão, que passa fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora. Amém.

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[1] FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado sejas: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.