Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria (2018)

Leituras: Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7; Lc 2,16-21

POESIA

MÃE DE DEUS E NOSSA

Mãe da escuta atenta,
Do silêncio e da oração,
Toda entregue por amor,
Do Senhor da salvação,
Ensina-nos a santidade,
Mostra-nos tua serenidade,
Para a santificação.

Mãe de Deus e nossa Mãe,
Mãe do príncipe da paz,
Ensina-nos a fraternidade,
Que tanta harmonia nos traz,
Ensina-nos também a escuta,
A paciência na labuta,
Quando não somos capazes.

Que a benção do Senhor,
Teu filho amado e querido,
Possa nos trazer a paz,
Neste mundo tão sofrido,
Das guerras possa nos livrar.
E por Deus sempre nos guiar,
Sendo um povo redimido.

Que o nosso príncipe da paz,
Pela sua encarnação,
Ajude-nos na caminhada,
E o amor entre os irmãos,
Trazendo-nos alegria,
Que nasce da Eucaristia,
Pra nossa libertação..

 

HOMILIA

Junto a Mãe de Deus celebramos a Paz

Na liturgia solene da Santa Mãe de Deus os cristãos se reúnem carregados de esperanças, de revisões de vida, de expectativas e de muitos propósitos para o ano que se inicia. Há uma intenção especial por parte do Papa, que é celebrar o dia Mundial da Paz junto a Mãe de Deus. Ela que nos presenteou com o seu “sim”, acolhendo e fazendo com que o príncipe da paz pudesse reinar em nosso meio, nos trazendo o amor, a misericórdia e a salvação para todos.

O Evangelho proclamado é continuidade do texto da noite de Natal quando os pastores encontram o menino Jesus na manjedoura juntamente, com Maria e José, e depois vão anunciar esta alegria aos outros. Os pastores, descriminados que eram, foram os primeiros que receberam a notícia do nascimento do salvador. A eles cabe também o anúncio das maravilhas de Deus. Da boca deles também saiu os louvores por tudo que o que Deus tinha realizado em favor de toda a humanidade (cf. Lc 2,17-18.20).

Maria guardava, como que depositando, todos estes acontecimentos e meditava em seu coração (cf. Lc 2,19), procurando compreender todo o processo da sua resposta a Deus, quando o Anjo a visitou. Meditava porque também era mulher do silêncio e da oração, na escuta atenta a Deus, na reflexão da sua missão de gerar o Verbo e de ser agraciada com o compromisso de acompanhar o seu filho no cumprimento das promessas que vinha de Deus Pai.

Neste primeiro dia do ano os cristãos também reúnem para pedirem as bênçãos que vem de Deus, por que a benção é sinal de salvação como escutamos na primeira Leitura: “ ‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!’ Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei”. (Nm 6,24-27).

Olhando o ano que passou muitas vezes ficamos tristes pelas perdas, pelos desafios não superados, mas quantas bênçãos e proteção o Senhor nos deu quando não sabíamos por onde caminhar ou o quê fazer. Para o ano que se inicia temos sonhos, projetos e propósitos, que devemos colocamos no Altar de Deus. Neste sentido devemos também ter em mente que se faça a vontade do Senhor e não a nossa.

Maria nos possibilita que sejamos seus filhos. Ela, que é Mãe de Deus e nossa Mãe, também gerou a Igreja que somos nós. Ela é a mãe do príncipe da Paz, também nosso irmão, nosso Deus amado que veio ficar junto de nós para nos ensinar que Deus é Pai e tem misericórdia dos pecadores, por isso vem trazer a união e a fraternidade.

Nessa relação santa de filhos, São Paulo nos fala: “De modo que já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro, graças a Deus.” (Gl 4,7). Temos então o temor que vem do amor e da necessidade de santificação e não o medo da condenação. Se amamos o Senhor, faremos a vontade dele e por isso não devemos ter medo dele porque ele está bem próximo de nós.

Que neste ano que se inicia possamos promover cada vez mais a paz entre as pessoas, onde estivermos inseridos e que Nossa Senhora nos ensine a sermos obedientes, necessitados de amor e na escuta de Deus, que sempre está nos chamando a santidade e a sermos, ao mesmo tempo, discípulos missionários do seu Reino.

IV DOMINGO DO ADVENTO

Cor Litúrgica: Roxo

Leituras: 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; Sl 88; Rm 16,25-27; Lc 1,26-38

 

ESCUTA E OBEDIÊNCIA

 

Na simplicidade no meio dos homens,
Deus vem ao mundo pra nos salvar,
Mostrar seu rosto igual ao nosso,
Porque conosco quer caminhar,
Traz alegria e claridade,
Justiça e paz à humanidade,
No nosso meio vem habitar.

O mensageiro visita uma Virgem,
Traz um recado do criador
Traz a alegria que vem do alto,
Do Deus da vida e de imenso amor,
Uma mensagem que tira o medo,
E revelando divino segredo,
Pois a nós virá o Salvador.

E o Santo Espírito fará a obra,
Com sua sombra vai proteger,
Não faltará proteção e graça,
Pois o Santo menino irá nascer,
Filho de Deus será chamado,
Verbo divino no mundo encarnado,
Para um novo Reino acontecer.

A Virgem Santa se entregará,
Dizendo sim ao Deus da vida,
Na obediência da santa Palavra,
Na escuta atenta e refletida,
Sim à proposta e ao chamado,
Do Deus que ama e é amado,
Que quer um mundo todo redimido.

E neste mundo que agora estamos,
Somos a Igreja engravidada,
Da esperança e da justiça,
Para que a vida seja respeitada,
Para que as crianças recém-nascidas,
Sejam amadas e acolhidas,
E no amor de Deus encaminhadas.

E nas luzes que brilham em tantos lugares,
Possa lembrar nosso Deus de amor,
E entre os homens a fraternidade,
Que vem do alto com esplendor,
E os cristãos tochas brilhantes,
E qualquer lugar e a todo instante,
Sendo presença do Salvador.

Homilia

Corações abertos para o Cristo que vem

 

Neste IV domingo do Advento, estamos já envolvidos pelo clima espiritual e litúrgico da festa do Natal. A exemplo da Virgem Maria, somos convidados a escutar Deus que entra na nossa existência, traz a sua mensagem de esperança e de alegria e nos anuncia a chegada daquele que nos trará a alegria da salvação. Neste mesmo sentido, se queremos aprender da virgem Santa e colaborar com a obra redentora de Deus devemos também dizer um sim em atitude de entrega, para que a Sua vontade possa prevalecer.

O Evangelho narrado por Lucas nos traz o lindo trecho da anunciação do anjo. Nesta narração vemos que Deus envia um mensageiro à Virgem Maria para lhe apresentar uma proposta Divina. As primeiras palavras do anjo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Como deve ter ficado o coração de Maria? O que se passou nos seus pensamentos sobre seus projetos de uma futura mãe?

Ter consciência da presença e alegria de Deus em sua existência foi a experiência profunda desta jovem da Judéia, numa cidade escondida entre as montanhas de Israel. Deus quer realizar suas promessas através da resposta de uma mulher virgem e já noiva de um homem justo chamado José. Ele também nos ensina sobre o silêncio, a obediência e a escuta.

A Virgem meditou em suas perturbações e em seus questionamentos sobre as palavras do mensageiro. Ela mergulhou profundamente no mistério do Deus que há tanto tempo, através dos profetas, prometia a vinda do Messias. Quantas mulheres esperavam esta dádiva, este presente, que Deus podia oferecer a uma mulher da descendência de Davi.

“Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus” (Lc 1,30b), disse o anjo. Diante da mensagem que Deus envia, não poderá haver medo, somente a meditação e a escuta, somente a entrega com todo o ser, à voz do anjo que explica como tudo irá acontecer. Mesmo diante da escuta atenta e do silêncio sereno, Maria não fica passiva. Ela questiona não como uma rebelde, mas no sentido de dialogar sobre aquela novidade divina em sua vida: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” (Lc 1,34).

Disse o anjo: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35). Neste momento a Virgem completa o seu entendimento sobre o plano que Deus está lhe propondo: oferecer o seu ventre para que Deus possa operar as maravilhas da salvação em favor da humanidade através da sua encarnação.

Diante da mensagem, Maria entrega-se a Deus para colaborar no plano de salvação que o povo do seu tempo esperava. “Eis a serva do Senhor” (Lc 1,38b) é a grande resposta de amor e obediência. E “faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38c) é a entrega total para que Deus realize a sua obra salvífica não somente para a pessoa de Maria, mas para toda a humanidade que esperava a chegada do Messias.

Olhando para Maria, quantas coisas podemos meditar: Deus também nos visita e espera de nós uma resposta de amor em favor do seu Reino. Devemos nos alegrar quando somos chamados a exercer uma missão na comunidade onde participamos. Não devemos ter medo de dizer sim a Deus. Precisamos escutar a sua mensagem, a sua proposta e como Maria, até perguntar como o Senhor irá realizar a sua obra em nossa vida.

Jesus nasce longe do Palácio! Nasce nas periferias de Belém, na pobreza e entre os pobres e animais. Isso para nos ensinar que a sua Palavra tem que habitar os lugares distantes do poder político e religioso. O Evangelho precisa ir aos que precisam de amor, paz e dignidade.

Há violência e morte entre os pobres. Há morte da esperança, da ausência de alegria e da justiça. Há a violência da fome, do desemprego, do preconceito e da exploração. A Boa-Nova de Deus deve nascer e habitar nestes lugares existenciais para que a vida e a alegria aconteçam no coração dos homens.

O Espírito Santo é que nos cobrirá com sua sombra para nos proteger, nos iluminará com seus dons para que façamos a vontade de Deus. Ele nos dará força para que nos momentos difíceis da nossa missão possamos perseverar e continuar caminhando pelas estradas da vida.

Que neste Natal do Senhor possamos viver mais intensamente a oração e a escuta da Palavra num clima de alegria e de fraternidade onde o amor seja cada vez mais forte entre os nossos irmão e irmãs que se preparam para celebrar o divino encontro de Deus com todos os homens. Amém!

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Missa da Noite

Leituras: Is 9,1-6; Sl 96(95); Tt 2,11-14; Lc 2,1-14

POESIA

DEUS NASCE ENTRE OS PEQUENOS

Entre as montanhas de Judá,
Nas noites escuras dos pastores,
Vem a luz divina nos visitar,
Vencendo todos os temores.
Trazendo o amor e a salvação,
Vencendo em nós a escuridão,
Que muitas vezes nos traz horrores.

Nasce entre os animais e pecadores,
Anunciando desde já sua missão,
Rei simples e pobre e sem coroa,
Sendo sinal de contradição.
Vem como uma simples criança,
Mas traz para muitos a esperança,
E aos poderosos a confusão.

Naquela noite vem os louvores,
Da corte celeste a cantarolar,
E à voz do anjo mensageiro,
Que se une também a entoar,
Porque nasceu o salvador,
Deus de paz, justiça e amor,
E a todos os homens veio salvar.

O Natal nos traz um ensinamento,
Para nesta vida proceder,
Nasce Deus para o mundo inteiro,
Com sua palavra vem nos converter,
Ensina-nos a simplicidade,
O acolhimento e a fraternidade,
Pregar a justiça e o bem viver.

E em torno do santo altar,
Vivamos a coerência e a união,
Escutando sempre a santa Palavra,
A irmandade e a comunhão,
Sendo sinal da luz do Senhor,
Vencendo a tristeza e o rancor,
Vivendo todos como irmãos.

 

HOMILIA

Jesus nasce entre os pobres

Entre as luzes brilhantes das casas, das lojas, das árvores, dos diversos lugares e dos presépios montados nas nossas casas e nas nossas Igrejas, celebramos a noite do Natal do Senhor marcados com a alegria que vem da Palavra de Deus e com o calor dos que se reúnem para partilharem da mesma mesa que nos faz irmãos.

O texto do Evangelho para a liturgia da Igreja na noite de Natal é de Lucas, o qual apresenta a caminhada dura, entre as montanhas, que Maria e José, grávidos de Deus, fazem de Nazaré até Belém, com o objetivo de participarem do recenseamento como membros daquele povo.

Nos arredores daquele vilarejo, próximo aos campos dos pastores, numa gruta, nasce o nosso Pastor. Será aquele que vem trazer a paz, a justiça e, sobretudo, o amor misericordioso de Deus Pai.

O Cristo de Deus nasce numa manjedoura e o anjo leva a notícia aos pastores, não porque são os mais puros e santos. Segundo a história antiga, “os pastores não eram de forma alguma gente simples, bondosa, inocente, gozando da estima de todos. Eram considerados como os mais impuros dos homens… Os rabinos diziam que os pastores, os publicanos e os coletores de impostos dificilmente poderiam se salvar, porque praticavam o mal e estavam destinados à perdição”.[1] Portanto, é em favor da conversão e da salvação que Jesus virá e com eles seguirá durante toda a sua caminhada na terra.

Os primeiros a receberem a notícia são os que estão nos campos cuidando dos rebanhos. São os pobres distantes do centro da cidade, distante da casa real onde a corte humana esperava junto aos seus súditos um Rei poderoso e rico, com seus exércitos fortes e invencíveis.

Deus usa uma pedagogia diferente para se fazer presente entre os homens. Mesmo sendo capaz de se manifestar de uma forma mais óbvia e mais plausível aos olhos da humanidade. Deus vem como criança, nascendo numa estrebaria, através de uma família simples (Maria e José) e pobre, a ponto de não ter uma casa para realizar o parto.

Jesus nasce na noite dos pastores para dizer que ele é Luz e que é também o Pastor supremo que trará a alegria e a misericórdia a todos os homens. Ele vence o medo dos que escutam a sua mensagem através do anjo mensageiro, porque traz a alegria da salvação e onde há a presença salvadora de Deus não poderá haver medo, mas o temor pelo amor e pela adoração. Ele vem realizar as profecias do profeta Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria.” (Is 9,1).

Uma nova compreensão da ação de Deus se apresenta para confundir os poderosos, para contradizer as expectativas reais, porque agora já não se manifesta para um grupo privilegiado, mas para todas as nações e classe sociais a começar pelos mais pobres, os mais humildes.

Em Deus não há prepotência e nem acepção de pessoas. São Paulo irá nos dizer: “Com efeito, a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, e a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade.” (Tt 2,11-12).

Portanto, todos nós devemos sempre ficar atentos a ação de Deus, pois ela se manifesta na simplicidade e nos conduz a vivermos desta forma. Um Deus que se encarna pobre e entre os pobres e pecadores vem nos ensinar o quanto é preciso trabalhar pela evangelização em busca dos que estão perdidos e que necessitam do ensinamento e da misericórdia.

É preciso lembrar daqueles pobres que mesmo em condições econômicas de riqueza confortável se encontram mergulhados nas misérias humanas e necessitam da libertação pela palavra e pela cura interior.

E todos nós cristãos que nos reunimos para celebrar esta grande festa cristã somos convidados a nos unir à multidão da corte celeste para cantar em uma só voz: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama.” (Lc 2,14), porque o nosso Deus se faz presente na simplicidade de uma criança para nos ensinar a simplicidade e o amor a todos. Veio caminhar conosco, pois é “Deus conosco” e, sobretudo, veio nos trazer a salvação.

Rezemos pedindo a graça e a proteção pelos que não terão oportunidade de celebrar o Natal dignamente. Pelos que estão nas periferias da existência humana, distante das luzes e dos brilhos das árvores fantasiosas das nossas casas, das nossas igrejas e das casas comerciais. E por cada cristão, para que escutem Deus que o chama à fraternidade e a caridade em favor dos que padecem as consequências dos poderes humanos. Amém!

[1] ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria, 2012.

III DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 61,1-2a.10-11; Lc 1,46ss; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28

POESIA

A VERDADEIRA ALEGRIA

A verdadeira alegria
Vem sempre do Senhor,
Que completamente nos realiza,
Com seu eterno e perfeito amor,
Ele é o caminho certo,
À nossa vida sempre aberto,
Percurso santificador.

A verdadeira alegria
É plena de pura perfeição,
Preenche-nos totalmente,
Desnecessária complementação,
Sua Palavra é o alimento,
Seu corpo também é sustento,
Para a santificação.

A verdadeira alegria
Vem do fogo abrasador,
Do Espírito Santo em nós,
Com sua força e amor,
Trazendo a forte união,
Dos que se reúnem em oração,
Como povo do Senhor.

A verdadeira alegria,
É a certeza da salvação,
Que vem da voz do profeta,
Na sua forte pregação,
Pelos nossos desertos,
Levando-nos aos rumos certos,
Através da conversão.

A verdadeira alegria,
Devemos também proclamar,
Pelo nosso testemunho,
Para o mundo contemplar,
Ao Senhor que nos conduz,
Ele a verdadeira luz
E que vem pra nos salvar.

 

HOMILIA

A alegria no Senhor é para sempre

Neste 3º domingo do Advento vivemos a alegria da proximidade para com a celebração da encarnação do Verbo. A alegria que esta liturgia apresenta está além das nossas sensações humanas e dos nossos propósitos terrenos. Assim podemos ver na primeira leitura retirada do livro do profeta Isaías: “Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas jóias.” (Is 61,10).

Como extrair, do Evangelho deste domingo, o que a liturgia nos propõe referente a alegria? O evangelho nos apresenta João Batista que prepara a chegada do Messias que virá para trazer a Salvação. Diz o Batista: “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim” (Jo 1,26b-27a). João expressa a expectativa de alegria para o povo: Aquele que virá é maior, pois é o Ungido que o profeta Isaías falou na primeira leitura.

A alegria que o Messias irá trazer “é a boa nova aos pobres, é a cura aos quebrantados de coração e a proclamação da liberdade aos cativos… o tempo da graça do Senhor” (Is 61,1b-2a).

De Deus vem a nossa verdadeira alegria como também o seu amor para a nossa realização terrena e celestial. Sendo que é aqui, no plano de povo peregrino, quando padecemos nossos sofrimentos, que somos chamados a buscar nossa realização de filhos e nossa alegria verdadeira.

A alegria que vem de Deus é diferente e está além das propostas de felicidade que o mundo moderno propõe através de um paradoxo: a uns incentiva o acúmulo de bens (por avareza, orgulho ou vaidade) e a outros o consumo desenfreado de bens (por luxúria, orgulho ou vaidade). Nossa caminhada é muitas vezes de dores, tristezas e sofrimentos, mas no Senhor somos felizes porque encontramos o repouso, a serenidade e a misericórdia.

A comunidade dos irmãos reunidos em torno da Palavra e da Ceia do Senhor é o testemunho da alegria para o mundo dos tristes e sofredores. Quando estamos juntos diante do Altar do Senhor e quando apresentamos para o mundo o nosso jeito de ser, somos “a voz que grita no deserto da vida, contra tudo que entortou o caminho do Senhor”[1], nas realidades tristes dos homens de hoje onde a alegria se faz ausente.

Para que nós, cristãos de hoje, sejamos luz do mundo, precisamos acolher a presença da luz de Cristo que brilha sobre os homens. Devemos reconhecer que o Natal é a aceitação da luz que veio nascer em nossas vidas e pela sua iluminação divina trazer-nos a alegria verdadeira.

Não são as luzes das lojas, das ruas e dos prédios que representam o nascimento do Salvador e nos trazem a alegria, mas as luzes dos presépios nas Igrejas e casas, como também as velas acesas nas famílias reunidas nas novenas de Natal e em torno da Palavra quando no final do encontro repartem com alegria o biscoito, o cafezinho e os pães, numa confraternização de paz entre os irmãos e irmãs, realizando o ágape.

É a luz do nosso testemunho, das nossas motivações missionárias que deverão está acessas para clarear a quem está próximo de nós. É a luz da nossa caridade, lealdade, justiça e fraternidade que iluminará o nosso ambiente humano e eclesial para celebrarmos a liturgia da presença de Cristo renascido em nossos corações e que precisa ser conhecido para que haja a paz e a salvação do mundo.

Precisamos nos fundamentar também em São Paulo sobre o tema desta liturgia: “Alegrai-vos sempre, orai sem cessar. Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus. Não extingais o Espírito.” (1Ts 5,16-19). Pois é pela alegria e oração constante que realizamo-nos de forma completa como filhos e filhas de Deus, que nos ama e nos preenche de júbilo e louvores. Não podemos apagar a força que vem do Espírito Santo, pois é ele que nos alegra com o seu fogo abrasador.

[1] Jesus veio nos indicar os caminhos do reino: Roteiros homiléticos do Tempo do Advento-Natal – tempo comum, Ano B, novembro de 2014/fevereiro de 2015, CNBB. p. 32.

II DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 40,1-5.9-11; Sl 85(84); 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8

POESIA

NOSSOS CAMINHOS COM O SENHOR

Nos caminhos tortuosos,
Cheios de grandes defeitos,
Vem o Senhor concertar,
Para se tronarem direitos,
Uma voz em nossos desertos,
Ensina os caminhos certos,
Que não foram ainda feitos.

Esse caminho é refeito,
Pela nossa conversão,
Precisa de escuta e fé,
De silêncio e oração.
Pois para bem celebrar
O Natal que vai chegar,
Precisa-se dedicação.

A espera é importante,
Sendo alegre e prudente,
Numa busca bem atenta,
Vivendo o amor paciente,
Praticando a caridade,
A Paz e a solidariedade,
No agora, no presente.

Novos céus e uma nova terra,
É o que nós esperamos,
Na paz com os nossos irmãos,
Sempre que nos encontramos.
Para o Natal acontecer,
Devemos nos envolver,
É o que nós precisamos,

Ao redor da Santa Mesa,
De todos os caminheiros,
Que buscam endireitar,
Sua vida por inteiro,
Buscando a conversão,
Que leva à redenção,
Para o Reino verdadeiro

Peçamos a Santa Mãe,
Que soube bem esperar,
Para que nos auxilie,
Neste nosso caminhar,
Ela que silenciou,
E perseverante rezou,
Ensine-nos a rezar.

 

HOMILIA

O Senhor vem para endireitar nossos caminhos

Na liturgia deste 2º Domingo do Advento, a Igreja nos apresenta os primeiros versículos do evangelista Marcos, dizendo: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” (1,1). Parece óbvio começar um livro com esta expressão, mas não é por acaso que o evangelista faz questão de falar do “princípio” ou “início” e de “Jesus Cristo, Filho de Deus”.

Segundo os estudos bíblicos, os textos de Marcos são os mais antigos e poderão nos mostrar o início da pregação de Jesus no mundo ou o começo da pregação escrita pelo evangelista sobre a ação salvífica de Cristo. Isso, porque até aquele momento o testemunho sobre a experiência do seguimento a Jesus e o conhecimento da sua pessoa e da sua história eram apenas oral.

A outra designação que se torna mais forte e que não podemos deixar de refletirmos é: “Jesus Cristo, Filho de Deus”. Falar de Jesus como sendo o filho de Maria e de José é delimitá-lo como homem histórico, mas falar “Jesus Cristo, Filho de Deus” é algo que exige um conhecimento maior. Trata-se de uma compreensão mais profunda de Jesus, pois a palavra Cristo é um nome que só é compreendido de forma completa após a experiência da Cruz e da ressurreição.

O evangelista também nos apresenta um acréscimo importante: “Filho de Deus”. O homem que foi crucificado pelos romanos, que chamava a Deus de Pai, comprova que de fato Deus é Pai e que ele (Jesus) é verdadeiramente o Filho muito amado, desde o princípio (cf. Jo 1,1). Em Jesus há a natureza humana e divina, por isso ele nos traz a salvação e mostra-nos de verdade a face misericordiosa do Divino Pai Eterno.

Voltando-nos a liturgia de hoje, podemos agora entender as palavras de João Batista: “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias.” (Mc 1,7). O último profeta antes de Jesus, João Batista, tinha a compreensão de que Jesus era o enviado do Pai. Ele é verdadeiramente Deus e foi verdadeiro homem na carne.

Em função disso o Batista não se sente digno nem de se aproximar, porque o seu batismo é Santo e será com fogo[1] do Santo Espírito. Ele é aquele do qual o profeta Isaías anuncia ao povo de Israel quando estava escravo na Babilônia.

É interessante que o evangelista Marcos lê Isaías e o apresenta no início do seu texto para dizer que João Batista irá preparar a chegada do Ungido de Deus. É preciso que o povo busque a conversão, faça penitência para acolhê-lo. Será necessária uma preparação para que não ignorem a encarnação do verbo de Deus no meio do mundo.

A não conversão, a não aceitação da pregação do Batista ou a não escuta de sua mensagem preparatória, talvez tenham impedindo que muitos reconhecessem Jesus como o Cristo de Deus. Faz-se necessário ir ao deserto, longe dos poderes humanos para escutar a voz profética e o chamado à mudança de vida.

Hoje precisamos ouvir a Igreja como mensageira da vinda de Deus em nossas vidas. Precisamos viver a conversão e a reconciliação. Ouvir a Palavra proclamada e acreditar preparando os nossos caminhos para que Deus renasça em nossas vidas.

Ao mesmo tempo devemos ser como João Batista: preparar o mundo para celebrar o Natal para que esta festa não tenha muitas vezes, uma expressão folclórica, como muitas pessoas a entendem.

Talvez existam muitas distorções do sentido do Natal exatamente por falta de profetas, que faça a preparação ajudando ao povo sobre a vinda do Senhor. Nesse sentido é muito importante a Novena de Natal, a participação assídua e atenta nas liturgias com o objetivo de compreender e viver espiritualmente a experiência da espera alegre do Senhor, que quer renascer em nossa vida.

Cristo quer endireitar nossos caminhos o quais, muitas vezes são tortuosos. Ele quer reconstruir nossas relações de amizades e de companheirismo com os nossos irmãos que muitas vezes são desgastadas pela nossa displicência e nossas ocupações demasiadas e surtos de egoísmo.

Peçamos a Nossa Senhora que nos ensine a esperarmos na perseverança e no silêncio do coração, como ela mesma esperou na sua carne e no seu espírito a encarnação do Verbo. Esperarmos novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça (cf. 2Pd 3,13). Amém.

[1] Expressão usada pelo evangelista Mateus (cf. 3,11).

I DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7; Sl 80(79); 1Cor 1,3-9; Mt 13,33-37

POESIA

COMO PORTEIROS DO SENHOR

Nas noites e madrugadas do nosso existir,
Esperemos o Senhor que quer chegar,
Para encontrar-nos sempre vigilantes,
Sem medo de se decepcionar,
E como o porteiro, sempre atento,
A cada passo e a cada momento,
Deixemos a promessa se realizar.

Também nos dias de chuva e de sol,
Faz-se necessário também vigiar,
Porque não sabemos qual o momento,
Em que Senhor vai nos chamar,
Porque nossa vida é de atenção,
Pela escuta e pela oração,
Nesta dinâmica do esperar.

Do sono da vã indiferença,
Busquemos sempre despertar,
Acordando para a vida verdadeira,
Que precisa sempre desabrochar,
E o otimismo em nossa existência,
Que não pode ser vítima da demência,
Que muitas vezes quer nos sufocar.

Que o culto seja o momento,
Da Palavra que vem nos sacudir,
Para não vivermos na ignorância,
Mas como despertos possamos seguir,
Reunindo com os nossos irmãos,
E na Paz vivemos a comunhão,
Eucaristia sempre a nos nutrir.

E como porteiros eficientes,
Que não cochilam na portaria,
Fiquemos atentos a quem quer entrar,
Seja na noite, seja no dia,
Porque nossa vida é esta morada,
Desta palavra que é encarnada,
Cristo, o amor, a nossa alegria.

 

HOMILIA

Esperemos alegres e vigilantes o Senhor que vem!

Iniciamos um novo ano no tempo da Igreja, na caminhada de filhos e filhas de Deus. Tempo em que somos chamados a viver a espera alegre do Senhor que se encarnará no nosso meio e nos abrirá as portas para a nossa salvação.

A cada ano que passa, seja litúrgico ou civil, quando chega ao seu final, é uma volta completa que damos na estrada cíclica da nossa vida. Precisamos nos perguntar: quantas voltas já fomos capazes de realizar na nossa existência? Quantas voltas Deus nos permitirá? Como fiz estes percursos? E como pretendo fazer os próximos caminhos?

O Advento é o tempo propício para nos perguntar sobre a nossa vida, nesta caminhada de encontros e desencontros, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas. Tempo de vigiar. Vigiar numa atitude meditativa onde o encontro com o Senhor pela sua Palavra e pelo seu corpo e sangue, nos faça continuarmos caminhando e crescendo na experiência de discípulos missionários que esperam a volta do Senhor.

Cada celebração é oportunidade de aprofundarmos nossa intimidade com o Senhor através da virtude da esperança. Somos marcados pela experiência da espera em Cristo, vivemos sempre expectativas de dias, meses e anos melhores onde possa haver em nossos ambientes mais condições para prosperidade, paz e fraternidade.

O evangelho de Marcos nos leva a refletirmos sobre a vigilância. Vigiar é estar em comunhão com o Senhor numa atitude de escuta da sua palavra viva que orienta e fortalece a nossa vida. “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã.” (Mc 13,35).

Neste versículo do evangelho de Marcos, Jesus nos alerta para que vigiemos durante o dia e a noite. Porém, prevalece momentos do período da noite, tais como a meia-noite, de madrugada e ao amanhecer. Isso significa que devemos vigiar a todos os momentos da nossa vida. Momentos em que estamos sobre a luz do dia e momentos em que caminhamos pelas trevas da noite.

Lembrando daqueles que são porteiros ou vigilantes nos condomínios, nos bancos e nos prédios de nossas cidades, podemos refletir sobre a importância da vigilância. É preciso que estejamos atentos para que o ladrão não roube o lugar pelo qual estamos responsáveis. Neste sentido o Evangelho também nos faz refletir sobre o estar desperto. É preciso está bem acordado para não vacilar e não ser enganado.

E nossa vida espiritual e psicológica, precisamos estar atentos para que no dia a dia de nossas atividades de desafios e sofrimentos não sejam roubadas a nossa alegria, nossa esperança, nossos sonhos. No emaranhado de ideologias e culturas do pessimismo, da desconfiança, da violência e do descréditos, devemos ficar atentos para não nos infectarmos destas realidades.

E como batizados, não deixemos que o sono do comodismo e da omissão nos impeça de seguir a Cristo na construção da comunhão, da paz e da fraternidade. Quando deixamos de lado nossa atenção ao Senhor e à sua Palavra corremos o risco de cairmos no sono espiritual e deixar nossa vigilância de lado. Neste momento as portas de nossa existência estarão abertas para que entre o mal, ladrão que rouba nossa esperança…

Devemos deixar que Deus nos molde à sua ação santificadora como fala o profeta Isaías (64,7) na primeira leitura: “Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos.” Vigiar é muitas vezes entender que, em diversos momentos da nossa vida, é o Senhor quem age, quem nos transforma e nos ensina por onde devemos seguir. “É ele também que vos fortalecerá até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Cor 1,8).

Quando perdemos a atitude de vigília ficamos perdidos e caímos nas confusões da vida. Por isso a importância da oração pessoal, comunitária e a nossa missão na comunidade onde estamos inseridos. Caminhar vigilante, como o porteiro que fica atento a todos que passam pela porta. Vigiar sem cair no sono espiritual é o que nos pede o tempo do Advento.

Portanto esta vigilância e esta espera não deve ser carregada de temor, mas de alegria, porque já temos a posse e a certeza de que o Senhor já está conosco pela sua Palavra, pelo seu corpo, pelos sacramentos e no nosso irmão.

O que nos cabe é fazer nossa parte: deixar que ele venha e possa nascer em nossa vida e trazer a salvação. O Advento é o momento de revermos como está a nossa espera, a qual deve ser constante durante todo o ano litúrgico. Amém.

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Leituras: Ez 34,11-12.15-17; Sl 22(23); 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46

POESIA

O REINADO QUE VEM DO SENHOR

O Reinado do Senhor,
É justiça e caridade,
Caminho ao paraíso,
Marcada pela bondade,
Seremos chamados benditos,
Porque consolamos os aflitos,
Pela solidariedade.

O Reinado do Senhor,
É o amor em nosso agir,
Enxergando-o nos sofredores,
No seu corpo a se ferir.
No chão da nossa existência,
Em tudo que for carência,
No humano a existir.

O Reinado do Senhor,
É herança garantida,
Para todos os benditos,
Pelo Rei oferecida,
Pois o critério é o amor,
Ao Cristo no sofredor,
Para retomar a vida.

O Reinado do Senhor,
Nos leva a meditar,
Há tempo para se rever,
Para no seu reino entrar.
Recriar nossa postura,
Retomar nossa ternura,
Para não nos enganar.

O Reinado do Senhor,
É encontro e alegria,
É o encontro com o outro,
Sendo noite ou de dia,
É caridade ao irmão
É serviço e gratidão,
Que brota da Eucaristia.

 

HOMILIA

Um Reino que não é deste mundo

Celebramos neste 34º domingo do tempo comum, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Também encerramos o ano litúrgico e, daqui uma semana, seremos chamados a começar um novo percurso litúrgico. No próximo domingo já será tempo do advento, será ano novo na liturgia da Igreja e desta vez orientados pelos textos do evangelista Marcos.

Celebrar a realeza de Cristo é olhar para ele como o Pastor que cuida do seu rebanho com amor, mas também vê-lo como o juiz que tem o julgamento sobre nossas ações enquanto caminhamos nesta terra. A caridade é critério principal para participarmos do seu Reino.

O Senhor nos ensina sobre a nossa caridade e como amá-lo na pessoa do irmão: “pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me.” (Mt 25,35-36).

O amor ao irmão necessitado tem o mesmo valor que a mesa do Altar do Senhor. Dizia São Crisóstomo: “Por conseguinte, enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”.[1] Muitas vezes temos dificuldade de conceber esta verdade de que é mais importante a preocupação com os sofredores do que o nosso apego ao espaço material.

Nosso exagero referente à nossa preocupação com os paramentos é questionável…  Devemos refletir sobre isso e nos perguntar como está a minha atenção ao Cristo escondido nos pobres, o crucificado nos irmãos e irmãs que clamam o amor concreto de Deus.

Os textos da liturgia apresentam o Senhor como o Pastor e Rei do mundo. Pastor que cuida, que conduz, que vai atrás da ovelha perdida, reúne ao seu redor, faz justiça e oferece o alimento para matar nossa fome (cf. 1ª Leitura). O Rei que julga as ovelhas, separando-as de acordo com os critérios do amor.

Aos que obedeceram a voz do Senhor acolhendo-o nos pobres, famintos, sedentos, estrangeiros, despidos e presos, receberão a herança do Reino, serão chamados benditos do meu Pai (cf. Mt 25,34).

Quanto aos que desconheceram a presença do Senhor nos que sofrem, ele os dirá: “afastai-vos de mim malditos” (Mt 25,41). As consequências destes, será o fogo eterno. Parece muito duro ouvir do próprio Jesus, falar malditos, mas precisamos aprender que ainda há tempo para rever nossas atitudes de indiferença com as palavras do Pastor e Rei.

As palavras de Cristo neste último domingo do ano litúrgico poderão servir para fazermos uma avaliação das nossas ações como cristãos, durante todo o tempo em que escutamos a Palavra, comungamos da Mesa e nos reunimos na comunidade dos irmãos e amigos de Cristo. Haverá sempre a necessidade de revermos nosso agir; de aprofundarmos sobre nossa postura como discípulos e ovelhas do mesmo rebanho do Senhor.

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos fortaleça em nossa missão no mundo moderno. Ainda há tempo para avaliar, propor e melhorar nossa qualidade de seguidores do Pastor que nos conduz pelos caminhos retos, mas que também nos julga quando somos ovelhas distantes e errantes que não reconhecem o sofrimento de Cristo na existência humana.

 

[1] Das homilias sobre Mateus, de são João Crisóstomo (*309+407), bispo e doutor da Igreja. In Liturgia das Horas, 1999, vol. IV, p. 157.

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Sb 6,12-16; Sl 62(63); 1Ts 4,13-18; Mc 25,1-13

POESIA

A SABEDORIA EM VIGIAR

Vigiar é sabedoria,
Para seguir o Caminho,
Da prudência e do bem,
Dos que não vivem sozinhos,
Que abastecem o coração,
Com azeite da oração,
Na entrega e no carinho.

Vigiar é atenção,
À Palavra do Senhor,
Que é o verbo da vida,
Repleta do pleno amor,
É viver sempre atento,
Pela escuta e seguimento,
Ele o noivo, o Salvador.

Vigiar é caridade,
Que se dá em nossa missão,
Na doação e na ajuda,
Em favor do nosso irmão,
É ser luz e sal da terra,
Plantar paz em vez da guerra,
Em favor da união.

Vigiar é prontidão,
Para a festa prometida,
Que se dá pela presença,
De Cristo e sua acolhida,
Que vem a qualquer momento,
Precisamos estar atentos,
Para o encontro da vida.

Vigiar é oração,
Que vem nos abastecer,
Com a chama da alegria,
Que nos ajuda a viver,
Dando à vida um sentido,
Ao caminho percorrido,
Para o Reino acontecer.

Vigiar é movimento,
Na santa sabedoria,
É a busca do encontro,
Rumo à Eucaristia,
É viver sendo prudente,
E o Senhor que está presente,
Com o Evangelho da alegria.

HOMILIA

Vigiar para o encontro com o Senhor

Ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora (Mt 25,13). O que se faz necessário para que vivamos a verdadeira vigilância a qual Jesus nos fala neste Evangelho relatado por Mateus? Será que a resposta ao chamado para a festa da vida que se dá no culto e na missão está alimentada pelo azeite que impede a decepção do desencontro com o Senhor? No mundo dos cristãos podemos perceber um comportamento que se faz referente à postura das dez virgens.

Esta liturgia já nos encaminha para o final do tempo comum e, juntamente com este final, nos reporta ao julgamento de Cristo. Por isso que o Evangelho nos motiva a refletirmos sobre o sentido da vigilância. E o que é ser prudente e carregar o azeite que mantem a lâmpada acesa para a chegada do noivo? É exatamente viver alimentado pelo óleo do amor, da justiça e da presença do Espírito Santo.

Uns são mais prudentes na sua experiência de encontro com o Senhor pela oração e adoração. Outros vivem meio desligados do seu papel e mergulhados na desmotivação do sentido de sua existência em Cristo. Outros ainda estão alheios às exigências e essência do Evangelho. E um último grupo está centrado nas normas e no culto mais como uma obrigação do que como uma necessidade de encontrar com o noivo e alimentar o sentido de sua vida.

E a imprudência? Como se apresenta hoje na vida do Cristão? Está na atitude que se dá pelo abandono dos valores do Evangelho; quando se banaliza e se relativiza os valores do Reino. Está na incoerência da pregação quando se proclama a prosperidade na aquisição dos bens materiais e no acúmulo do dinheiro. Também quando se abandona a prática da justiça e da caridade e se prega a Palavra em favor das conveniências pessoais e dos interesses individualistas e de dominação.

A Palavra de Deus nos pede que se proclame o amor, a justiça, a vida, a esperança, a fraternidade e a paz. Este é o conteúdo das nossas lâmpadas em virtude do encontro com o esposo da Igreja, Jesus Cristo ressuscitado, que sempre nos convida para a festa da sua Palavra e do seu corpo.

A cada Eucaristia que participamos, abastecemos a lâmpada da nossa fé para o encontro com o Senhor. Preparamo-nos prudentemente para a chegada do noivo a cada encontro na comunidade, onde se partilha a Palavra de Deus e se reflete sobre a fraternidade, a comunhão entre os irmãos e a busca da justiça.

A ação missionária em favor da construção do Reino de Deus é outra maneira de se viver em vigilância para a grande festa da vida e da salvação. Cristo espera que todos estejam preparados para a sua chegada e com a lâmpada abastecida e com o coração predisposto à alegria do encontro com ele.

Acolhamos os conselhos da primeira leitura: a sabedoria sai à procura dos que a merecem, cheia de bondade, aparece-lhes nas estradas e vai ao seu encontro em todos os seus projetos (cf. Sb 6,16). A sabedoria do homem está em buscar o sentido (azeite) da sua existência no mundo, como filho de um Deus que é puramente amor e quer encontra-lo sempre para festa da vida e da comunhão. Amém.

DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

Leituras: Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 46(45); 1Cor 3,9c-11.16-17; Jo 2,13-22

POESIA

TEMPLO SANTO

Templo Santo,
É onde se escuta a Palavra,
Que ressoa aos que querem ouvir,
Para a santificação e comunhão,
Filhos e filhas em união,
Em um único Pai a reunir.

Templo Santo,
É o lugar da partilha verdadeira,
Que alimenta a esperança dos irmãos,
Para que a fome seja saciada,
E a alegria seja saboreada,
Dos que querem a salvação.

Templo Santo,
É o espaço da esperança e da saída,
Para o anúncio do Reino do Senhor,
Num caminhar de caridade e paz,
Rumo a Vida infinita que satisfaz,
Que todos querem alimentar no amor.

Templo Santo,
São todos os caminheiros da vida,
Que deixam ressoar em seus ouvidos,
A palavra Santa de amor e do amado,
Que faz a gente no maná alimentados,
No banquete vivo dos redimidos.

Templo Santo,
Somos todos nós filhos e filhas,
Composição do corpo místico do Senhor,
Habitação Santa do Espírito Santo,
Quando somos sinais e encanto,
Da força divina e de seu esplendor.

HOMILIA

Cristo, o Templo Vivo, nos indica como sermos templos vivos

Celebramos no dia 9 de novembro a dedicação da Basílica do Latrão, a catedral do Papa, Igreja mãe de todo o povo católico. “Foi construída pelo imperador Constantino no tempo do Papa Silvestre I, sendo dedicada no ano de 324. Sua festa antes era celebrada apenas pela cidade de Roma e após a reforma do calendário litúrgico, foi estendida a todas as comunidades católicas de rito latino de todo o mundo.”[1]

Quando o martírio dos cristãos é cessado pela liberdade religiosa no Império Romano no século IV, pelo imperador Constantino, o culto ao Senhor é transferido das casas de família e das catacumbas para os grandiosos e imponentes templos (catedrais, basílicas), construídos pelos diversos governantes e ricos do período da cristandade.

Celebrar hoje a dedicação da Basílica do Latrão é muito mais que engrandecer o monumento de pedra. É confirmar a importância de todas as igrejas, isto é, das mais ornamentadas e grandiosas possivelmente até os mais simples e pequenos templos espalhados pelo mundo inteiro onde habita o Senhor da nossa vida. Nesse sentido não é apenas o espaço físico que poderá abarcar ou reter a presença e habitação de Deus, pois a sua grandeza é infinita, Ele abarca o céu, a terra e, principalmente, os corações humanos, daqueles que se deixam habitar-se e moldar-se pelo amor e sacralidade profunda de poder invencível e de vida infinita.

Os textos bíblicos desta liturgia nos ajudam a refletir sobre o templo como algo além do espaço físico, como lugar por excelência onde habita o Deus vivo e verdadeiro. O templo verdadeiro está fundamentado em Cristo como Pedra fundamental do edifício espiritual onde as pessoas são também templos vivos, onde o Espírito Santo habita e faz ressoar a todos os homens a voz de Deus e a sua obra se manifesta como realização do Reino definitivo.

No Evangelho que ouvimos encontramos Jesus no templo de Jerusalém. Ele constata que no lugar onde deveria estar presente o culto a Deus, onde a Palavra Sagrada pudesse ser escutada e meditada está acontecendo o contrário: o lugar sagrado, espaço de oração, está sendo difamado pelo comércio e desonrado pela distorção dos cambistas e vendedores de animais para serem sacrificados.

A partir desta realidade Jesus nos ensina que a relação com Deus passa a ser uma experiência além do templo de Pedra, pois o corpo do próprio Cristo será o verdadeiro templo de adoração. Será destruído absurdamente pelos homens (morte), mas em três dias será reconstruído (ressurreição) para sempre, sem ameaça de derrota. Por toda a eternidade Cristo será o novo templo, o templo sagrado que nos transformará em templos vivos onde habitará a presença do seu Espírito e de onde ressoará o amor e a comunhão verdadeira da Igreja. Amém.

[1] Roteiros homiléticos do Tempos Comum II – Ano A – São Mateus. Brasília: Edições CNBB, 2014, p. 66.

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Leituras: Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a

POESIA

QUEM É SANTO…

Para buscar e viver a santidade
Deve-se trilhar nos caminhos do Senhor,
Estar atento a Bíblia sagrada,
Ser manso, justo e ter muito amor.
Deve-se viver as bem-aventuranças
Que Jesus nos deu como herança,
Que é centro do seu plano salvador.

A santidade não é coisa qualquer
Que a gente possa imaginar,
É caminhar no chão concreto da vida,
Não ter medo do que se possa encontrar,
Pois ser santo tem suas consequências,
Muitas vezes precisa-se paciência,
Para no caminho não desanimar.

No início da história dos cristãos,
Ser santo implicava muita ousadia,
Muitas vezes implicava ser devorado pelas feras,
Ou ser colocado em grelha com brasas que ardia,
Mas o santo em sua enorme dor,
Ainda carregava o senso de humor,
Quando o fogo em chama lhe consumia.

O ser santo é sempre destinado
Para toda pessoa que quiser,
Mas para isso é preciso requisito,
Pois, não se santifica de um jeito qualquer,
Pra isso é preciso ter vocação,
Não viver na fantasia e na ilusão,
Mas é possível para homem quanto para a mulher.

Tem que ter um coração de amor,
Ter muita paz e muita alegria,
Mesmo diante das tantas misérias,
Fazer da noite às vezes o dia,
Ser bondoso e de muita caridade,
Promover a paz e a unidade,
Onde há muitas vezes má sintonia.

Às vezes é também ser ignorado,
Não ser reconhecido ainda em vida,
Pois ser santo exige além do presente,
Vivendo o amor e uma paz refletida,
Carregar um coração aberto às ações divinas,
Acreditar noutra vida que não termina,
E em Jesus apostar o caminho e a lida.

Muitos viveram radicalmente a castidade,
Entregaram sua vida totalmente,
Sem de nada ter nem um apego,
Carregavam no corpo e em sua mente
Um coração entregue somente ao Senhor,
Vivendo o trabalho na oração e no amor,
Vivendo no serviço às pessoas carentes.

Temos que também reconhecer
Que santos não são somente os do altar,
Temos tantos santos que não os conhecemos,
Por isso é preciso acreditar,
Que santo são todos os bens-aventurados,
Que viveram o amor ao bem amado,
Na esperança no céu e com Jesus morar.

HOMILIA

Bem-aventurados são os que procuram o Senhor

Estamos iniciando mais um mês de caminhada com Jesus, celebramos liturgicamente o dia de todos os santos. Lembrando que no calendário geral da Igreja este dia é celebrado em 1º de novembro. No Brasil, esta solenidade é transferida para o domingo mais próximo para que o maior número de irmãos e irmãs possam refletir sobre a sua vocação para a santidade.

O Evangelho nos apresenta Jesus que sobe à montanha e senta para proclamar as bem-aventuranças à multidão e aos seus discípulos. É bom lembrarmos que a montanha na realidade bíblica e dos judeus é o lugar da manifestação de Deus. Na montanha, Deus fala com Moisés e lhe entrega o decálogo, ou seja, a lei para que o povo siga e busque prosseguir nos caminhos do Senhor. O sentar-se de Jesus também tem um significado: Jesus é o mestre. Ele ensina com autoridade, pois dá testemunho de todas as bem-aventuranças.

Diante dessa passagem escolhida pela Igreja para a liturgia de todos os Santos, podemos refletir sobre o ser santo. Quem, de acordo com as bem-aventuranças, então é santo? Quais a exigências para viver a santidade?

Primeiramente a santidade nos pede que sejamos discípulos de Cristo, na simplicidade, na humidade, com o pé no chão da vida e, sobretudo, no olhar atento às diversas situações do mundo, sejam econômicas, políticas, sociais ou religiosas. Sendo discípulo de olho no mundo, faz-se necessário outro olhar e uma vivência que é mais profunda: a nossa mansidão, a nossa fome de amor, a nossa sede de justiça, e a nossa preocupação com a paz entre as nações.

Podemos nos perguntar: o que tem a ver comigo os conflitos no oriente médio? A violência nas cidades e no campo? A intolerância religiosa nos diversos recantos do mundo? Ser santo é estar atento a tudo isso. É pregar e viver o evangelho no mundo atual, sempre mantendo a essência da mensagem de Jesus Cristo.

Em segundo lugar temos de refletir que Jesus ainda apresenta uma última bem-aveturança e desta vez mais exigente do que simplesmente estar atento às realidades humanas do mundo: serão bem-aventurados (felizes) os que forem perseguidos por causa da justiça, também serão bem-aventurados os que forem perseguidos, injuriados e caluniados por causa de Jesus. (cf. Mt 5,10-12). A busca pela justiça e a experiência das consequências desta luta nos fará santos e nos levará aos céus. Esta deverá ser a alegria e a felicidade completa para os santos.

Finalmente não podemos esquecer que a vivência da santidade deve ser testemunhada no aqui e agora. Devemos ser mansos, justos, puros de coração, promotores da paz no grupo onde participamos, no nosso ciclo de trabalho, nas relações sociais e no nosso lar. Pois é na família, no meio dos filhos, irmãos, esposos, amigos que precisa-se de santos e santas. No meio dos ministros ordenados e religiosos, na missão cristã de cada dia, precisa-se de santos e santas.

Santos e santas, pessoas que sejam sal, luz e fermento na massa para aumentar cada vez mais a multidão dos bem-aventurados. Santos e santas que leiam e vivam a Palavra, que rezem e que sejam livres nos caminhos do Senhor e que façam o bem a todos.

Portanto, é sendo santos que podemos nos “juntar a multidão imensa de gente de todas as nações, tribos povos e línguas, incontáveis” (Ap 7,9), como nos fala são João na primeira leitura. Esta busca de santidade deve ser sempre no Senhor, como discípulos missionários. Assim podemos citar também o final da segunda leitura: “Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo,3,3). E concluirmos com o refrão do salmo desta liturgia: “É assim a geração do que procuram o Senhor” (Sl 23/24). Sejamos, no meio do mundo, esta geração que procura o Senhor e que semeia o Evangelho para a santidade e salvação de todos. Amém.