Batismo do Senhor, Festa

Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 28-29; At 10,34-38; Mt 3,13-17

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Deus Pai nos apresenta o seu Filho amado

Mt 3,13-17

Celebramos neste Domingo a Festa do Batismo do Senhor, a qual ainda se vive dentro do ciclo do Natal (que inclui dois momentos: tempo Advento e Tempo do Natal). A partir da próxima segunda-feira, já entraremos na primeira parte do Tempo Comum, que se estenderá até a terça-feira, antes do início da Quaresma. O Tempo Comum, o Advento e a Quaresma, na liturgia do domingo, são marcados por um ciclo de leituras contínuas, quando prevalece um dos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos ou Lucas). No Ano A caminhamos com o Evangelho segundo Mateus, no Ano B meditamos os textos de Marcos e no Ano C temos as narrações do evangelista Lucas. A cada três ano este ciclo se reinicia. Há algumas exceções em cada ano, quando se usa o Evangelho de João, isto ocorre de forma mais acentuada no ano B (Marcos)

Portanto, no primeiro Domingo do Advento do ano passado reiniciamos o ciclo, e então, estamos no ano A, meditando o evangelho de Mateus. “Cada texto do Evangelho proclamado neste Tempo, na liturgia dominical, com exceção das festas e solenidades, nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos”[1].

Nesta festa do Batismo do Senhor nós temos o texto de Mt (cf. 3,13-17), que nos narra o Pai eterno, após o batismo de João Batista no Jordão, nos apresentando o seu Filho ao mundo: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17). E nós, cristãos de hoje, caminhamos alegres porque Jesus mergulhou nas águas para tornar-se solidário a todos que estavam afogados no pecado.

João Batista, aquele que preparou os caminhos do Senhor para que a humanidade conhecesse o Filho muito amado, se assusta com a presença de Jesus para ser batizado por ele: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3,14). A presença do Filho de Deus, solidário aos pecadores também se expressa para se cumprir a justiça de Deus, pois a justiça se explica na vontade do Pai em apresentar o seu Filho para recuperar a imagem perdida quando no início nossos pais perderam esta marca da semelhança à imagem divina.

Neste texto de Mateus podemos ainda refletir sobre outras realidades espirituais e marcantes na manifestação do Batismo do Senhor. “Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele.” (Mt 3,16). Neste versículo podemos contemplar o Céu que se abre para se unir a Terra, já não há mais distância entre Deus e o homem, pois o Filho, Deus encarnado, está presente, caminhando junto a todos para anunciar, para curar, para nos dignificar como filhos amados também e chamar os homens à redenção.

Ainda percebemos também uma presença explícita da Trindade nesta teofania (manifestação divina), podemos ver o Pai que fala, o Espírito que, numa forma de pomba, desce sobre o próprio Jesus, o Filho muito amado. É presença da comunidade divina na terra, mostrando para a humanidade que Deus ama a todos querendo o retorno à vida eterna, retorno ao Céu.

Sempre iremos nos perguntar por que Jesus, sendo santo, sendo Deus, foi receber o Batismo de João? São Máximo de Turin (380-423)[2] num de seus sermões respondeu: “Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las e para purificar as torrentes com o contato de seu corpo. A consagração de Cristo é, sobretudo, a consagração da água. Assim, quando o Salvador é lavado, todas as águas ficam puras para o nosso batismo; a fonte é purificada para que a graça batismal seja concedida aos povos que virão depois. Cristo nos precede no batismo para que os povos cristãos sigam confiantemente o seu exemplo.”

A profecia de Isaías se cumpre no Batismo de Jesus. Cristo é “o centro da aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,6-7).

O Batismo de Jesus deve nos reportar ao nosso batismo, pois é neste sacramento que resgatamos a imagem da beleza divina após a criação e alimentamos a esperança certa do caminho de volta ao reino eterno. É importante lembrarmos que a presença do Reino já inicia-se no aqui e no agora, quando todos nos tornamos fraternos, lutamos pela justiça e somos solidários na nossa caminhada de fé, e como sal e luz do mundo, promovemos a paz, o valor e o sentido da vida e proclamamos a alegria do Evangelho.

Peçamos a força do Espírito Santo para que tenhamos perseverança na vivência do nosso testemunho de batizados e que assumamos a missão de anunciar com firmeza e unção como Pedro nos falou nos Atos do Apóstolos: “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At 10,38b). Deus está conosco, na nossa vida de família, nosso ministério à Igreja, nas nossas comunidades, grupos da pastorais sociais, na luta pela justiça e no cuidado com a criação de Deus. Ele nos conduz em cada momento e em cada situação que encontramos nos cominhos desta vida. Amém.

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[1] Diretório da Liturgia, ano A, CNBB, 2013.

[2] Liturgia das Horas, ofício das leituras, sexta-feira após a Epifania.

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⇒ POESIA ⇐

O Filho amado

O Pai nos apresenta o Filho,
Aquele que se uniu à humanidade
Que se tornou um de nós em fraternidade,
Numa presença santa e de alegria,
Humilde, cheia de paz e harmonia,
Justiça divina e solidariedade.

O Pai nos dá o Filho,
Para se tornar nosso alimento,
Deus amigo em todos os nossos momentos,
Para cativar-nos ao seu amor,
Nas águas do Jordão, o santificador,
Livra-nos do pecado e seus tormentos.

O Pai nos envia o Filho,
Para ser o divino missionário,
Visitando-nos e a nós sendo solidário,
Promovendo a vida e seu sentido,
Contempla nosso caminho percorrido,
E do seu reino nos faz operários.

O Pai nos mostra o Espírito,
Para nos santificar e nos iluminar,
Conduzindo por onde a gente caminhar,
Numa inspiração do divino Amor,
Fortaleza, sabedoria, purificador,
Fazendo-nos povo novo a anunciar.

O Filho, é o eterno amado,
Deus, humano belo e perfeito,
O Cordeiro, o Servo, o Eleito.
E o Pai é a fonte do eterno amor,
Fiel à aliança, nos dá o Salvador,
Sua misericórdia, é nosso direito.

E nós filhos, por Deus, amados,
Ele que veio a nos encontrar.
Para na sua fonte nos batizar.
Purificando-nos do pecado primeiro,
Tratando-nos como amigos e herdeiros,
E nos convida para com ele morar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***