XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Is 55,10-11;  Sl 64; Rm 8,18-23; Mt 13,1-23

POESIA

PALAVRA SEMENTE

Palavra,
Que se fez carne,
Veio à terra e se fez humana,
No homem fez o seu templo,
E ascendeu-lhe uma nova chama.

Palavra,
Que vem de mansinho,
Semeada com amor,
Quase sem ser percebida,
Mas cheia de muito vigor.

Palavra,
Semente do Reino,
Evangelho semeado,
Nos mais diversos terrenos,
Para serem fecundados.

Palavra,
Que se espalhou,
Entre as pedras ou espinhos,
Grão da vida em terra boa,
Também a beira do caminho.

Palavra,
Que se faz esperança,
Na alma de tanta gente,
Na vida do dia a dia,
Alimenta a fé do crente.

Palavra,
Que traz alegria,
Fortifica a caminhada,
Dá-nos força e muita paz,
Retoma nossa harmonia.

Palavra,
Semeada em nós,
Cristo o semeador,
O Evangelho em nossas vidas,
Por obra do seu amor.

Palavra,
Que se faz partilha,
Que ecoa e é doada,
Aos ouvidos e à boca,
Da assembleia convocada.

HOMILIA

O Semeador Divino

Na liturgia da palavra deste 15º Domingo do Tempo Comum, contemplamos, graças ao Evangelho de Mateus, o mestre Jesus sentado na barca e ensinando ao povo através de parábolas. Ele faz referência à ação da sua Palavra, semente do Reino, em nossas vidas. Há um semeador (Deus), que vem jogar a semente (Palavra) nos diversos terrenos (homem) para que fecunde a vida verdadeira e possa produzir os frutos do amor, da paz e da comunhão.

De acordo com Armellini, a verdade é que a colheita não depende tanto da semente e do semeador quanto depende da qualidade da terra. Isto é, se o coração está duro (como um chão batido que não permite ao Evangelho penetrar na terra), se é um coração inconstante (que se entusiasma e logo desanima, como a semente que cai na pedra, que logo germina e é queimada pelo sol), se é coração inquieto (que se agita em função das circunstâncias), se é um coração bom (que produz frutos em abundância)[1].

O profeta Isaias nos diz: “A Palavra não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la, diz o Senhor (Is 55,11). Quando plantada em nossos corações também é assim, a Palavra do Senhor produz uma ação transformadora em nossas vidas. Faz nascer em nós a esperança e nos motiva a continuar caminhando como missionários que, por sua vez, também se tornam semeadores do Reino de Deus.

Como evangelizadores, catequizadores e missionários, os cristãos, às vezes tem a impressão de que as sementes do Evangelho são semeadas em lugares que não há possibilidade de fecundar. Esta foi a mensagem de Jesus: É preciso continuar anunciando, sem prejulgamentos, mesmo que em alguns momentos não tenhamos resultados. Semeando sempre nos diversos corações e sem sabermos quando haverá ou se haverá o que colher. Fazendo a nossa parte, perseverando na semeadura, muitos acolherão e deixarão que algo possa nascer e dar bons frutos.

É importante entendermos que a preocupação principal de Jesus foi espalhar a semente do Reino no coração das pessoas. Somente persistindo podemos ver o Reino de Deus acontecer nos mais diversos cantos do mundo. Faz se necessário semear o bem que nasce e se alimenta do Evangelho e que trará os frutos da fraternidade.

Constatamos uma sociedade marcada por muitos desafios, tais como a falta de esperança, o individualismo, as guerras e a violência. Estas realidades vêm a comprometer a Paz no mundo e a dividir os filhos de Deus. Portanto, em diversos momentos o comando das diversas ideologias, a manipulação das riquezas podem impedir que a mensagem e os frutos de vida nova possam acontecer.

Como nos fala São Paulo: “a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua livre vontade, mas por sua dependência daquele que a sujeitou” (Rm 8,20). A autossuficiência do homem se confunde com a liberdade e a autonomia em busca da vida e da fraternidade. O apóstolo continua: “Com efeito, sabemos que toda a criação, até ao tempo presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8,22).

Diante das palavras de São Paulo concluímos que a fuga e/ou a falta de acolhimento à Palavra de Deus, como semente que traz nova vida, causa sofrimento à humanidade. Sendo assim o que vale então a liberdade em não acolher o bem?

Somos então, muitas vezes, esse terreno pedregoso, cheio de espinhos, árido e desinteressado pela semente do Evangelho, o qual quer transformar as nossas vidas. O semeador divino e a sua semente querem fecundar a esperança, alegria e uma vida nova. Palavra que uma vez acolhida e regada no terreno bom do nosso coração, nos conduz a salvação. Lembremos que a semente é a mesma para os diversos terrenos. O que muda neste processo é a predisposição e receber ou não a Palavra semeada.

A Igreja, portanto precisa de semeadores que levem a Palavra aos diversos corações. Também cada batizado é chamado a preparar o seu terreno (coração) para acolher a semente de Cristo que quer fecundar o sentido mais profundo da vida. Somente com o testemunho de terreno que acolhe a palavra podemos colaborar com a semeadura que Cristo nos pede.

Olhemos para Maria e José que se fizeram terrenos bons para acolher o verbo encarnado e sua semente em favor da salvação e por isso se tornaram colaboradores da salvação. Também contemplemos os apóstolos que deixaram a voz do Senhor ressoar profundamente em seus corações e ao mesmo tempo acolheram radicalmente o convite de serem continuadores do projeto do Reino de Deus. Veneremos os Santos e Santas que, pela fé, deixaram a semente lançada pelo Senhor fecundar em suas vida, para serem sinais vivos do Evangelho no mundo.

E por fim, olhemos para todas as pessoas que se deixaram seduzir pelo chamado de Cristo nos dias atuais e são testemunhos do Senhor, nas diversas opções de vida cristã: missionários(as), consagrados(as), ordenados, celibatários(as), casados e tantos jovens disponíveis a semear a palavra do Senhor com a com a boca, o coração e o testemunho em favor da vida e da salvação do mundo.

[1] Cf. ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 274-275.

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Zc 9,9-10; Sl 144(145); Rm 8,9-11.13; Mt 11,25-30

POESIA

O DESCANSO COM O SENHOR

“Vinde a mim os que estão cansados”,
Diz o Senhor a nos acolher,
Pois sua Palavra é luz a nos fortalecer,
Faz nascer a esperança e traz o ardor,
Quer que vençamos as fadigas a nos invadir,
Para superarmos o cansaço e assim prosseguir,
Nesta vida alimentada pela fé e o amor.

“Aprendei de mim que sou manso e humilde”,
Outro convite que nos vem ressoar,
Porque sua mensagem nos vem libertar,
Tirando o cansaço que a vida quer nos trazer,
Para caminharmos rumo a libertação,
Vivendo a cura do nosso coração,
Que no Senhor quer se converter.

Tomai sobre vós o meu julgo,
É a promessa segura que vem do Senhor,
Julgamento realizado pelo seu amor,
Que alivia o peso da condenação,
Pois sua lei é para a liberdade,
Realiza-se pelo cuidado e pela caridade,
Buscando tirar todos nós da perdição.

Sou manso e humilde de coração,
Esta é a atitude do Mestre a nos ensinar,
Ação do Santo Espírito a nos iluminar,
Que mora em nós e nos dá a vida,
Porque o que atrai é a humildade,
Prática de quem busca a santidade,
E quer ser um porto de acolhida.

Só no Senhor o repouso completo,
Que nos preenche e nos dá sentido,
Deixando nosso ser fortalecido,
Quando nas labutas da peregrinação,
Precisamos parar em nossa estrada,
E quando vem o cansaço da jornada,
Consequência do caminhar na missão.

Seja o Senhor o alimento procurado,
Quando paramos para nos abastecer,
Acolhendo a Palavra a nos preencher,
Sentando-se à mesa da fraternidade,
Para partilhar da santa refeição,
Comida e bebida que gera união,
Que sustenta a vida da comunidade.

HOMILIA

A Palavra de Jesus é um jugo suave

As palavras do Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum vêm ressoar em nossos ouvidos o chamado libertador de Cristo: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso.” (Mt 11,28). Diante deste convite do Senhor, podemos nos questionar: Que Deus maravilhoso é o nosso, que em vez de nos impor obrigações, leis e tecer julgamentos, ele nos chama a descansar, e a buscar refúgio nele. Neste sentido o Senhor nos leva também a uma perguntar: Quais os nossos cansaços e nossas cargas? Quais nossos fardos?

Naquele tempo, na Galileia, Jesus percebeu o cansaço e o sofrimento do povo oprimido com o peso dos fardos das rígidas leis, criadas pelo sistema político do Império, como também as normas religiosas dos fariseus e doutores, as quais julgavam os trabalhadores da roça, os empregados, os pescadores, as mulheres e as crianças. Era o povo simples das margens sociais e econômicas que sofriam e eram julgados pelo peso das tantas normas religiosas e políticas.

A mensagem do Mestre chegava àquelas pessoas. Elas entendiam as palavras simples pronunciadas por Jesus, porque ele compadecia no seu coração o cansaço e os pesados fardos de seu povo. Suas palavras curavam, aliviavam o sofrimento das pessoas, faziam muita gente a tomar uma nova direção em suas vidas. Muitos mudaram de vida e encontraram o sentido dos seus caminhos.

Hoje também nós sentimos, muitas vezes, nosso cansaço como consequência da correria do dia a dia. O tempo é pouco na nossa rotina, o que nos impossibilita o descanso e o alimento do Espírito e das nossas motivações. E assim, muitas vezes, as nossas férias não oferecem descanso e relaxamento. Somos oprimidos e sufocados por tantas obrigações às quais nos impedem do encontro restaurador conosco, com Deus e com o outro. Precisamos buscar no Senhor o nosso repouso para podermos ter vida de verdade. Muitas vezes fugimos destas possibilidades e nos afogamos no ativismo e no barulho que nos impede de rezar e de meditar sobre o sentido de nosso existir.

Outro aspecto que podemos refletir inspirado neste Evangelho é que, na atualidade também sentimos o peso das leis de morte e de opressão que maltrata os pobres (pequeninos) colando o fardo da fome, o aumento da pobreza, do desemprego, da desigualdade social. E a corrupção que traz muitas consequências, massacrando grande parte da população mundial. Diante disto, o papa Francisco nos diz que os pobres são os primeiros a sentir efeitos da corrupção.” [1]

Diante da mensagem, meu jugo é suave e o meu fardo é leve (cf. Mt 11,30), entendemos que a primeira e a principal lei de Cristo é amor e a misericórdia, porque, primeiramente, ele acolhe a pessoa como ela é, nas suas fragilidades, na sua história e nas suas angústias para depois propor um caminho liberador e salvador. O jugo leve é esta forma de Jesus pregar o Reino no mundo, primeiramente no seu acolhimento amoroso e cheio de cuidado, para depois ir curando das feridas e restaurando os que o buscam ou os que são chamados por ele.

Os discípulos de Cristo foram os primeiros a serem cuidados por ele e iniciaram um processo de caminhada nova. Eles são os pequeninos a quem Jesus se dirige e quer que encontrem segurança e repouso. Pois foram pessoas tiradas do meio do povo, homens simples, mas abertos à mensagem do reino.

Olhando para Jesus, na sua ação messiânica, podemos ver a concretização daquilo que falou o profeta Zacarias: “Eis que vem teu rei ao teu encontro, ele é justo, ele salva; é humilde e vem montado num jumento, um potro, cria de jumenta” (Zc 9,9). Esta cena nós constatamos e até fazemos parte na ação ritual do domingo de Ramos. Os batizados tem o Espírito de Cristo (cf. Rm 8,9), vivem na certeza de que o nosso Deus é amor e humildade e nos ensina a vivermos neste caminho. Também como cristãos somos agraciados pela força do Senhor que nos deu vida nova. Nele, aliviamos nossos fardos diários, quando somos alimentados pela Palavra e pela Eucaristia. Porque o Senhor “sustenta todo aquele que vacila e levanta todo aquele que tombou” (Sl 144,14). Amém.

[1] PAPA FRANCISCO. Papa: os pobres são os primeiros a sentir efeitos da corrupção. Disponível em: <http://br.radiovaticana.va/news/2017/06/30/papa_os_pobres_s%C3%A3o_os_primeiros_a_sentir_a_corrup%C3%A7%C3%A3o/1322324>. Acesso em: 7 jul. 2017.

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Leituras: At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19

POESIA

AS COLUNAS DA IGREJA

Um é o pescador
Dos mares da existência,
Chamado pelo Senhor,
Para uma experiência,
Segue-O pelo caminho
Não viverá sozinho,
Mas terá as exigências.

Outro é o doutor,
O sábio e rigoroso,
Que seguiu sem temor,
O Senhor amoroso.
Deixou a estrada da morte,
E seguiu firme e forte,
Apaixonado, fervoroso.

Os dois seguem andando,
Superando as barreiras,
Cristo os foi conquistando,
Para a missão primeira,
Que é o Reino implantar,
E Palavra a semear,
Pela sua vida inteira.

Pedro viveu com o Senhor,
Ainda neste mundo,
Conheceu seu amor,
Mais forte e mais profundo.
E quando o Senhor partiu,
E então ressurgiu,
Ele saiu pelo mundo.

Paulo viveu diferente,
Toda a sua conversão,
E foi seguindo em frente,
Caminhando em missão,
Formou as comunidades,
E pregou toda a verdade,
Nas busca da comunhão.

Hoje Pedro, o nosso Papa,
Segue firme, a remar,
Essa barca, que é a Igreja,
E o mundo, o imenso mar,
Vai sempre anunciando,
E com Cristo caminhando,
Sem medo de afundar.

E nós, os tantos cristãos,
Da nossa atualidade,
Como ser comunhão,
Nesta sociedade,
Como ser sal e luz,
Como carregar a cruz,
E forma fraternidade.

Somos Pedro e Paulo,
Pela várias estradas,
Comunhão e missão,
São as nossas jornadas.
Somos a fraternidade,
Vivendo a caridade,
E sendo vidas doadas.

HOMILIA

Pedro e Paulo: colunas da Igreja

Na liturgia de hoje, a Igreja celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo. Estes dois Santos, colunas da Igreja, foram responsáveis pela condução e missão de levar a mensagem amorosa e vital do Ressuscitado ao mundo. Cabe, nesta homilia, tecermos uma análise do percurso destes apóstolos, ambos martirizados em Roma, entre 64 e 67 d.C.

Contemplemos primeiramente Pedro, o pescador da Galileia, filho de Jonas e irmão de André. Em Tiberíades, quantos dias e quantas noites ficou no mar para buscar o seu sustento? Vivia a procura de muitos peixes! Foi naquele mar que Jesus o encontrou num dia de pesca e o chamou para tornar-se pescador de pessoas. Com o seu coração conquistado pelo chamado de Jesus de Nazaré, seguiu-o e, no percurso deste seguimento teve altos e baixos, inclusive negando ser do grupo dos discípulos, quando na paixão de Cristo alguém o interrogou se era um dos seguidores dele.

Mas antes deste episódio, na avaliação que Jesus faz com seus discípulos, quando lhes pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13), Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,3.16). De Jesus recebe as chaves, para ligar e desligar no céu e na terra aquilo que convém ou não ao Reino (cf. Mt 16,19). Ele é pedra em torno da qual a Igreja de Cristo será edificada, ou seja, é vínculo de comunhão entre todos aqueles que seguem o Senhor, por que a Igreja é do Senhor.

A partir desta dimensão a Igreja será chamada apostólica por estar fundada nesta missão de levar ao mundo a evangelização e a construção do reino de Deus. Após a ressurreição este apóstolo foi fortalecido e encorajado. Pedro tornou-se então, um apaixonado pela missão de levar a mensagem da ressurreição. Uma paixão que venceu o medo e que o fez andar na contramão do Império Romano, batendo de frente com os fariseus e autoridades e chegando a ser preso.

Mas a presença do Ressuscitado, que não tem barreiras e é invencível, quebrou as correntes da prisão e o fez caminhar firme ao lado do anjo de Deus, de porta a fora, para a missão de anunciar o amor e a paz ao mundo, e também ter certeza de que o Senhor caminha junto nesta missão divina, vencendo o poder de opressão e da escravidão (cf. At 12,7-11).

Sobre Paulo também temos muito a dizer de acordo com as leituras bíblicas. Foi um doutor da lei, zeloso pela doutrina judaica, contemporâneo de Jesus e de seus discípulos. Foi perseguidor e inimigo do grupo dos seguidores de Jesus. Chegou a matar cristãos. Mas um dia Jesus também o conquistou de forma impressionante numa viajem na estrada de Damasco.

Após convertido coloca todo o seu saber, suas forças e suas motivações para propagar a fé em Jesus Ressuscitado. Viajou a diversos lugares e formou comunidades entre os judeus e pagãos. Também sofreu pelo Senhor, foi perseguido, maltratado e martirizado, mas alimentado pela presença do Senhor também disse: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Suas cartas são de uma riqueza espiritual e pastoral imensa para a Igreja da época e também no decorrer dos séculos. Continuam hoje como textos valiosos e profundos para a liturgia, a catequese, grupos, comunidades e para a vida missionária da Igreja no mundo inteiro.

A liturgia de hoje está repleta do testemunho destes dois apóstolos. Eles são chamados colunas da Igreja, por que marcaram e marcam a caminhada dos cristãos. Eles nos fazem refletir que Deus chama os pecadores para serem santos e para levar a mensagem do Reino através do testemunho de conversão e a missão de levar a Palavra ao mundo inteiro, formando comunidades de amor e sendo vínculo de comunhão.

Também aprendemos que não é somente os sábios (intelectuais) que o Senhor chama, mas as pessoas das diversas realidades de vida. Basta estar aberto ao chamado e querer viver uma experiência de caminhada com o Senhor numa busca de crescimento espiritual e de discipulado.

Na condução da Igreja de Cristo, hoje está Pedro, Papa, figura santa de unidade da fé cristã católica. Ele orienta e faz crescer o rebanho do Senhor. Ele governa e transmite o ensinamento na condução da barca do Senhor que é toda a Igreja. Barca que rema e enfrenta em meio ao imenso mar (o mundo), com suas controvérsias das mais diversas realidades humanas.

Com o testemunho de Paulo, somos motivados a seguir em missão pelas diversas aldeias e realidades da vida humana. A cada palavra do evangelho semeada nos corações, uma oportunidade de anunciarmos a Cristo, pregando a vida nova, podendo dizer quem é o Ressuscitado e o que é pede de todos nós. Nisto se dá o sentido da vida cristã: Levar a palavra aos vários cantos do mundo, com coragem, determinação e sem medo das consequências que poderão trazer a pregação sincera do Evangelho.

Portanto devemos seguir em frente olhando para São Pedro e São Paulo como bases da vida apostólica e missionária. Eles nos ensinam a caminharmos com o Ressuscitado e a superarmos nossas fragilidades e pecados que impedem de seguir em frente com ele. E assim podemos concluir, acolhendo as palavras de São Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer um que lhes pedir, a razão da esperança que há em vocês” (1Pd 3,15). Amém.

 

 

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Jr 20,10-13; Sl 68(69); Rm 5,12-15; Mt 10,26-33

POESIA

O EVANGELHO VENCE O MEDO

Pregar o Santo Evangelho,
Não é status e honraria,
Mas um mandato exigente,
Que se vive a cada dia,
Muitas vezes vem o medo,
Que espanta a alegria.

 Com Cristo vencemos o medo,
Das garras da perseguição,
Dos fortes maltratos terrenos,
Consequência da missão,
Dos fracassos e da morte
Que causam a desilusão.

Como discípulos amados
Queremos seguir em frente,
Vencer as tantas barreiras,
Que enfrenta o povo crente,
Porque Evangelizar,
É tarefa exigente.

Ser discípulos do Senhor,
Exige-se a doação,
Entregar-se a uma causa,
A favor da salvação,
Pregando sempre a verdade,
Com coragem e decisão.

Caminhar como cristão,
Com Cristo Nosso Senhor,
Vence-se o medo e a dúvida,
E afasta-se o temor,
Segue-se na segurança,
Numa trilha de amor.

A consequência do anúncio,
É também perseguição,
Pois o mundo distorcido,
Traz desprezo e opressão,
E assim os missionários,
Sofrem também a repressão.

Olhemos para os profetas,
Que foram ignorados,
Por pregarem a verdade,
Muitos foram torturados,
E nos reinos poderosos,
Os seus sangues derramados.

Quem quiser ser um profeta,
Nesta pós-modernidade,
Deve vencer todo o medo,
Pra viver na lealdade,
Não ter medo da derrota,
E pregar sempre a verdade.

Que a Santa Comunhão,
Forte e vivo alimento,
Do discípulo caminheiro,
Seja sempre o alimento,
Dando força à vida inteira,
Em todos os seus momentos.

HOMILIA

Não ter medo de anunciar

“Não tenhais medo dos homensNão há nada que esteja escondido que não seja revelado” (Mt 10 26). É isso que nos fala o evangelho de Mateus, neste 12º domingo do tempo comum. Os poderes do mundo tentam esconder suas tramas e seus planos, mas o Evangelho é luz na escuridão, pois ilumina e faz aparecer a verdade que está escondida. Por isso pregar o Evangelho em favor da justiça e da lealdade, pode causar medo e insegurança. Neste sentido teremos que estar sempre iluminados e alimentados por Cristo para vencer nossos temores e enfrentar as trevas que tentam escurecer a vida humana.

As consequências da pregação missionária nem sempre são as multidões em louvores, as igrejas cheias, os ginásios e estádios lotados. Muitas vezes pregar o evangelho é viver em meio ao medo e às fugas. E então, precisamos buscar a coragem no Espírito Santo para seguirmos firmes e iluminados. Ser um discípulo de Cristo é muitas vezes viver o desprendimento, a entrega total da vida e caminhar também ao encontro da morte do corpo material. Os primeiros cristãos viveram esta experiência. E durante a nossa história cristã, muitos entregaram seu corpo através do batismo de sangue (martírio), por que colocaram toda sua esperança e força em Cristo.

Pregar a Palavra de Deus é apresentar a proposta do Reino Divino que nem sempre agrada a todos, que nem sempre produz o elogio. Em diversos momentos podemos até encontrar a hostilidade e a perseguição como resultado deste anúncio. Pois a Palavra semeada, em muitas ocasiões e lugares traz provocações contra as ideologias de opressão, de alienação, de manipulação e do relativismo.

A liturgia deste domingo vem nos mostrar este outro lado da vida do cristão, o qual nem sempre costumamos dar atenção. Ou seja, viver o Evangelho, também traz o sacrifício e a entrega da vida em favor de um propósito, de um projeto. Construir o bem também pode trazer desafios e sofrimentos. Deixar que a luz da Palavra ilumine a vida das pessoas para não serem manipuladas, pode causar a intriga e a perseguição por parte dos que alienam e massificam a ideologia da opressão em favor de interesses unicamente materiais e desumanos.

A primeira leitura nos apresenta um exemplo do destino daqueles que lutam pelo o bem comum das pessoas. O profeta Jeremias é sensível à realidade de sofrimento de seu povo, quando se encontra para ser invadido pela Babilônia. Diante da opressão ele grita e lamenta: “Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: denunciai-o, denunciemo-lo” (Jr 20, 10). Este texto expressa a realidade concreta do Evangelho proclamado. Ser profeta é perceber a realidade de sofrimento de uma nação e denunciá-la, sem medo. É ser porta voz da Palavra de Deus.

Somos chamados a viver a missão do anúncio do Evangelho, que se dá, sobretudo, pela denúncia das injustiças e das estruturas políticas, econômicas e ideológicas desumanas que causam medo às pessoas. Não podemos ficar alheios ao chão que pisamos, ao mundo que nos circunda. A palavra de Deus deve nos ajudar, iluminando nossas consciências, para que sejamos sensíveis aos que sofrem e precisam de uma palavra de defesa.

Devemos denunciar os frutos do pecado iniciados com o primeiro homem, Adão. Pelo pecado entrou a morte (cf. Rm 5,12). Em Cristo somos inseridos na vida e na luta contra a morte eterna, a qual provoca nossos medos. Por isso, quem está com Cristo deve vencer o medo da morte.

Na comunidade cristã deve reinar um ambiente de segurança e de coragem, pois quando nos reunimos em Cristo, a alegria do Evangelho e a sua força devem está presentes. Por isso devemos ter cuidado em nossos prejulgamentos moralistas, os quais causam medo nas pessoas. Devemos sim apresentar a misericórdia de Deus como o sinal de salvação.

Portanto, fiquemos atentos ao que o Senhor nos aconselha no Evangelho desta liturgia: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutai ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!” (Mt 10,27). Ou seja, o que aprendemos na experiência com a Palavra e na oração, na vida de intimidade com o Senhor, devemos proclamar ao mundo no dia a dia de nossa missão.

E nos momentos de nossas aflições e inquietações, fruto do nosso apostolado, do sofrimento injusto do irmão ou de nossas angústias, elevemos nossa oração de confiança e entrega a Deus como nos reza o salmo 68: … “Elevo para vós minha oração, neste tempo favorável, Senhor Deus! Respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha! Senhor ouvi-me, pois suave é vossa graça, ponde os olhos sobre mim com grande amor.” Amém.

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Ex 19,2-6a; Sl 99(100); Rm 5,6-11; Mt 9,36-10,8

POESIA

A MISSÃO DOS DISCÍPULOS DE JESUS

Eis o tamanho da messe,
Que Jesus a contemplou,
Tendo compaixão do povo,
Quando aos discípulos chamou,
Pra levar a libertação,
Pela evangelização,
Que ele mesmo iniciou.

Pra curar todos os enfermos,
Jesus chamou seguidores,
Pra levar a libertação,
Das doenças e das dores,
Pra levar o amor e a vida,
Força e paz distribuídas,
Pelos anunciadores.

Pra ressuscitar os mortos,
Dos abismos e ilusões,
Pra renascer a esperança,
As forças e as motivações,
Pra trazer a divina coragem,
De Deus retomar a imagem,
E pulsar dos corações.

Pra expulsar as tantas lepras,
Jesus também nos envia,
Limpar as tantas feridas,
Que a muitos angustia,
As mentiras combater,
A hipocrisia vencer,
E espalhar a alegria.

Expulsar os divisores,
Que provoca a tentação,
Que o demônio quer trazer,
Pelas forças da opressão,
Combater a idolatria,
Saí da vida vazia,
Pra viver a compaixão.

Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vendo ovelhas sem pastor,
Pede-nos pra que rezemos,
Pela missão do amor,
Construir libertação,
Anunciar a salvação,
Do Reino do Criador.

Que a Palavra e a Eucaristia,
Fortifique a nós cristãos,
Pra vivermos o dia a dia,
As obras da santa missão,
E o Reino anunciarmos,
Jesus Cristo comungarmos,
Isto sim, é comunhão.

HOMILIA

A missão de curar, ressuscitar, purificar e expulsar o mal

Na liturgia da palavra deste 11º domingo do tempo comum, o evangelista Mateus nos apresenta Jesus tendo compaixão pela multidão, porque ele percebeu que aquele povo estava como ovelhas sem Pastor (cf. Mt 9,36). Isso porque aos que cabia a responsabilidade de conduzir o povo (fariseus, mestres da lei, responsáveis pela religião) não estava sendo cumprida. Pelo contrário, oprimiam, desprezavam e hostilizavam as multidões. Os chefes políticos, responsáveis pelo bem comum da nação, também a explorava. Ou seja, a opressão estava presentes em todas as dimensões de comando da sociedade judaica como, por exemplo, na econômica, política e religiosa.

Diante desta situação, Jesus contempla aquela multidão e sente compaixão. Ter compaixão é sentir nas entranhas a dor do sofredor. Com isso Jesus ver a necessidade não somente de pão material mas de libertação, de justiça e, sobretudo, de dignidade humana. Num segundo momento Jesus percebe a necessidade de verdadeiros anunciadores do Reino de Deus e pede que se faça a oração para que o dono da messe suscite mais operários para a missão de cuidá-la. (cf. Mt 9,38). Rezar para que aumente os colaboradores na missão salvífica em favor do Reino, não somente depois desta vida terrena, mas ainda aqui, para que haja a presença do amor, da fraternidade e da paz.

E diante da compaixão e a motivação da oração em favor da messe, Jesus toma a atitude de chamar discípulos para a missão a fim de prolongar a sua mensagem. É preciso espalhar a Boa-Nova por todas as aldeias (cf. Mt 10,6). O povo de Deus que há centena de anos recebeu de Deus a promessa da aliança e sua fidelidade, agora é chamado a viver a nova aliança. Os doze discípulos missionários, chamados e ao mesmo tempo enviados, lembram as doze tribos do povo da antiga aliança.

E nós cristão de hoje somos parte deste novo povo, chamados a ter compaixão dos sofredores e a rezarmos para que novos evangelizadores respondam ao chamado de Deus. Aqui a necessidade de anunciar com a nossa vida o evangelho da alegria ao todos. Os bispos, os presbíteros, os diáconos, os religiosos, os catequistas, os Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, os jovens, leigos dos mais diversos movimentos, as comunidades de vida e de aliança, todos e todas são chamados a partir em missão.

Os eleitos por Jesus vão com uma mensagem e uma missão específica: Primeiro devem anunciar que o Reino está perto… Depois, devem curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios (cf. Mt 10,8). Também essa é a missão dos cristãos nos dias de hoje em meio a tantas doenças, tantas mortes, tantas lepras e muitas divisões demoníacas que destroem as famílias e as diversas relações humanas.

Podemos nos perguntar o que significou para os discípulos de Jesus naquele tempo e o que significa hoje esta missão a qual Jesus designou a todos nós batizados em seu nome. Curar os enfermos é esta atitude de libertá-los de tudo que é contra a vida. Ajudar as pessoas em aceitar as enfermidades irreversíveis, como um caminho de experiência e conversão espiritual.

Ressuscitar os mortos como um processo de ajudar a muitos irmãos e irmãs a reacenderem a esperança na sua vida de desilusão e enfrentarem os seus desesperos existenciais. Limpar os leprosos é esta ação de vencer todas as impurezas que a mentira, a falsidade, a ações hipócritas constroem contra o humano e trazer a verdade, a simplicidade a justiça e resgatar a honradez. Expulsar os demônios num caminho de afastar tudo aquilo que é mal e que divide a vida das pessoas. Combater a idolatria aos bens materiais e os apegos a tantas ideologias e interesses obsessivos.

Eis a missão da Igreja nos dias de hoje: fazer com que as doenças, as mortes, as lepras e os demônios sejam banidos da vida da humanidade. Fazer com que o Reino de Deus aconteça já na caminhada das comunidades, das famílias, dos grupos, dos movimentos e trabalhos missionários em favor do amor, da paz e da vida.

Cristo é a razão da nossa existência e nós devemos buscar a reconciliação com ele. São Paulo nos diz na segunda leitura: “Nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação.” (Rm 5,11). Cristo é misericordioso e ele tem amor e compaixão por todos nós. Ele quer curar nossas feridas, limpar nossas lepras que tanto nos oprimem, nos ressuscitar para uma vida nova e expulsar todas as tentações que nos afastam do caminho do amor de Deus. Amém.

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

Leituras: Dt 8,2-3.14b-16a; Sl 147(146-147); 1Cor 10,16-17; Jo 6,51-58

POESIA

ALIMENTO SANTO

Ó Deus amável de eterna bondade,
Que se fez carne e alimento,
Sendo pureza e simplicidade,
O seu corpo santo, nosso sustento,
Fazendo-nos forte na caminhada,
Nesta vida, na nossa jornada,
Que vivenciamos no teu seguimento.

Ó Senhor de paz e de plena caridade,
Que nos ajuda na conversão,
Ensinando ao mundo que é tão faminto,
O valor da vida e da comunhão,
Pra vencer as tramas do nosso egoísmo,
Que às vezes causa um imenso abismo,
Nos separando da salvação.

O Senhor da vida alimento eterno,
No santo altar o amor nos traz,
Lá no sacrário a nossa espera,
Para o encontro da santa paz
Pão que traz força e alegria,
É o santo corpo, é Eucaristia,
Alimento puro que satisfaz.

Pão vivo e santo que desceu do céu,
Nossas consciências vêm alertar,
Sobre os perigos de nossa prepotência,
Que muitas vezes vem nos tentar,
Pois comungar é ser coerente,
Em corpo e alma, espírito e mente,
É viver em Cristo, sem profanar.

Pão vivo e vinho que vem a nós,
Pra mesa santa ser bem completa,
Comei e bebei, eis o mandato,
Que a cada missa ele nos alerta,
Pra que na vida sempre haja pão,
E o vinho novo, festa comunhão,
Pra que a alegria seja completa.

HOMILIA

Palavra que se fez carne e veio a nós

Eu sou o Pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre” (Jo 6,51a). Esta é a verdade da Eucaristia apresentada por Jesus quando se refere ao verdadeiro Pão da vida. Não mais como o maná que nossos pais comeram no deserto e morreram (cf. Dt 8,16; Jo 6,58), mas o alimento eterno que mata a fome, bebida de vida que dá alegria e sacia por completo a sede de todo ser humano.

No Deuteronômio, na primeira leitura, Moisés faz uma memória da caminhada libertadora de Deus que caminhou com seu povo. Deus, através de Moisés, orientou o povo pela sua Palavra e também o alimentou, livrou-o e o libertou. A Palavra de Deus se faz alimento em nossa vida, nos desertos de nossa existência.

Cristo é Palavra que alimenta a fé da Igreja, o novo povo de Deus. Multidão que caminha nas vias do mundo, testemunhando a caridade, fraternidade e a comunhão. Neste sentido São Paulo nos diz pergunta, na segunda leitura: “O cálice da benção, o cálice que abençoamos, não é a comunhão com o Corpo de Cristo? E o Pão que partimos, não é comunhão com o Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Na celebração Eucarística não só prestamos culto a Deus Pai e nos identificamos com seu Filho, como também comungamos com os irmãos, fortalecendo a relação de fraternidade[1]. Comungar, portanto, é viver coerentemente a vida de Cristo e em Cristo, que se dá na nossa lida diária, no nosso trabalho e nas nossas relações e interações sociais.

Somos membros do mesmo corpo de Cristo que é a Igreja e todos participamos do mesmo pão e do mesmo vinho (cf. 1Cor 10,17). E seguimos na comunidade oferecendo nossos dons como ofertas da nossa vida e de nossa pertença a Cristo. Comungar é também partilhar nossas habilidades pessoais e a nossa dedicação a serviço de Cristo e do seu Reino.

O Evangelho de João vem nos apresentar o discurso de Jesus ao povo que tinha se saciado no deserto com a multiplicação dos pães materiais (Jo 6,11-13). Jesus ajuda as pessoas a refletirem além da superficialidade material e vai para a dimensão espiritual. Cristo é o próprio Pão a ser oferecido em favor da vida eterna. Quantas vezes também caímos na tentação de ver Cristo apenas como àquele que deve nos favorecer somente na nossa dimensão material e de acordo com os nossos anseios.

Portanto a Eucaristia deve nos levar a sermos outro Cristo, pois ele nos alimenta com a sua Palavra nos fortificando no nosso testemunho e com o seu corpo e sangue nos dar o sustento para a nossa experiência de discípulos e evangelizadores. Seremos cristãos Eucarísticos quando, em qualquer lugar que estivermos, deixarmos transparecer a imagem e a ação de Cristo. O cristão coerente vive também a solidariedade, a partilha e a alegria do Evangelho. Atitudes que muitas vezes está na contra mão de um mundo totalmente desvirtuado daquele que é proposta do Reino de Deus.

Que o Santíssimo Sacramento, o corpo do Senhor, nos alimente e nos faça ser um só rebanho participante da mesma mesa de amor e de comunhão. Que os nossos dons oferecidos no altar do Senhor, sejam sinais de vida além do templo material e atinjam o ser humano, para que o verdadeiro santuário de Cristo seja o coração e a alma de todos aqueles que encontraram em Deus, Pão eterno para a salvação. Amém.

[1] ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 185-186.

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Leituras: Ex 34,4b-6.8-9; Sl Dn 3,52-56; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-28

POESIA

SANTÍSSIMO DEUS TRINITÁRIO

Deus Santíssimo e amável,
Que nos reúne no amor,
Que fica próximo de nós
Para nos dá força e vigor,
Guiando os nossos caminhos.
Que não nos deixa soizinhos,
Origem, imagem e defensor.

Deus Santíssimo e presente,
Na história da salvação,
Que conduziu o seu povo,
Guiando-o na compaixão,
Que trouxe os mandamentos,
Dando maná como alimento,
Em busca da libertação.

Deus Santo e misericórdia,
Perfeita comunidade,
Que vence o individualismo,
A ferir a humanidade.
Deus de nossa Salvação,
Que nos faz ser comunhão,
E viver a fraternidade.

 Deus Santo e Encarnado,
Rosto humano se mostrou,
Que veio nos trazer a paz,
E a verdade nos ensinou,
Conosco veio morar,
A vida nova nos dar,
Por isso ressuscitou.

Deus da vida e a da Paz,
Três pessoas em união,
Que sempre vem mostrar,
A romper a solidão,
Vence as trevas do egoísmo,
É contra qualquer terrorismo,
E a favor da união.

Deus Santo que nos reúne,
Pra vivermos a unidade,
Pai, Filho e Santo Espírito,
No templo a nos ensinar,
Ao mundo a nos enviar,
A viva fraternidade.

HOMILIA

O nosso Deus é uma comunidade santa

Após o domingo de Pentecostes temos mais uma solenidade que é, também, de muita importância para os cristãos. Celebrar a Santíssima Trindade é reconhecer a particularidade que tem o Deus dos Cristãos. Nosso Deus é uma comunidade perfeita: Pai, Filho e Espírito Santo. O Deus dos cristãos não é um Deus solitário. Também não está distante; ele caminha conosco, como nos prometeu o próprio Jesus Cristo: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20).

Sendo um Deus presente e que está em todos os momentos, ele também é misericordioso, cheio de compaixão e de infinito amor. É um Deus Pai, fonte de tudo! Que criou o mundo, nos criou e quer continuar nos recriando, pela nossa conversão, pelo seu perdão, no seu caminho de salvação. É um Deus Filho, que se encarnou e veio morar conosco, nos ensinando o mandamento novo do amor, o qual supera toda a Lei e todo manipulação do poder e da escravidão. É um Deus Espírito Santo, que desde a Criação pairava sobre as águas, que falou pelos profetas, que veio a Maria para a encarnação do Verbo, que soprou sobre os apóstolos e fez nascer o novo povo de Deus, a Igreja, no dia de Pentecostes.

A comunidade cristã, os batizados, pertence à família de Deus. São filhos, membros do mesmo Pai, irmãos do único Filho, Jesus Cristo, e são animados pelo mesmo Espírito.[1] E todos devem contemplar a perfeição da Santíssima Trindade como modelo para a vida da Igreja.

Por isso que participar da Igreja é exatamente, ser filho deste mesmo Pai, que faz nascer o sol sobre todos (cf. Mt 5,45); membros do mesmo corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,13), ele, filho único de Deus que se faz Eucaristia. Também é ser animados e presenteados pelos dons do mesmo Espírito. O apóstolo Paulo nos diz: “um só é o mesmo Espírito que opera todas as coisas, repartindo a cada um como quer”. (1Cor 12,11).

O evangelista João nos fala na liturgia desta festa: “Deus não enviou seu filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17b). Muitas vezes temos uma compreensão de um Deus que se encarnou no mundo para ficar apontando os erros humanos a fim de condenar as pessoas de forma cruel.

O nosso Deus, Santo e Trino, não é um olheiro que fica de longe para ver nossos erros. Em Jesus Cristo somos instruídos para o amor e para aprendemos a comunhão. Ele veio nos mostrar a face misericordiosa do Pai e nos ensinar como amar, perdoar e cuidar do irmão que carece de cura, de libertação e de pão. Primeiramente, nosso Deus é puro e perfeito amor.

O nosso Deus não é um castigador. Ele não castiga. Quem nos castiga é o nosso pecado, como consequências das nossas escolhas livres, porém erradas em relação ao caminho que o Senhor nos mostra. Quantas opções nós fazemos as quais nos levam às trilhas da perdição e às trevas do pecado. Quando reconhecemos os equívocos em nossa vida e queremos refazer o nosso caminho de volta à casa de nosso Deus, ele prontamente nos acolhe, vem e nos abraça nos devolvendo a dignidade de filhos inseridos na mesma comunidade de amor e perdão.

São Paulo, na segunda leitura, nos exorta com uma saudação muito comum em nossas celebrações: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13). Trata-se de uma saudação trinitária. É isso que devemos fazer em primeiro lugar, no início de nossos momentos de oração, em nossos encontros, nas nossas reuniões… Todos os cristãos quando se encontram, devem ter a consciência de estarem na presença da Trindade Santa.

Diante do que refletimos acima: devemos nos perguntar sempre se nossas atitudes, nossas ações pastorais, convivências e amizades, estão inspiradas no amor de nosso Deus Pai, Filho e Espírito Santo? E no nosso dia a dia, deixamos transparecer a face amorosa, a alegria e a misericórdia que brotam da nossa relação com Deus? Relação que acontece na escuta constante da Palavra, no encontro com a Eucaristia, na comunhão Espiritual, na visita e adoração a Jesus Sacramentado, nas novenas, nos encontros com os irmãos, nas visitas aos doentes e carentes da presença carinhosa e caridosa de Deus.

Portanto o nosso Deus, Trindade Santa, está presente em nosso hino de louvor, na saudação inicial de nossas celebrações, no nosso sinal da Cruz e em todos os sacramentos. Isso para nos dizer que ele está conosco em todos os momentos da caminhada de nossa vida terrena.

Que o Pai, o Filho e o Espírito Santo nos converta, com a sua Palavra e o seu corpo, a Eucaristia, nos anime com o fogo do amor corajoso, esplendor da verdade Santa a fim de vivermos nossa missão de sermos sal e luz do mundo. E com perseverança e a consciência de filhos do mesmo Pai, irmãos em Cristo, sejamos iluminados e fortificados pelo amor do Espírito Santo. Amém.

[1] Cf. ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 177-183.

SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Leituras: At 2,1-11; Sl 103(104); 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

POESIA

SOPRO DE VIDA NOVA

Sopro santo de Deus,
Nas narinas da criatura humana,
Imagem e semelhança,
Que sua bondade emana,
E se espalha pelo mundo inteiro,
Através dos discípulos mensageiros,
Sobre todos aqueles que a Deus amam.

Sopro e fogo de Deus,
Nos discípulos agora encorajados,
Pela presença dos dons oferecidos,
Pelos frutos do amor inflamados,
Para que vivam a sua missão,
Pregando o Reino da salvação,
E pelos confins do mundo espalhados.

Sopro e luz de Deus,
No Pentecostes do nosso agora,
Nos discípulos no mundo atual,
Dizendo a todos que desperte na aurora,
Na diversidade das nossas situações,
Transformando os nossos corações,
Para anunciarmos que chegou a hora.

Sopro e força de Deus,
Agindo naqueles que estão chegando,
Que pelo Batismo são inseridos,
E à comunidade, vão se irmanando,
Tornando-se um povo em comunhão,
Impulsionados para a missão,
E a Igreja Santa vai aumentando.

Sopro e benção de Deus,
Que vem e desce sobre a Santa Mesa,
Para transformar o pão e o vinho,
Trazendo-nos o amor e a fortaleza,
Dando-nos o Santo e vivo alimento,
Para a comunidade o sustento,
Deus belo, forte… Nossa realeza.

HOMILIA

Manifestação pública do Espírito Santo

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente, agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas as quais compreendem a mensagem do amor e da fé em sua própria língua. O que antes era uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo. O que estava preso a um grupo de homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

O antigo Pentecostes era a festa que lembrava a chegada do povo ao monte Sinai cinquenta dias após a libertação do Egito e onde Moisés recebe de Deus os mandamentos e os apresenta ao povo. O novo Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal porque inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e no espaço físico (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a paz para o grupo, que no mesmo momento é enviado para missão, com o objetivo de anunciar ao mundo a alegria do Evangelho. A partir desta experiência de encontro com Cristo ressuscitado, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminharem pregando a experiência da ressurreição.

Na primeira leitura (At 2,1-11) temos a narração de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então há a manifestação do Espírito Santo, um fenômeno diferente, o qual os discípulos ainda não tinham presenciado. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (2,4).

Aquilo que o Senhor anunciou nas suas aparições antes e depois da ressurreição agora se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo agora é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua luz e força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer: é sobre o Santo Espírito que na sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI. Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos que, carregados da fé corajosa, conscientes, e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer e dar frutos e se espalhar pelos imensos espaços do mundo até nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo que merece a nossa reflexão, apresentada na segunda leitura da liturgia desta solenidade: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6). São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito.

Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a vida de Deus esteja presente em todos os homens.

Quantos dons temos a oferecer a Deus desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o altar, pregar para o povo, coordenar o grupo, animar as comunidades e grupos, visitar as famílias… E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra no cuidado quando estamos a evangelizar…

Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais… Tudo isso são dons do mesmo Espírito o qual estava no início da Criação, que falou pelos profetas, que anunciou a Maria a encarnação do Verbo, que esteve presente no batismo de Jesus e o conduziu ao deserto e a sua missão, animou os apóstolos após a ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos até os nossos tempos.

E em quantas realidades mais, podemos certificar a presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais, na vida familiar, nas diversas profissões etc. Agradeçamos a Deus pelos tantos dons do Espírito Santo oferecidos à Igreja para o serviço do Reino.

E quanto a nós, devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova a face da terra e que nos santifica na vida de seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado. Amém!

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Leituras: At 1,1-11; Sl 46(47); Ef 1,17-23; Mt 28,16-20

POESIA

CRISTO NOS ELEVA A SANTIDADE

Igreja que nasce do mandato de Cristo,
Gerada no mistério da ressurreição,
Que é chamada a viver e espalhar o amor,
Sendo sinal de paz, justiça e libertação,
Sobre a força viva do consolador,
Conduzindo seus filhos a santificação.

Povo novo nascido do lado de Cristo,
Animado pela beleza de se viver,
Enviado além da pequena Galileia,
E o coração vivo sempre a arder,
Chamando os povos à Santa Assembleia,
Semeando o Evangelho sem esmorecer.

A Santidade de Cristo também é nossa,
Ele subiu ao céu para a nossa santificação,
Esperando um dia também a nossa santidade,
Porque ele nos veio para a nossa salvação,
E neste mundo pregou sempre a igualdade,
Nos conduzindo para uma vida de comunhão.

E nesta caminhada de filhos peregrinos,
O Senhor está sempre conosco a caminhar,
Nos guia, nos ensina e nos faz missionários,
Para o Evangelho pelo mundo inteiro semear.
E nós devemos ir aos tantos destinatários,
Para na vida nova de santidade apresentar.

Cristo cumpre sua promessa de estar conosco,
Nos diversos momentos de nossa existência.
Ele está conosco na Santa e viva Eucaristia,
Na sua palavra Sagrada e divina ciência,
Na caridade, no bem da vida de cada dia,
Nos encontros, na missão e na benevolência.

HOMILIA

Cristo subiu ao Céu para nos elevar à santidade

Neste domingo da Ascensão do Senhor celebramos a plena glorificação de Cristo e a vitória de todos seus seguidores. Todos nós estamos destinados à santidade porque o nosso Deus é santo e nos faz santos.

“Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo…” (Mt 28,19). A Igreja é fundada neste mandato missionário que os discípulos recebem de Cristo. E ela nasce a partir do Batismo, sacramento que insere todos no caminho da santidade, como filhos e filhas do mesmo Deus. Caminho da santidade porque ser batizado significa ser santificado, lavado do pecado original e de todos os pecados. As manchas que colocamos em nossa vida após o batismo serão lavadas pelo sacramento do perdão e reconciliação.

Porém não é suficiente somente batizar, mas é necessário que os enviados por Cristo ensinem os convertidos a observarem tudo o que o Senhor os ordenou (cf. Mt 28,20a). O discipulado é aperfeiçoado pelo ensinamento do Evangelho na vida de batizado, para que na sua existência ele conheça cada vez mais a vida em Cristo. Esta tarefa na Igreja cabe aos ordenados, aos consagrados e aos catequistas, os quais recebem tal mandato de preparar as famílias (crianças, jovens e adultos) para o encontro com Jesus, nos sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma).

Naquela despedida de Jesus, ele encerra dizendo: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20b). Todos os que evangelizam e vivem a experiência com Cristo, devem ter esta certeza: O Senhor caminha com a gente. Porque a subida de Cristo ao céu não significou ausência do seu Espírito em nossas vidas. Significa sim que ele se elevou para também nos elevar à santidade.

Cristo estará sempre presente na missa, encontro com seu corpo e sangue, que é a Eucaristia. Ele permanece na Palavra proclamada, nos altares, no meio da família, nos encontros, nas caminhadas penitenciais e romarias. Também está presente nos trabalhos pastorais, na caridade para com os necessitados e na convivência fraterna. Também quando partilhamos nossas alegrias e angústias e queremos que ele nos ajude e nos aponte o caminho a seguir.

Outro aspecto importante da nossa vida cristã é que somos marcados por realidades humanas e celestes. Os discípulos, no momento da Ascensão, ficaram quase que atordoados com a visão das nuvens. Diante disso, eles recebem a mensagem dos homens de branco: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At, 1,11a). Esta mensagem nos ensina que o nosso olhar deve está voltado para Cristo que caminha conosco, pois ainda vivemos as situações terrenas. Não podemos ficar somente na contemplação, mas também partir para a ação. É preciso seguir em frente para a missão até os confins do mundo.

Muitas vezes temos a tentação de nos fixar somente num dos extremos da vida da Igreja: Ou somos muito espirituais ou somos muito ativistas. Buscamos a Igreja estrutural, sua hierarquia, nos voltamos para a estrutura. Em outros momentos ficamos quase que flutuando com os pés distantes do chão. A experiência de oração e escuta constante da Palavra, nos faz encontrar o equilíbrio.

Não podemos esquecer que toda a nossa vida é guiada pelo Espírito Santo, o Espírito da sabedoria. São Paulo, na sua carta aos Efésios, nos fala: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a Glória, vos dê um espírito de sabedoria… Que ele abra o vosso coração à luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá…” (Ef 1,17.18). É este espírito de sabedoria que ilumina, que guia e que dá força ao discípulo missionário no mundo.

Portanto, depois destes quarenta dias de vida pascal, nós, irmãos e irmãs, como os discípulos daquele tempo lá na Galileia, somos chamados e enviados a vivermos o Evangelho nas nossas diversas realidades concretas, fora dos muros da Igreja e com os pés no chão. Porque Cristo está conosco, ele caminha ao nosso lado para nos dá perseverança e nos capacitar para a missão. A Ascensão é o acontecimento mais profundo da ressurreição de Jesus, porque a sua elevação também nos eleva. A sua santificação é para a nossa santificação pela ação do Pai e do Filho e do Espírito Santo. É este o nosso destino. Amém.

VI DOMINGO DA PÁSCOA

Leituras: At 8,5-8.14-17; Sl 65(66); 1Pd 3,15-18; Jo 14,14-21

POESIA

O ESPÍRITO SANTO, AO NOSSO LADO

Mandamento novo é o amor,
Que nos faz guardar no coração a verdade,
Que nos faz caminharmos na confiança,
Deixando que a vida seja liberdade,
Fazendo-nos mantermos a esperança.

Fazendo-nos mantermos a esperança,
Nos dias do nosso desafiante discipulado,
Mantendo-nos filhos fiéis e queridos,
Sob a luz do Espírito o nosso advogado,
Por Cristo Nosso Senhor prometido.

Por Cristo Nosso Senhor prometido,
O Espírito Santo é nosso defensor,
Que veio em Pentecostes, publicamente
Trazendo à Igreja um novo vigor,
E levar a Santa Palavra a todo gente.

E levar a Santa Palavra a todo gente,
Rompendo as barreiras de Israel,
Espalhando pelo mundo uma nova vida,
Como uma nação santa e povo fiel,
Construindo comunidades bem fortalecidas.

Construindo comunidades bem fortalecidas.
Na esperança e também na conversão,
Para o mundo velho assim transformar,
Dando para esperança sempre uma razão,
Deixando a semente de o Reino germinar.

Deixando a semente de o Reino germinar,
Na vida do trabalho e de cada dia,
Nos encontros de irmãos sempre reunidos,
Alimentados pela Palavra e a Eucaristia,
Igreja, novo povo, por Cristo redimido.

HOMILIA

Preparando-nos para Pentecostes

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Esta frase de Jesus nos faz pensarmos: Quando a gente ama alguém e confia nesta pessoa, sempre guardamos suas palavras e seus conselhos. Esta foi a motivação que Jesus fez para orientar os seus seguidores sobre as continuidade da sua missão. O discípulo que ama o Senhor guardará no seu coração e na sua vida, através de suas ações, o mandamento novo do amor. Viverá como Jesus viveu e buscará sempre ser uma presença que manifeste a imagem de Deus.

Jesus também promete: “eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro defensor para que permaneça convosco” (Jo 14,16). Este outro defensor é o Espírito Santo que estará sempre com os seguidores do Senhor nas mais diversas realidades do mundo. Os desafios serão imenso na propagação da palavra de Deus e o Espírito Santo estará conduzindo a missão pelo Reino, pois ele é o dom permanente de Cristo Ressuscitado que age no mundo.

O sexto Domingo da Páscoa nos coloca num clima de advento para Pentecostes, onde o próprio Jesus é o precursor[1]. Trata-se de espera alegre. E já preparando toda a Igreja para a manifestação pública do Paráclito sobre a Igreja que está nascendo. O Espírito Santo é aquele que estará ao lado dos primeiros missionários de Jesus e ao mesmo tempo germinando e fortalecendo o nascimento de novas comunidades.

Após a ressurreição de Jesus, a promessa dele se cumprirá: o Espírito Santo descerá para iluminar, defender e conduzir todo o percurso dos apóstolos. Eles sairão pelo mundo, encontrarão perseguições, denúncias, martírio, mas o Espírito os defenderá da tentação do medo e da desistência. Iluminados e conduzidos pelo Espírito eles perseverarão e seguirão em frente fazendo o bem. Curando as pessoas e, sobretudo fazendo nascer a Igreja, novo povo em torno do Ressuscitado.

Na primeira leitura, podemos comprovar a missão de Filipe, ele é um dos primeiros diáconos instituídos na primeira leitura do domingo passado. Fugindo das perseguições vai à Samaria. Lá as multidões seguem com atenção o que ele falava, porque viam os milagres e prodígios que eles fazia. (cf. At 8,6). Pedro e João vão também àquela cidade para que a comunidade, após o batismo, seja confirmada no Espírito Santo (cf. At 8,17).

Pedro na sua carta diante dos sofrimentos e perseguições, nos fala: “Estejam sempre prontos a da razão da vossa esperança, a todo aquele que vo-la pedir”. (1Pd 3,15). Esta consciência da fé em Cristo dos primeiros apóstolos, motivou a adesão de judeus e não judeus a viverem a partilha, a mansidão, o amor, a união e a conversão, pois, foi isto que Jesus pregou e viveu com os seus discípulos na Galileia.

Esta mesma fé, este mesmo Espírito está presente na vida da Igreja hoje. E a mesma missão também deve ser vivida por todos os cristãos. O Ressuscitado está na comunidade reunida, na assembleia que atenta escuta a Palavra de Deus. A presença do e a ação do Espírito Santo mantém a comunidade viva, iluminando, conduzindo, e defendendo o discípulo de tudo daquilo que pode afastá-lo da vida nova em Cristo.

Com a mesma força e com o mesmo vigor, o Paráclito nos ajuda a buscarmos, na nossa vida de oração, na nossa escuta da Palavra, na participação da Eucaristia, no dia a dia de nossa vida e missão, o motivo e a razão de nossa fé.

As perseguições poderão vir, as provocações poderão nos bater a porta, as tentações poderão nos provocar, mas se temos motivos para viver o nosso amor e a nossa fé no Ressuscitado, seguiremos em frente e faremos nascer novas comunidades em Cristo. Como também nos curaremos e ajudaremos muitos a se curarem e a encontrarem a razão e o motivo de sua esperança em Deus.

Muitas vezes não conseguimos avançar na conversão pessoal e na missão porque afastamos de nós a certeza da presença do Espírito que nos defende das armadilhas do mal. Em outros momentos não nos deixamos conduzir pelas luzes e dons divinos e pelo seu vigor. Talvez porque ainda não avançamos no nosso itinerário espiritual e ainda estamos como os discípulos na despedida de Jesus, antes da sua ressurreição, como que marcados pela tristeza e desânimo. Os cristãos devem levar aos outros, a alegria, o entusiasmo e a motivação diante das dificuldades que muitos vezes tiram o chão do pés de muitos.

Portanto, tudo depende do amor aos mandamentos de Cristo e a ele e também a nossa certeza na presença do Paráclito em nossa vida de discípulos. E, sobretudo da confiança num Deus que veio para nos comunicar o seu amor, nos ensinando como vivermos na irmandade e em comunidade.

Um Deus que não nos deixou órfãos, mas nos fez filhos através de seu Filho, nos dando o Espírito de Verdade e nos fazendo participantes do seu Reino levando a alegria do Evangelho ao mundo. Ele que nos deu a sua salvação e nos santifica como Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

[1] cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012. p. 86.