XVI Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Sb 12,13.16-19; Sl 85(86); Rm 8,26-27; Mt 13,24-43

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Semente Boa, a Mostarda e o Fermento no Mundo

Mt 13,24-43

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje o mistério pascal apresentado pela liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum. Contemplemos o Mestre que continua ensinando os camponeses. E o Evangelho deste Domingo está em Mateus (13,24-43), texto que dá continuidade ao Evangelho do Domingo passado.

Jesus, em suas parábolas (isto é, em suas comparações) tocava o coração das pessoas e os fazia entender o sentido daquilo que é o Reino de Deus. Suas palavras aproximavam cada ouvinte do amor de Deus, que é simples, caritativo, misericordioso e paciente com o pecador. Jesus tocava no coração e ajudava a encontrar o sentido de suas vidas.

E Jesus perguntava: com que se parece o Reino dos Céus? O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo”. (Mt 13,24). “É também como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo” (Mt 13,31) …Ou “como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado” (Mt 13,33). Essa era a pedagogia de Jesus: perguntar e comparar as coisas do céu com a vida concreta do povo.

A semente boa foi plantada. Depois, sementes ruins foram jogadas e germinaram junto com as primeiras. Como entender que Deus permite que o maligno semeie o mal em meio ao bem? Isso também acontecia com Jesus. Enquanto pregava, outros semeavam o mal e a divisão, confundindo o coração das ovelhas de Israel. No entanto, a semente boa crescia em meio às ideologia de opressão das autoridades (judaicas e romanas). Era preciso deixar que Deus pudesse cuidar do julgamento e oferecer seu parecer.

Aparentemente, o Reino dos céus é simples e frágil, como uma semente, mas que vai nascendo aos poucos e tornando-se grande como. É assim o agir do nosso Deus, ele nos transforma de forma leve e paciente. E nós, aos poucos, vamos nos deixando conduzir por ele. Com o tempo, como seus servos, nos mostraremos como sinais da presença de Deus no mundo.

Aos poucos vamos deixando o seu Espírito agir em nossa vida através da oração. Como nos fala São Paulo, não sabemos nem pedir, pois é o próprio Espírito Santo que age por nós (cf. Rm 8,26).

Jesus insiste ainda que podemos observar o Reino como o fermento. Sem percebermos a sua presença visualmente, ele faz crescer a massa, com sua força química. A força (o fermento) do Reino está crescendo em meio à sociedade, sem que possamos ver. Em nossas comunidades, se mergulharmos profundamente em suas histórias, perceberemos que muitas coisas mudaram. A comunidade, o grupo ou o movimento nascem pequenos e vão crescendo. A participação dos leigos na vida da Igreja aumentou. Novos movimentos vão surgindo. O grão de mostarda cresce. O fermento faz a massa crescer. O Reino de Deus nasceu nas margens do mar da Galileia, nos campos e nos povoados das ovelhas perdidas da casa de Israel. Começou a brotar no alto da Cruz e foi regado pelo sangue de Jesus. Foi fecundado e, ao mesmo, tempo foi se expandindo em meio aos males e controvérsias do mundo. Mas, como semente boa, produziu e produz muitos frutos para o crescimento do Reino de Deus.

O amor de Cristo como fermento, faz crescer no coração invisível do homem a essência e a força do Reino dos céus. Cada batizado, como aqueles servos da parábola, carrega ao mesmo tempo o trigo e o joio. Aos poucos vai se deixando transformar com a força do Espírito Santo, que o converte e o faz Santo. Somente Jesus foi a semente perfeita que, humanamente caído na terra, fecundou e fez nascer a salvação para toda humanidade.

Que o nosso Deus, que é bom, é clemente e fiel (cf. Sl 85/86) venha com o seu Reino, pela ação do seu Espírito, fecundar o coração das crianças, dos jovens, das famílias e dos idosos, para que os frutos do amor, da fraternidade e da paz cresçam e transformem o nosso mundo. Sendo paciente e bondoso, o Senhor faz crescer a sua vinha e no dia oportuno virá para a colheita. Ele julgará com sua justiça a fim de que o seu Reino seja implantado definitivamente.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Paciência de Deus (II)*

Reino de Deus, sem limites,
Que cresce imensamente,
Em meio aos males do joio,
Vai se espalhando fortemente,
Para a colheita do amor,
Santa e divina semente.

Reino de Deus paciente,
Que cresce enquanto dormimos,
Que tem raízes profundas,
Pois nele, nós existimos,
Cada dia, cultivados,
E ao semeador nos unimos.

Reino de Deus de bondade,
Que julga com retidão,
Que queima as força do mal,
Com Espírito de purificação,
Convertendo a nossa vida,
A partir do coração.

Reino de Deus consistente,
Cheio de Simplicidade,
Como a pequena mostarda,
Cheia de capacidade,
Que cresce e traz seu verdor,
Com força e vivacidade.

Reino de Deus em mistério,
Fermento que vai crescendo,
Com calma vai se espalhando,
Como que se escondendo,
Mas que vai se construindo,
E aos seus servos acolhendo.

Reino de Deus de alegria,
Que faz a todos, irmãos,
Que nos reúne em festa,
Para colhermos a união,
Fortalecendo o encontro,
Vivido na comunhão.

 

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* O primeiro poema A Paciência de Deus foi publicado em 3/3/2013, no III Domingo da Quaresma do Ano C, cujo mistério pascal gira em torno do convite de Jesus à conversão.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o semeador divino, ilumine o seu caminho! ***

 

XV Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Is 55,10-11; Sl 65(64); Rm 8,18-23; Mt 13,1-23

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Semeador Divino

Mt 13,1-23

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje o mistério pascal apresentado pela liturgia do XV Domingo do Tempo Comum. Contemplemos o mestre sentado às margens do mar para ensinar, lançando sementes do Reino. E o Evangelho deste Domingo está em Mateus (cf. 13,1-23).

Jesus usa uma parábola para nos contar que um semeador (Deus) vem jogar a semente (a Palavra) nos diversos terrenos (coração do homem) para que fecunde e produza frutos (amor, paz e comunhão). De acordo com o teólogo Armellini, a colheita não depende tanto da semente e do semeador, mas da qualidade da terra (o coração do homem). Se estiver duro como um chão batido o Evangelho não penetra; se é inconstante a semente cai como numa pedra logo germina, mas é queimada pelo sol; se é inquieto diante das circunstâncias a semente é sufocada; se é um coração bom produz frutos em abundância[1].

Em cumprimento à profecia de Isaías (cf. Is 55,11), quando a semente é plantada em nossos corações, a Palavra do Senhor produz ações transformadoras. Faz nascer em nós a esperança para caminharmos como missionários, também semeadores do Reino de Deus. Em nosso apostolado, às vezes, temos a impressão de que semeamos em terreno estéril. Esta foi a mensagem de Jesus: É preciso continuar anunciando, sem prejulgamentos, mesmo que não enxerguemos os resultados. Fazendo a nossa parte, perseverando na semeadura, muitos acolherão e deixarão que algo possa nascer e dar bons frutos. Principalmente em nosso mundo, tão marcado por falta de esperança, pelo individualismo, pelas diversas formas de violência. Um tempo carente de Paz e de união entre os filhos de Deus e ainda comandado por diversas ideologias que manipulam as riquezas e tentam impedir que a mensagem e os frutos de vida nova possam acontecer.

Como nos fala São Paulo, a autossuficiência do homem se confunde com a liberdade e a autonomia em busca da vida e da fraternidade (cf. Rm 8,20). O apóstolo também nos diz que a fuga e/ou a falta de acolhimento à Palavra de Deus, como semente que traz nova vida, causa sofrimento à humanidade (cf. Rm 8,22). Sendo assim o que vale então a liberdade em não acolher o bem?

Somos, muitas vezes, esse terreno batido, pedregoso, espinhento, árido que dificulta a semente que quer transformar nossas vidas, fecundar as virtudes da alegria e da esperança e, como consequência, a salvação. Lembremos que a semente é a mesma, o que muda neste processo é a predisposição de receber ou não a Palavra semeada. Somos chamados a preparar o nosso terreno (nosso coração) para acolher a semente que não volta vazia sem antes realizar tudo que for da vontade de Deus (cf. Is 55,11).

A Igreja, portanto, precisa de semeadores que levem a Palavra aos diversos corações. Somente com o testemunho de terreno que acolhe a palavra podemos colaborar com a semeadura que Cristo nos pede.

Agora, olhemos para Maria e José que se fizeram terrenos bons para acolher a encarnação do Verbo e sua semente em favor da salvação. Por isso se tornaram colaboradores da salvação para aqueles que vieram antes como Adão, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, José do Egito, Moisés, juízes e profetas. Também contemplemos e veneremos os Apóstolos, os discípulos e as santas mulheres que deixaram a voz do Senhor ressoar em seus corações, acolhendo as exigências do convite para continuarem a semeadura do Reino de Deus, se tornando sinais vivos do Evangelho no mundo.

E por fim, olhemos para todas as pessoas que se deixaram tocar pelo chamado de Cristo nos dias atuais e são testemunhos do Senhor nas diversas opções de vida cristã: missionários(as), consagrados(as), ordenados, celibatários(as), casados e tantos jovens disponíveis a semear a palavra do Senhor com a boca e o coração em favor da vida e da salvação das almas.

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[1] Cf. ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano A. 9 ed. São Paulo: Ave Maria, 2014, p. 274-275.

 

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⇒ POESIA ⇐

Palavra Semente

Palavra,
Que se fez carne,
Veio à terra e se fez humana,
No homem fez o seu templo,
E ascendeu-lhe uma nova chama.

Palavra,
Que vem de mansinho,
Semeada com amor,
Quase sem ser percebida,
Mas cheia de muito vigor.

Palavra,
Semente do Reino,
Evangelho semeado,
Nos mais diversos terrenos,
Para serem fecundados.

Palavra,
Que se espalhou,
Entre as pedras ou espinhos,
Grão da vida em terra boa,
Também a beira do caminho.

Palavra,
Que se faz esperança,
Na alma de tanta gente,
Na vida do dia a dia,
Alimenta a fé do crente.

Palavra,
Que fortifica a caminhada,
Nos fazendo alegria
Dá-nos força e muita paz,
Retoma nossa harmonia.

Palavra,
Semeada em nós,
Cristo, o semeador,
O Evangelho em nossas vidas,
Por obra do seu amor.

Palavra,
Que se faz partilha,
Que ecoa e é doada,
Aos ouvidos e à boca,
Da assembleia convocada.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o semeador divino, ilumine o seu caminho! ***