24º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela abolição da pena de morte ⇐
Mês da Bíblia 2022“O SENHOR, teu Deus, estará contigo onde quer que vás” (Js 1,9) ⇐
⇒ 3a semana: O cerco e a queda das muralhas de Jericó

 

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50(51),3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15,18); 1Tm 1,12-17; 2Cor 5,19; Lc 15,1-32 (mais longo) ou Lc 15,1-10 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Deus Se Alegra, na Sua Misericórdia, com a nossa Volta para os Seus Braços

Lc 15,1-32 (mais longo) ou Lc 15,1-10 (mais breve)

 

Meus irmãos e irmãs, o 24º Domingo do Tempo Comum, o segundo Domingo do Mês da Bíblia, nos motiva a contemplar um pequenino aspecto da misericórdia de Deus: a Sua alegria com a conversão de um só pecador. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-32.

No Evangelho de hoje, a Igreja nos oferece todo o capítulo 15 do evangelho de Lucas, o qual nos apresenta a parábola da misericórdia, ou seja, a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido e o filho fiel.

As três narrativas, chamadas de parábolas da misericórdia, podem ser lidas como um todo. O pai, o pastor e a mulher, representam Deus. A ovelha perdida se relaciona com o filho perdido e achado. A moeda se relaciona com o filho mais velho. Estas narrações expressam a misericórdia de Deus para conosco.

O motivo pelo qual são contadas estas parábolas, está associado às críticas dos fariseus que diziam que Jesus fazia refeições nas casas de pecadores e, ao mesmo tempo, os acolhia.

Às vezes nos perdemos como a ovelha, outras vezes, sem que tenhamos muito domínio de nós, somos perdidos como a moeda. Isso em função dos caminhos de nossa existência. Considerando um contexto narrativo, a ovelha perdida pode ser sujeito ou objeto, mas a moeda perdida é um objeto. O pastor só encontra a ovelha quando esta se reconhece perdida, quando ela para de perambular e se afastar do redil. Já a moeda, que é objeto, só pode ser encontrada pela persistência da mulher.

Sendo ovelha (sujeito) ou moeda (objeto), precisamos da luz de Deus e da sua Palavra para nos reencontrarmos. E quando somos encontrados, haverá a alegria de outros, pois a experiência da volta para Deus é sempre uma alegria comunitária.

A ovelha perdida pode nos lembrar dos momentos em que, por um tempo, saímos da comunhão com o rebanho do Senhor e depois nos damos conta dos erros e queremos voltar porque o Senhor nos reencontrou e nos carregou nos seus ombros. Isso com imensa alegria e muito amor e Ele de volta ao encontro de seu rebanho.

Já a moeda nos remete aos momentos de noite escura, quando precisamos que Deus nos ache de qualquer forma, pois ficamos impotentes diante de uma crise de fé. Às vezes não conseguimos encontrar o sentido do caminho e nem nos encontrarmos mesmo estando na casa do Pai.

Na narrativa do Pai misericordioso, vemos o quanto é grande a alegria de Deus na volta do seu filho perdido. Assim Deus faz com cada um de nós quando retornamos aos seus braços. Somos sempre bem acolhidos no banquete da vida, na casa do Pai. Isto com cantos de alegria, com o anel da dignidade, vestes e sandálias novas e o abraço de Deus.

Outras vezes participamos do amor de Deus na realidade do filho mais velho. Este esteve sempre na casa do Pai, mas quis ficar distante da sua alegria. No retorno do seu irmão, o orgulho tomou conta do seu coração. Mesmo o Pai dizendo que ele estivera sempre na sua casa, mesmo tendo recebido o perdão constante de seu Pai o qual nunca o desprezou e nem o expulsou de sua casa, porque este filho também recebeu a herança.

Portanto, o Deus misericordioso que é apresentado nas três narrativas da parábola é o mesmo Deus que diante de Moisés desistiu da punição que havia ameaçado fazer ao povo de cerviz dura (cf. Ex 32,9.14), pois, pela sua misericórdia, permitiu a possibilidade do retorno dos seus filhos para o seu amor e sua graça.

Que neste mês da Bíblia possamos iluminar as nossas ações com a Santa Palavra que é luz para os nossos passos e guia na nossa vida de discípulos missionários do Senhor. Ele nos chama em cada Liturgia, em cada encontro com a sua Palavra, Ele nos chama para voltarmos sempre cada vez mais para sua Casa e para o Seu amor e por isso nos abraça na sua alegria de Pai misericordioso. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Alegria da Volta

 

Quando na vida nos percebemos errantes,
E caminhamos por trilhas tão tortuosas,
Quando no abismo chegamos a cair,
Por atitudes e práticas faltosas.
Parar e procurar o que estava perdido,
Voltar um pouco o caminho percorrido,
É a ação mais necessária e corajosa.
*
Reencontrar o que no caminho se perdeu,
Com a luz que vem do eterno amor,
Limpar cada recanto para encontrar a pérola,
Que somente nos vem de Nosso Senhor,
Ele que na alegria nos quer voltando,
Nos acolhe e vai logo nos abraçando,
Por que é misericórdia e vê a nossa dor.
*
Como é bom sentir o abraço do supremo amor,
Que na alegria da volta nos dá o perdão,
Que até nos carrega nos seus ombros santos,
Para nos tirar dos males e da perdição,
E ainda faz festa na nossa chegada,
Porque nossa vida foi restaurada,
Livrou-se das correntes da escravidão.
*
E, agora como ovelhinhas reencontradas,
Ficaremos no rebanho que Ele colocou,
Partilhando a caminhada que Ele ofereceu,
Porque para a vida Ele nos retornou,
E o seu Corpo será nosso alimento,
Para não cairmos nos duros tormentos,
Que, por algum tempo, nos escravizou.
*
A alegria de Deus é nossa salvação,
Ele é Pai de misericórdia infinita,
Sua alegria maior é nos ver voltando,
Pois Ele corre, abre os braços e grita,
Porque vê seu filho que está chegando,
E sem explicações vai logo perdoando,
Oferecendo as joias e roupas mais bonitas.

 

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Obras: (1) “The Good Shepherd” e (2) “The Lost Drachma”, por J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org. (3) “O Retorno do Filho Pródigo”, por Rembrandt (1606-1669), In pt.wikipedia.org: “O_Retorno_do_Filho_Pródigo”.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, com sua infinita misericórdia, nos ensina sobre a Alegria com a conversão de um só pecador, ilumine o seu caminho! 

 

 

IV Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas (Domingo Lætare)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 34(33); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Os Braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo Lætare (ou “o Domingo da Alegria”), nos motiva a contemplar a misericórdia de Deus que é compassivo com os que se perdem dentro e fora de Sua Casa. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-3.11-32, passagens que estão situadas no início da metade final da quinta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Subida para Jerusalém”(1).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor revelando a misericórdia de Deus aos publicanos e pecadores, que se aproximaram para ouvi-Lo, e aos fariseus e escribas, que criticavam sobre Jesus.

Com a parábola do “Pai das Misericórdias” (ou conhecida também como “parábola do filho pródigo”) a Igreja nos coloca diante da alegria preconizada por Isaías (cf. Is 66,10) e por São Paulo (cf. Fl 4,4). Também diante da alegria de Josué em escutar a confirmação da promessa da Terra Prometida (cf. Js 5,9a). Já o Papa Francisco nos recorda que a atitude de São José de acolher a Virgem Maria e Jesus pode ter sido uma das inspirações para a parábola do “Pai das Misericórdias”(2).

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: o filho mais novo, o pai e o filho mais velho. O mais novo toma a iniciativa de pedir a parte da herança, o mais velho também recebe a sua parte e o pai cede as duas partes.

O mais novo quer se distanciar para dissipar os bens. Quando acabou a última moeda e a última gota de vinho e diante da miséria social desejou matar a forme com a comida dos porcos (cf. Lc 15,16). Diante de sua angústia, renuncia ao seu orgulho e pensa em pedir perdão ao pai e a Deus e deseja ser tratado como empregado e não como filho. Depois disso, toma a iniciativa de voltar para a casa do Pai.

Ainda estava longe ele é alcançado pelo olhar e abraço do pai. O Pai dispensa as palavras do filho e acolhe com alegria, com veste, anel no dedo e sandálias e também com um banquete.

O mais velho ao retornar da jornada de trabalho é surpreendido com a festa e não acolhe o mais novo. O mais velho devia ter mais experiência, era trabalhador, mas não conhecia a misericórdia de seu Pai. Também o mais velho precisava renunciar ao seu orgulho para aprender sobre o amor que o Pai transmitia diariamente desde a ausência do filho mais novo.

O filho mais velho é a figura dos fariseus que conheciam a Lei mas não a Misericórdia e o amor. Também figura os cristãos que se acham autossuficientes e incapazes de acreditar no amor da misericórdia de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu, ou seja, a misericórdia e a alegria de Deus que, sem acolher o pecado, sempre acolhe Seus filhos pecadores, independente da sua dignidade.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da Sua Palavra e do Seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração, pela nossa volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a Ele e à Sua Casa.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

E neste IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, continuemos a nossa atenção e reflexão sobre o tema e o lema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Educação” e “Fala com amor, ensina com sabedoria” (cf. Pr 31,26). Na parábola do “Pai das Misericórdias”, Jesus nos fala com sabedoria sobre a ação do Pai misericordioso, de como o nosso Deus age com Seus filhos errantes. O Senhor também nos ensina com amor, nos educa para a vivência da misericórdia, para com o irmão que se perde e quer se reencontrar com o amor divino.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para renunciarmos ao nosso orgulho e possamos escutar o Filho e fazer a vontade do Pai. Amém.

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(1) Na Bíblia de Jerusalém, o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. §§ 32.40 da Carta Apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja.

 

 

 

 

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⇒ POESIA ⇐

O Abraço Alegre do Pai


Nas minhas idas e voltas,
Peço-Te agora, ó Senhor,
Que me acolha no Teu amor,
No meu arrependimento,
Também no meu sofrimento,
Aliviando-me a dor.
*
E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como Teu Filho amado,
Na Tua simplicidade.
*
Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.
*
Preciso, então, aprender,
Ser filho, Contigo,
Sendo Teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.
*
Perdoando o pecado mal que fiz,
Te bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.


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⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos revela o Pai das Misericórdias, ilumine o seu caminho!