SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 128(127); Col 3,12-21; Lc 2,41-52

 

POESIA

A FAMÍLIA SANTA DE NAZARÉ

Mãe que escuta e a Deus se entrega,
Para viver um plano de amor exigente,
Que questiona, porém consente,
O peso da imensa missão,
Meditando no seu coração,
O amor de Deus e de sua gente.

Pai terreno e obediente ao Pai do Céu,
Discreto no seu silêncio orante,
Que nas dúvidas segue avante,
Ao anjo em sonho escutou,
E firmemente acreditou,
Postura de homem Santo suplicante.

Filho, Deus que desce a este mundo,
Presente no meio da multidão,
Rosto de Misericórdia e perdão,
Que traz aos homens a esperança,
A vida eterna como herança,
Ressuscita e nos dá a ressurreição.

Família, modelo para chegarmos ao céu,
Santa desde a sua fundação,
Referência para cada lar cristão,
Conduz-nos a evangelizar,
Fazendo-nos firmemente acreditar,
Que o reino se constrói pela missão.

E agora pedimos um auxílio santificador,
Para construirmos uma Igreja em nosso lar,
E ao mundo podermos testemunhar,
Uma vida de cuidado e comunhão,
Marcada pela evangelização,
Para as chagas do mundo poder curar.

 

HOMILIA

Família cristã: chamada a ser Igreja doméstica

 

O Domingo depois do Natal nos apresenta a Santa Família de Nazaré em peregrinação a Jerusalém. Trata-se da vivência de fé da família de Jesus em sintonia com o povo da primeira Aliança.

O evangelista Lucas nos fala de Jesus aos doze anos, já chegando a sua maturidade, de acordo com a tradição judaica. Ao final da Festa que durava sete dias, os peregrinos retornavam para suas casas geralmente em grupos familiares, Maria e José também voltam para Nazaré, e na longa caminhada percebem a ausência de Jesus e por isso retornam a Jerusalém.

O Evangelista conta que foram três dias a procura do Menino quando o encontram no Templo entre os doutores da lei. Podemos imaginar as palavras do Menino Jesus a respeito das coisas divinas, pois os ouvintes ficavam maravilhados. A resposta aos Pais, “não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49), deve ter deixado Maria e José intrigados inicialmente, mas depois ambos compreenderam, pois neste momento o menino já dá sinais da sua divindade e obediência ao Pai do Céu.

O interessante é que ele seguirá obediente à Maria e José no seu lar em Nazaré, no silêncio da família santa, no dia-a-dia de sua juventude até os trinta anos, quando sua vida pública se inicia, segundo as narrações do Evangelista.

Jesus vive na natureza humana e na divina obediência, virtudes próprias da santidade, postura original de santos e santas que nos deixaram os seus testemunhos para ensinar a todos os que querem seguir o Senhor.

A liturgia deste Domingo, portanto nos traz grandes orientações espirituais para que a família possa viver a santidade, a começar pela primeira leitura: “Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, o que honra sua mãe é como quem ajunta um tesouro.” (Eclo 3,3-4). Numa sociedade em que se percebe a fragilidade da autoridade dos pais, é muito importante vislumbrar o valor que devemos dar ao amor e atenção, aos seus conselhos e a experiência de quem dedicou a sua vida aos filhos. Isso certamente nunca sairá da moda.

Quanto ao cuidado aos pais na velhice e o carinho nas suas limitações, nem sempre é uma realidade na ação filhos no mundo de hoje. São Paulo, na Carta aos Colossenses, aconselha que sejamos revestidos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência… (cf. Cl 3,12). Estas virtudes são exatamente as necessárias para vivermos a santidade na família e nos são exigidas quando cuidamos dos idosos e enfermos com suas limitações físicas e psicológicas.

Olhemos para Jesus que mesmo sendo Deus, era obediente à Maria e José. Com certeza foi também amável, solidário, paciente e orante no seu ambiente familiar e no convívio com os amigos. Maria, que guardava tudo no seu coração, com certeza também viveu um imenso amor ao seu lar, meditando o projeto que Deus lhe tinha proposto. A cada momento com Jesus deve sempre ter relembrado as palavras do anjo, deve ter pensado nos desafios do seu caminhar desde o nascimento do filho e com a certeza de que a sua missão não acabava com a maturidade de Jesus. E José como varão fiel ao projeto de Deus foi também orante, amoroso e obediente a Deus, vivendo do seu trabalho e preocupando-se com a manutenção da casa.

É importante que família cristã tenha como referência e centro de sua espiritualidade a Sagrada Família. Os pais devem ser referencial de evangelização primeiramente com o testemunho de santidade conjugal, no cuidado com os filhos no que se refere à educação, à vida de oração e ao convívio social. Deve ser missionária, formando Igrejas em casa, cultivando a leitura e a escuta da Palavra de forma constante, onde a partilha e o amor estejam presentes para fortalecerem a sua existência como instituição sagrada.

Não devemos esquecer que as chagas da sociedade é fruto de uma certa displicência no cuidado, na presença e na formação junto às crianças, adolescentes e jovens. O relativismo toma conta dos ambientes familiares, onde religião é opção pessoal e onde também falta ao pai e à mãe uma formação cristã mais sólida e consciente de sua missão.

Rezemos pedindo à Sagrada Família que ajude a tantos lares a se tornarem um ambiente de fraternidade, amor e oração, uma Igreja doméstica que viva a missão evangelizadora dentro e fora da casa. Amém.