SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

DIA DAS MÃES  **  DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20

POESIA

CRISTO NOS LEVA AO PAI

O Senhor nos eleva ao céu,
À face pura e Divina,
Quer-nos junto do Amor maior
Que nos chama e nos ensina,
Basta seguirmos nesta vida,
Com fé e oração na lida,
Com firmeza e disciplina.

O Senhor nos chama ao céu,
Junto a sua legião,
Quer unir todos os santos,
Na perfeita comunhão,
Para viver o puro amor,
Sem tristeza, morte ou dor,
Isto é, a salvação.

O Senhor nos quer no céu,
Mas nos chama a trabalhar,
No envia pelo mundo,
E sua Palavra pregar,
Levando a todos a vida,
Paz, dignidade e acolhida,
Sem nunca desanimar.

O Senhor vem e nos envia,
A todas as criaturas,
No cuidado a toda a terra,
Em sua vida e formosura,
À Natureza: fauna e flora,
Missão feita no agora,
Pelo amor, pela ternura.

O Senhor subiu ao céu,
Mas conosco ele está,
Pela sua santa Palavra,
Pelo seu corpo a nos dá,
Pela sua comunhão,
E sua Igreja em missão,
No mundo a continuar.

 

HOMILIA

Cristo na Glória do Pai

Neste 7º Domingo da Páscoa celebramos a Ascensão de Jesus Ressuscitado à Glória do Pai. A subida de Jesus ao céu não significa o distanciamento dele em relação a nós, mas também a possibilidade da nossa participação na Glória de Deus. Diz santo Agostinho: “Ele não abandonou o céu descendo até nós e nem se afastou de nós quando de novo subiu ao céu”[1]. O nosso Deus está sempre próximo, sempre caminhou conosco e agora quer continuemos a sua missão pelo mundo.

Os discípulos viveram durante quarenta dias a experiência da Ressurreição do Senhor que apareceu ao grupo sempre que estavam juntos. Preparou-os para a vinda do Espírito Santo, fez refeição com eles e depois de ter se manifestado os enviou em missão dizendo-os: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado.” (Mc 16,15-16).

Agora chega o momento de expandir a obra do Reino. É preciso caminhar firme com a certeza de que o Senhor caminha ao lado daquele grupo, orientando-os com a Palavra e alimentando-os com o seu corpo. Não se faz necessário fixar o olhar nas nuvens, é preciso dirigir a atenção para o caminho, local de itinerância e missão.

Às vezes, passa despercebido pelos pregadores a frase “… anunciai o Evangelho a toda criatura”. Esta mensagem de Jesus se refere não somente a todas as nações (povos diversos), mas a toda a criação de Deus. A Boa-Nova de Cristo deve ser disseminada pelo mundo de forma concreta como sendo um cuidado com toda a natureza criada por Deus: as matas, os animais, a terra, o ar, a água e tudo que ficou sobe o cuidado dos homens e mulheres. O que tem a ver isso com os cristãos? O Papa Francisco nos estimula à conversão ecológica e diz que “viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa.”[2]

Esta liturgia da Ascensão do Senhor também nos motiva a olharmos todo o mundo criado pela força divina. E não somente olharmos, mas perceber de que forma estamos cuidando de tudo isso. Percebemos muitas as doenças vinda dos poluentes, vemos tantas queimadas, ouvimos as notícias sobre a exploração dos povos indígenas e suas terras para se construir hidrelétricas e tirar madeiras, também tecnologias, mais em função da destruição que da preservação. Isso tem a ver com o Evangelho e com o envio dos discípulos de Jesus. É o cuidado com a “casa comum”, como prega o Papa Francisco.

Lucas, nos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, nos fala: Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia’, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10-11).

Estes versículos dos Atos dos Apóstolos nos ajuda a refletir sobre a nossa experiência de discípulos missionários no mundo de hoje. A religião cristã não é uma espiritualidade baseada nas nuvens, ou seja, na concepção de um Deus distante e que subiu ao céu para ficar longe de nós. Ele foi elevado ao céu exatamente para também nos elevar. Cristo é presença viva pela Palavra, pela Eucaristia e pela Igreja reunida sobre a ação do Espírito Santo.

Neste sentido, não devemos tirar os pés do chão e flutuarmos, achando que o nosso Deus está distante. Quando pensamos assim, esquecemos que na terra precisa-se de homens e mulheres que assumam a presença viva de Cristo “rumo ao reino definitivo”.[3] Precisamos continuar a proclamar a Boa-Nova de Jesus, mesmo depois de dois mil anos, para que haja conversão, para que os já batizados encontrem a salvação.

Precisamos seguir anunciando a Boa-Nova em meio ao mundo que se corrompe pelas injustiças sociais, pela escravidão! Recentemente o Papa Francisco denunciou que “a escravidão não é algo de outros tempos” e estima-se que “existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão”.[4]

Nestas circunstâncias, o discípulo do Ressuscitado deve está de pé para transmitir esperança e fazer emergir o sentimento e as ações em favor da justiça, da dignidade humana e da paz mundial.

Portanto, ainda há pessoas que não receberam o Evangelho e necessitam da presença de Cristo em suas vidas. Há muitos batizados que precisam mergulhar no mistério de Deus para que se sintam também chamados a se tornarem mensageiros do Reino no mundo de hoje.

Sem a presença viva de Deus em nós e nós nele perdemos o sentido do caminho de nossa existência e assim caímos na ilusão do consumo, das riquezas materiais, do individualismo. Somos reféns das inovações, novidades que não se tornam Boa-Nova. Precisamos da Palavra de Cristo que quando invade nosso coração, às vezes, nos arrebenta, mas se torna Evangelho, Boa-Nova de vida e esperança para nós e para o irmão. Neste momento saímos do isolamento e temos vontade de também falar aos outros sobre o que vivemos de bom através da presença do Ressuscitado.

Que a Nossa Senhora nos ensine sempre mais sobre a experiência de Jesus que foi elevado ao céu pela sua ressurreição para também nos elevar, mas que ao mesmo tempo caminha conosco em Espírito e verdade, como fala o evangelista Marcos: “O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Portanto, a missão do cristão é exatamente tornar presente a convicção da vida nova em Cristo no mundo. Amém.


Notas:

[1] Apud CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012, p. 320.

[2] FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’, n. 217. Documentos Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.

[3] CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 (Doc. 102), trecho do Objetivo Geral.

[4] Publicado em 7 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-05/papa-escravidao-moderna-forum-internacional.html>.