III Domingo da Páscoa, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: At 3,13-15.17-19; Sl 4; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Paz e a Alegria da Ressurreição

Lc 24,35-48

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do III Domingo da Páscoa do Ano B, nos motiva a contemplar a paz e a alegria da Ressurreição. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 24,35-48.

O Evangelho de hoje encerra-se dizendo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,35). Os discípulos têm o desafio de seguir em frente, carregando as dificuldades e as marcas da saudade das caminhadas pelas estradas com Jesus e ainda a realidade (de difícil compreensão) da Ressurreição.

É importante lembrar que a passagem desta Liturgia é continuidade do encontro do Ressuscitado com os dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35), eles que fugiam de Jerusalém sem esperança para anunciar o Reino de Deus (cf. Lc 24,21) e Jesus aparece caminhando ao lado dos dois falando das Escrituras e de como se referiam a ele (cf. Lc 24,27). Quando chegaram ao povoado, Jesus fez que ia seguir em frente e os discípulos o convidam para ficar com eles. Disseram: “fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Jesus entrou para ficar, sentou e partilhou dos alimentos. Quando partia o pão e falava, o coração dos discípulos estava ardendo. Quando ele desapareceu, os discípulos voltaram imediatamente a Jerusalém anunciando o que tinham experienciado junto ao Ressuscitado (cf. Lc 24,33).

Pois bem, é aqui que inicia o Evangelho de hoje: a volta dos discípulos de Emaús para a mesma Jerusalém que é lugar de missão, de coragem, de proclamar com ardor, a vida nova do Ressuscitado em suas vidas. E então meditemos, nesta parte: Quando nos falta a fé, pensamos em fugir dos problemas, mas é inútil, pois os problemas nos acompanham onde quer que estejamos.

No Evangelho desta Liturgia há uma segunda experiência de encontro da comunidade dos discípulos: Jesus se apresenta mais uma vez para trazer-lhes a paz e enviá-los em missão. Somente um coração que repousa na paz pode anunciar a Boa-Nova. Era preciso que todos fizessem a experiência do encontro com a pessoa de Jesus e que vivessem a alegria da partilha com o Ressuscitado.

Os encontros de intimidade entre Jesus e seus discípulos ocorriam com frequência, sempre com o objetivo de amadurecer a partilha. Foram momentos fortes antes da crucificação e da Ressurreição, pois é na mesa que se realiza a partilha, a fraternidade e tantas outras descobertas importantes na vida das pessoas.

A mesa da família também é esse lugar. No mundo, devemos preservar a mesa como lugar de fraternidade, das conversas do cotidiano. Lugar onde o “vinho” do amor deve ser brindado para fortalecer a fé, a esperança e a caridade. Lugar para fortalecer os laços de amizade.

Na Missa, a Palavra e a Eucaristia são servidas em duas mesas que se tornam lugar sagrado do encontro com o Senhor e com os irmãos. Alimentados, voltamos fortalecidos para a “nossa Jerusalém”, onde está nossa família, nossa caminhada profissional, os irmãos da comunidade.

Precisamos testemunhar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, o porta voz da comunidade em Atos dos Apóstolos: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas” (At 3,15).

Que possamos, a cada celebração, seguir firmes no amor ao Ressuscitado, através de atitudes concretas na relação consigo e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 4: “Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!”. Com o esplendor de Cristo, Autor da Vida, voltemos para anunciar a vida nova à “nossa Jerusalém”.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Testemunhas da Alegria

 

A alegria do Senhor,
Vem trazer aos caminheiros,
Os discípulos das estradas,
De Emaús são mensageiros,
Ao Deus vivo encontraram,
Juntos também partilharam,
O Pão com o Senhor, primeiro.

O Pão com Jesus primeiro,
Foi uma santa experiência,
Participar da mesa Santa,
Com Jesus em sua essência,
Porque a mesa é o partilhar,
Do pão, Cristo, a alimentar,
E o amor divina ciência.

E o amor divina ciência,
Vem trazer a alegria,
Do Evangelho semeado,
Pela noite e pelo dia,
Vai ao mundo transformando,
E o Reino vai brotando,
Mensagem que não se esvazia.

Mensagem que não se esvazia,
No coração vivo e humano,
Na história dos discípulos,
Que superam seus enganos,
Na caminhada do povo,
Que acolhe o amor e o novo,
Do Reino e dos seus planos.

Do Reino e dos seus planos,
Vem Jesus se apresentar,
No meio da comunidade,
Que vem para celebrar,
No encontro em união,
Na Palavra e comunhão,
Que se faz a partilhar.

Que se faz a partilhar,
O que os discípulos viveram,
Seus encontros mais sagrados,
Quando então se envolveram,
Jesus, paz tranquilidade,
Constrói a fraternidade,
E os discípulos acolheram

E os discípulos acolheram,
O envio do Senhor,
Para serem as testemunhas,
Com força e com ardor,
Entregaram suas vidas,
Existências consumidas,
A serviço do Amor.

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos abre a inteligência para entender as Escrituras, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Páscoa, Domingo da Misericórdia, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: At 2,42-47; Sl 118(117); 1Jo 5,-16; Jo 20,19-31

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo tem Misericórdia dos que Duvidam

Jo 20,19-31

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do II Domingo da Páscoa, o Domingo da Misericórdia, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar o Ressuscitado que derrama misericórdia nos que duvidam. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 20,19-31.

O evangelista João nos apresenta as primeiras experiências dos discípulos com o Ressuscitado em dois momentos, sempre no primeiro dia da semana.

Na primeira parte (cf. Jo 20,19-25) Jesus aparece quando estava anoitecendo e o grupo estava de portas fechadas, inseguros e o Ressuscitado, vencedor da morte, rompe a escuridão e declara “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Após mostrar as chagas, repete a saudação para que os discípulos tenham consciência de que a missão redentora agora é para os confins do mundo. Depois, Cristo sopra o Espírito para que anunciem a salvação e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada.

Na segunda parte (cf. Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: onde estava Tomé naquela primeira aparição? Talvez seu distanciamento fosse causado pela desesperança. Ao encontrar os irmãos, Tomé duvida da aparição de Cristo e também da Ressurreição, ele quer uma prova, como muitos de nós quando fraquejamos na fé e nos isolamos da comunidade. Oito dias depois, Tomé está na comunidade e vê o Senhor. Novamente Jesus deseja a Paz e convoca aquele discípulo que não acreditou antes, e diz a Tomé: “ ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’.” (Jo 20,27). Jesus disse mais: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). A resposta de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo acolhe e tem misericórdia de Tomé que duvidou.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os que acreditam sem ter visto e sem ter tocado nas chagas, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu Corpo quando recebem a Eucaristia (inclusive espiritualmente), nutrindo-se da fé na vida verdadeira e prosseguindo no discipulado.
Portanto, cada Domingo também é como aquele Oitavo Dia, quando também professamos a nossa fé no Ressuscitado, quando escutamos os ensinamentos dos Apóstolos, louvamos, colocamos em comum a nossa oração, partilhamos o pão, fazemos nossas ofertas materiais e espirituais como as primeiras comunidades dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,46).

Há feridas humanas que precisamos sentir e tocar, as quais estão presentes nos crucificados dos nossos dias. Essas feridas aparecem nos que passam fome, nos desempregados, nos presos, nos que sofrem os impasses e impactos da pandemia, também nos que, injustamente, são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade e injustiças de opções e projetos políticos, econômicos e sociais.

Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, em muitas pessoas do bem, que se empenham em vista de uma sociedade justa, fraterna, solidária e cheia de vida e de paz.

E neste Domingo da Misericórdia peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do medo, do fechamento e do egoísmo, para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho, o qual se expressa na nossa alegria, na nossa paz, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Meu Senhor e Meu Deus

 

Tomé e seus irmãos somos nós,
Quando nos isolamos,
Quando também duvidamos,
E ficando tão distantes,
Numa tristeza constante,
Fechados e não acreditamos.

Tomé, assim somos nós
Quando queremos fazer comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
As feridas e ilusões.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e muito amor,
E assim recomeçamos.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
No seu Corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar vivo e crente,
Sem medo e sem duvidar.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
E de amor se consumir.

Como Tomé e os irmãos,
Nossas dúvidas então rompamos,
De portas abertas sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o Ressuscitado,
E então não desistamos.

Seja a Palavra luz forte,
Em nosso peregrinar,
Sua luz a nos clarear,
Pra vencer a escuridão,
E seguirmos de pé no chão,
Sem medo de tropeçar.

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que tem misericórdia dos que duvidam, ilumine o seu caminho! ***

 

Domingo da Páscoa do Senhor

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 118(117); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Animados e Iluminados pela Ressurreição de Cristo

Jo 20,1-9

 

Meus irmãos e irmãs, eu vos desejo uma feliz e abençoada Páscoa. O mistério pascal da Liturgia do Domingo da Ressurreição nos motiva a contemplar a alegria do Aleluia e do Glória que, desde a Vigília do Sábado, se estenderá por cinquenta dias como sendo um único dia. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 20,1-9.

Maria Madalena, marcada pelo sofrimento e pela morte de Jesus, vai, antes do sol raiar, tratar do Corpo de Nosso Senhor e encontra o Túmulo Vazio (cf. Jo 20,1). Leva a notícia aos outros discípulos, sendo, no Evangelho desta Liturgia, a primeira a anunciar o grande acontecimento.

Os discípulos, ainda atordoados pelos acontecimentos, não conseguiram vislumbrar a grande dádiva de Deus. Tudo era muito novo, muitas coisas precisavam acontecer para que eles vivessem a certeza da Ressurreição do Senhor.

Aquela manhã, a do primeiro dia da semana, ficará marcada no coração dos discípulos e discípulas como sendo o Dies Domini, Domingo, que quer dizer Dia do Senhor. É o dia em que se consolida a fé na Ressurreição, porque o discípulo amado viu, acreditou e espalhou esta certeza (cf. Jo 20,8) e a força do Ressuscitado se espalhará por todos os cantos. A fé agora será amadurecida na caminhada dos seguidores de Cristo até ao ponto de testemunharem sem medo tudo o que aconteceu.

Alimentados da esperança e pela certeza, os discípulos enfrentarão o mesmo destino do Senhor, serão perseguidos, caluniados e martirizados, mas encontrarão a ressurreição e a vida eterna. Se fortalecerão na comunidade reunida com a presença da Santa Mãe de Deus.

Pedro e os outros discípulos anunciarão a verdade da Ressurreição como vimos na primeira leitura de hoje: “… Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. Ele nos mandou proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,39-42).

Somos os herdeiros desta mensagem quando nos reunimos para o encontro com a Palavra viva e com a Eucaristia, nutrientes para o nosso caminhar na nossa peregrinação terrestre. Assim, somos despertados para uma nova vida que se constitui a cada momento, a cada desafio vencido, a cada graça oferecida por Deus. A fé que temos no Senhor foi consolidada naquela madrugada de Madalena e dos outros discípulos. Somos também discípulos missionários que devem levar a mensagem de esperança e de vida nova todo o mundo.

Precisamos buscar o Ressuscitado na oração, no jejum e na esmola. Cristo, o Ressuscitado, é a Eucaristia que devemos receber com o coração purificado pela confissão dos nossos pecados – e aqueles que não podem receber a Eucaristia, que estejam com o coração puro de malícias e maledicências. Na celebração eucarística devemos, como disse São Paulo na segunda leitura desta Liturgia, nos esforçar para “… alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus…” e aspirar “… às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (Cl 3,1-3).

Que nesta caminhada pascal possamos semear a verdade esperançosa e alegre, num mundo carente do amor do Pai e marcado pelas dores e mortes desta pandemia. E que a cada dia também possamos amadurecer a nossa fé no Ressuscitado que nos faz novas criaturas. Sigamos em frente e meditemos neste período de cinquenta dias que se seguem, celebrando-os como sendo um, e cantemos confiante: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 118/117).

 

***

⇒ POESIA ⇐

Quem Ama Chega Primeiro

 

Pelo amor e a esperança,
Madalena vai correndo,
Cheia de uma novidade,
Que está lhe preenchendo,
Volta do Túmulo Vazio,
Madrugada em vento e frio,
Coração se aquecendo.

Primeira anunciadora,
De Jesus ressuscitado,
Vai dizer aos seus irmãos,
Sobre o Túmulo Arrebentado,
Precisa se refazer,
Para pode entender,
O que Deus tem realizado.

A mensagem é semeada,
Junto aos outros irmãos,
E aos poucos se espalhando,
Por Pedro e também por João,
Cristo trouxe a vida nova,
Túmulo Vazio é a prova,
Da santa Ressurreição.

Há um amor que motivou,
Ao discípulo em seu correr,
Pois o amor chega primeiro,
E não se deixa esmorecer,
Sem medo ele segue em frente,
Sem dúvida a lhe preencher.

O amor do Discípulo Amado,
A muitos encorajou,
Fez Pedro seguir em frente,
Mesmo que ao mestre negou,
Pois foi o amor e a fé,
Que fez Pedro ficar de pé,
Com coragem continuou.

Compreender a vida nova,
No caminhar do dia a dia,
Aceitar outra maneira,
Pra seguir a nova via,
A morte não tem mais poder,
Basta seguir e também crer,
Na Paz e na Alegria.

Somos também seguidores,
De Cristo ressuscitado,
Seguimos a nova vida,
Com o nosso Deus amado,
Que se faz nosso alimento,
Na alegria e sofrimento,
Caminhando ao nosso lado.

O encontro com os irmãos,
Faz sair da madrugada,
Para abraçar a luz completa,
E a vida iluminada,
Pois Cristo que se faz clarão,
Na Palavra e comunhão,
E a assembleia renovada.

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá a vida eterna, ilumine o seu caminho! ***

 

V Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 6,1-7; Sl 32(33); 1Pd 2,4-9; Jo 14,1-12

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus, no Caminho, Verdade e Vida

Jo 14,1-12

 

Estamos no 5º domingo da Páscoa quando o evangelho para esta liturgia está em Jo 14, 1-12: “Eu sou o Caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Estas palavras foram ditas para os seus discípulos momentos após o gesto do Lava-pés, quando Tomé se declara um pouco angustiado sem saber para onde ir (cf. Jo 14,5). Jesus se apresentando como o caminho, indica que para segui-lo, seus discípulos devem estar em constante movimento. E abraçar a peregrinação da missão pelo mundo, levando, com o testemunho, a verdade e a vida.

Felipe faz um pedido: Senhor mostra-nos o Pai, isso nos basta (cf. Jo 14,8). Diante destes sentimentos dos discípulos, Jesus responde que o seu rosto misericordioso é a imagem do Pai (cf. Jo 14,9-11). Olhar para ele, ver suas ações, seu jeito de lidar com as pessoas, seu acolhimento e seu perdão, expressam a ação e a imagem de Deus Pai.

Os discípulos, após a ressurreição, como continuadores da missão de Jesus e em comunhão com ele, deverão apresentar em suas ações, a presença de Cristo ressuscitado que viveu em comunhão perfeita com o Pai e que, após a sua ressurreição, encarregará todos os seus seguidores de agirem como seu mestre.

Na leitura de Atos dos Apóstolos (cf. 6,5-6), podemos conferir que a missão se expande e se faz necessário eleger mais discípulos para que o serviço do amor seja executado. Nesse momento são escolhidos os sete primeiros diáconos da Igreja, para que estejam a serviço da caridade em favor dos necessitados. A Igreja nasce do amor aos pobres e necessitados, porque Cristo viveu toda a sua caminhada terrestre em função do amor aos necessitados e do serviço da justiça e da paz entre as pessoas. Hoje devemos retomar a Igreja dos Atos dos Apóstolos, voltando o nosso olhar e a nossa ação para o serviço dos carentes materiais, espirituais e humanos.

São Pedro na sua primeira carta vai nos dizer: “Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, formai o edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Cristo” (1Pd 2,5). Assim serão todos os batizados, discípulos de Cristo, em favor do Reino de Deus, os quais são enviados a mostrarem o rosto misericordioso e caridoso do Pai, como pedras vivas, na edificação de um mundo novo.

Nas primeiras comunidades, os seguidores de Jesus viveram a experiência de missão além da Galileia. O desafio foi espalhar a Palavra de vida pelo mundo e, para esse fim, foi necessária a expansão com novos discípulos para dar continuidade a missão de Cristo na Igreja nascente. Também era preciso que os missionários tivessem a consciência de que deveriam ser pedras vivas e edifícios espirituais.

Hoje, são os cristãos as pedras vivas para a construção de uma Igreja que vive a missão da caridade, da evangelização e da formação de novos discípulos. Os batizados são chamados a espalharem o amor também, pelas famílias sem muros, através do serviço aos necessitados e abandonados. Esta é também a Vinha do Senhor que precisa de cuidado e carinho dos seus discípulos.

Hoje os cristãos são chamados a serem sinais de Cristo além dos altares e dos templos, acolhendo, escutando e cuidando das pessoas isoladas e machucadas pelas tantas realidades de sofrimentos. Cristãos, sal da terra e luz do mundo, nestes tempos de pandemia, onde muitas pessoas sofrem e morrem com o Covid-19, com outras doenças e, ao mesmo tempo, estes seres humanos são hostilizados pelo vírus da indiferença, da falta de cuidado, falta de respeito, falta de compaixão e de solidariedade. Muitos perderam a esperança e a coragem de lutar por um mundo de paz e de justiça, outros foram embriagados pelas ideologias que trazem como consequências a revolta, o vazio e a angústia da desestruturação familiar e social.

Enfim, o rosto amoroso e misericordioso de Cristo deve está presente em cada um de nós. Somos batizados (inseridos) em Cristo para expressarmos a imagem dele neste mundo, como sacerdotes a serviço do culto verdadeiro, como profetas anunciadores da Palavra da verdade e reinando com o Senhor sobre as potestades e pestes que afligem o nosso mundo. Este é nosso caminho, busquemos e ajudemos as pessoas a encontrarem o caminho da vida e da esperança, o próprio Cristo e sua Palavra que liberta e salva. Amém!

 

***

⇒ POESIA ⇐

Cristo, rosto de Deus

Não se perturbe teu coração,
Mas tenha a fé no Senhor,
Porque ele é o caminho,
Rosto divino do amor,
Que nos ensina a caridade,
Que nos leva a eternidade,
Ele é nosso redentor.

O Senhor também é vida,
Para a nossa alegria,
Faz-nos seus missionários,
E dá-nos paz a cada dia,
Sua vida é sempre nova,
Sua ressurreição é a prova,
De tudo que ele anuncia.

Somos nele pedras vivas,
Ele, a Pedra angular,
Somos também nação santa,
Para o mundo edificar.
Nossa fé nos faz honrados,
Em Cristo somos banhados,
Banho que nos vem salvar.

E abraçando a caridade,
Em favor de toda a gente,
O Senhor nos convocou,
A servi-lo para sempre,
Vivendo a diaconia,
Na noite e também no dia,
Em favor do irmão carente.

Ele, nossa divina verdade,
Que nos dar a esperança.
Nós seguimos com coragem,
Vivendo na temperança.
Palavra que nos orienta,
Corpo e sangue que sustenta,
Trazendo-nos a segurança.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, ilumine o seu caminho! ***

 

IV Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,14a.36-41; Sl 22(23); 1Pd 2,20b-25; Jo 10,1-10

 

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus Cristo é o verdadeiro Pastor dos “pastores”

Jo 10,1-10

 

Estamos no 4º Domingo da Páscoa, também conhecido como o domingo do Bom Pastor, quando contemplamos o Senhor como nosso guia eterno. Ele, que nos conduz e que nos ensina por onde caminharmos, também nos ensina a sermos discípulos pastores, porque muitas vezes temos um pequeno ou grande rebanho (paróquia, diocese, comunidade, família, grupo, pastoral ou movimento) sobre nossa responsabilidade para caminhar com ele. Porém este mesmo rebanho é sempre do Senhor, ele é o dono, e é quem conduz o seu povo.

E o evangelho desta liturgia está em João (cf. 10,1-10). Neste texto, Jesus nos diz: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo” (Jo 10,9). Quando nós vamos à celebração encontramos a casa do Senhor de portas abertas, para que nos encontremos com ele, possamos nos reunir como rebanho dele. Queremos escutar a sua voz e participar do seu banquete, onde encontramos o alimento eterno que é a sua Palavra, o seu corpo e o seu sangue.

O que nos cabe como seguidores do supremo Pastor é que façamos o esforço de imitá-lo, amá-lo e buscar nele a nossa força e salvação. Que possamos também carregar em nosso ministério e em nossas responsabilidades o cheiro dos que estão sob nossa condução, como nos fala o Papa Francisco: “Vo-lo peço que sejam pastores com o cheiro das ovelhas, pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens.”[1]

Precisamos também nos lembrar de que diante do que vivemos na caminhada cristã somos primeiramente rebanho do Senhor. Antes de tudo somos convidados a ouvir a voz do nosso pastor, Cristo, para seguirmos por caminhos seguros, por lugares onde haja alimento, paz, justiça e a certeza de segurança em Deus.

Hoje são muitas as vozes e pastores que se dizem verdadeiros, que querem ser ouvidos e seguidos. Diante de tantas realidades e ofertas de vida, de tantas opções, que o mundo oferece, faz-se necessário que primeiramente nos acostumemos a ouvir a voz de Cristo que nos fala pela Palavra Sagrada, que nos convoca através das celebrações da Palavra e da Eucaristia. Agindo primeiro desta forma, teremos o discernimento de seguirmos pelo caminho que nos leva a verdadeira liberdade e à salvação.

No tempo em que Cristo caminhou com os homens, pela Galileia, antes da sua ressurreição, existiam também os falsos pastores, os ladrões e assaltantes (cf. Jo 10,8). Estes não ofereciam vida e segurança para o povo e, portanto, armavam pesados fardos através de leis injustas e preconceituosas as quais oprimiam as pessoas, principalmente, os pobres, as mulheres, os doentes…

Hoje não é diferente, há ainda muitas vozes e portas que soam e se abrem para nós, nos apelando para as injustiças, para as fake news (notícias faças), a hipocrisia, a ganância, a opressão e para as ideologias que nos desviam do caminho do Bom Pastor. São caminhos de ilusões e escravidões na nossa existência

Precisamos treinar o nosso ouvido para podermos ouvir a voz verdadeira que vem de Cristo. Somos um rebanho que muitas vezes não encontra a porta verdadeira e por isso caímos no pecado e nos perdemos.

Como ovelhas, vivendo no rebanho do Senhor e seguindo-o como discípulos seus, podemos atrair outras ovelhas para seguirem pelo caminho do Bom Pastor. Isso aconteceu com a pregação de Pedro, como podemos conferir no livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 2,41), quando se uniram a eles mais ou menos três mil pessoas, depois que Pedro pregou ao povo no dia de Pentecostes.

Precisamos buscar sempre no Senhor o nosso repouso. Ele nos conduz por caminhos de alegria e alimentos fartos, ele nos abre a porta, nos leva ao seu banquete (cf. Sl 22/23), para que nos saciemos e encontremos o amor e a paz.

Que o Espírito Santo nos anime e nos ilumine quando for preciso retornar aos braços do Bom Pastor e nos dê sempre perseverança para continuarmos firmes nos caminho do Senhor e fazendo parte do seu rebanho.

Rezemos por todos os que são chamados a seguirem como colaboradores do Bom Pastor (bispos, padres, diáconos, agentes de pastorais, catequistas, coordenadores de grupos e movimentos) para que sejam sempre animados a continuarem a colaborar com dignidade as tarefas que Deus lhes confiou. Porque, O Senhor é o pastor que nos conduz, paras as águas repousantes nos encaminham (Sl 22). Amém.

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[1] CNBB. Roteiros homiléticos para o Tríduo Pascal e Tempo Pascal: Ano A, São Mateus. “Celebremos a páscoa do cordeiro!”. abril / junho 2017. Ano 3 – nº 13, Brasília: Edições CNBB, 2017. p. 50.

 

***

⇒ POESIA ⇐

O Bom Pastor

O Bom Pastor,
É a porta da vida,
Para a acolhida,
Na sua casa santa,
Onde nos alegra,
E assim se entrega,
Na Paz oferecida.

O Bom Pastor,
É quem nos conduz,
Com sua luz,
Por caminhos retos,
Somos seu rebanho,
Não é um estranho,
É Amor que seduz.

O Bom Pastor
É nossa sorte,
Que vence a morte,
Com seu poder,
Tudo rompendo,
E nos acolhendo,
Com a sua voz forte.

O Bom Pastor
Está nos chamando,
Nos conquistando,
Para segui-lo,
Por seus caminhos,
Não nos deixa sozinhos
Ele vai nos guiando.

O Bom Pastor,
Quer-nos sempre unidos,
Do seu amor, imbuídos,
O mundo iluminando,
E na nossa missão,
Na santa comunhão,
Sempre, sempre nutridos.

O Bom Pastor,
Tem o cheiro da gente,
Ver seu povo carente,
Vem ao nosso curral,
Pela porta ele entra,
Seu rebanho alimenta,
Novo povo de crentes.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Bom Pastor, ilumine o seu caminho! ***

 

III Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,14.22-33; Sl 15(16); 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Palavra e Pão que faz arder o coração

Lc 24,13-35

 

 

Neste 3º Domingo da Páscoa a liturgia da Palavra nos apresenta um texto do Evangelho segundo São Lucas (cf. 24,13-35). Trata-se do belo texto dos discípulos de Emaús, o qual nós já refletimos na quarta-feira da Oitava da Páscoa, você lembra? Vamos fazer uma breve memória…

Naquele mesmo dia da Páscoa, o primeiro da semana, os dois discípulos fugiam de Jerusalém em direção a um povoado chamada Emaús (cf. Lc 24,13). Caminhavam sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o Reino de Deus. A quem eles mais amavam e estimavam, tinha sido assassinado, pregado numa cruz. Mas a vida continuava e seria preciso caminhar para algum lugar, mesmo que seja fugindo, para encontrar um repouso seguro e tranquilo.

E Jesus aparece no caminho deles, fazendo memória das Sagradas Escrituras sobre o acontecido. E apesar do coração deles arder, naquele momento, quando ainda estavam no caminho e o escutavam (cf. Lc 24,32), não foi possível se tocarem sobre quem falava com eles. Somente no momento em que estão à mesa, quando Jesus toma o pão, abençoa, parte e distribui, é que aqueles discípulos abrem os olhos e o reconhecem…

E assim também, na nossa vida, Deus caminha com a gente para nos ensinar com sua Palavra; para se fazer companheiro, solidário e se doar-se como o pão da vida aos que ele amou e ama. Para fazer arder o coração da gente e nos motivar para o retorno à nossa Jerusalém de nossos compromissos assumidos, da nossa vocação pessoal, na nossa missão de anunciar que o Senhor está vivo e caminha conosco em todos os nossos momentos, seja de alegria, seja de tristeza, seja de aparente derrota ou seja de vitória e glória.

E assim, discípulos de Emaús também somos nós que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo das nossas responsabilidades, compromissos, ou da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do nossa existência vão acontecendo pela ação do Ressuscitado.

Você já percebeu que este texto da narração dos discípulos de Emaús nos apresenta a estrutura da celebração da missa? Primeiro o nosso caminhar em busca do templo com o coração em Cristo (a estrada, o caminho); depois, a nossa entrada à casa de Deus e a entrada de quem preside a celebração de ceia (Cristo Sacerdote), o início do encontro dos irmãos; em seguida Ele nos fala através da sua Palavra (leituras, cânticos e salmos, o Evangelho) e continua a nos falar na homilia. Neste momento ele nos explica a sua ação na nossa vida e nos acontecimentos do mundo, fazendo arder o nosso coração. À mesa Cristo parte o Pão conosco e nos faz reconhecê-lo como o Senhor da vida eterna que nos oferece um banquete santo, banquete de irmãos que partilham da mesma mesa.

E quando alimentados pelo corpo e pelo sangue do Senhor voltamos para a “nossa Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos irmãos e irmãs de caminhada profissional, membros da nossa comunidade, e outros que iremos encontrando durante a semana e a vida.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta-voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai, realizou milagres e sinais em favor do povo. Ele foi escolhido por muitos e rejeitados por outros até a morte na Cruz. ‘Mas Deus o ressuscitou, libertando-o da angústias da morte’, revelando a eficácia de sua doação a serviço do projeto divino de salvação.” (At 2,22.24).

O Ressuscitado caminha conosco, nos alimentando e nos encorajando a continuar o caminho de discípulos missionários na nossa vida diária. Como nos falou Pedro na sua carta, nós fomos resgatados “… pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1Pd 1,19).

Que a cada celebração possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E que possamos cantar como o salmo 15(16): “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós felicidade sem limites!” Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Fazer arder o coração

Tua Palavra Senhor,
Faz arder o nosso coração,
Porque nos vem encorajar,
Vencendo a nossa solidão,
Mostrando-nos aonde ir,
Por onde e quando prosseguir.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Dando-nos, ao caminhar o sentido,
Conduzindo-nos a santa comunhão,
Fazendo-nos à mesa sentarmos,
Para de vós nos alimentarmos.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Porque nos faz retornarmos,
Para o anúncio da Ressurreição,
Pelo amor nos reenvia,
Por um caminho de alegria.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Tirando-nos das nossas fugas,
Vencendo nossa desilusão,
Para que voltemos a acreditar,
Na vida que vem a brotar.

Tua Palavra, Pão e Vinho,
Faz-nos de novo, reunirmos,
Para partilharmos da vida,
Para a estrada prosseguirmos,
A viva alegria exalarmos,
E à “nossa Jerusalém” voltarmos.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Enviado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo tem misericórdia dos que duvidaram

Jo 20,19-31

 

Neste segundo domingo da Páscoa a liturgia da Palavra  nos traz um texto do evangelho de João (cf. 20,19-31), o qual nos apresenta dois momentos para nos mostrar a experiência dos discípulos em meio à Ressurreição de Jesus. Estes dois momentos acontecem sempre no primeiro dia da semana (Dies domini), o domingo, porque foi no primeiro dia da semana que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (cf. Jo 20,19-25), o evangelista nos fala que estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, portas fechadas… E o Ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o Príncipe da Paz estava no meio deles, Ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio Ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (cf. Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto, foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si.

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus, e nos tornamos incrédulos.

Oito dias depois a comunidade dos discípulos está reunida e Tomé está presente. Novamente Jesus deseja a Paz e se volta para Tomé e lhe diz: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28). A resposta de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no Ressuscitado e na sua ressurreição.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentir e tocar, as quais estão presentes nos crucificados deste mundo. Essas feridas aparecem nos que passam fome, estão desempregados, nos presos, nos que estão com o Coronavírus e nos seus familiares, também nos que, injustamente, são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade e injustiças de opções e projetos políticos, econômicos e sociais. Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, em muitas pessoas do bem, que se empenham em vista de uma sociedade justa, fraterna, solidária e cheia de vida e de paz.

E neste Domingo da misericórdia peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo, do fechamento e de nosso egoísmo, para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho, o qual se expressa na nossa alegria, na nossa paz, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!

 

***

⇒ POESIA ⇐

Meu Senhor e meu Deus

Tomé somos nós,
Quando nos isolamos,
Quando duvidamos,
E ficando distante,
Numa tristeza constante,
Fechados, sem acreditar.

Tomé somos nós,
Quando queremos comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
Querendo as feridas olhar.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e amor,
Para podermos recomeçar.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar obediente,
Sem medo e sem desistir.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
Pois, ele é o Ressuscitado.

Como Tomé e os outros,
Nossa dúvidas todas rompamos,
Abramos as portas e sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o Ressuscitado,
Que conosco quer caminhar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que tem misericórdia dos que duvidam, ilumine o seu caminho! ***

 

Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A nossa Alegria é a Ressurreição do Senhor

Jo 20,1-9

 

Maravilhados das alegrias, vindas da vigília pascal, da noite do sábado, e despertados na manhã do sepulcro vazio, celebremos a vitória do primeiro a ressuscitar, Jesus Cristo, o mais belo entre todos os homens, glorioso, Deus da vida, o vencedor sobre a morte.

Iniciamos um novo tempo da Igreja, o tempo Pascal, onde tudo está voltado para os acontecimentos da ressurreição de Jesus, quando aprendemos e nos firmamos na fé, através de tantos testemunhos dos que seguiram e amaram profundamente o Senhor.

O evangelista João (cf. 20,1-9) nos fala da sua experiência com o Ressuscitado, de uma forma simples e, ao mesmo tempo, profunda. Simples por que descreve detalhes, tais como: faixas de linho no chão, pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20,5-7).

Voltemos o nosso olhar também para quem foi primeiro ao túmulo de Jesus, quando ainda estava escuro, Maria Madalena, que percebeu a pedra retirada do túmulo. Ela anuncia primeiro aos discípulos Pedro e João, os quais vão, correndo, confirmar o acontecido. Eles que também ainda estavam marcados profundamente pela dor da morte de Jesus. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.” (Jo 20,8).

Meditemos alguns pontos importantes da liturgia deste domingo da Ressurreição do Senhor: “Maria Madalena viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1) e por isso volta correndo para anunciar que algo estranho tinha acontecido.

Muitas vezes, nós também precisamos retirar a pedra que nos impede de perceber algo extraordinário em nossa vida, sobretudo referente à ação de Deus na nossa caminhada de discípulos que querem seguir o Ressuscitado.

Esta pedra muitas vezes é o nosso rito vazio, a nossa indiferença, a mesmice e a sensação de que mais um ano passou e nas festas pascais não conseguimos viver uma experiência nova, ou seja, vida que se faz ressurreição no Senhor.

O primeiro domingo da Páscoa é, por excelência, o dia do Senhor, de onde nasceu a nossa fé no Ressuscitado. Daquela manhã do túmulo vazio em diante, os discípulos passarão por uma nova ótica na experiência com Jesus.

Os discípulos, os quais viveram a experiência do Ressuscitado, sem muita clareza, foram crescendo de forma gradativa, dando motivo da sua fé, como Pedro professou: “Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,40).

Pedro viveu com Jesus as duas realidades: primeiro, caminhando com ele na sua missão terrena, pela Galileia, depois fazendo a sua experiência da ressurreição, quando em vários momentos encontrou-se com o ressuscitado. Desta forma, o apóstolo nos ensina o sentido profundo da vida renovada em sua missão apostólica.

“A ressurreição de Jesus é o mistério central da nossa fé cristã e o fundamento da nossa esperança de libertação total”[1]. Somente no Senhor somos totalmente livres e alegres, apesar dos sofrimentos e desilusões da vida terrena. Somente em nome do Senhor anunciamos a alegria do Evangelho que se concretiza na prática da justiça, do amor aos irmãos e na promoção da paz.

E nesta realidade da Covid-19, queremos suplicar ao Senhor em favor de todos aqueles familiares que perderam seus entes queridos por causa desta pandemia, que estes fortaleçam a sua fé na ressurreição e na vida eterna. E, ao mesmo tempo, queremos dá graças e louvores ao Senhor da vida pela cura de muitas pessoas, as quais já estão livres deste vírus.

Peçamos ao Espírito Santo a graça da fé no Ressuscitado, para vivermos cada momento de nossa vida, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, dando razões de nossa fé e sempre cantando como o Salmo 117(118): “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”

——–

[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 92.

 

***

⇒ POESIA ⇐

A manhã nova do Senhor

Ainda é escuro, é madrugada,
É o dia novo, da nova vida,
Pelos discípulos e por nós acolhida,
Arranquemos a pedra,
Pedra que impede um novo olhar,
Que às vezes nos faz tropeçar,
Olhemos para o alto, a nos alegrar!

A Luz vem chegando,
Percebamos os sinais da vitória,
Da luz, da nova vida em Glória,
Por que o Senhor não está entre os mortos,
Ele é o homem vivo para sempre,
Quer caminhar conosco eternamente
O Santo dos santos, o homem vivente!

Sua vida nos traz esperança,
Certeza de que seremos eternos,
Na nova comunidade, fraternos,
Estaremos para sempre com Ele,
Sem barreiras a nos atrapalhar,
Ele é Pão Vivo a nos alimentar,
Para além daqui quer nos elevar!

A sua glória é de todos,
O seu corpo é totalmente novo,
Sua vida nova é para o seu povo,
Pois nele está a esperança,
Que os discípulos sempre alcançam,
Caminhando no amor e na bonança!

Sigamos firmes,
Sigamos louvando,
Sigamos felizes e festejando,
Sigamos na fé, no Ressuscitado,
Sua vida nova é plena alegria,
Já não é mais noite, é novo dia,
Vamos ao banquete que nos sacia!

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho! ***

 

SOLENIDADE DE PENTECOSTES, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

 

“Pentecostes” (1412-1416), por Irmãos Limbourg

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Manifestação pública do Espírito Santo

Jo 20,19-23

 

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente, agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas, as quais compreendem a mensagem do amor e da fé, pelo Espírito, em sua própria língua.

O que era antes uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo. O que estava preso a um grupo, homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal, por que inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão do Senhor estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos Céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da Ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e de portas fechadas (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a Paz para o grupo, que ao mesmo tempo os envia para a missão, com o objetivo de anunciar ao mundo o Reino de Deus.

A partir desta experiência, de encontro com Cristo ressuscitado, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminhar, pregando a experiência da Ressurreição.

Na primeira leitura (cf. At 2,1-11), temos a narração de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então o Espírito Santo se manifesta, um fenômeno diferente, inédito para a Humanidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2,4). Aquilo que o Jesus anunciou, antes e depois da Ressurreição, agora se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua Luz e Força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer que é exatamente a sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI. Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos, que carregados da fé corajosa, conscientes e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer e dar frutos, se espalhando pelos imensos espaços do mundo até nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo, apresentada na 2ª leitura, que merece a nossa reflexão: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6).

São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito. Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação na Igreja no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a Obra de Deus esteja presente em toda humanidade.

Quantos dons podemos oferecer a Deus? Desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o Altar, pregar para o povo, coordenar um grupo, animar comunidades e grupos, visitar as famílias. Enfim, a Messe é grande, como afirmou o Senhor (cf. Mt 9,37).

E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado quando estamos a evangelizar, por exemplo. Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais.

Tudo isso são dons do mesmo Espírito, o qual estava no início da Criação (cf. Gn 1,2), que falou pelos profetas, que anunciou a Maria a encarnação do verbo, que esteve presente no Batismo de Jesus, que o conduziu ao deserto e também durante sua missão.

O mesmo Espírito animou os apóstolos após a Ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos. E em quantas realidades primordiais podemos certificar a presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais etc.

Agradeçamos a Deus pelos tantos dons do Espírito Santo, oferecidos à Igreja para o serviço do Reino. E quanto a nós devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova a face da terra (cf. Sl 103) e que nos santifica na vida de seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Ele é o mesmo em todo tempo

 

Presente desde o início,
Está o santificador,
Nas águas da Criação,
Presença viva de amor,
Que conduziu os profetas,
Nas suas lutas e alertas,
Junto ao povo sofredor.

Presente está em Maria,
Na sua Anunciação,
Quando fala para ela,
Do plano da salvação,
Presente também em José,
Que fez o caminho a pé,
Nos tempos de perseguição.

Presente também em Jesus,
No Batismo e no deserto,
Na caminhada do povo,
Dizendo o caminho certo.
Nos encontros de alegria,
Na vida de cada dia,
Um Deus sempre muito perto.

Presente na Ressurreição,
Como sopro de alegria,
Vencendo o medo e o desânimo,
Que nos discípulos estaria.
Fazendo um caminho novo,
Junto a multidão do povo,
Igreja que já nascia.

Presente em Pentecostes,
Ao mundo manifestado,
Para as diversas culturas,
Para o mundo anunciado,
Dom de amor incomparável,
Imenso e insondável,
Deus de amor ilimitado.

Presente em nós, cristãos,
Com força e santa alegria,
Com inumeráveis dons,
Que no caminho nos guia,
Que nos tira da tristeza,
Que nos dá a fortaleza,
Na vida de cada dia.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 1,1-11; Sl 47(46); Ef 1,17-23; Lc 24,46-53

“A Ascensão” (1886-1894), por J. Tissot


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Vibremos de alegria, na Ressurreição do Senhor

Lc 24,46-53

 

A liturgia deste domingo nos convida a celebrarmos com grande alegria, o “culminar do mistério Pascal”[1], a Ascensão do Senhor como garantia da nossa santidade nele e como certeza de chegarmos também juntos na dimensão celestial, para vivermos eternamente a contemplação de nosso Deus.

Se a ressurreição é a certeza de que em Cristo todos somos chamados à família das pessoas novas, revestidos de plenitude de vida, a Ascensão é a garantia de que contemplaremos a Deus na glória celeste e seremos revestidos de santidade e da beleza divina. A beleza divina pertence àqueles que livremente decidiram seguir o Senhor na escuta da sua Palavra e na vivência da caridade durante a caminhada terrena (cf. Mt 25,34-36).

Podemos lembrar o evangelho de São João quando diz que o “verbo de Deus se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). Ele desceu do céu para nos mostrar que a santidade e a salvação pertencem a todos que o buscarem, pois não há barreiras de culturas e povos. O Céu é o lugar dos que querem viver o seu amor e que glorificam o seu nome, e todos que seguem este chamado devem dar testemunho desta Boa-Nova no mundo sendo fermento, sal e luz entre os povos.

Nesta liturgia contemplaremos dois textos de São Lucas: primeiro, o que narra a memória do percurso de Jesus na sua missão redentora no mundo (cf. 24,46), e seguindo ainda o mesmo trecho, lemos o pedido de Jesus para que os seus discípulos sejam testemunhas de tudo o que o Senhor fez, pois o Espírito Santo os guiará e assim o Senhor os abençoa e depois se eleva ao céu (cf. 24,48-52). O segundo texto de São Lucas é Atos dos apóstolos, o qual repete com mais detalhes a Ascensão do Senhor e que, de certa forma, complementa a narração sobre experiência da ressurreição de Jesus e a sua subida ao Céu como prova de que Ele nos elevará também ao Reino celestial.

E o que podemos aprender destas narrações? A subida de Jesus ao Céu, não é uma ausência, mas a garantia de que nós estaremos com Ele, um dia, porque o Espírito Santo nos ensinará e nos conduzirá a esta realidade.

A Ascensão do Senhor também significa que Ele está acima de todas as pretensões humanas, por que o seu Reino já começa entre nós, pois somos o seu corpo, templos do Espírito Santo, chamados a celebrar um culto novo como novas criaturas e, desta maneira, vivendo a dimensão das realidades de Deus, para morar também com o Ele.

Podemos citar a segundo leitura, na carta aos Efésios, quando nos fala daquilo que o Senhor nos possibilitará para vivermos a santidade na realidade terrena, mas tendo como meta o Céu: “Que Ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder Ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente” (Ef 1,18-19).

Podemos, portanto, meditar sobre a presença do Senhor que sobe ao Céu, mas que ao mesmo tempo é presença viva na sua Igreja terrena, quando, por exemplo, celebramos a Eucaristia, sua presença real no meio de nós, pois no culto à sua Palavra e ao seu corpo antecipamos as realidades celestes, ou seja, vivemos já o céu na terra.

Neste sentido não podemos ficar somente olhando para cima como os apóstolos (cf. At 1,10), mas caminharmos em missão para preparar o Reino do Senhor em nosso meio, vivendo o seu mandamento maior que é o amor e ao mesmo tempo cumprido o seu mandato missionário, por que somos seus servidores responsáveis de levar a sua Palavra ao mundo com a nossa vida, sendo testemunhas vivas da ressurreição.

Encerremos, esta reflexão meditando com o responsório desta liturgia, (Sl 46): “Porque Deus é o grande Rei de toda a terra, ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso”. Amém.

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 116-119.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

A caminho do Céu

 

A Caminho do Céu estamos,
Quando o amor vivemos,
Quando o Senhor escutamos,
E seu alimento queremos,
Como discípulos em missão,
Em escuta e em oração,
E ao Senhor nos dobraremos.

A caminho do Céu estamos,
Quando vivemos a comunhão,
E juntos o amor celebramos,
Numa festa de irmãos,
Sendo Paz e alegria,
Na noite e também no dia,
Festejando a união.

A caminho do Céu estamos,
Quando a Palavra é encarnada,
Nas trilhas que caminhamos.
E a vida seja celebrada,
Em clima de serenidade,
Num chão de fraternidade,
Com a fé bem confirmada.

A caminho do Céu estamos,
Quando o nosso bem amado,
Esteja sempre onde estamos,
E nosso ser sempre inflamado,
Das coisas da redenção,
Sendo luz na escuridão,
E os passos por ele guiados.

A caminho do Céu estamos,
Quando nós, corpo do Senhor,
Sinais de vida sejamos,
Semeando sempre o amor,
Sendo o Reino já aqui,
E possamos imprimir,
A face de Nosso Senhor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***