CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”
ANO NACIONAL DO LAICATO
Leituras: Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25
POESIA
NÓS, TEMPLOS SANTOS
Somos templos do Senhor,
Moradas do divino amor,
Da verdade e sinceridade,
Sem nada de opressão,
Morada do amor e o perdão,
Templo da santa bondade.
Somos templos do Senhor,
Na vivência do temor,
Com um culto verdadeiro,
Sem a tal da falsidade,
Mas com a pura verdade,
E uma entrega por inteiro.
Somos templos do Senhor,
Vivendo o fiel ardor,
Pelos santos mandamentos,
Como setas definidas,
Para proteger a vida,
Livre de tanto tormentos.
Somos templos do Senhor,
E da verdade esplendor,
Igreja, corpo vivo e santo,
Para firmes encontrar,
O alimento do altar,
Que alivia o nosso pranto.
Somos templos do Senhor,
Com a justiça a favor,
Da verdade que liberta.
Na missão do sumo bem,
Pois, o Espírito nos mantem,
Com a paz do Redentor.
Templos da Eucaristia,
Nós, Igreja de todo o dia,
Que se nutre da união,
Festa da vida e do amor,
Que fortifica o ardor,
No encontro e comunhão.
HOMILIA
O novo mandamento e o novo culto
Neste 3º domingo da Quaresma, tempo precioso de penitência e conversão, a liturgia nos apresenta dois temas principais para a nossa reflexão espiritual: culto e mandamento.
No primeiro tema, o evangelista João apresenta Jesus como o templo vivo onde há o culto verdadeiro e que nós, os cristãos, somos membros deste mesmo templo, que é a Igreja. O segundo tema se refere aos mandamentos que Deus apresentou ao povo da antiga aliança para que todos pudessem andar de acordo com a vontade divina.
Vamos refletir inicialmente sobre os mandamentos os quais foram escritos para orientar a vida judaica não como algo de imposição, mas como o cuidado carinhoso de um Deus que ama o seu povo e quer que o viva no amor e na obediência à sua vontade.
Na primeira leitura de hoje vemos que Deus, antes de anunciar os seus mandamentos, faz uma memória da sua ação salvadora para com o povo: “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra, da casa da escravidão.” (Ex 20,2). Trata-se não de um deus desconhecido, mas do Deus que tem uma história na caminhada do seu povo. Os mandamentos da lei de Deus, como aprendemos em nossos primeiros contatos com a catequese, servem para nos orientar na caminhada para a vida de Deus. É para nos livrar dos perigos que nos levam ao inferno.
Os mandamentos são como os sinais de trânsitos que nos orientam sobre os limites da velocidade, o percurso por onde devemos seguir. Desobedecer a um dos sinais poderá nos levar a um desastre automobilístico e nos trazer como consequência a nossa morte e até a de outras pessoas que não teriam nada a ver com o nosso erro. Assim será também a se desobedecermos os mandamentos do Senhor: poderemos nos perder e envolver os irmãos também na nossa perdição.
Ainda sobre os mandamentos, temos de meditar que em Jesus está a plenitude da lei: o amor é a lei maior, porque primeiramente obedecemos por amor e vivendo o amor que Jesus pregou, superaremos todos os mandamentos. Amar o outro não é apenas não matar, não traí-lo, não roubá-lo, não ser falso, mas sim defender a sua vida, lutar pela justiça em seu favor e dedicar todo o nosso sentimento de fraternidade e irmandade quando for necessário.
O evangelho nos apresenta Jesus em Jerusalém quando expulsou os vendedores do templo. Olhemos um pouco o cenário da cidade santa nos dias de celebração da Páscoa: Há peregrinos das diversas cidades da Palestina, e até de fora. São pessoas que durante muito tempo juntaram dinheiro para ir prestar o culto a Deus na sua casa santa. No templo, Deus habita. Ali existem os sacerdotes que aconselham os peregrinos.
Mas naquele lugar também há os aproveitadores que ganharão muito dinheiro explorando os pobres com a venda dos carneiros e bois para o sacrifício. Também as bancas de câmbio que trocavam o dinheiro pelas moedas sagradas para serem colocadas nos cofres do templo e comprar as vítimas para o sacrifício.
É nesse contexto que Jesus, como um judeu fiel à verdadeira religião, age, pois percebe que o lugar onde Deus deve ser adorado em espírito e verdade está sendo profanado pela corrupção e exploração realizado pelas próprias lideranças da religião.
O mais importante é que fiquemos atentos às poucas palavras que Jesus falou: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio.” (Jo 2, 16). A casa de Deus não é um lugar de comércio e exploração. O ambiente do culto ao Senhor Deus que caminhou com o seu povo, é o lugar do sacrifício verdadeiro e da oração que sobe aos céus.
Quando vamos à Igreja devemos abrir o nosso coração para que a Palavra de Cristo, mandamento novo, habite o nosso coração, toque a nossa alma e nos leva a ficarmos cada vez mais perto dele, na caridade, na honestidade, na missão e na entrega da vida ao Reino de Deus.
Quando saímos da igreja podemos também refletir sobre a importância da Palavra de Deus em nossa vida. E nos perguntamos: como nos relacionamos com os bem materiais? Como encaramos o mundo que faz comércio de tudo? E corrupção, não seria uma forma pós-moderna de compararmos com os vendilhões do templo, expulsos por Jesus? Realidade essa que causa desemprego, sofrimento e morte.
A segunda frase de Jesus, a mais importante e falada diante da pergunta dos judeus: “‘que sinal nos mostras para agires assim?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Destruí este santuário, e em três dias eu o levantarei’.” (Jo 2,19-20). Ninguém entendeu as palavras proclamadas por Jesus, inclusive os discípulos que somente depois da ressurreição vieram a ter claro o que foi falado naquele dia por seu mestre.
Formamos a Igreja corpo de Cristo, templo vivo de Deus, onde habita o Espírito Santo. Quando nos dirigimos à Igreja de pedra devemos sempre pensar: nós somos o sentido maior do verdadeiro culto, porque nos reunimos “em Cristo, com Cristo e por Cristo”, livres das explorações e corrupções humanas. Somos templos vivos onde habita Deus. Jesus nos leva a meditarmos que os nossos corpos são sagrados, ou seja, habita o amor de Deus em nós. Habita em nós a palavra da Justiça, da honestidade e da vida plena.
Os discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.(Jo 2,17). O que dizer das inúmeras denominações religiosas no mundo de hoje, voltadas para uma profanação do nome do Senhor e do seu templo? São tantos depoimentos sobre a aquisição bens materiais e do aumento de riqueza individuais atribuídas a uma barganha com Deus. São declarações pronunciadas abertamente como se fosse uma verdade.
Os cristãos são os que seguem a Cristo em espírito e verdade. Não devem pensar como os judeus do tempo de Jesus. Eles esperavam um rei poderoso, prepotente e milagreiro e rico. Por isso a crucificação de Jesus para eles é escândalo, pois Cristo foi um derrotado. Quanto aos gregos, estes por sua vez, não acreditavam em milagres. Eles confiavam somente nos raciocínios e na sabedoria, a razão era tudo para eles (cf. 1Cor 1,23). A morte de Jesus não se enquadra dentro de nenhuma lógica humana: por isso é uma autêntica loucura[1].
Que a nossa oração e o nosso culto sejam autênticos e que a Eucaristia nos fortifique a vivermos como verdadeiro adoradores de Deus. Que sejamos testemunho de amor e de santidade no mundo como verdadeiros templos santos neste tempo quaresmal, quando devemos intensificar a prática da caridade, da oração e do jejum. Amém.