V Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Jr 31, 31-34; Sl 51(50); Hb 5,7-9; Jo 12,20-33

 

⇒ HOMILIA ⇐

Caminhando com Jesus, que é o Verdadeiro Grão de Trigo

Jo 12,20-33

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do V Domingo da Quaresma do Ano B nos motiva a contemplar o caminho da experiência da paixão, morte e Ressurreição do Senhor. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 12,20-33.

E diante da solicitação dos gregos a Felipe e André, Jesus faz o discurso sobre o sentido de sua entrega. “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto.” (Jo 12,24). Ele é o grão que, caído na terra (túmulo), nos trouxe a vida nova; Jesus é a Palavra que, descida do céu (cf. Jo 6,51), nos ensina a nova Lei.

A cruz simboliza o limite do amor de Deus, pois abraça a todos. Um refrigério para nosso tempo, em que há carência de amor e de vida nova. Desde o Antigo Testamento, Deus promete uma Lei para ser gravada, não em pedras, mas no coração. Diz o profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor: imprimirei minha lei (…) em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (31,33). E Jesus cumpre a profecia. A cruz simboliza também a passagem pela realidade da dor do mundo. Depois, Jesus irá ao túmulo para salvar os que estão nas trevas do pecado e os ressuscita como o grão de trigo para a vida nova.

A experiência do Tríduo Pascal nos coloca diante do ministério salvífico de Cristo. E Jesus percorreu todo o caminho em sintonia e obediência ao Pai. A Carta aos Hebreus nos afirma que, mesmo sendo Filho, Jesus aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu (cf. Hb 5,8).

Esta Liturgia, portanto, nos motiva a entender como os primeiros cristãos atraíram tantos mártires para causa de Cristo. A Liturgia também nos convida a entender o que motiva tantos missionários em nossos dias a abraçarem o caminho do Senhor, mesmo com sofrimentos e dores.

Não foi a rigidez das normas dos fariseus que atraiu o povo para Deus, mas o testemunho de amor vivido por Jesus junto aos pobres da sua sociedade e a consumação de seu ministério na cruz até aquela aurora da Ressurreição. Todos os que contemplaram sua entrega na cruz foram atraídos, pois Jesus deu testemunho do que falou. Quando olhamos para cruz podemos entender o profundo sentido do seu amor pela humanidade, “… humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Isso atraiu o mundo para o seu amor.

O que nos atrai ou nos atraiu para Cristo? É importante meditarmos sobre como fomos atraídos por Cristo. Os cristãos somente poderão atrair o outro para o Senhor quando também forem coerentes em suas vidas, no jejum, na oração e na esmola. Isto é, quando a fé, a esperança e a caridade estiverem no coração, além da Lei normativa.

E neste ano da V Campanha da Fraternidade Ecumênica, que traz como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”, quero rezar um trecho da oração desta Campanha: “Deus da vida Deus da vida, da justiça e do amor, nós Te bendizemos pelo dom da fraternidade e por concederes a graça de vivermos a comunhão na diversidade. (…) Torna-nos pessoas sensíveis e disponíveis para servir a toda a humanidade, em especial, aos mais pobres e fragilizados, a fim de que possamos testemunhar o Teu amor redentor e partilhar suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças, caminhando pelas veredas da amorosidade.”

Que esta Liturgia, a qual nos aproxima do ápice do ano litúrgico, nos leve a viver a entrega de Cristo e a sermos mais serenos diante das realidades que fazem parte da vida, pois o cristão carrega as cruzes de sua existência e, ao mesmo tempo, abraça a certeza da vitória que foi dada pelo Ressuscitado.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Encontrar-se com o Senhor

 

De Cristo a lição do amor,
Da vida que é como grão,
Da paz que traz o perdão,
Da missão em grande ardor,
Na entrega verdadeira,
Felicidade não passageira,
Verdade, vida e esplendor.

Palavra, vida e ação,
A nos fazer atraídos,
E com o Reino envolvidos,
No plano da salvação,
Porque gera alegria,
Na vida de cada dia,
Amor, plena doação.

E o grão vida nova a nascer,
Cristo, maltratado na cruz,
Tornou para todos a Luz,
E ao mundo resplandecer,
Fazer brilhar o sumo bem,
E aos discípulos também,
Disse pra não se esconder.

Encontro, vida a se entregar,
Faz novo o que era velho,
Sua voz, o Evangelho,
Vida nova a propagar,
Nos caminhos do existir,
Semente a se expandir,
Pra de novo semear.

Cristo nos veio afirmar,
Santa e Nova Aliança,
Traz ao mundo a esperança,
Para não se apagar,
Seu amor é a Lei Nova,
A cruz foi a sua prova,
Do limite de amar.

Na mesa Nova Aliança,
Palavra que se faz pão,
Para gerar vida e união,
E passar santa herança.
Porque fomos atraídos,
Para ser um povo unido,
No amor, paz e esperança.

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que representa a Glória de Deus, ilumine o seu caminho! ***

 

IV Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Domingo da Alegria, Domingo Lætare, Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 137(136); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Amor Gratuito de Deus por Nós

Jo 3,14-21

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar o amor gratuito de Deus por nós. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 3,14-21.

Com esta Liturgia a Igreja nos lembra da proximidade da Páscoa, o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com grande júbilo, o Aleluia e o Glória em honra ao vencedor da morte, Ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é o motivo de celebrarmos o Domingo Lætare, do latim “Alegra-te!”, pois se aproxima o grande dia.

O evangelista João nos apresenta o encontro com Nicodemos, em que Jesus demonstra o amor ilimitado e gratuito de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os israelitas não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplá-la, que é um animal venenoso em si, mas para voltar o olhar para o alto, onde Deus está. Deus que cura e liberta a todos do mal.

O Evangelho nos convida a olhar para o Crucificado, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por todos nós. Este Deus que entregou seu Filho para que crendo alcancemos a vida eterna (cf. Jo 3,16). Por isso somos chamados a caminhar com dignidade, mesmo em meio as tentações e as cruzes. Deus nos oferece os meios para nos livrar do veneno do pecado que impede a salvação. Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e da salvação e não o da condenação (cf. Jo 3,17).

Deus sempre caminhará conosco, apesar da nossa infidelidade, como podemos ver na Primeira Leitura desta Liturgia. O povo, que teve o Templo destruído, receberá de Deus o grande favor através do rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo, que foi destruído pela infidelidade e desobediência aos Mandamentos.

Muitas vezes, em função da nossa carne fraca, nós reforçamos a imagem de que Deus é vingativo. Nossas faltas e pecados são consequências de nossas escolhas em desobediência aos Mandamentos. Além de nossas falhas, as quedas podem ser provocadas pela ação do inimigo que nos tenta com diversas seduções.

Nesse sentido, o evangelista João nos mostra que a salvação é obtida hoje, no agora de cada um, pois depende das escolhas a cada momento, afirmando que “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18).

A condenação, portanto, virá quando não houver adesão ao projeto do Filho de Deus. Logo, devemos carregar a certeza de que a salvação é gratuita para os que têm fé, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa adesão e arrependimento, mas precisamos ter pressa na decisão para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar.

E neste ano, em que a Campanha da Fraternidade trás como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor” vamos lembrar o que o Papa Francisco nos fala por ocasião do lançamento desta Campanha: “a fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial a vida dos mais vulneráveis”. E no contexto de pandemia, o Papa Francisco ainda fala: “precisamos vencer a pandemia e nós os faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida.”

Que o Espírito Santo nos guie neste itinerário para a Páscoa, para que, ao chegarmos à festa do Ressuscitado, tomemos posse da alegria do Cristo que venceu a morte para nós. Ergamos nossa cabeça em direção a Deus, que nos liberta e nos salva. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade.

 

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⇒ POESIA ⇐

Um Amor que se Derrama

 

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para a nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fiéis companheiros.

 

***

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o enviado do Pai para salvar o mundo, ilumine o seu caminho! ***

 

III Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Ex 20,1-17; Sl 19(18); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Novo Mandamento e o Novo Culto

Jo 2,12-25

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do III Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar o novo culto e o novo mandamento. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 2,12-25.

Sobre o novo culto, o evangelista João nos apresenta Jesus como o templo vivo onde há o culto verdadeiro, a Igreja. Já o novo mandamento, o ponto de partida é a Antiga Aliança, como percurso para que todos pudessem andar de acordo com a vontade divina, não como imposição, mas como o cuidado carinhoso de um Deus que ama o seu povo e quer que viva no amor e na obediência à sua vontade.

Refletindo sobre o novo mandamento, vemos na primeira leitura que Deus faz memória da sua ação salvadora que libertou o povo da casa da escravidão (cf. Ex 20,2) e que tem uma história na caminhada do seu povo.

Os mandamentos são como os sinais de trânsitos que orientam sobre o limite da velocidade e o percurso. A desobedece-los poderemos causar um desastre e até a morte dos envolvidos e de inocentes. No caso dos mandamentos, desobedece-los poderá significar a perdição da alma. É Jesus quem nos apresenta a Lei maior: o amor. O amor que se direciona ao outro. E amar o outro não é apenas não matar, não trair, não roubar, não ser falso, mas sim, também, defender a sua vida, lutar pela justiça em seu favor.

O Evangelista nos apresenta Jesus expulsando os vendedores do Templo. Haviam, em função da celebração da Páscoa, muitos peregrinos de toda a Israel e também do estrangeiro. São pessoas que durante muito tempo juntaram dinheiro para ir prestar o culto a Deus. No Templo, Deus habita. Ali existem os sacerdotes que aconselham os peregrinos. Mas também há os que ganham muito dinheiro explorando os pobres com a venda dos animais para o sacrifício e com o câmbio das moedas oficiais para serem colocadas nos cofres do Templo e comprar as vítimas para o sacrifício.

É nesse contexto que Jesus percebe que o lugar onde Deus deve ser adorado em espírito e verdade está sendo profanado pela corrupção e exploração realizada pelas próprias lideranças da religião. A casa de Deus não é um lugar de comércio e exploração (cf. Jo 2,16). O ambiente do culto ao Senhor Deus que caminhou com o seu povo, é o lugar do sacrifício verdadeiro e da oração que sobe aos céus.

Quando vamos à Missa devemos abrir o nosso coração para o mandamento novo e com isso toque a nossa alma para que fiquemos cada vez mais perto dele. E que, após a Missa, possamos ter uma relação sadia com os bem materiais, sabendo que o desemprego e o consequente sofrimento são formas contemporâneas de ação dos “vendilhões”.

A segunda frase de Jesus, a mais importante e falada diante da pergunta dos judeus: “ ‘que sinal nos mostras para agires assim?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Destruí este santuário, e em três dias eu o levantarei’.” (Jo 2,19-20). Ninguém entendeu tais palavras. Inclusive os discípulos só entenderam após a Ressurreição.

Nós formamos a Igreja, Corpo Místico de Cristo, Templo vivo de Deus, onde habita o Espírito Santo. Quando nos dirigimos à Igreja de pedra devemos sempre pensar: nós somos o sentido maior do verdadeiro culto, porque nos reunimos “em Cristo, com Cristo e por Cristo”, livres das explorações e corrupções humanas.

Os cristãos são os que seguem a Cristo em espírito e verdade. Não devem pensar como os judeus do tempo de Jesus. Eles esperavam um rei poderoso, prepotente, milagreiro e rico. Por isso a crucificação de Jesus para eles é escândalo. Quanto aos gregos, que confiavam na sabedoria humana, a razão era tudo para eles (cf. 1Cor 1,23) e a morte de Jesus não se enquadra dentro de nenhuma lógica humana: por isso é uma autêntica loucura[1].

Que a nossa oração e o nosso culto sejam autênticos e que a Eucaristia nos fortifique a vivermos como verdadeiro adoradores de Deus. E neste ano, em que a Campanha da Fraternidade nos motiva sobre a paz, o diálogo e o compromisso de amor, sejamos testemunhas do amor, do diálogo e do acolhimento ao irmão diferente. E vivamos a santidade no mundo como verdadeiros templos santos neste tempo quaresmal, quando devemos intensificar a prática da caridade, da oração e do jejum.

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[1] Cf. ARMALLINI, Fernando. Celebrando a palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria.

 

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⇒ POESIA ⇐

Nós, Templos Santos

 

Somos templos do Senhor,
Moradas do divino amor,
Da verdade e sinceridade,
Sem nada de opressão,
Morada do amor e do perdão,
Templo da santa bondade.

Somos templos do Senhor,
Na vivência do temor,
Com um culto verdadeiro,
Sem a tal da falsidade,
Mas com a pura verdade,
E uma entrega por inteiro.

Somos templos do Senhor,
Vivendo o fiel ardor,
Pelos santos mandamentos,
Como setas definidas,
Para proteger a vida,
Livre de tantos tormentos.

Somos templos do Senhor,
E da verdade esplendor,
Igreja, Corpo Vivo e Santo,
Para firmes encontrar,
O alimento do altar,
Que alivia o nosso pranto.

Somos templos do Senhor,
Com a justiça a favor,
Da verdade que liberta.
Na missão do sumo bem,
Pois, o Espírito nos mantém,
Com a paz do Redentor.

Templos da Eucaristia,
Nós, Igreja de todo o dia,
Que se nutre da união,
Festa da vida e do amor,
Que fortifica o ardor,
No encontro e comunhão.

 

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**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, verdadeiro culto e portador do novo mandamento, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 116(114-115); Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Subamos ao Monte com o Senhor

Mc 9,2-10

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar Jesus que sobe ao monte com Pedro, Tiago e João e lá se transfigura diante deles. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 9,2-10.

A Transfiguração foi uma forma de antecipar aos seus discípulos a Ressurreição. Na passagem deste Evangelho aparecem dois personagens da Antiga Aliança: Moisés, representando a Lei, recurso para que Israel viva a aliança verdadeira com Deus; e Elias, representando os profetas, os anunciadores da vontade de Deus e da vinda do messias. A experiência leva os discípulos a quererem ficar ali no monte, num lugar de conforto. Eles cultuam a divindade de Jesus, mas ainda não chegou a hora.

Outro momento importante desta narração é a voz de Deus na nuvem que diz para ouvir o seu Filho amado, que veio trazer a Boa-Nova. O Pai se dirige aos discípulos, a todo o povo e também a nós hoje: “Escutai-O”. Escutar a sua mensagem de salvação que é destinada a todos os que são obedientes ao mandamento do amor e da fraternidade. Depois Jesus convida os discípulos a descerem do monte e manterem segredo sobre aquela experiência da Transfiguração, pois ainda não é o tempo de manifestar a sua divindade a todos.

Na primeira leitura desta Liturgia nós encontramos Abraão e Isaac também no monte. Motivado pela sua fé e pelo costume da religião cananeia de sacrificar o primogênito Abraão se propõe a ofertar a vida de seu filho, mas Deus impede. A fé de Abraão possibilitará a benção de Deus e uma descendência imensa como os grãos de areia do mar. A fé de Abraão também nos ensina sobre a obediência sem limites para com Deus, a ponto de sacrificar em nome de Deus o que ele mais amava: seu filho, gerado já na velhice e na esterilidade de Sara.

Assim, percebemos que no sacrifício de Abraão há uma prefiguração do de Jesus, pois é Isaac quem carrega a lenha para a sua própria oblação. A transfiguração e a crucificação também se dão num monte, que é a cidade de Jerusalém. No entanto, em Jesus o sacrifício é total e perfeito.

São Paulo nos lembra que o Filho de Deus, que ressuscitou e intercede por nós (cf. Rm 8,32.34), não foi poupado pelo seu Pai e por isso se entregou como garantia da nossa salvação. O nosso Deus se esvaziou da sua condição por amor aos homens, numa entrega voluntária e dolorosa.

Nos dias de hoje estamos sempre ocupados e tentados a se afastar da oração silenciosa, que nos permite escutar Deus e a nós mesmos. É a partir da aceitação das nossas limitações que tornamos capazes de mudar nossa vida em direção a Cristo.

Na Liturgia somos chamados a queremos subir para fazermos a experiência do encontro o Transfigurado, que nos apresenta a sua divindade e nos ensina a descermos para vivermos a missão. Devemos querer também ter a mesma atitude de Abraão, que chegou a oferecer, em sacrifício, a vida de Isaac, mas foi impedido pela interferência de Deus que viu a sua fé sem limites.

A cada Eucaristia celebrada somo chamados a reviver o nosso encontro com o Transfigurado e somos enviados também para transfigurar os que estão sofrendo e sem a oportunidade da reconciliação com Deus.

Somos também convidados a transfigurarmos no diálogo e no compromisso de amor na nossa vivência quaresmal, como nos motiva a Campanha da Fraternidade 2021.

Que o Deus de Abraão e de Isaac e salvador de todos, nos guie os nossos passos de fé e de obediência. E que o Senhor nos perdoe pelas tantas vezes que fomos desobedientes e medrosos. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para vivermos a humildade em nossas misérias e a coragem da mudança de vida.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Transfigurar-nos com Jesus

 

Subamos ao monte do Senhor
Para ver a sua glória,
Para viver a intimidade,
Caminhar na nossa história,
Caminhar na humildade,
Buscarmos a santidade,
E não perder a memória.

Subamos ao monte do Senhor,
Para vivermos a nossa esperança,
Fortalecer nossa fé,
Na entrega e confiança.
Como um discípulo é.
Vivendo a sua fé,
Na paz e muita bonança.

Desçamos do monte do Senhor,
Para continuar a missão,
Voltando a realidade,
Pisando os pés no chão,
Precisamos continuar,
O Evangelho pregar,
Para o Reino e a salvação.

Desçamos do santo monte,
Para com Jesus viver,
Num corpo ressuscitado,
E dele muito aprender,
Seu amor sempre abrasado,
E o céu sempre esperado,
E para sempre viver.

Vamos para a mesa Santa,
De pura fraternidade,
Ao Templo da alegria,
Do amor e da irmandade,
Da escuta e do perdão,
Da paz e da comunhão,
Da plena felicidade.

 

***

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

I Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Gn 9,8-15; Sl 25(24); 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo nos Ensina a Vencer as Tentações

Mc 1,12-15

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do I Domingo da Quaresma, do Ano B, nos motiva a contemplar Jesus conduzido pelo Espírito ao deserto para viver a experiência do jejum e da oração a fim de nos ensinar como vencer as tentações. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 1,12-15.

O evangelista Marcos nos apresenta Jesus que vai ao deserto, logo após o seu batismo, para se preparar para a sua missão: pregar o Reino de Deus e trazer a salvação a todos.

Após retornar do deserto, Jesus vai para a Galileia pregando o Evangelho. A sua mensagem principal é um alerta e, ao mesmo tempo, um convite: o tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo (cf. Mc 1,15). Para dizer: o tempo da pregação de João já passou, agora chegou o Messias do qual ele pregou ao povo.

A segunda mensagem é exatamente um apelo ao povo: convertei-vos e crede no evangelho (cf. Mc 1,15). A mudança de vida e fé na Boa-Nova são requisitos concretos para a acolhida e a realização do Reino de Deus.

Na Quarta-Feira de Cinzas a Liturgia nos apresentou as bases para a vivência quaresmal e os exercícios da esmola, do jejum e da oração, mais que penitenciais, devem ser vividos rasgando o coração e não as vestes, como profetizou Joel (cf. Jl 2,13), na primeira leitura da Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas. Ou seja, é a partir de uma atitude interior que devemos viver este retiro de quarenta dias em nossa Igreja.

Na primeira leitura desta Liturgia, Deus se dirige a Noé e a seus filhos para estabelecer uma aliança com eles e inclusive com toda a criação de animais, prometendo não provocar mais dilúvio (cf. Gn 9,9.11). E o sinal desta promessa, desta aliança, será o arco nas nuvens o qual representará este pacto do céu com a terra.

A mudança de vida sempre nos ajudará a evitar os diversos dilúvios que produzimos com a violência. Olhando o nosso mundo, são tantos os desastres construídos por nós em função de interesses financeiros que produzem desemprego, pobreza e morte.

A falta de cuidado com a criação de Deus nos faz devastadores da natureza e nos colocam em descaso com a saúde do nosso planeta, nossa “casa comum”. Para isso, precisamos mudar as nossas atitudes e somente a conversão nos afastará dos diversos dilúvios.

Deus quer sempre reconduzir a humanidade para o bem, ele destrói o mal e por isso estará em busca de conduzir a todos nos seus caminhos. Portanto a ação de Deus é sempre uma busca de reconstruir o coração do homem para que siga a sua aliança e carregue no seu coração os preceitos de amor e fidelidade.

O apóstolo Pedro, na segunda leitura, diz que o dilúvio representa o nosso batismo, pois assim como do dilúvio surge uma nova humanidade, no batismo somos renovados para uma vida nova em Cristo. Porém não significa que já somos vitoriosos, mas que iremos também enfrentar as tentações como Jesus enfrentou.

Na vida sempre teremos provações. Seremos tentados, mas com Cristo venceremos, pois ele nos ensinou como vencer. Não somente no deserto ele foi tentado e perseguido, mas durante toda a sua missão. Por que a sua pregação causou mudanças nas estruturas do velho homem. Os poderes humanos foram abalados pela Palavra que se fez carne.

E neste ano a Campanha da Fraternidade nos apresenta o tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor” e o lema, tirado da Carta de São Paulo aos Efésios, “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez unidade. Que sejamos cristãos do diálogo, evitando as diversas divisões e os julgamentos contra os irmãos, pois não somos juízes um dos outros e sim filhos do mesmo Pai e pertencentes ao mesmo rebanho do Senhor.

Que o Espírito Santo nos conduza pelos desertos da vida e que aprendamos de Jesus como vencer as tentações a fim de fortalecer nossa conversão aos caminhos do Evangelho e anunciarmos o Reino com o testemunho de nossas vidas e com anúncio verdadeiro da palavra do Senhor.

 

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⇒ POESIA ⇐

Os Desertos da Vida

 

Por onde caminhamos,
Inseridos na vida do Senhor,
Não estamos livres das tentações,
Que nos traz medo e dor,
Mas Cristo no dá forças e nos ensina
E grava em nossos corações,
Como vencer o tentador.

Pelo nosso Santo Batismo,
Como Jesus, quando batizado,
E conduzidos pelo Espírito Santo,
Somos todos também tentados,
Nas diversidades da vida terrena,
Quando marcados pelo pranto,
Com Cristo somos justificados.

E do deserto nós descemos,
Para no mundo anunciar,
Vivendo como discípulos em missão,
Com o testemunho e também a pregar,
Nos caminhos escuros da humanidade,
Semeando a paz e comunhão,
Com fé e sem medo de tropeçar.

Somos o povo de Deus peregrinando,
Pelo mundo de tantas diversidades,
Reunimo-nos para o culto ao Senhor,
Para fortalecer nossas capacidades,
Que vem da fonte do puro amor,
Comungamos do alimento eterno e santo,
Que nos conduz a eternidade.

 

***

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o novo Adão que nos trouxe o dom gratuito e superabundante da justiça, ilumine o seu caminho! ***

 

Quarta-Feira de Cinzas

Dia de jejum e abstinência

Campanha da Fraternidade Ecumênica: “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Jl 2,12-18; Sl 51(50); 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cinzas, Esmola, Oração e Jejum

Mt 6,1-6.16-18

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Quarta-Feira de Cinzas, neste Ano de São José (0/3), nos motiva a iniciar um itinerário espiritual tendo como base a esmola, a oração e o jejum. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 6,1-6.16-18.

Caminhando com o Senhor entramos no Ciclo Pascal, que traz inicialmente a Quaresma como tempo de preparação para a festa mais importante do ano litúrgico: a Páscoa do Senhor, o centro da caminhada e da experiência litúrgica.

Já iniciamos esta caminhada recebendo as cinzas em nossas cabeças. A atitude deve ser de simplicidade e de reconhecimento de que o nosso corpo é perecível e que necessita da vida infinita em Cristo Senhor.

A fé, a esperança e a caridade são virtudes que nos sustentarão neste tempo de penitência aos pés do Senhor. Com Ele queremos caminhar passando pelo calvário, pela Cruz e acordar na manhã da Ressurreição com um coração renovado e alegre, para cantar o aleluia vibrante e cheio de convicção no Ressuscitado.

O evangelista Mateus nos apresenta Jesus orientando os seus discípulos para terem cuidado com as ações diante das pessoas, aquelas realizadas somente para alimentar as nossas aparências. Há algo que deve brotar do coração para que seja agradável a Deus. Por isso as práticas da esmola, da oração e do jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltado para Deus.

A esmola deve encontrar o sentido da caridade e não para ser divulgada. Muitas vezes a nossa presença, com o acolhimento e a misericórdia, é concretização da esmola que o Senhor nos pede a realizar.

A prática de oração deve ser mais interior e com um coração que ouça as súplicas humanas. Com esta postura podemos também ouvir Deus que fala na nossa vida e nos pede que vivamos a mansidão nas relações humanas, com os irmãos e com o próximo.

Nossa experiência espiritual deve ser vivida, sobretudo, nas missas, deixando que a Palavra nos ajude em nossa conversão, num encontro que alimente nossas esperanças e nos possibilite um verdadeiro encontro com Cristo.

E o jejum não deve estar apenas dentro do nosso intimismo, mas na intenção, no propósito. Também devemos ter em consideração os que têm fome, qualquer fome. Como é bom e bonito deixar de consumir certos alimentos e depois oferecer o que juntou, com as abstinências, aos necessitados.

O importante é que tais práticas espirituais tenham como fruto a nossa conversão, a busca permanente pela santidade. Também é um tempo próprio para reavaliarmos nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade (a esmola), na prática da fé (a oração) e de esperança no Reino (jejum). Esta experiência deve nos ajudar a sermos melhores pais de família, melhores filhos, melhores consagrados e ordenados, melhores evangelizadores a serviço do Reino de Deus.

Todo esse caminho requer esforço e luta contra as tentações materiais e espirituais. É importante estarmos conscientes que temos de sair da zona de conforto para realizar este exercício de santidade.

Lembremos do que diz o profeta Joel: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. O apóstolo Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho.

Peçamos ao Espírito Santo a perseverança para que possamos seguir em frente com os nossos propósitos quaresmais e que ao chegarmos à Páscoa tenhamos vencidos as tentações e então possamos dizer: como cristão quero continuar nesta busca constante de cada dia, ser mais santo e mais comprometido com o Evangelho.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Caminhos que Levam a Deus

Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Tendo caridade,
Na simplicidade,
Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.

Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor,
Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.

Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto,
Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.

Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado,
Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.

Quero, com o Senhor,
Viver seu amor,
E sempre encontrar,
Para se alimentar,
Na mesa da alegria,
Encontrar a harmonia,
No alimento eterno,
Que nos faz fraternos,
A Eucaristia.

***

 

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, fonte e meta da conversão, ilumine o seu caminho! ***

 

DOMINGO DE RAMOS

COLETA NACIONAL DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Mc 11,1-10 (Procissão); Mc 14,1-15,47 (Paixão)

POESIA

CAMINHEMOS A JERUSALÉM

Caminhemos à cidade santa,
Com Jesus o Santo Peregrino,
Saudado por nossos aplausos e hinos,
Ele é o caminheiro da santa Paz,
Que caminha com total liberdade,
E que em seus seguidores livres nos faz.

Caminhemos à nossa Jerusalém,
Nos encontros de dores e alegrias,
Nas trevas da vida mesmo à luz do dia
Mas a voz de Deus sempre a escutar,
Esta palavra que traz a esperança,
Que nos leva ao culto verdadeiro celebrar.

Caminhemos com o Senhor a cada dia,
Em nossa vida e em nossa caminhada,
Deixando que em nós ele faça morada
E a sua justiça sempre seguindo,
Vivendo a verdade do evangelho,
E pelo o amor dele se consumindo.

Façamos aclamações na sinceridade
Com os ramos verdes da esperança,
Olhando seu amor que não se cansa,
Porque ele caminha carregado de coragem,
Pois o medo nele não pode existir,
Porque o amor é a sua viva mensagem.

Cristo que nos ensina a obediência,
Ao Pai do céu ele se entregou,
Pronto realizar o que pregou,
Chegar à cruz como consequência,
Ele foi livre dos reinos terrenos,
Seu silêncio venceu a prepotência

Caminhemos ao encontro da nossa união,
Que se dá no alimento da nossa alma,
E também na carne que se nutre e calma,
Buscando o caminho da serenidade,
Porque a paz nasce do encontro,
Pelo amor, braços abertos para a caridade.

 

HOMILIA

O louvor dos homens e a Paixão de Cristo

Irmãos e irmãs, a celebração do Domingo de Ramos insere-nos no clima e sentido espiritual da Semana Santa. Nesta liturgia contemplamos Cristo que caminha livre para Jerusalém onde irá viver a sua paixão e morte. Lá nos dará como presente a vida nova, pois vencerá a morte para sempre e ressuscitará para também nos dá a ressurreição.

Na caminhada de Jesus para Jerusalém também vemos a sua simplicidade e a sua entrega como rei diferente. Montará num jumentinho emprestado para nos mostrar que o seu reinado sobre o mundo é marcado pelo amor, simplicidade e pela entrega total para a nossa salvação (cf. Mc 11, 3).

Em procissão, vamos também nós, com ramos verdes, cantando Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. A nossa vida também é marcada pela caminhada rumo à cidade santa, a cidade celeste, em procissão para a casa da Palavra e do Pão, a qual nos orienta, nos alimenta e nos faz crescer como irmãos e irmãs.

Nesta liturgia, já reviveremos a paixão e morte de Jesus. Na narração do evangelista Marcos, encontramos com um Jesus silencioso, que não fala nada e se entrega totalmente à cruz como consequência de sua pregação entre os homens em função de sua missão redentora. Caminhará para a sentença injusta como um cordeiro ao sacrifício. Isso nos ensina sobre a nossa missão que muitas vezes precisa de entrega e silêncio para podermos viver fielmente.

O silencio só será pecaminoso quando nos calarmos diante das injustiças e das ameaças à vida. Quando somos omissos por não promover a paz ou quando calamos por medo de anunciar a beleza da vida. Quando deixamos de promover o amor que traz a harmonia entre os homens e mulheres, na sua relação com o mundo, com o outro, consigo mesmo e com Deus.

Em nossa caminhada também encontramos as muitas cruzes e mortes, como Jesus encontrou na sua missão. Mas também encontramos a vitória, pois ressuscitamos com ele, nos levantamos e seguimos em frente. Deixamos que muitas mortes aconteçam em nossa existência para que a vida nova possa fluir e trazer um novo sentido.

Somos ainda alimentados pela fé na ressurreição e por isso caminhamos para vida eterna que é a nossa meta principal como foi dos discípulos seus. Cristo vive entre nós e nos dá o seu Espírito para vivermos no mundo, seguindo os seus passos na construção do seu Reino de amor e paz.

A celebração de domingo de Ramos nos insere na Semana Santa, nos dando o clima e o tom de todo o percurso a ser vivido nos dias seguintes. O roteiro homilético da CNBB[1] nos lembra que nesta semana viveremos cinco movimentos os quais marcam não somente este tempo, mas também toda a nossa caminhada de fé, dentro do sentido de um itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão do domingo de Ramos usando a cruz à frente como sinal da paixão e da vitória de Cristo sobre a morte. Ele que nos guia no nosso caminhar de discípulos missionários seus. Como cristão, na nossa peregrinação terrestre, vivemos o louvor e o sofrimento, mas continuamos a caminhada, pois estamos com o Senhor.

O segundo movimento acontece concretamente na sexta-feira santa, quando caminhamos para beijar a cruz. Ela é o sinal da glória de Cristo, representação do amor máxima de Jesus por nós, a explicação do limite o qual Jesus chegou para nos apresentar a face misericordiosa de Deus Pai pelos homens. Quando desprezamos esta dimensão espiritual da cruz, fugimos da nossa missão e nos desanimamos. A Cruz também é sinal de misericórdia e vitória.

No terceiro movimento, podemos dizer que é o mais forte e marcante para os cristãos, pois é o nosso caminhar atrás do círio Pascal, a luz verdadeira que brilha nas trevas. A noite da morte agora já não existe mais. Cristo ressuscitado agora nos guia e nos ilumina com sua luz. Caminhamos sem medo da escuridão das dores, das angústias e das tristezas, pois agora somos vencedores marcados pela alegria, coragem e paz no mundo. Cristo está vivo!

O quarto movimento diz respeito à nossa procissão rumo à mesa cujo o alimento é o corpo do ressuscitado, o seu sangue nos mata a sede e nos sacia para continuarmos firmes, marcados pela esperança num mundo novo cheio de fraternidade e vida nova para todos.

E no quinto e último movimento, somos enviados em missão para proclamarmos que Cristo venceu a morte. Mas ele está conosco animando-nos com o seu Espírito. Lá fora da Igreja, no mundo, daremos testemunho de verdadeiros seguidores do Cristo. Seremos os continuadores de sua mensagem salvífica. Seremos presenças vivas entre os homens para mostrarmos a face do Senhor que é amor e a compaixão que deseja que todos sejamos irmãos.

Portanto, vivamos a semana das semanas, num espírito de oração, de penitência e jejum. Fiquemos atentos aos passos do Senhor na sua paixão, morte e ressurreição, pois é nesta verdade e neste acontecimento que está fundamentada a nossa fé. Amém.

[1] Roteiros homiléticos da quaresma, março e abril, ano A. 2014.

V DOMINGO DA QUARESMA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jr 31, 31-34; Sl 50(51); Hb 5,7-9; Jo 12,30-33

POESIA

ENCONTRAR-SE COM O SENHOR

De Cristo a lição do amor,
Da vida que é como grão,
Da paz que traz o perdão,
Da missão em grande ardor,
Na entrega verdadeira,
Felicidade não passageira,
Verdade, vida e esplendor.

Palavra, vida e ação,
A nos fazer atraídos,
E com o Reino envolvidos,
No plano da salvação,
Porque gera alegria,
Na vida de cada dia,
Amor, plena doação.

E o grão vida nova a nascer,
Cristo, pendente na cruz,
Tornou para todos a luz,
E ao mundo resplandecer,
Fez brilhar o sumo bem,
E aos discípulos também,
Disse pra não se esconder.

Encontro, vida a se entregar,
Faz novo o que era velho,
Sua voz, o evangelho,
Vida nova a propagar,
Nos caminhos do existir,
Semente a se expandir,
Pra de novo semear.

Cristo nos veio afirmar,
Santa e nova aliança,
Traz ao mundo a esperança,
Para não se apagar,
Seu amor é a lei nova,
A cruz foi a sua prova,
Do limite de amar.

Na mesa nova aliança,
Palavra que se faz pão,
Para gerar vida e união,
E passar santa herança.
Porque fomos atraídos,
Para ser um povo unido,
No amor, paz e esperança.

 

HOMILIA

Caminhando com Jesus, que é o verdadeiro grão de trigo

A liturgia deste 5º Domingo da Quaresma nos encaminha para a experiência da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Diante da solicitação dos gregos a Felipe e André, Jesus faz o discurso sobre o sentido de sua entrega. … “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto.” (Jo 12, 24).

Cristo é o grão que, caído na terra (túmulo), nos trouxe a vida nova. Ele é a palavra que vem do céu para ensinar o caminho do bem e a nova lei, que é amor da entrega por inteiro ao projeto de salvação que o Pai lhe confiou. Seu testemunho além das suas palavras, vem ensinar que a atração se dá quando o seu amor está escrito no coração do homem.

A cruz é o grande ensinamento que diz até onde vai o amor de Deus. Braços abertos para abraçar o mundo. Este mundo carente de amor e de vida nova. Agora a lei de Deus, o amor, não será mais gravada em pedra, mas no coração humano, assim como nos fala o profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor: imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (31,33). O cumprimento desta profecia de Jeremias se realiza em Jesus Cristo.

Cristo não fica na cruz, pois a cruz apenas significa a passagem pela realidade da dor do mundo. Após a cruz, Jesus irá ao túmulo para salvar os que estão nas trevas do pecado e os ressuscita (renasce) como o grão de trigo para a vida nova. Vida transformada e não mais limitada pelo espaço e tempo cronológico.

A experiência litúrgica e espiritual do Tríduo Pascal (quinta, sexta e sábado) nos dá o conjunto daquilo que foi o ministério salvífico de Cristo no meio de nós. E todo este caminho de Jesus, foi realizado em obediência e sintonia com o Pai do céu. A carta aos hebreus vem nos afirmar que mesmo sendo Filho, Jesus aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu (cf. Hb 5,8).

Diante desta liturgia podemos nos perguntar: Como o grupo dos primeiros cristãos atraiu tantos seguidores a entregarem seu corpo ao martírio por causa de Cristo? O que motiva tantos missionários e missionárias a se apaixonarem pelo caminho de Cristo, mesmo que venha o sofrimento e suas dores?

São Pedro nos Atos dos apóstolos nos dará a resposta: “Por toda parte, ela andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominado pelo mal; pois Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na região dos judeus e em Jerusalém (At 10,38-39).

Portanto não foi a rigidez da lei dos fariseus que atraiu o povo para Deus, mas o testemunho de amor vivido por Jesus junto aos pobres, doentes e descriminados da sua sociedade. E a consumação de seu ministério que passou pela cruz e culminou naquela madrugada da ressurreição. No alto da cruz todos que contemplaram esta realidade, foram atraídos pelo seu amor e pela entrega total.

Ele deu testemunho e viveu coerentemente tudo o que falou. Ele é a Palavra feita carne que veio nos ensinar o caminho do amor rumo ao céu. Quando olhamos para cruz podemos entender o profundo sentido do amor de Cristo, pela humanidade. … “na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Isso atraiu o mundo para o seu amor.

O que nos atrai ou nos atraiu para Cristo? É importante nos perguntar como se dá a nossa experiência de amor a Cristo, como fomos atraídos por ele. É a partir de uma vida atraída pelo amor de Cristo que poderemos atrai também a outros. Os cristãos somente poderão atrai o outro para o Senhor quando também forem coerentes em suas vidas e quando a caridade e a solidariedade estiverem acima das normas que julgam demais o outro.

Que esta liturgia, a qual nos aproxima da festa mais importante do ano litúrgico, nos ajude a vivermos a entrega de Cristo e a vivência da lei nova do seu amor. Que a experiência na celebração da Paixão, Morte e ressurreição venha nos ajudar a vivermos de forma mais serena as realidades que fazem parte da vida. O cristão carrega as cruzes de sua existência, mas ao mesmo tempo abraça a certeza da vitória de sua vida em Cristo ressuscitado. Amém.

IV DOMINGO DA QUARESMA (LAETERE)

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

DOMINGO DA ALEGRIA (Lætare)

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

POESIA

UM AMOR QUE SE DERRAMA

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para ver nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fieis companheiros.

 

HOMILIA

O amor gratuito de Deus por nós

A liturgia deste quarto domingo da Quaresma nos apresenta uma reflexão sobre o amor de Deus e a resposta do homem a este amor. Também a Igreja lembra que pela proximidade a que estamos da Páscoa celebramos a alegria, pois se aproxima o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com voz forte e grande júbilo, o aleluia e o glória em honra a Jesus vencedor da morte, vitorioso para nos dá a vitória, ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é motivo de celebrarmos o Domingo da Alegria (Lætare): se aproxima, portanto o grande dia!

O evangelho de São João nos traz o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus, num monólogo de grande profundidade, nos mostra o sentido e o ilimitado amor de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os membros de Israel não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplar este animal venenoso em si, mas para que as pessoas voltassem o olhar para o alto, onde está o Deus que cura e liberta a todos do mal (cf. Jo 3,14).

Em Jesus também somos conduzidos a olhar para ele erguido na Cruz, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por nós. “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.” (Jo 3,16). O cristão é chamado a caminhar com a cabeça erguida, olhando para o alto, mesmo em meio as cruzes de sua vida, porque Deus é o amor ilimitado. Ele quer livrar a todos do veneno do pecado que impede de encontrarmos a salvação.

“… Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e não da condenação. A condenação é consequência da falta de amor. O mundo precisa do amor que tira o homem do pecado e da realidade onde há a ausência deste bem.

Deus sempre caminhará conosco mesmo quando somos infiéis ao seu projeto, como podemos ver na primeira leitura. O povo que teve seu templo destruído receberá de Deus o grande favor através do Rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo. A destruição anterior foi fruto da desobediência e da violência dos que não seguiam os mandamentos de Deus.

Muitas vezes temos uma concepção de que Deus castiga e que ele é vingativo. O que acontece é que olhamos Deus e o pensamos com nossas concepções humanas limitadas. Nossos desastres, nossas dores e nossos pecados são consequências de escolhas que fazemos em desobediência aos preceitos do Senhor. Também, muitos desastres em nossas vidas vêm do inimigo presente que nos seduz e por isso somos influenciados ou atingidos por tais pecados.

Voltando ao evangelho desta liturgia, podemos ver no texto de São João: “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18). Ou seja, para o evangelista João a salvação é hoje, é agora. Depende da minha opção a cada momento de minha existência.

Um pré-requisito é que tenhamos fé e estejamos decididos. A condenação, portanto, virá quando não houver fé no Filho de Deus. Assim podemos nos perguntar: quais são as minhas opções? O que vivo ou acredito está de acordo com os caminhos do Senhor? Qual o nível da minha fé?

Portanto, devemos carregar uma certeza: a salvação de Deus é gratuita, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa opção e arrependimento, mas precisamos logo nos decidir para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar. Pelo batismo, somos sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13), pois mesmo sabendo que é por “graça que somos salvos” (Ef 2,5b), precisamos comunicar ao mundo que o nosso Deus é amor misericordioso, e ele quer que sejamos misericordiosos também com os nossos irmãos.

Que o Espírito Santo de amor possa nos guiar e nos iluminar neste itinerário para a Páscoa, para que ao chegarmos à festa do Ressuscitado possamos nos alegrar verdadeiramente pela vida que venceu a morte e que é vitória também para nós. Ergamos nossa cabeça para a direção de onde está Deus, nele está a nossa da libertação e nossa salvação. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade. Amém.

III Domingo da Quaresma

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25

POESIA

NÓS, TEMPLOS SANTOS

Somos templos do Senhor,
Moradas do divino amor,
Da verdade e sinceridade,
Sem nada de opressão,
Morada do amor e o perdão,
Templo da santa bondade.

Somos templos do Senhor,
Na vivência do temor,
Com um culto verdadeiro,
Sem a tal da falsidade,
Mas com a pura verdade,
E uma entrega por inteiro.

Somos templos do Senhor,
Vivendo o fiel ardor,
Pelos santos mandamentos,
Como setas definidas,
Para proteger a vida,
Livre de tanto tormentos.

Somos templos do Senhor,
E da verdade esplendor,
Igreja, corpo vivo e santo,
Para firmes encontrar,
O alimento do altar,
Que alivia o nosso pranto.

Somos templos do Senhor,
Com a justiça a favor,
Da verdade que liberta.
Na missão do sumo bem,
Pois, o Espírito nos mantem,
Com a paz do Redentor.

Templos da Eucaristia,
Nós, Igreja de todo o dia,
Que se nutre da união,
Festa da vida e do amor,
Que fortifica o ardor,
No encontro e comunhão.

 

 

HOMILIA

O novo mandamento e o novo culto

Neste 3º domingo da Quaresma, tempo precioso de penitência e conversão, a liturgia nos apresenta dois temas principais para a nossa reflexão espiritual: culto e mandamento.

No primeiro tema, o evangelista João apresenta Jesus como o templo vivo onde há o culto verdadeiro e que nós, os cristãos, somos membros deste mesmo templo, que é a Igreja. O segundo tema se refere aos mandamentos que Deus apresentou ao povo da antiga aliança para que todos pudessem andar de acordo com a vontade divina.

Vamos refletir inicialmente sobre os mandamentos os quais foram escritos para orientar a vida judaica não como algo de imposição, mas como o cuidado carinhoso de um Deus que ama o seu povo e quer que o viva no amor e na obediência à sua vontade.

Na primeira leitura de hoje vemos que Deus, antes de anunciar os seus mandamentos, faz uma memória da sua ação salvadora para com o povo: “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra, da casa da escravidão.” (Ex 20,2). Trata-se não de um deus desconhecido, mas do Deus que tem uma história na caminhada do seu povo. Os mandamentos da lei de Deus, como aprendemos em nossos primeiros contatos com a catequese, servem para nos orientar na caminhada para a vida de Deus. É para nos livrar dos perigos que nos levam ao inferno.

Os mandamentos são como os sinais de trânsitos que nos orientam sobre os limites da velocidade, o percurso por onde devemos seguir. Desobedecer a um dos sinais poderá nos levar a um desastre automobilístico e nos trazer como consequência a nossa morte e até a de outras pessoas que não teriam nada a ver com o nosso erro. Assim será também a se desobedecermos os mandamentos do Senhor: poderemos nos perder e envolver os irmãos também na nossa perdição.

Ainda sobre os mandamentos, temos de meditar que em Jesus está a plenitude da lei: o amor é a lei maior, porque primeiramente obedecemos por amor e vivendo o amor que Jesus pregou, superaremos todos os mandamentos. Amar o outro não é apenas não matar, não traí-lo, não roubá-lo, não ser falso, mas sim defender a sua vida, lutar pela justiça em seu favor e dedicar todo o nosso sentimento de fraternidade e irmandade quando for necessário.

O evangelho nos apresenta Jesus em Jerusalém quando expulsou os vendedores do templo. Olhemos um pouco o cenário da cidade santa nos dias de celebração da Páscoa: Há peregrinos das diversas cidades da Palestina, e até de fora. São pessoas que durante muito tempo juntaram dinheiro para ir prestar o culto a Deus na sua casa santa. No templo, Deus habita. Ali existem os sacerdotes que aconselham os peregrinos.

Mas naquele lugar também há os aproveitadores que ganharão muito dinheiro explorando os pobres com a venda dos carneiros e bois para o sacrifício. Também as bancas de câmbio que trocavam o dinheiro pelas moedas sagradas para serem colocadas nos cofres do templo e comprar as vítimas para o sacrifício.

É nesse contexto que Jesus, como um judeu fiel à verdadeira religião, age, pois percebe que o lugar onde Deus deve ser adorado em espírito e verdade está sendo profanado pela corrupção e exploração realizado pelas próprias lideranças da religião.

O mais importante é que fiquemos atentos às poucas palavras que Jesus falou: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio.” (Jo 2, 16). A casa de Deus não é um lugar de comércio e exploração. O ambiente do culto ao Senhor Deus que caminhou com o seu povo, é o lugar do sacrifício verdadeiro e da oração que sobe aos céus.

Quando vamos à Igreja devemos abrir o nosso coração para que a Palavra de Cristo, mandamento novo, habite o nosso coração, toque a nossa alma e nos leva a ficarmos cada vez mais perto dele, na caridade, na honestidade, na missão e na entrega da vida ao Reino de Deus.

Quando saímos da igreja podemos também refletir sobre a importância da Palavra de Deus em nossa vida. E nos perguntamos: como nos relacionamos com os bem materiais? Como encaramos o mundo que faz comércio de tudo? E corrupção, não seria uma forma pós-moderna de compararmos com os vendilhões do templo, expulsos por Jesus? Realidade essa que causa desemprego, sofrimento e morte.

A segunda frase de Jesus, a mais importante e falada diante da pergunta dos judeus: “‘que sinal nos mostras para agires assim?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Destruí este santuário, e em três dias eu o levantarei’.” (Jo 2,19-20). Ninguém entendeu as palavras proclamadas por Jesus, inclusive os discípulos que somente depois da ressurreição vieram a ter claro o que foi falado naquele dia por seu mestre.

Formamos a Igreja corpo de Cristo, templo vivo de Deus, onde habita o Espírito Santo. Quando nos dirigimos à Igreja de pedra devemos sempre pensar: nós somos o sentido maior do verdadeiro culto, porque nos reunimos “em Cristo, com Cristo e por Cristo”, livres das explorações e corrupções humanas. Somos templos vivos onde habita Deus. Jesus nos leva a meditarmos que os nossos corpos são sagrados, ou seja, habita o amor de Deus em nós. Habita em nós a palavra da Justiça, da honestidade e da vida plena.

Os discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.(Jo 2,17). O que dizer das inúmeras denominações religiosas no mundo de hoje, voltadas para uma profanação do nome do Senhor e do seu templo? São tantos depoimentos sobre a aquisição bens materiais e do aumento de riqueza individuais atribuídas a uma barganha com Deus. São declarações pronunciadas abertamente como se fosse uma verdade.

Os cristãos são os que seguem a Cristo em espírito e verdade. Não devem pensar como os judeus do tempo de Jesus. Eles esperavam um rei poderoso, prepotente e milagreiro e rico. Por isso a crucificação de Jesus para eles é escândalo, pois Cristo foi um derrotado. Quanto aos gregos, estes por sua vez, não acreditavam em milagres. Eles confiavam somente nos raciocínios e na sabedoria, a razão era tudo para eles (cf. 1Cor 1,23). A morte de Jesus não se enquadra dentro de nenhuma lógica humana: por isso é uma autêntica loucura[1].

Que a nossa oração e o nosso culto sejam autênticos e que a Eucaristia nos fortifique a vivermos como verdadeiro adoradores de Deus. Que sejamos testemunho de amor e de santidade no mundo como verdadeiros templos santos neste tempo quaresmal, quando devemos intensificar a prática da caridade, da oração e do jejum. Amém.

[1] ARMALLINI, Fernando. Celebrando a palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria.