II Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 116(114-115); Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Subamos ao Monte com o Senhor

Mc 9,2-10

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar Jesus que sobe ao monte com Pedro, Tiago e João e lá se transfigura diante deles. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 9,2-10.

A Transfiguração foi uma forma de antecipar aos seus discípulos a Ressurreição. Na passagem deste Evangelho aparecem dois personagens da Antiga Aliança: Moisés, representando a Lei, recurso para que Israel viva a aliança verdadeira com Deus; e Elias, representando os profetas, os anunciadores da vontade de Deus e da vinda do messias. A experiência leva os discípulos a quererem ficar ali no monte, num lugar de conforto. Eles cultuam a divindade de Jesus, mas ainda não chegou a hora.

Outro momento importante desta narração é a voz de Deus na nuvem que diz para ouvir o seu Filho amado, que veio trazer a Boa-Nova. O Pai se dirige aos discípulos, a todo o povo e também a nós hoje: “Escutai-O”. Escutar a sua mensagem de salvação que é destinada a todos os que são obedientes ao mandamento do amor e da fraternidade. Depois Jesus convida os discípulos a descerem do monte e manterem segredo sobre aquela experiência da Transfiguração, pois ainda não é o tempo de manifestar a sua divindade a todos.

Na primeira leitura desta Liturgia nós encontramos Abraão e Isaac também no monte. Motivado pela sua fé e pelo costume da religião cananeia de sacrificar o primogênito Abraão se propõe a ofertar a vida de seu filho, mas Deus impede. A fé de Abraão possibilitará a benção de Deus e uma descendência imensa como os grãos de areia do mar. A fé de Abraão também nos ensina sobre a obediência sem limites para com Deus, a ponto de sacrificar em nome de Deus o que ele mais amava: seu filho, gerado já na velhice e na esterilidade de Sara.

Assim, percebemos que no sacrifício de Abraão há uma prefiguração do de Jesus, pois é Isaac quem carrega a lenha para a sua própria oblação. A transfiguração e a crucificação também se dão num monte, que é a cidade de Jerusalém. No entanto, em Jesus o sacrifício é total e perfeito.

São Paulo nos lembra que o Filho de Deus, que ressuscitou e intercede por nós (cf. Rm 8,32.34), não foi poupado pelo seu Pai e por isso se entregou como garantia da nossa salvação. O nosso Deus se esvaziou da sua condição por amor aos homens, numa entrega voluntária e dolorosa.

Nos dias de hoje estamos sempre ocupados e tentados a se afastar da oração silenciosa, que nos permite escutar Deus e a nós mesmos. É a partir da aceitação das nossas limitações que tornamos capazes de mudar nossa vida em direção a Cristo.

Na Liturgia somos chamados a queremos subir para fazermos a experiência do encontro o Transfigurado, que nos apresenta a sua divindade e nos ensina a descermos para vivermos a missão. Devemos querer também ter a mesma atitude de Abraão, que chegou a oferecer, em sacrifício, a vida de Isaac, mas foi impedido pela interferência de Deus que viu a sua fé sem limites.

A cada Eucaristia celebrada somo chamados a reviver o nosso encontro com o Transfigurado e somos enviados também para transfigurar os que estão sofrendo e sem a oportunidade da reconciliação com Deus.

Somos também convidados a transfigurarmos no diálogo e no compromisso de amor na nossa vivência quaresmal, como nos motiva a Campanha da Fraternidade 2021.

Que o Deus de Abraão e de Isaac e salvador de todos, nos guie os nossos passos de fé e de obediência. E que o Senhor nos perdoe pelas tantas vezes que fomos desobedientes e medrosos. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para vivermos a humildade em nossas misérias e a coragem da mudança de vida.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Transfigurar-nos com Jesus

 

Subamos ao monte do Senhor
Para ver a sua glória,
Para viver a intimidade,
Caminhar na nossa história,
Caminhar na humildade,
Buscarmos a santidade,
E não perder a memória.

Subamos ao monte do Senhor,
Para vivermos a nossa esperança,
Fortalecer nossa fé,
Na entrega e confiança.
Como um discípulo é.
Vivendo a sua fé,
Na paz e muita bonança.

Desçamos do monte do Senhor,
Para continuar a missão,
Voltando a realidade,
Pisando os pés no chão,
Precisamos continuar,
O Evangelho pregar,
Para o Reino e a salvação.

Desçamos do santo monte,
Para com Jesus viver,
Num corpo ressuscitado,
E dele muito aprender,
Seu amor sempre abrasado,
E o céu sempre esperado,
E para sempre viver.

Vamos para a mesa Santa,
De pura fraternidade,
Ao Templo da alegria,
Do amor e da irmandade,
Da escuta e do perdão,
Da paz e da comunhão,
Da plena felicidade.

 

***

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

XVIII Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Is 55,1-3; Sl 145(144); Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cinco Pães e Dois Peixes, o Número Perfeito

Mt 14,13-21

Irmãos e irmãs, neste XVIII Domingo do Tempo Comum nós contemplamos Jesus no deserto com a multidão e os seus discípulos. O Evangelho para esta Liturgia está em Mt 14,13-21.

Jesus percebe a realidade daquele povo que está no deserto e, por isso, sente compaixão e traz a cura aos doentes e pão aos famintos. Referente à fome do pão material, os discípulos de Jesus querem dispensar o povo com fome, como se dissessem: “cada um se vire e compre o seu próprio alimento”. Jesus faz o milagre com o pouco que alguns têm (cinco pães e dois peixes) e assim alimenta a todos, sobrando ainda doze cestos de alimento.

O deserto é o “lugar” de tentações, de sofrimento, de fome, de combates. Mas o deserto também é o lugar onde se encontra Deus e o encontro de Deus pode operar o milagre do amor e da partilha. Não nos esqueçamos que o deserto foi lugar onde Deus escolheu para caminhar com o povo, purificando-o e a caminho da terra prometida, rumo à libertação.

Naquele dia, lá no deserto, Jesus apresentou um grande ensinamento para os discípulos, pois eles queriam mandar o povo embora. Ensinou que para o Reino de Deus acontecer é necessário que seus colaboradores se compadeçam do sofrimento do próximo e se envolvam no movimento de partilha e de comunhão.

Fiquemos atentos aos gestos de Jesus: “pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Depois partiu e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões” (Mt 14,19). Estes gestos de Jesus nos lembram a mesa da Eucaristia, quando acontece o milagre da transubstanciação e a matéria do pão e do vinho se transformam no Corpo e Sangue de Cristo. É através dessa partilha maravilhosa que nós, enquanto Igreja (Corpo Místico de Cristo), podemos ter acesso à salvação.

É no encontro com o Senhor que nos alimentamos de sua Palavra e de seu Corpo e também partilhamos do que temos como irmãos e irmãs, caminhantes pelos desertos que vamos passando pela nossa existência, como caminheiros com o Senhor.

O profeta Isaías nos ensina sobre a bondade e gratuidade de Deus quando encorajou o povo de Israel no exílio da Babilônia (cf. Is 55,1). Agora, no deserto, Jesus fez o mesmo com o povo doente e faminto.

Os cristãos, como os discípulos amados de Jesus, estão no mundo e também fazem parte da multidão necessitada e faminta. Há fome de pão nas mesas, mas também há necessidade de justiça (civil, social, econômica), necessidade também de dignidade, de paz, de solidariedade e, sobretudo, de compaixão para que os famintos sejam saciados e os doentes curados. Não nos esqueçamos que os doentes que Jesus curou sofriam de problemas resultado de pecados segundo as normas das autoridades da religião judaica.

Quando exercemos a caridade, doando cestas aos que tem fome, roupa aos que precisam, trabalho aos desempregados, cuidado e saúde aos doentes, a Eucaristia se estende do altar para alimentar os que estão fora do templo. Que sejamos presença viva do Cristo Eucarístico onde quer que estejamos e que o Espírito Santo nos ilumine e no encoraje a perceber o próximo que está necessitado. Que, compadecidos, façamos acontecer o grande milagre da partilha, da paz e da comunhão.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

A Providência Perfeita

Das mãos dos que tem um pouco,
Para as mãos do Mestre em compaixão,
Do coração que sente o sofrimento,
Vendo a fome da multidão,
O Mestre incentiva a providência,
E mesmo quando se está em carência,
Vem o milagre da comunhão.

Comunhão que nasce da sensibilidade,
No deserto aonde a fome vem aparecer,
Onde há a tentação de desistir,
Mesmo que se tenha algo a oferecer,
Mas estando o Senhor presente,
Trazendo o pão abundantemente,
E fazendo a dor da fome desaparecer!

“Dai-lhes vós mesmos de comer”
Eis o mandato do Mestre da vida,
Estimulando os discípulos à partilha,
Em vista das multidões sofridas,
Pela fome e diversos sofrimentos,
Nas doenças, dívidas e lamentos,
Carentes do cuidado e da acolhida!

E o milagre de Jesus nos ensina,
Sobre um pouco colocado em união,
Transformando o coração dos seguidores,
Trazendo o milagre da comunhão,
Fazendo-nos olhar as tantas realidades,
Um mundo que precisa da solidariedade,
Para denunciar o acúmulo de bens e de pão!

Que em nossa vida de amados discípulos,
Nada nos separe do divino amor,
Mesmo que venham os tantos sofrimentos,
Os quais às vezes nos causam dor,
Porque em Cristo somos gloriosos,
Na vida e na missão, vitoriosos,
Cuidando das obras do Criador.

E chamados a seguir a caminhada,
Mesmo no deserto (de noite ou de dia),
Sigamos aprendendo do Senhor,
Acolhendo o milagre que a fome sacia,
Fomentando o cuidado e a compaixão,
Partilhando nosso pouco para a multidão,
Em vista da vida, do amor e da alegria.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Nosso Mestre e Senhor, que alimenta o seu povo pelos desertos da vida, ilumine o seu caminho! ***