XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50(51); 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32

 

(1) “A moeda perdida”, por J. Tissot (1886-1894); (2) “O Bom Pastor regozijando-se com seus amigos”, por J. Luyken (1649-1712); (3) “O retorno do filho pródigo”, por Rembrandt (1606-1669)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Na sua misericórdia, Deus se alegra com a nossa volta para os seus braços

Lc 15,1-32

 

A liturgia da Palavra, neste 24º domingo do tempo comum, nos traz o capítulo 15 do evangelho de Lucas, o qual nos apresenta três parábolas: a da ovelha perdida, a da moeda perdida e o do filho perdido e encontrado (ou parábola do Pai misericordioso).

As três narrações, chamadas de parábolas da misericórdia, podem ser lidas como um todo. O pai, o pastor e a mulher, representam Deus. A ovelha perdida se relaciona com o filho perdido e achado. A moeda se relaciona com o filho mais velho. Estas narrações nos expressam, na sua interpretação, a misericórdia de Deus para conosco.

O motivo pelo qual são contadas estas parábolas está associado às críticas dos fariseus que diziam que Jesus fazia refeições nas casas de pecadores e, ao mesmo tempo, os acolhia.

Às vezes nos perdemos como a ovelha, outras, sem que tenhamos muito domínio de nós, somos perdidos como a moeda, perdidos pelos caminhos de nossa existência. Considerando um contexto narrativo, a ovelha perdida pode ser sujeito ou objeto, mas a moeda perdida é um objeto. O pastor só encontra a ovelha quando esta se reconhece perdida, quando ela para de perambular e se afastar do redil. Já a moeda, que é objeto, só pode ser encontrada pela persistência da mulher.

Sendo ovelha (sujeito) ou moeda (objeto), precisamos da luz de Deus e da sua Palavra para nos reencontrarmos. E quando somos encontrados, haverá a alegria dos outros, pois a experiência da volta para Deus é sempre uma alegria comunitária.

A ovelha perdida pode nos lembrar dos momentos em que, por um tempo, saímos da comunhão com o rebanho do Senhor e depois nos damos conta dos erros e queremos voltar para o Senhor, porque Ele nos reencontrou e nos carregou nos seus ombros, com imensa alegria e muito amor, de volta ao encontro de seu rebanho.

Já a moeda nos remete aos momentos de noites escuras, quando precisamos que Deus nos ache de qualquer forma, pois ficamos impotentes diante de uma crise de fé. Às vezes não conseguimos encontrar o sentido do caminho e nem nos encontrarmos mesmo estando na casa do Pai.

Na parábola do Pai misericordioso, vemos o quanto é grande a alegria de Deus na volta do seu filho. Assim Deus faz com cada um de nós, quando retornamos aos seus braços. Somos sempre bem acolhidos no banquete da vida, na casa do Pai, com cantos de alegria, com o anel da dignidade, vestes e sandálias novas e o abraço de Deus.

Outras vezes participamos do amor de Deus na realidade do filho mais velho. Este esteve sempre na casa do Pai, mas quis ficar distante da sua alegria. No retorno do seu irmão, o orgulho tomou conta do seu coração. Mesmo o Pai dizendo que ele estivera sempre na sua casa, mesmo tendo recebido o perdão constante de seu Pai o qual nunca o desprezou e nem o expulsou de sua casa, porque este filho também recebeu a herança.

Portanto, o Deus misericordioso que é apresentado nas três parábolas é o mesmo Deus que, diante da intercessão de Moisés, “desistiu” da punição que havia ameaçado fazer ao seu povo idólatra (cf. Ex 32,13-14), pois, pela sua misericórdia, acreditou na possibilidade do retorno dos seus filhos para o seu amor e sua graça.

Que neste mês da Bíblia possamos iluminar as nossas ações com a Palavra Santa de Deus, que é luz para os nossos passos e guia na nossa vida de discípulos missionários do Senhor. Ele nos chama em cada liturgia a voltarmos sempre cada vez mais para sua Casa e para o seu amor e por isso nos abraça na sua alegria de Pai misericordioso.

 

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⇒ POESIA ⇐

A alegria da volta

Quando na vida nos percebemos errantes,
E caminhamos por trilhas tão tortuosas,
Quando no abismo chegamos a cair,
Por atitudes e práticas faltosas.
Parar e procurar o que estava perdido,
Voltar um pouco o caminho percorrido,
É a ação mais necessária e corajosa.

É encontrar o que no caminho se perdeu,
Com a luz que vem do eterno amor,
Limpar cada recanto para encontrar uma pérola,
Que somente nos vem de Nosso Senhor,
Ele que na alegria nos quer voltando,
Nos acolhe e vai logo nos abraçando,
Por que é misericórdia e vê a nossa dor.

Como é bom sentir o abraço do supremo amor,
Que na alegria da volta nos dá o perdão,
Que até nos carrega nos seus ombros santos,
Para nos tirar dos males e da perdição,
E ainda faz festa na nossa chegada,
Porque nossa vida foi restaurada,
Livrou-se das correntes da escravidão.

E, agora como ovelhinhas reencontradas,
Ficaremos no rebanho que ele colocou,
Partilhando a caminhada que ele ofereceu,
Porque para a vida ele nos retornou,
E o seu corpo será nosso alimento,
Para não cairmos nos duros tormentos,
Que por algum tempo nos escravizou.

A alegria de Deus é nossa salvação,
Ele é Pai de misericórdia infinita,
Sua alegria maior é nos ver voltando,
Pois ele corre, abre os braços e grita,
Porque vê seu filho que está chegando,
E sem explicações vai logo perdoando,
Oferecendo as joias e roupas mais bonitas.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

IV DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Js 5-9a.10-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

“O Retorno do Filho Pródigo” (1661–1669), por Rembrandt (1606-1669)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ POESIA ⇐

O ABRAÇO ALEGRE DO PAI

Nas minhas idas e voltas,
Peço-te agora, ó Senhor,
Que me acolha no teu amor,
No meu arrependimento,
Também no sofrimento,
Aliviando-me a dor.

E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como teu filho amado,
Na tua simplicidade.

Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.

Preciso, então, aprender,
Ser filho, contigo,
Sendo teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.

Sem olhar para o mal que fiz,
Bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

O retiro quaresmal de todos os cristãos continua. Prosseguimos em busca de uma vivência espiritual marcada pelos exercícios de penitência e de escuta da Palavra, agradecidos com a dádiva de um Pai misericordioso que nos acolhe no abraço, na alegria e faz festa quando a ele retornamos.

A liturgia deste 4º domingo da quaresma, que a Igreja também chama de Domingo da Alegria (Laetere), pois estamos mais próximo do grande dia da celebração da vida nova, nos dada pela ressurreição do Senhor. O texto é de Lucas (cf. 15,1-3.11-32), o qual apresenta a parábola do Filho Pródigo. O cenário e o conteúdo descrito por Lucas para apresentar este belíssimo texto, traz os fariseus criticando Jesus por acolher pecadores (cf. 15,2) e em seguida a parábola que nos mostra a face misericordiosa de Deus (cf. 15,3s).

A parábola é resposta de Jesus para com os fariseus, os primeiros destinatários da mensagem, os quais não conheciam o amor e a misericórdia de Deus e por isso eram hipócritas por se considerarem corretos e autossuficientes para julgar as pessoas.

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: O filho mais novo quer a herança que lhe cabe (cf. 15,12). Este filho parte para ficar distante, para esbanjar a herança nos prazeres desenfreados do mundo e se esvazia até a última moeda e última a gota de vinho. Vem a miséria, a fome e a perda da dignidade humana, a ponto de desejar matar a forme com a comida dos porcos (cf. 15,16). A sua angústia chega ao limite máximo e o seu orgulho cai por terra. Ele cai em si.

O filho arrependido ensaia algumas das palavras para dizer ao Pai quando retornar: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.” (Lc 15,18-19). Depois de pensar nisso, decide por uma escolha: tomar o caminho de volta e fazer o que planejou.

Ainda estava longe quando lhe vem a surpresa do abraço do Pai, que com certeza tantas vezes olhava o caminho para ver se o filho voltava. As palavras formais ensaiadas pelo jovem não interessaram ao Pai, pois a atitude da volta para os seus braços já era o suficiente para ser acolhido na alegria, no abraço e na festa e não somente isso: um anel no dedo, sandálias nos pés, um banquete e, com certeza, roupas novas (cf. Lc 15,22), atitudes que expressaram o perdão e o acolhimento misericordioso do Pai.

O filho mais velho, que também estava fora, tinha saído para trabalhar, ao retornar, não acolheu o seu irmão no seu retorno e também não quis entrar na casa. Este filho mais velho, estava sempre com o Pai, era correto, devia ter mais experiência, era trabalhador, mas também não conhecia o Pai na sua misericórdia e acolhimento. Ele também precisava se converter, porque não aprendeu do seu Pai sobre o seu amor.

Este filho mais velho é a figura dos fariseus, que não aprenderam a amar e serem misericordiosos como Deus ensina. Também é a figura dos cristãos quando se acham autossuficientes e incapazes de acreditar naqueles que se convertem radicalmente e querem tomar o caminho de volta para os braços de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu: a misericórdia e a alegria de Deus ao acolher os pecadores, que não erram apenas uma vez, tantas vezes vão e outras tantas podem voltar. Nós cristãos somos assim, estamos sempre buscando o perdão de Deus para a nossa santificação.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da sua Palavra e do seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração na volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a ele.

Quantas vezes julgamos os outros como sendo alguém mais pecador do que nós ou até incapaz de conversão. A nossa santidade não consiste apenas em sermos corretos, à nossa maneira, e pertencermos a um grupo de privilegiados da Igreja, mas sim, consiste em reconhecermos que precisamos nos converter e aprender todos os dias. Também vivemos a santidade e a misericórdia de Deus quando acolhemos o irmão e o ajudamos a restaurar a sua dignidade com o abraço amoroso e caridoso.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

Peçamos ao Senhor que converta o nosso coração para atitudes de perdão, de acolhida e de misericórdia, para amar os irmãos e irmãs como Deus nos ama. Que possamos viver um testemunho de alegria pelos que retornam à casa de Deus com súplicas de perdão e dispostos a viverem a conversão. Seja para nós, a quaresma, este período de uma oração mais profunda e de uma penitencia coerente neste caminhar de discípulos missionários que sobem à Jerusalém para com Jesus viver a sua Paixão, morte e Ressurreição.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.