IV Domingo da Quaresma, Ano B, São Marcos

 

*** Domingo da Alegria, Domingo Lætare, Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 137(136); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Amor Gratuito de Deus por Nós

Jo 3,14-21

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar o amor gratuito de Deus por nós. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 3,14-21.

Com esta Liturgia a Igreja nos lembra da proximidade da Páscoa, o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com grande júbilo, o Aleluia e o Glória em honra ao vencedor da morte, Ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é o motivo de celebrarmos o Domingo Lætare, do latim “Alegra-te!”, pois se aproxima o grande dia.

O evangelista João nos apresenta o encontro com Nicodemos, em que Jesus demonstra o amor ilimitado e gratuito de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os israelitas não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplá-la, que é um animal venenoso em si, mas para voltar o olhar para o alto, onde Deus está. Deus que cura e liberta a todos do mal.

O Evangelho nos convida a olhar para o Crucificado, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por todos nós. Este Deus que entregou seu Filho para que crendo alcancemos a vida eterna (cf. Jo 3,16). Por isso somos chamados a caminhar com dignidade, mesmo em meio as tentações e as cruzes. Deus nos oferece os meios para nos livrar do veneno do pecado que impede a salvação. Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e da salvação e não o da condenação (cf. Jo 3,17).

Deus sempre caminhará conosco, apesar da nossa infidelidade, como podemos ver na Primeira Leitura desta Liturgia. O povo, que teve o Templo destruído, receberá de Deus o grande favor através do rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo, que foi destruído pela infidelidade e desobediência aos Mandamentos.

Muitas vezes, em função da nossa carne fraca, nós reforçamos a imagem de que Deus é vingativo. Nossas faltas e pecados são consequências de nossas escolhas em desobediência aos Mandamentos. Além de nossas falhas, as quedas podem ser provocadas pela ação do inimigo que nos tenta com diversas seduções.

Nesse sentido, o evangelista João nos mostra que a salvação é obtida hoje, no agora de cada um, pois depende das escolhas a cada momento, afirmando que “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18).

A condenação, portanto, virá quando não houver adesão ao projeto do Filho de Deus. Logo, devemos carregar a certeza de que a salvação é gratuita para os que têm fé, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa adesão e arrependimento, mas precisamos ter pressa na decisão para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar.

E neste ano, em que a Campanha da Fraternidade trás como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor” vamos lembrar o que o Papa Francisco nos fala por ocasião do lançamento desta Campanha: “a fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial a vida dos mais vulneráveis”. E no contexto de pandemia, o Papa Francisco ainda fala: “precisamos vencer a pandemia e nós os faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida.”

Que o Espírito Santo nos guie neste itinerário para a Páscoa, para que, ao chegarmos à festa do Ressuscitado, tomemos posse da alegria do Cristo que venceu a morte para nós. Ergamos nossa cabeça em direção a Deus, que nos liberta e nos salva. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Um Amor que se Derrama

 

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para a nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fiéis companheiros.

 

***

 

 

**** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o enviado do Pai para salvar o mundo, ilumine o seu caminho! ***

 

IV Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a; Sl 22(23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos lava e nos faz enxergar novos caminhos

Jo 9,1-41

 

Neste 4º Domingo da Quaresma nós somos convocados a viver o domingo da alegria, pois já se aproxima a Páscoa do Senhor, a festa da vida verdadeira e infinita. Somos atraídos pela luz da ressurreição a qual se aproxima, quando no sábado santo viveremos a maior festa do ano litúrgico. O Evangelho para este 4º Domingo da Quaresma, portanto, está em João (cf. 9,1-41), texto que narra a cura que Jesus realizou em um cego de nascença.

Esta liturgia nos leva a refletir que devemos livrar nossos olhos das cegueiras, das miopias, que muitas vezes nos impedem de ver a presença do Senhor em nossas vidas, os milagres e as obras que ele vai operando em nosso caminhar, em nossa existência, na missão, nos nossos convívios em nossa comunidade de fé.

Vejamos a ação de Jesus na cura do cego de nascença: “Cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,6-7).

O que podemos aprender destes versículos do Evangelho de João? Jesus com a sua saliva e um pouco de terra faz lama. E então? O barro nas mãos de Jesus nos lembra a Criação, quando o homem esteve nas mãos de Deus, nosso perfeito artesão, para ser criado por ele.

Em Jesus, o homem é recriado, recapitulado, para sair da primeira cegueira: o pecado de Adão. O Senhor nos ilumina com sua luz, para que, como vasos de barro que somos não sejamos danificados com os perigos que as trevas do mundo poderão nos apresentar.

Após a cura, o cego foi aconselhado a se lavar na piscina. E a água nos lembra que é através do batismo que somos restaurados e inseridos na multidão dos filhos e filhas de Deus, os quais participam da ressurreição do Senhor, da sua vida nova, e da comunidade de seus discípulos.

Os doutores da lei, cegos da verdade e da luz de Deus, querendo reprimir aquele homem que agora enxergava, buscavam explicações nas leis físicas e humanas, também de forma obscura e cega. Eles justificaram que em dia de sábado ninguém podia trabalhar, inclusive se fosse para fazer o bem.

Quanto aos discípulos, também precisaram ter olhos novos no seguimento a Jesus, porque eles perguntaram: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” (Jo 9,2). Neste momento Jesus também precisou curar o seu grupo da cegueira humana e espiritual que impediam deles verem a glória e a ação de Deus se manifestar.

O plano de Deus nos surpreende, porque ele age fora dos nossos parâmetros. Foi assim que agiu quando Israel precisou ungir o seu novo rei. O rei Davi, aquele que ninguém esperava ser escolhido. Ele estava inclusive pastoreando o rebanho nos campos de Israel. “E o Senhor disse a Samuel: ‘Levanta-te, unge-o: é este!’ Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi” (1Sm 16,12-13).

Nós, muitas vezes, caímos nesta limitação humana: enxergamos com nossos parâmetros pessoais limitados e agimos segundo nossos critérios. Precisamos deixar que Deus nos ilumine com sua luz, vença nossas trevas, nossas cegueiras. Trevas que aparecem nos nossos pensamentos, nas nossas intenções, ações e comportamentos, tais como, egoísmos, individualismo, injustiças e indiferença contra os irmãos. Assim agiram os doutores da lei, os fariseus: eles tentaram ofuscar a ação de Deus na vida daquele que era cego, e que então, testemunhava a sua cura.

Precisamos reconhecer que através do nosso batismo, nós somos iluminados e banhados para sempre pela luz verdadeira e a água viva que vem do Senhor. Neste sentido, somos convidados a ter em nosso coração a convicção que São Paulo nos fala na sua carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade” (5,8-9).

Peçamos a luz e a força do Espírito Divino para que nos ilumine em nosso caminhar com Jesus. E que o Bom Pastor, luz das nações, nos conduza à vida verdadeira, nos livrando dos perigos que poderão nos levar a nos tirar do caminho do amor e do céu. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Guia-nos com Tua luz

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho do Homem, ilumine o seu caminho! ***

 

IV DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Js 5-9a.10-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

“O Retorno do Filho Pródigo” (1661–1669), por Rembrandt (1606-1669)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ POESIA ⇐

O ABRAÇO ALEGRE DO PAI

Nas minhas idas e voltas,
Peço-te agora, ó Senhor,
Que me acolha no teu amor,
No meu arrependimento,
Também no sofrimento,
Aliviando-me a dor.

E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como teu filho amado,
Na tua simplicidade.

Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.

Preciso, então, aprender,
Ser filho, contigo,
Sendo teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.

Sem olhar para o mal que fiz,
Bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

O retiro quaresmal de todos os cristãos continua. Prosseguimos em busca de uma vivência espiritual marcada pelos exercícios de penitência e de escuta da Palavra, agradecidos com a dádiva de um Pai misericordioso que nos acolhe no abraço, na alegria e faz festa quando a ele retornamos.

A liturgia deste 4º domingo da quaresma, que a Igreja também chama de Domingo da Alegria (Laetere), pois estamos mais próximo do grande dia da celebração da vida nova, nos dada pela ressurreição do Senhor. O texto é de Lucas (cf. 15,1-3.11-32), o qual apresenta a parábola do Filho Pródigo. O cenário e o conteúdo descrito por Lucas para apresentar este belíssimo texto, traz os fariseus criticando Jesus por acolher pecadores (cf. 15,2) e em seguida a parábola que nos mostra a face misericordiosa de Deus (cf. 15,3s).

A parábola é resposta de Jesus para com os fariseus, os primeiros destinatários da mensagem, os quais não conheciam o amor e a misericórdia de Deus e por isso eram hipócritas por se considerarem corretos e autossuficientes para julgar as pessoas.

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: O filho mais novo quer a herança que lhe cabe (cf. 15,12). Este filho parte para ficar distante, para esbanjar a herança nos prazeres desenfreados do mundo e se esvazia até a última moeda e última a gota de vinho. Vem a miséria, a fome e a perda da dignidade humana, a ponto de desejar matar a forme com a comida dos porcos (cf. 15,16). A sua angústia chega ao limite máximo e o seu orgulho cai por terra. Ele cai em si.

O filho arrependido ensaia algumas das palavras para dizer ao Pai quando retornar: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.” (Lc 15,18-19). Depois de pensar nisso, decide por uma escolha: tomar o caminho de volta e fazer o que planejou.

Ainda estava longe quando lhe vem a surpresa do abraço do Pai, que com certeza tantas vezes olhava o caminho para ver se o filho voltava. As palavras formais ensaiadas pelo jovem não interessaram ao Pai, pois a atitude da volta para os seus braços já era o suficiente para ser acolhido na alegria, no abraço e na festa e não somente isso: um anel no dedo, sandálias nos pés, um banquete e, com certeza, roupas novas (cf. Lc 15,22), atitudes que expressaram o perdão e o acolhimento misericordioso do Pai.

O filho mais velho, que também estava fora, tinha saído para trabalhar, ao retornar, não acolheu o seu irmão no seu retorno e também não quis entrar na casa. Este filho mais velho, estava sempre com o Pai, era correto, devia ter mais experiência, era trabalhador, mas também não conhecia o Pai na sua misericórdia e acolhimento. Ele também precisava se converter, porque não aprendeu do seu Pai sobre o seu amor.

Este filho mais velho é a figura dos fariseus, que não aprenderam a amar e serem misericordiosos como Deus ensina. Também é a figura dos cristãos quando se acham autossuficientes e incapazes de acreditar naqueles que se convertem radicalmente e querem tomar o caminho de volta para os braços de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu: a misericórdia e a alegria de Deus ao acolher os pecadores, que não erram apenas uma vez, tantas vezes vão e outras tantas podem voltar. Nós cristãos somos assim, estamos sempre buscando o perdão de Deus para a nossa santificação.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da sua Palavra e do seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração na volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a ele.

Quantas vezes julgamos os outros como sendo alguém mais pecador do que nós ou até incapaz de conversão. A nossa santidade não consiste apenas em sermos corretos, à nossa maneira, e pertencermos a um grupo de privilegiados da Igreja, mas sim, consiste em reconhecermos que precisamos nos converter e aprender todos os dias. Também vivemos a santidade e a misericórdia de Deus quando acolhemos o irmão e o ajudamos a restaurar a sua dignidade com o abraço amoroso e caridoso.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

Peçamos ao Senhor que converta o nosso coração para atitudes de perdão, de acolhida e de misericórdia, para amar os irmãos e irmãs como Deus nos ama. Que possamos viver um testemunho de alegria pelos que retornam à casa de Deus com súplicas de perdão e dispostos a viverem a conversão. Seja para nós, a quaresma, este período de uma oração mais profunda e de uma penitencia coerente neste caminhar de discípulos missionários que sobem à Jerusalém para com Jesus viver a sua Paixão, morte e Ressurreição.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

IV DOMINGO DA QUARESMA (LAETERE)

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

DOMINGO DA ALEGRIA (Lætare)

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

POESIA

UM AMOR QUE SE DERRAMA

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para ver nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fieis companheiros.

 

HOMILIA

O amor gratuito de Deus por nós

A liturgia deste quarto domingo da Quaresma nos apresenta uma reflexão sobre o amor de Deus e a resposta do homem a este amor. Também a Igreja lembra que pela proximidade a que estamos da Páscoa celebramos a alegria, pois se aproxima o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com voz forte e grande júbilo, o aleluia e o glória em honra a Jesus vencedor da morte, vitorioso para nos dá a vitória, ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é motivo de celebrarmos o Domingo da Alegria (Lætare): se aproxima, portanto o grande dia!

O evangelho de São João nos traz o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus, num monólogo de grande profundidade, nos mostra o sentido e o ilimitado amor de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os membros de Israel não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplar este animal venenoso em si, mas para que as pessoas voltassem o olhar para o alto, onde está o Deus que cura e liberta a todos do mal (cf. Jo 3,14).

Em Jesus também somos conduzidos a olhar para ele erguido na Cruz, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por nós. “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.” (Jo 3,16). O cristão é chamado a caminhar com a cabeça erguida, olhando para o alto, mesmo em meio as cruzes de sua vida, porque Deus é o amor ilimitado. Ele quer livrar a todos do veneno do pecado que impede de encontrarmos a salvação.

“… Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e não da condenação. A condenação é consequência da falta de amor. O mundo precisa do amor que tira o homem do pecado e da realidade onde há a ausência deste bem.

Deus sempre caminhará conosco mesmo quando somos infiéis ao seu projeto, como podemos ver na primeira leitura. O povo que teve seu templo destruído receberá de Deus o grande favor através do Rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo. A destruição anterior foi fruto da desobediência e da violência dos que não seguiam os mandamentos de Deus.

Muitas vezes temos uma concepção de que Deus castiga e que ele é vingativo. O que acontece é que olhamos Deus e o pensamos com nossas concepções humanas limitadas. Nossos desastres, nossas dores e nossos pecados são consequências de escolhas que fazemos em desobediência aos preceitos do Senhor. Também, muitos desastres em nossas vidas vêm do inimigo presente que nos seduz e por isso somos influenciados ou atingidos por tais pecados.

Voltando ao evangelho desta liturgia, podemos ver no texto de São João: “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18). Ou seja, para o evangelista João a salvação é hoje, é agora. Depende da minha opção a cada momento de minha existência.

Um pré-requisito é que tenhamos fé e estejamos decididos. A condenação, portanto, virá quando não houver fé no Filho de Deus. Assim podemos nos perguntar: quais são as minhas opções? O que vivo ou acredito está de acordo com os caminhos do Senhor? Qual o nível da minha fé?

Portanto, devemos carregar uma certeza: a salvação de Deus é gratuita, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa opção e arrependimento, mas precisamos logo nos decidir para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar. Pelo batismo, somos sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13), pois mesmo sabendo que é por “graça que somos salvos” (Ef 2,5b), precisamos comunicar ao mundo que o nosso Deus é amor misericordioso, e ele quer que sejamos misericordiosos também com os nossos irmãos.

Que o Espírito Santo de amor possa nos guiar e nos iluminar neste itinerário para a Páscoa, para que ao chegarmos à festa do Ressuscitado possamos nos alegrar verdadeiramente pela vida que venceu a morte e que é vitória também para nós. Ergamos nossa cabeça para a direção de onde está Deus, nele está a nossa da libertação e nossa salvação. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade. Amém.

IV DOMINGO DA QUARESMA, Ano A

Leituras: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a; Sl 22(23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

POESIA

GUIA-NOS COM TUA LUZ

Como Luz em nós,
Faze-nos também brilharmos,
E nos entregarmos,
Para o mundo iluminar,
Com tua Palavra aconselhar,
E com tua bondade,
A nos inundar.

Como pastor supremo,
Que guia o nosso caminho,
Não nos deixa sozinhos,
Orienta-nos Senhor,
Com teu amor,
Com tua luz,
Com teu carinho.

Como Luz perfeita,
Que nos tira a cegueira,
Dá-nos a fé verdadeira,
Para vermos horizonte,
Bebermos em tua fonte
Sempre querendo chegar.
À tua vida inteira.

Como a luz da vida,
Cura-nos das incertezas,
Traz-nos a fortaleza,
Nas dúvidas perigosas,
Nas “verdades” duvidosas,
A nos tirar os horizontes,
Quando nas trilhas tortuosas.

E nas tuas fontes,
Vem com amor nos lavar,
Com suas mãos vem nos moldar,
E em homens novos, recapitulados,
Discípulos fiéis e transformados
E ao redor da tua santa mesa,
Todos os filhos alimentados.

HOMILIA

 O Senhor nos lava e nos molda

Neste 4º Domingo da Quaresma somos convocados a viver o domingo da alegria, pois já se aproxima a páscoa do Senhor, a festa da vida verdadeira e infinita. Somos atraídos pelas luzes infinitas da ressurreição a qual se aproxima, quando no sábado santo viveremos a maior festa do ano litúrgico.

A liturgia da Palavra nos leva a refletir que devemos livrar nossos olhos da cegueira, das miopias, que muitas vezes nos impedem de ver a presença do Senhor em nossas vidas e também os milagres que ele vai operando em nosso caminhar.

Vejamos a ação de Jesus na cura do cego de nascença: “Cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,6-7).

O que podemos aprender destes versículos do Evangelho de João? Jesus com a sua saliva e um pouco de terra faz lama. O barro nas mãos de Jesus nos lembra a criação, quando o homem esteve nas mãos de Deus, nosso perfeito artesão, para ser moldado e criado.

Em Jesus, o homem é recriado, recapitulado para sair da primeira cegueira: o pecado de Adão. O Senhor nos faz enxergar e nos refaz além do nosso físico, ou seja, além da nossa visão das cores, das coisas, dos outros. O Senhor nos ilumina com sua luz, para que, como vasos de barro que somos, não sejamos danificados com os perigos que as trevas poderão nos trazer.

Após a cura, o cego foi aconselhado a se lavar na piscina. A água nos lembra de que é através do batismo que somos restaurados e inseridos na multidão dos filhos e filhas, os quais participam da ressurreição do Senhor.

Pelo texto que meditamos neste domingo podemos perceber a tensão que existia no ambiente religioso, social e cultural em que estava aquele cego. Os doutores da lei, cegos da verdade e da luz divina, querendo reprimir o homem que agora enxergava, buscavam explicações nas leis humanas, também de forma obscura. Eles justificaram que em dia de sábado ninguém podia trabalhar, inclusive se fosse para fazer o bem.

Podemos ver que até mesmo os discípulos estavam contaminados pela ideologia dos doutores da lei: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” (Jo 9,2). Neste momento Jesus também precisou curar os seus colaboradores da cegueira espiritual que impedia ver a glória de Deus se manifestar.

O plano de Deus nos surpreende, porque ele age fora dos nossos parâmetros. Foi assim que agiu quando Israel precisou ungir o seu rei. O rei Davi aquele que ninguém esperava ser escolhido. Ele estava inclusive pastoreando o rebanho nos campos de Israel. “O Senhor disse: ‘Levanta-te, unge-o: é este!’ Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi” (1Sm 16,12-13).

Nós, muitas vezes, caímos nesta limitação humana: enxergamos com nossos parâmetros humanos e agimos segundo nossos critérios. Precisamos deixar que Deus nos ilumine com sua luz, vença nossas trevas. Trevas que aparecem nos nossos pensamentos de autoprestígio, de egoísmos, individualismo e regras preestabelecidas. Assim agiram os doutores da lei, eles tentaram ofuscar a ação de Deus na vida do cego.

Precisamos reconhecer que através do nosso batismo somos iluminados e banhados para sempre pela luz verdadeira e a água da vida que vem do Senhor. Neste sentido, somos convidados a ter em nosso coração a convicção que São Paulo nos fala na sua carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade” (5,8-9).

De acordo com estes versículos, acima, devemos não somente viver na luz de Cristo, mas também vivermos como luz do Senhor, no mundo, através da bondade, justiça e da verdade. O mundo necessita destas virtudes para que seja mais humano e justo.

Peçamos a luz e a força do Espírito Divino para que nos ilumine em nossa peregrinação terrestre. E que o Bom Pastor, luz das nações, nos conduza à vida verdadeira, nos livrando dos perigos que poderão nos levar a nos tirar do caminho do céu. Amém.