Santa Missa da Vigília Pascal, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: 1ª Leitura: Gn 1,1-2,2; Salmo: Sl 16(15); 3ª Leitura: Ex 14,15-15,1; 4ª Leitura: Is 54,5-14; 5ª Leitura: Is 55,1-11; 6ª Leitura: Br 3,9-15.32-4,4; 7ª Leitura: Ez 36,16-17a.18-28; Salmo: Sl 104(103); Salmo: Sl 30(29); Salmo: Is 12; 2ª Leitura: Gn 22,1-18; Leitura do Novo Testamento: Rm 6,3-11; Evangelho: Lc 24,1-12

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristo é a Luz da nova Criação

Lc 24,1-12

 

Meus irmãos e irmãs, a celebração da Vigília Pascal faz memória da História da Salvação desde a Criação do mundo e do homem até a Nova Criação em Jesus Cristo. A Nova Aliança que se dá na Última Ceia e se concretiza na Ressurreição do Senhor.

É uma Liturgia repleta de rituais com uma simbologia muito profunda e que nos insere no mistério da vida nova no Senhor. Ele vem como luz da Nova Criação. N’Eele somos banhados pelo batismo para fazermos parte do novo Povo de Deus, como sacerdote, profeta e rei, na dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para mergulharmos profundamente no sentido desta Liturgia iremos vivenciar quatro momentos bem definidos. Primeiro adentramos na Liturgia da Luz, que é a celebração da Páscoa cósmica, marcado pela a passagem das trevas para luz. O círio, aceso na fogueira, em frente ou ao lado da igreja, é a luz do Ressuscitado que irá se espalhando por todo o espaço da assembleia, através das nossas velas, as quais nos lembram o dia de nosso batismo, o dia do nosso novo nascimento.

No segundo momento, na Liturgia da Palavra, revivemos pelas leituras bíblicas, a Páscoa histórica, enfatizada nos principais momentos da História da Salvação. A Páscoa do povo Judeu e a Páscoa da Nova Aliança, quando seremos um povo renovado pelo Sangue do Cordeiro de Deus.

Num terceiro momento viveremos a Liturgia batismal, que celebra a Páscoa da Igreja, povo de Deus nascido da fonte batismal. A Igreja batiza e o seu povo renova o compromisso do seu batismo como de discípulos e discípulas de Cristo.

Por fim, a Liturgia Eucarística, que celebra a Páscoa perene e futura quando seremos julgados definitivamente por Cristo no final dos tempos. A Páscoa de todos os dias quando vamos à Missa e mergulhamos no mistério do Banquete do Cordeiro que se oferece como alimento para a festa da vida e da esperança.

Portanto, os elementos da luz, da água, do pão e do vinho, acompanham toda a nossa vida de filhos e filhas de Deus em Cristo Senhor. A cada momento de nossa vida temos esses elementos vitais e sensíveis em nossa caminhada. Em cada celebração, nós renovamos nosso compromisso de caminhar com o Senhor esperando a sua vinda gloriosa.

No Evangelho desta Liturgia, ouvimos o testemunho das mulheres, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, como também de Salomé que vão ao túmulo vazio. A força da vida nova rompeu a pedra que queria impedir a vida. Como grão que arrebenta a terra para nascer, Cristo com sua força salvífica arrebentou as barreiras da morte, da escuridão e da tristeza. Como nos fala são Paulo, na Carta aos Romanos, Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem pode sobre Ele. (cf. Rm 8,6). As mulheres ainda iam ver o cadáver, Jesus entre os mortos. Queriam ungir o corpo corruptível, mas, ele já se tinha transformado para sempre em um corpo novo e cheio de vida. Nós também, muitas vezes, queremos cultuar um Cristo morto por não querer acreditar que Ele nos trará vida nova e transformada. Queremos visitar os túmulos de nosso pessimismo, de nossas dúvidas e de nossa falta de esperança. No Batismo somos novas criaturas e sinais de Cristo, luz do mundo.

A Páscoa não é um acontecimento do passado, crer em Cristo Ressuscitado é, portanto, acreditar n’Ele agora e para sempre. Não podemos perder esse foco da fé. Cristo é o coração do Mundo, como disse o teólogo K. Ranner (1904-1984). Nele está a nossa esperança de uma existência nova, redimida e transformada já aqui na nossa caminhada terrena.

Ele está em nossas lágrimas, como força, e nas dores como consolo permanente e vitorioso sobre nossos sofrimentos. Ele está em nossos fracassos e impotências como força segura que nos defende. Ele nos visita em nossas depressões, acompanhando-nos na nossa solidão e nas nossas tristezas; Ele age em nossos pecados, nos oferecendo a misericórdia e o Seu perdão como possibilidade de um novo significado para a nossa vida cotidiana e comunitária no caminho da santidade.

A experiência no Ressuscitado significa acreditar que Ele está vivo, aqui e agora entre nós. É acreditar que ele está com a gente na comunidade reunida, na catequese, na liturgia, no Terço dos Homens, nos Terços nas casas, também quando saímos em missão, quando nos encontramos para a Missa e em muitos outros momentos que vivenciamos na nossa comunidade a união e a alegria do Evangelho.

Jesus tem força para ressuscitar e transformar nossa vida, renovar a nossa esperança de nos converter. Não são os bens materiais que nos dão a vida nova, mas a paixão e o amor à vida, alimentada pela mística espiritual do encontro, da partilha e da busca de harmonia com o supremo Deus que nos coloca na dignidade de filhas e filhos muito amados.

Que a experiência da Ressurreição do Senhor nos faça também pessoas pascais, ou seja, marcadas pela vida nova no amor do Senhor e no compromisso com a paz e a justiça do Reino de Deus. Busquemos vencer a morte que está nas tantas realidades humanas – nas guerras, nas injustiças, na nossa conivência com as mentiras deste mundo e nas pobrezas espirituais e materiais.

O Senhor está conosco em todos os dias de nossas vidas até o fim dos tempos (Mt 28,20). Sigamos com a vida e a esperança na força do Ressuscitado, na busca de um mundo novo. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Páscoa de Cristo em Nós


Acompanhados da Luz do vivente,
Caminhamos como amigos e irmãos,
Vencendo as trevas e iluminados,
Fortes, vencendo a escuridão,
Seguindo-O vamos em frente,
Na procissão como povo crente,
Em busca do altar da comunhão.
*
Pela companhia da Palavra santa,
Vamos ouvindo o novo mandamento,
Aprendendo e caminhando com o Senhor,
Vivendo a salvação como ensinamento,
Não como algo que ficou no passado,
Que aconteceu e ficou desprezado,
Mas no hoje de nossa vida fundamento.
*
Banhados pela água batismal,
Renovando o compromisso que se selou,
Sigamos a mesma fé professando,
Vivendo a nossa páscoa que chegou,
A cantar o cântico dos renascidos
Como discípulos fiéis e redimidos,
Com o Jesus que conosco Ressuscitou.
*
Encontro da mesa e do Vinho novo,
Comungamos do Corpo do Ressuscitado,
Que nos convida e nos oferece a alegria,
Vem trazer a paz aos desanimados,
Na fraternidade sempre a seguir,
Com coragem e sem desistir,
No mundo novo que agora é recriado.


*   *   *

 

Obra: “A Ressurreição”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos insere numa vida nova pela Sua Ressurreição, ilumine o seu caminho! 

 

 

III Domingo do Tempo do Advento, Ano C, São Lucas

⇒ Domingo Gaudete

 

Leituras: Sf 3,14-18a; Sl Is 12,1-6; Fl 4,4-7; Lc 3,10-18

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Alegria e a Espera Compromissada do Discípulo

Lc 3,10-18

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do III Domingo do Advento, o Domingo da Alegria, nos motiva a manter a contemplação no convite à conversão, agora com o compromisso de discípulo. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 3,10-18, ainda no contexto da passagem intitulada “Preparação do ministério de Jesus”.

Nesta Liturgia, Jesus continua oculto, mas agora na profecia do próprio João Batista (cf. Lc 3,16-17) e o santo Precursor dirige sua pregação ao povo incorporando também os publicanos e os soldados romanos, pois os escritos de São Lucas, discípulo de São Paulo, apresentam a salvação a toda a humanidade. Como resposta, o povo pergunta o que fazer para estar preparado para a chegada do Senhor.

Para a multidão, o Precursor, João Batista, aconselha que se repartam as vestes (os bens) e o alimento com os que não têm. Aos cobradores de impostos, João responde que sejam responsáveis e justos nas cobranças. E aos soldados, que não tomem dinheiro de ninguém e que não sejam injustos nas acusações (cf. Lc 3,11-15).

Toda a pregação do Batista é para que as pessoas se convertam e estejam preparadas para a vinda do Senhor. João se apresenta humildemente a ponto de se considerar como um escravo. E diz: “Não sou digno de desatar a correia das sandálias.” (Lc 3,16) Depois faz uma comparação do seu batismo com o de Cristo: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16). É preciso estar preparado, pois o Senhor virá para que a Reino de Deus aconteça.

O que podemos refletir deste texto de Lucas? As orientações de João Batista nos apontam gestos concretos como virtudes para a verdadeira conversão. Depois, essa pregação está voltada para a dimensão social no olhar para os necessitados, pois para a verdadeira alegria acontecer é importante que haja a partilha, a lealdade e a justiça, que os impostos sejam cobrados na justa medida e que as forças do governo não sejam nem opressoras e nem repressoras, mas que tragam segurança ao povo.

Podemos pensar neste momento: o que nos dá alegria como discípulos e missionários de Cristo? E quais são os mecanismos e as instâncias que retiram do povo a verdadeira alegria? Que motivos de alegria celebramos neste Domingo?

O verdadeiro discípulo é firme e forte frente aos desafios pessoais e comunitários. Por isso, diante da missão de semear a sua Palavra e o amor de Deus ele poderá carregar no coração a profecia de Sofonias: “Alegra-te e exulta de todo coração.” (Sf 3,14). É sendo um simples instrumento de Deus, que a pregação do missionário alumia o mundo com a luz do Senhor.

Temos muitos motivos de alegria para celebrar: pelas tantas pessoas que partilham dos seus bens para ajudar os pobres, os necessitados e as inúmeras ações sociais e religiosas, que semeiam a esperança e a dignidade humana.

Também neste Domingo temos mais um elemento que a aproxima o Advento da Quaresma. Trata-se da cor rosa [ou róseo(1)], presente no penúltimo Domingo de cada tempo. No Advento é o Gaudete, que no latim significa “Alegrai-vos”, e na Quaresma é Lætare, significando “Alegra-te”.

E lembrando que ao próximo dia 14 nós celebramos a Memória de São João da Cruz (1542-1591), Doutor da Igreja – o Doutor Místico, que, junto com Santa Teresa d’Ávila, a Grande, foi um dos pioneiros da reforma do Carmelo. Além de sua obra, São João da Cruz foi uma das principais referências de Santa Teresinha do Menino Jesus, considerada como “filha e discípula de São João da Cruz”, que nos proporcionou o discipulado da Pequena Via para uma época de muitos barulhos.

Por fim, peçamos a Nossa Senhora de Guadalupe, “Mãe das Américas”(2) e cultuada neste dia 12 de dezembro, que ela rogue por nós para que possamos receber o Espírito Santo, Espírito da alegria presente no reencontro do Pai com o Filho Pródigo e necessário para vivenciarmos a sobriedade do Advento com júbilo. Amém.Amém.

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(1) O termo “róseo” é muito significativo no contexto litúrgico, pois além de indicar a própria cor, também indica algo que exala perfume análogo ao de rosa. No entanto, na Instrução Geral do Missal Romano (cf. 346) consta somente o termo “rosa”.
(2) Cf. Oração do Santo Padre à Nossa Senhora de Guadalupe, por ocasião da Viagem Apostólica do Papa São João Paulo II à República Dominicana, México e Bahamas, em 25 de janeiro de 1979. Foi a primeira Viagem Apostólica do Papa. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1979/january/documents/hf_jp-ii_spe_19790125_preghiera-guadalupe.html>. Acesso em: 10 dez. 2021.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Verdadeira Alegria


A alegria verdadeira,
É a que vem do Senhor,
Nos tropeços e na dor.
Mesmo na enfermidade,
E na fragilidade,
Dos que buscam o amor.
*
A alegria verdadeira,
Brota da caridade,
Das ações de bondade,
Marcadas pelo servir,
Dos que querem construir,
A santa fraternidade.
*
A alegria da espera,
Que traz a esperança,
Que propõe as mudanças,
Nos gestos concretos,
Muitas vezes discretos,
Mas na confiança.
*
A alegria dos profetas,
Que anunciam o mundo novo,
Junto ao seu querido povo,
A justiça esperada,
Sempre muito sonhada,
Que voltará de novo.
*
A alegria dos cristãos,
Continuando o caminhar,
Sempre a anunciar,
Com grande esperança,
E com fé e confiança:
No Reino que vai chegar.

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Referência da (i) imagem principal: J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org – “Saint John the Baptist and the Pharisees” ; (ii) imagem da Coroa do Advento: In favpng.com/png_view/church-candles-advent-wreath-clip-art-png/t2ezFbBk e (iii) Imagem das rosas: In <gratispng.com/png-uj22en>.


Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos motiva a contemplar o convite à conversão em tempo de espera ativa pela pregação do santo Precursor, ilumine o seu caminho!