X Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Gn 3,9-15; Sl 130(129); 2Cor 4,13-5,1; Mc 3,20-35

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor Chama-nos para Dentro

Mc 3,20-35

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do X Domingo do Tempo Comum, do Ano B, nos motiva a contemplar a formação da família de Jesus com os que fazem a vontade de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 3,20-35, passagem que compõe a segunda parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “O ministério de Jesus na Galileia”.

E a adesão à família de Jesus deve ser livre, vencendo a indiferença e abraçando a Boa-Nova encarnada em Deus Filho. Nesta Liturgia, o evangelista Marcos nos apresenta dois grupos: os que estão dentro da casa (escutando Jesus) e os que estão fora (julgando Jesus).

O primeiro grupo é formado pelos discípulos e a adesão é livre e desejada. As chaves para a presença diante do Jovem Galileu é a escuta e querer fazer a vontade de Deus. Esse grupo caminhará com Jesus e muitos ficarão pelo caminho como sementes semeadas por entre pedras ou espinhos, mas outros estarão em Pentecostes; são eles que avisam sobre a presença ostensiva da família de Jesus.

O segundo grupo é formado pelos Doutores da Lei e pelos familiares (mãe e irmãos), sua presença não é livre e estão ali a mando de um superior ou preocupados com a reputação familiar; o julgamento é o motivo que os fazem estar próximos ao Galileu.

Um parêntese sobre essa incômoda presença da Virgem nesta Liturgia, a qual devemos considerar o tempo da Páscoa e o mês mariano. Recordamos que a Virgem encontrou graça diante de Deus, deu a luz em condições precárias num presépio, viveu exilada no Egito, percorreu o calvário com Jesus, esteve aos pés da cruz, recebeu o corpo morto de Jesus e, após a Ascensão de Cristo, perseverou em oração com os discípulos em Jerusalém até o Pentecostes, para o tempo da Igreja.

Na vida de cristão, estar dentro da família de Jesus significa abraçar plenamente a Boa-Nova estando consciente e sem julgar a realidade daqueles que estão fora das práticas religiosas. No entanto, significa também estar contra os projetos, as ideologias que agridem os pobres e a vida que Deus quer que seja plenamente e abundante. Ser da família de Jesus é estar inserido em ministérios e pastorais da Igreja, que tem como ponto de partida (e não de chegada) o Batismo e a Crisma.

Devemos nos perguntar: o meu testemunho está voltado para uma atitude de quem está dentro ou fora do grupo do Jovem Galileu? Pecar contra o Espírito Santo é ser indiferente ou duvidar da obra de amor e de libertação querida por Deus. As palavras de Jesus devem nos incomodar e também provocar as mudanças. O que nos incomoda quando as palavras do Senhor ardem em nosso coração?

Na primeira leitura desta Liturgia, a Revelação nos apresenta dois pecados: o primeiro é o pecado da desobediência a Deus (e no Pai Nosso o fiel se compromete a fazer a vontade de Deus) e o outro pecado é contra a fidelidade conjugal [pois Adão e Eva, enquanto esposos, foram incapazes de abraçar o erro querendo fugir das consequências (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2364)]. Um pecado que não é assumido adequadamente não pode ser vencido definitivamente.

Fazer parte da família de Jesus é assumir nossos compromissos e a parte que nos cabe em favor da justiça no mundo. Lembremos que a corrupção na política e nas várias dimensões da vida só perdem força quando realizamos mudanças (pequenas e grandes) no cotidiano concreto do nosso dia a dia.

Que o Espírito Santo nos fortaleça no seguimento, na família de Cristo, para que possamos atuar no mundo a partir da alegria do Evangelho. Coloquemos nossa confiança e esperança nele, como reza o salmista: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. A minha alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora”.

 

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⇒ POESIA ⇐

Palavra que Vence no Mal

 

Palavra do Senhor,
Que vem ao nosso encontro,
Vem para nos tirar do mal,
Vem para nos dá um sinal,
Que invade o nosso coração,
Que vem nos fazer irmãos,
Para a vitória final.

Palavra do Senhor,
Que nos faz família santa,
Contra todas as tentações,
Contra tantas invasões.
Que vence o tentador,
Que nos tira o desamor,
E habita em nossos corações.

Palavra do Senhor,
Que une em vez de dividir,
Que vem nos trazer a vitória,
Que caminha na nossa história,
Que nos faz ficar atentos,
Entre os tantos desalentos,
Purifica nossa memória.

Palavra do Senhor,
Que nos chama a nos unir
Na sua casa santa,
Que em nossas vidas planta,
Pelo Espírito a santidade,
O desejo de eternidade,
Que em todos nós encanta.

Palavra do Senhor,
Que nos faz irmãos, irmãs e mães,
Reunidos em torno do Senhor,
Para superarmos o desânimo e a dor.
Para sempre e sempre escutar,
A mensagem que nos vem transformar,
Fazendo-nos seguidores do vivo amor.

Palavra de Nosso Senhor,
Que nos envia em missão,
Para a paz e o amor distribuir,
Que une em vez de dividir,
Que no alimento do Pão,
Traz a alegria e a união,
Para no mundo expandir.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que formou Sua família com os que fazem a vontade de Deus, ilumine o seu caminho! ***

 

Solenidade de Corpus Christi, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Ex 24,3-8; Sl 116(114-115); Hb 9,11-15; Mc 14,12-16.22-26

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Corpo e o Sangue da Nova Aliança

Mc 14,12-16.22-26

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar Cristo tomando para si todos os elementos do ritual da aliança, em que o sacrifício já não é um novilho, mas o próprio Deus na pessoa do Filho, o nosso Redentor. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 14,12-16.22-26, passagens que compõe a quinta e última parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “a paixão e a Ressurreição de Jesus”.

A palavra aliança nos remete a um pacto em torno de uma finalidade com deveres mútuos entre as partes. No entanto, Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é o próprio avalista do povo e o povo não precisa recorrer a terceiros para garantir a aliança. É a divina misericórdia. Não há generosidade igual no mundo que possamos usar como analogia, senão a própria obra de Deus como Criador, Redentor e Santificador.

Jesus, o Filho Amado do Pai, foi fiel e selou a nova aliança com o Seu Sangue. E era preciso que os discípulos aprendessem a viver essa oferta de vida para abraçar o ide e fazer novos discípulos em todos os lugares (cf. Mt 28,16-20).

E nós renovamos, a cada Eucaristia celebrada, o compromisso com o Senhor que se entregou por todos. Há uma proclamação em memória do Sangue derramado e do Corpo doado, que é atualizado, é vivido todas as vezes que participamos da Eucaristia. E alimentados do Senhor devemos ter a mesma compaixão do Jovem Galileu na vida cotidiana da família, do trabalho e nas interações sociais. Ser um cristão eucarístico é ir além do espaço do culto e, sem desconsiderar a dimensão devocional, expressar o exemplo de Cristo nas realidades temporais. Depois voltar para o encontro fraterno da Palavra na assembleia, onde somos irmãos e irmãs no mesmo Sangue do Senhor, que nos vincula perpetuamente na aliança ofertada e avalizada por Deus. Podemos nos lembrar: “Somos irmãos de sangue, em Cristo.”

Qual a memória que carregamos na nossa experiência de seguidores do Senhor? Como nos sentimos, quando dizemos que somos irmãos em Cristo? E mesmo em tempo de coronavírus antes da comunhão nos damos a paz, olho no olho. Quantas vezes, mecanicamente, não conseguimos realmente desejar-lhe a paz? O que nos falta para sermos naturalmente mais irmãos mansos e humildes de coração?

Por isso, a Eucaristia nos motiva a ir além das emoções. Por exigência, devemos colocar o Ressuscitado no centro de nossas vidas e deixar que a fé da Igreja dê o sentido que vivemos nesta Solenidade. O Cristo que irá na procissão é o mesmo que caminha conosco em nossas angústias, fadigas, derrotas, mas também alimenta nossa esperança, é nosso refrigério e é motivo para completarmos nossas corridas.

Sejamos cristãos eucarísticos no templo, no culto, no cotidiano, a cada momento do dia. Deixemos nos conduzir pela memória viva, da entrega do Senhor que ofertou sua vida para que todos tenham vida plena e abundantemente. Ele quer fazer a ceia conosco, quer partilhar seu Corpo e seu Sangue para nos dá força e mantermos viva a esperança. Encerremos, como o salmista, louvando o Corpo do Senhor e rezando “Elevo o cálice da minha salvação, invocando o nome santo do Senhor.”

 

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⇒ POESIA ⇐

Comungar com o Senhor

 

Comungar com o Senhor,
É ação que transcende ao altar,
Vai lá, no nosso coração,
E que vem a nos impulsionar,
Para ser também o corpo seu,
Viver como Ele viveu,
Sem dEle se distanciar.

Comungar com o Senhor,
É ter Seus mesmos sentimentos,
É viver a sua Boa-Notícia,
Como nosso ensinamento,
É como a semente a se espalhar,
Pelo mundo, para germinar,
Para o Reino em crescimento.

Comungar com o Senhor,
É viver Sua santa memória,
Com Ele presente aqui,
Rompendo os limites da história,
Povo vivendo em comunhão,
Encontro e partilha do Pão,
Onde a união tem a vitória.

Comungar com o Senhor,
É sair da acomodação,
Sendo sal e luz neste mundo,
Para fazer a transformação,
E aos corações que partilham o amor,
Oferecer à vida, o sentido e a cor [dor],
Para se despedir da desilusão.

E comungando com o Senhor,
Vamos vivendo a caridade,
Sendo entrega que Ele pediu,
Entre o sagrado e a humanidade,
Semeando a paz em vez da guerra,
Trazendo a harmonia a todo a terra,
E as criaturas em dignidade.

E vivendo o vínculo com o Senhor,
Pelo Seu Sangue, nova aliança,
E no seu Corpo sendo seus membros,
Na entrega constante que não se cansa,
Estamos ligados pela Eucaristia,
Vivida nos passos de cada dia,
Mantendo a memória e a esperança.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que selou a nova aliança pelo seu sangue, ilumine o seu caminho! ***

 

Solenidade da Santíssima Trindade, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Dt 4,32-34.39-40; Sl 33(32); Rm 8,14-17; Mt 28,16-20

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Comunidade Santa

Mt 28,16-20

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Solenidade da Santíssima Trindade nos motiva a contemplar Deus como comunidade santa, como comunidade perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 28,16-20, passagem que encerra o Evangelho segundo Mateus.

No Domingo depois do Pentecostes, celebramos a Trindade Santa. O Deus dos cristãos, que é o mesmo de Abraão, Isaac e Jacó, é Um, é Uno e, ao longo da história da salvação, se revelou Trino, ou seja, Criador, Salvador e Santificador.

Na primeira leitura desta Liturgia, Moisés fala ao povo sobre a proximidade de Deus na história: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele.” (Dt 4,39). Sendo próximo, também é Único e que todas as pessoas devem prestar culto e seguir os Seus mandamentos. Graças a Moisés, temos a revelação de Deus como Pai e Criador.

O evangelista Mateus nos apresenta Cristo na Galileia com os discípulos. Na passagem, Cristo os envia em missão para fazer novos discípulos pela ação da Trindade. “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei.” (Mt 28,19-20). Os novos discípulos deverão ser inseridos na comunidade cristã pela ação da Trindade, observando o mandamento do amor contido na Boa-Nova, para que entrem no caminho da salvação e levem ao mundo a paz, a fraternidade, a justiça, a alegria e a unidade. Graças ao evangelista Mateus, temos a revelação de Deus como Filho e Salvador.

São Paulo diz aos romanos, que o Espírito nos faz herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo em vista da glória preparada para todos que se deixam conduzir por Ele (cf. Rm 8,17). Portanto, a santidade é manifestada quando deixamos que os dons nos capacite a viver não a condição escravo, mas a de coerdeiro de Cristo e também templo, onde o Espírito possa habitar e agir. Graças a São Paulo, Apóstolo, temos a revelação de Deus como Espírito Santo e Santificador.

Devemos refletir sobre a presença da Trindade e dos sacramentos em nossas vidas. Viver na graça de Deus é primeiramente reconhecer, a cada momento do dia, que somos conduzidos pelo mistério da Trindade.

A dimensão trinitária de Deus foi se revelando paulatinamente desde o Antigo Testamento com Abraão, Moisés e os profetas até o Pentecostes e as ações missionárias como as de São Paulo. Com os primeiros cristãos, aprendemos, enquanto Igreja, a expressar a fé na Trindade através do Credo, que é rezado nas solenidades. Também os sacramentos são iniciados pela invocação à Santíssima Trindade e a graça sacramental (cf. CigC 1129) nos insere, nos perdoa, nos alimenta e nos convoca a exercer o nosso serviço, o nosso ministério de amor a Deus e ao próximo.

Como os primeiros discípulos, devemos obedecer ao mandato de Cristo e viver a missão de fazer novos discípulos em nome da Santíssima Trindade. A primeira atitude missionária é o testemunho. A segunda é o serviço na caridade, no anúncio da Palavra e no acolhimento aos que procuram a Igreja.

Devemos, portanto, nos perguntar: qual é a minha Galileia? Onde devo testemunhar a Santíssima Trindade num mundo que oferece um pseudoamor, ou seja um amor fantasioso, falso, superficial, como um sentimento e que estimula as pessoas a um daninho dilema entre gostar e descartar? Deus nos indica sempre onde devemos ir para testemunhar a fé da Igreja que recebemos no nosso Batismo e o nosso amor à Santíssima Trindade. Para isso precisamos silenciar nosso interior e nos esvaziar da lógica pessoal.

 

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus Comunidade

 

Um Deus Trindade,
Que se faz presente,
Mas que já existia,
Na vida da gente,
Caminhando na história,
Que nos traz a vitória,
E é onipotente.

Um Pai de amor eterno,
Que se faz bondade,
Na misericórdia.
Na santa unidade,
Voz nos profetas,
Por eles aponta a seta,
Com fidelidade.

Um Filho, um rosto amoroso,
Que se revelou,
Conosco veio morar,
E não se limitou,
À nossa inteligência,
Eterna benevolência,
Que tanto nos amou.

Espírito, sopro de Vida
Que vem nos capacitar,
Com os dons de seu amor,
Sempre a nos iluminar,
Fazendo-nos também luz,
Na vida vem e no conduz,
Sempre a nos recriar.

Um Deus trino e eterno,
Na Santa Eucaristia,
Mesa grande, santa e farta,
Que nunca fica vazia.
Que por sua santa ternura,
Faz-nos novas criaturas,
Restaura nossa alegria.

Deus em comunidade,
De perfeita comunhão,
Que a nós se revelou,
Com a sua forte ação,
Fazendo-nos seus herdeiros,
Salvou-nos por inteiros,
E restaurou nossa união.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos mostrou a face misericordiosa, ilumine o seu caminho! ***