Missa da Noite
Leituras: Is 9,1-6; Sl 96(95); Tt 2,11-14; Lc 2,1-14
POESIA
DEUS NASCE ENTRE OS PEQUENOS
Entre as montanhas de Judá,
Nas noites escuras dos pastores,
Vem a luz divina nos visitar,
Vencendo todos os temores.
Trazendo o amor e a salvação,
Vencendo em nós a escuridão,
Que muitas vezes nos traz horrores.
Nasce entre os animais e pecadores,
Anunciando desde já sua missão,
Rei simples e pobre e sem coroa,
Sendo sinal de contradição.
Vem como uma simples criança,
Mas traz para muitos a esperança,
E aos poderosos a confusão.
Naquela noite vem os louvores,
Da corte celeste a cantarolar,
E à voz do anjo mensageiro,
Que se une também a entoar,
Porque nasceu o salvador,
Deus de paz, justiça e amor,
E a todos os homens veio salvar.
O Natal nos traz um ensinamento,
Para nesta vida proceder,
Nasce Deus para o mundo inteiro,
Com sua palavra vem nos converter,
Ensina-nos a simplicidade,
O acolhimento e a fraternidade,
Pregar a justiça e o bem viver.
E em torno do santo altar,
Vivamos a coerência e a união,
Escutando sempre a santa Palavra,
A irmandade e a comunhão,
Sendo sinal da luz do Senhor,
Vencendo a tristeza e o rancor,
Vivendo todos como irmãos.
HOMILIA
Jesus nasce entre os pobres
Entre as luzes brilhantes das casas, das lojas, das árvores, dos diversos lugares e dos presépios montados nas nossas casas e nas nossas Igrejas, celebramos a noite do Natal do Senhor marcados com a alegria que vem da Palavra de Deus e com o calor dos que se reúnem para partilharem da mesma mesa que nos faz irmãos.
O texto do Evangelho para a liturgia da Igreja na noite de Natal é de Lucas, o qual apresenta a caminhada dura, entre as montanhas, que Maria e José, grávidos de Deus, fazem de Nazaré até Belém, com o objetivo de participarem do recenseamento como membros daquele povo.
Nos arredores daquele vilarejo, próximo aos campos dos pastores, numa gruta, nasce o nosso Pastor. Será aquele que vem trazer a paz, a justiça e, sobretudo, o amor misericordioso de Deus Pai.
O Cristo de Deus nasce numa manjedoura e o anjo leva a notícia aos pastores, não porque são os mais puros e santos. Segundo a história antiga, “os pastores não eram de forma alguma gente simples, bondosa, inocente, gozando da estima de todos. Eram considerados como os mais impuros dos homens… Os rabinos diziam que os pastores, os publicanos e os coletores de impostos dificilmente poderiam se salvar, porque praticavam o mal e estavam destinados à perdição”.[1] Portanto, é em favor da conversão e da salvação que Jesus virá e com eles seguirá durante toda a sua caminhada na terra.
Os primeiros a receberem a notícia são os que estão nos campos cuidando dos rebanhos. São os pobres distantes do centro da cidade, distante da casa real onde a corte humana esperava junto aos seus súditos um Rei poderoso e rico, com seus exércitos fortes e invencíveis.
Deus usa uma pedagogia diferente para se fazer presente entre os homens. Mesmo sendo capaz de se manifestar de uma forma mais óbvia e mais plausível aos olhos da humanidade. Deus vem como criança, nascendo numa estrebaria, através de uma família simples (Maria e José) e pobre, a ponto de não ter uma casa para realizar o parto.
Jesus nasce na noite dos pastores para dizer que ele é Luz e que é também o Pastor supremo que trará a alegria e a misericórdia a todos os homens. Ele vence o medo dos que escutam a sua mensagem através do anjo mensageiro, porque traz a alegria da salvação e onde há a presença salvadora de Deus não poderá haver medo, mas o temor pelo amor e pela adoração. Ele vem realizar as profecias do profeta Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria.” (Is 9,1).
Uma nova compreensão da ação de Deus se apresenta para confundir os poderosos, para contradizer as expectativas reais, porque agora já não se manifesta para um grupo privilegiado, mas para todas as nações e classe sociais a começar pelos mais pobres, os mais humildes.
Em Deus não há prepotência e nem acepção de pessoas. São Paulo irá nos dizer: “Com efeito, a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, e a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade.” (Tt 2,11-12).
Portanto, todos nós devemos sempre ficar atentos a ação de Deus, pois ela se manifesta na simplicidade e nos conduz a vivermos desta forma. Um Deus que se encarna pobre e entre os pobres e pecadores vem nos ensinar o quanto é preciso trabalhar pela evangelização em busca dos que estão perdidos e que necessitam do ensinamento e da misericórdia.
É preciso lembrar daqueles pobres que mesmo em condições econômicas de riqueza confortável se encontram mergulhados nas misérias humanas e necessitam da libertação pela palavra e pela cura interior.
E todos nós cristãos que nos reunimos para celebrar esta grande festa cristã somos convidados a nos unir à multidão da corte celeste para cantar em uma só voz: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama.” (Lc 2,14), porque o nosso Deus se faz presente na simplicidade de uma criança para nos ensinar a simplicidade e o amor a todos. Veio caminhar conosco, pois é “Deus conosco” e, sobretudo, veio nos trazer a salvação.
Rezemos pedindo a graça e a proteção pelos que não terão oportunidade de celebrar o Natal dignamente. Pelos que estão nas periferias da existência humana, distante das luzes e dos brilhos das árvores fantasiosas das nossas casas, das nossas igrejas e das casas comerciais. E por cada cristão, para que escutem Deus que o chama à fraternidade e a caridade em favor dos que padecem as consequências dos poderes humanos. Amém!