SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12

POESIA

CAMINHAR EM BUSCA DO MENINO

Seguindo a estrela de Belém,
Marcados pelo desejo de encontrar o Senhor
Vão os caminheiros do oriente,
Com o coração ardente,
Prontos para adorar,
E também para ofertar,
Os seus ricos e simbólicos presentes.

O encontro com o Deus menino,
Muda a direção dos curiosos caminheiros,
Seguem um caminho transformado,
As trilhas são de homens renovados,
Que vão levar a divina alegria,
Que pra eles antes não existia,
E agora é um sonho precioso realizado.

Também nós devemos seguir este caminho,
Via que nos leva até o Deus encarnado,
Para sermos discípulos com dons a oferecer,
Adorando o Senhor para na fé crescer,
Num caminho de evangelização,
Marcado pelo amor e a oração,
Convictos de um constante converter.

Não façamos como o rei tirano e solitário,
Que somente quis saber onde nasceu o Salvador,
Não se dispôs trilhar o caminho e até a ele chegar,
Pois teve medo de perder o seu lugar,
Mas o reinado do Senhor é diferente,
É de amor e para todos, como presente,
Para os que querem o encontrar.

Carreguemos o sentido da salvação universal,
Onde todos têm direito aos dons divinos.
Pois, todo homem é chamado a conversão,
De qualquer canto do mundo ou nação,
Basta abrir o coração a grande novidade,
Por que Deus veio morar na humanidade,
Para nos presentear com a salvação.

 

HOMILIA

Os sábios vão em busca da Salvação

A solenidade da Epifania[1] do Senhor nos traz o texto de Mateus, o qual nos conta o nascimento de Jesus em Belém. O evangelista nos situa dentro do reinado de Herodes, que se sente ameaçado por tal acontecimento e procura encontrar o menino (cf. Mt 2,3). Os especialistas nas escrituras (mestres da lei) localizam o texto do profeta Miquéias (5,1-4), que cita o nascimento de Jesus em Belém.

Em cena aparecem também os magos do oriente que estão curiosos. Não têm as escrituras para decifrarem sobre o nascimento do Jesus, mas querem chegar até ele (cf. Mt 2,2). Herodes quer usar os magos para chegar até o menino, mas não consegue. Pois os magos são avisados em sonho e voltam dessa grande jornada de busca e visita ao Messias por outro caminho (cf. Mt 2,12).

A nossa reflexão mais importante deve se voltar para o significado da visita, das ofertas e da volta dos magos por outro caminho. Em primeiro lugar a interpretação teológica nos ensina que os magos representam a diversidade racial dos gentios, que buscam e acolhem a salvação universal de Deus através de Jesus.

Ir ao encontro do Menino significa a busca dos que querem encontrar-se com Deus. Este texto de Mateus nos ensina que a Salvação em Cristo é para todos os homens, como nos fala São Paulo na segunda leitura: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.” (Ef 3,6).

Um segundo ensinamento sobre a visita dos magos são as ofertas feitas por eles: ouro, que é símbolo da realeza; incenso, a sua divindade e mirra, a sua unção no túmulo, no corpo (natureza humana) e a incorruptibilidade do seu corpo que culmina na Ressurreição.

Antes mesmo das ofertas, os magos se ajoelham diante do Menino e o adoram (cf. Mt, 2,12). Num terceiro momento podemos lembrar que os visitantes retornaram para sua terra seguindo outro caminho, significando que o encontro com o menino Jesus transforma a vida daqueles que vão ao seu encontro.

Portanto, a liturgia da Epifania do Senhor deve nos levar a meditar que precisamos constantemente ir ao encontro de Jesus para renovarmos nossa caminhada, para seguir novos caminhos e avançar na vida de discípulos amados por ele.

O nosso encontro deve ser de louvor, marcado pela alegria que o encontro deve nos proporcionar. Podemos ainda nos perguntar: o que temos para oferecer a Deus? Que dons podemos colocar a serviço do Reino?

A dimensão universal da salvação proposta pelo evangelista Mateus, pode nos direcionar para o aspecto ecumênico nas nossas ações cristãs, no nosso relacionamento com os irmãos de outras denominações e no nosso trabalho social voltado para serviço aos pobres.

Juntemos a nossa prece às das crianças do mundo inteiro para que percorramos um ano novo cheio de muitas transformações na vida dos que querem encontrar o Senhor, dos que querem fazer uma caminhada marcada pelo crescimento espiritual, daqueles que querem juntamente conosco conhecer e seguir Jesus. Por fim, rezemos com o salmo 71(72): “As nações de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor.”

[1] Em grego quer dizer “manifestação”.

BATISMO DO SENHOR, FESTA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 55,1-11; Sl 28; At 10,34-38; Mc 1,7-11

POESIA

MERGULHADOS NA VIDA DE CRISTO

Do céu vem uma voz:
É o Pai de eterno amor,
Que apresenta o Filho,
Como nosso redentor,
É o filho muito amado,
Do Pai o seu agrado,
O santificador.

O céu também se abre,
Para a terra abraçar,
Pois a humanidade,
Estava a esperar,
Que a terra fosse olhada,
E a vida resgatada,
E em águas se banhar.

Do céu também o Espírito,
Em manifestação,
Pousando sobre o Filho,
Do Pai da criação,
Jesus conduzirá,
E o consagrará,
Toda a sua missão.

Do céu à aqui na terra,
A Trindade Santa vem,
Apresentando ao mundo,
O amor, a paz e o bem,
Missão de redenção,
A todos a salvação,
Sem excluir ninguém.

E nós os batizados,
Em Cristo, inseridos,
Igreja, o seu corpo,
Os membros reunidos,
A Palavra Santa ouvindo,
Seu corpo consumindo,
Pra sermos redimidos.

 

HOMILIA

Cristo mergulha em nossa humanidade

Celebramos hoje o Batismo do Senhor, festa que nos encaminha para o início da primeira parte do Tempo Comum. Inicialmente podemos nos perguntar: era necessário que Jesus fosse batizado por João Batista? O batismo de Jesus significa “a manifestação pública de sua adesão ao Pai e a missão que lhe foi confiada, como Filho amado e fiel”.[1] O filho de Deus feito homem, nascido em Belém, agora é apresentado ao mundo com a sua missão. O céu se abre para apresentar o Filho muito amado numa manifestação da Santíssima Trindade. A descida do Espírito Santo, a voz do Pai Eterno e o Filho que se faz batizar por João.

Deus entra em diálogo com a humanidade pecadora. Cristo que vem ao rio Jordão para mergulhar nas águas, se solidariza com os homens e por isso mergulha na nossa natureza humana para nos resgatar para a sua vida divina. A sua missão é mostrar a ação misericordiosa de Deus que veio visitar o seu povo para libertá-lo dos pecados, curar os doentes, fazer os cegos enxergarem, libertar todos do pecado e os conduzir a salvação.

Em Jesus se realiza aquilo que Isaías nos apresenta: “Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu Espírito, ele trará o direito às nações.” (Is 42,1). Cristo é apresentado como o filho, o (servo) eleito, muito amado, obediente em quem o Pai põe o seu bem querer (cf. Mc 1,11), porque é vontade dele que este Filho seja conhecido, porque ele também é Deus que se encarnou para salvar o mundo, não mais como servo, mas como Filho muito amado.

Jesus, no seu batismo, no rio Jordão, já prefigura aquilo que será a consequência da sua missão: a sua morte como sacrifício oferecido em favor dos pecadores e ressurreição, como vitória sobre a morte.

Na sua paixão, com os braços abertos ele acolherá a todos, sem distinção, como fala o apóstolo Pedro: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34-35). Todos os povos podem participar do Reino, desde que pratiquem a justiça segundo a vontade de Deus e queiram abraçar a salvação oferecida por Jesus. Ele que veio julgar com misericórdia todo homem que aderir a sua mensagem.

O Filho agirá com mansidão, não oprimirá e nem será autoritário, mas seu julgamento será pela misericórdia e justiça divina, será fiel, pois irá até o fim para trazer a sua glória a todos aqueles que almejam a vida eterna.

No batismo somos inseridos na comunidade dos membros de Cristo como sacerdotes, profetas e reis. Sacerdotes, porque devemos oferecer o sacrifico a Deus como templos vivos que acolhem o Espírito Santo. Como profetas, devemos anunciar a verdade do Evangelho num mundo de contravalores e de difamação da santidade. E como reis, somos chamados a reinar sobre as realidades do mundo com o amor de Cristo o proclamando como rei e nosso Deus.

Somos chamados à dignidade de filhos de Deus pelo nosso batismo, para também mergulharmos nas águas santas e ouvir a voz de Deus, e deixando que o céu se abra para nossa existência. Precisamos acolher a ordem do Pai: ouvir o filho que veio ao nosso encontro para nos comunicar a sua bondade pela palavra, nos alimentar com o seu corpo e fazer-nos discípulos.

Devemos também refletir sobre o nosso batismo no sentido de como estamos vivendo a nossa inserção na Igreja. Os jovens devem se perguntar sobre a sua experiência de batizado nas suas diversas realidades. Como está o testemunho e a convicção de ser membro de Cristo, ou de testemunharmos a nossa vida como uma imitação de Cristo.

Como seguidores de Cristo, seremos enviados para comunicarmos os mesmos sentimentos misericordiosos de Cristo. Devemos anunciar a importância do Batismo e ao mesmo tempo propagar o valor que tem a comunidade dos mesmos quando se reúnem em torno da Palavra e da Eucaristia. E ainda, é missão de todo batizado fazer com que outros sejam batizados para serem acolhidos como filhos e membro do Corpo de Cristo que é a Igreja.

Rezemos por todos os batizados e pelos padrinhos que juntamente com os pais e mães assumem o batismo dos filhos e afilhados, para darem testemunho do amor de Deus, da escuta da Palavra, da participação da Eucaristia e da preocupação para que as crianças e jovens cresçam também no amor de Cristo.

[1] Jesus veio nos indicar os caminhos do reino: Roteiros homiléticos para o tempo do Advento – Natal – Tempo C – Ano B – São Marcos. Brasília: Edições CNBB, 2014, p. 67.

Sagrada Família, Jesus, Maria e José, Festa

Leituras: Eclo 3,3-7,14-17a; Sl 127; Cl 3,12-21; Lc 2,22-40

 

OS ENSINAMENTOS DA FAMÍLIA SANTA

 

Na obediência humana e divina,
Caminha a família santa a nos ensinar,
Carrega nos braços Deus Menino,
Que veio nos resgatar,
Ao Templo santo vem oferecer,
Aquela oferta que deve ser,
Sinal da simplicidade em tudo dar.

A família Santa nos ensina,
Que silêncio é a melhor atitude,
Para que o lar seja espaço santo,
Presença divina em plenitude,
Lugar de amor e oração,
Da escuta e da contemplação,
O céu na terra e a infinitude.

A família Santa ensina,
Sobre a vida familiar,
No convívio puro de esposo e esposa,
Que tanto tem a nos ensinar,
No respeito à vida na castidade,
Na obediência e fraternidade,
No carinho santo a se propagar.

A família santa também nos ensina,
Sobre o trabalho e seu valor,
Ação digna que nos faz bem,
Que fez também nosso criador,
Por que a vida é pra ser vivida,
E as nossas lutas bem assumidas,
Com paz, justiça e puro amor.

Que a mesa Santa traga o alimento,
Para o testemunho de alegria,
De um banquete cheio de união,
Na caminhada de cada dia,
Que o diálogo esteja presente,
E o perdão nunca ausente,
Que seja verdade, a harmonia.

Homilia

A Sagrada Família nos ensina a Santidade no lar

 

Neste Domingo da oitava do Natal celebramos a festa da Sagrada Família. Jesus, Maria e José vão ao Santuário de Deus para realizar os preceitos da Lei com a apresentação do menino Jesus ao Templo. Outros personagens entram na narração: o velho Simeão, que era justo e piedoso, e a profetisa Ana, que já era idosa e ficava dia e noite no Templo pela escuta do Senhor na oração.

Ao meditarmos sobre o evangelho de Lucas percebemos que Maria e José mantém em família, com obediência, a tradição do seu povo. Vivem o momento histórico como tantas famílias da sua época deviam fazer: apresentar o filho ao Templo para que seja consagrado a Deus.

Eles também trazem a oferta representada nos dois pombinhos. Trata-se da oferta mais simples que uma família judaica poderia apresentar ao altar do Senhor. Nisto também se confirma a oferta dos pobres a qual é a expressão da simplicidade da família de Nazaré.

Outro momento importante desta narração é a presença do velho Simeão que representa o povo de Israel, nação que tanto esperou pela chegado do Salvador. Nos braços deste ancião Jesus é acolhido, porque ele (Simeão) faz parte dos judeus que acolheram Jesus como o Cristo, aquele que veio trazer a redenção e a esperança a todos os povos.

O coração de Simeão fica alegre por ter visto o Redentor. Na sua profecia as consequências do anúncio que Jesus iria proclamar durante a sua vida terrena: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma.” (2,34-35).

A Palavra viva (Cristo) trará uma mensagem de amor, mas, ao mesmo tempo, denunciará pela sua força a divisão entre aqueles que aceitarão o Reino e aquele que a ignorarão sua presença e seu valor. A Pregação de Jesus denunciará a hipocrisia, a incoerência religiosa e a opressão contra os pobres que vem da parte das lideranças reais e tradicionais dentro do povo judeu.

A profetisa Ana também se alegrou com a presença do Menino Deus no Templo. Ela louvou e pregou sobre a realização da promessa de Deus a tanto tempo esperado pelo seu povo. Ambos, Maria, José, Simeão e Ana representam o povo de Israel que acolhem o Salvador concretamente nas suas vidas. A eles é dada a missão de proclamarem com a vida, com o testemunho e com as palavras, que o salvador está presente no mundo e que todos devem adorar e escutar a sua voz.

A experiência de sintonia e esperança em Deus fazem com que Simeão e Ana percebem que a criança apresentada não é um recém-nascido comum, mas o Verbo de Deus encarnado que veio morar entre nós. O testemunho destes dois personagens santos também nos lembram os padrinhos quando na hora do batismo colocam nos braços, seus afilhados, apresentando-os à comunidade de fé.

Quanto a família de Nazaré, mais especificamente, segundo o Beato Paulo VI[1], esta apresenta três lições para os cristão que querem aprender da escola do Evangelho: a primeira é sobre o silêncio o qual faz escutarmos Deus no recolhimento, na interioridade, na nossa preparação pelo estudo, da meditação e a oração silenciosa as sós com Deus; a segunda lição da casa de Nazaré é sobre a vida familiar. O respeito entre os cônjuges, com os filhos, o perdão e o amor misericordioso, a harmonia no lar, o zelo pela santidade do matrimônio. A primeira leitura desta liturgia fala, sobretudo, do respeito e o cuidado que o filho deve ter com os seus pais, principalmente na velhice. Jesus mesmo sendo Deus, foi obediente e cuidadoso com seus pais, vivendo a maior parte de sua vida junto a eles.; a última lição é sobre o trabalho. Os evangelhos apresentam como algo presente na casa de Maria e José. José, carpinteiro e artista,, vivia de seu trabalho juntamente com Maria e Jesus. O trabalho como dignidade e não como busca de acúmulo de riquezas inúteis ao homem. Naquela casa santa de Nazaré se viveu a experiência do trabalho humano, pois até neste sentido Jesus assumiu como homem, para nos mostrar que ele viveu dentro das realidades do povo.

A família santa nos ensina como construir um lar inspirado no exemplo da casa de Nazaré. Também esse é nosso chamamento. Peçamos ao Espírito Santo que ilumine todas as nossas famílias e para sejam verdadeiros lugares da presença de Cristo, na santidade e na alegria entre pai, mãe e filhos. Amém!

 

[1] Liturgia das horas, domingo dentro da oitava de Natal, Festa da Sagrada Família, p. 382, Vozes, 1999.

Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria (2018)

Leituras: Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7; Lc 2,16-21

POESIA

MÃE DE DEUS E NOSSA

Mãe da escuta atenta,
Do silêncio e da oração,
Toda entregue por amor,
Do Senhor da salvação,
Ensina-nos a santidade,
Mostra-nos tua serenidade,
Para a santificação.

Mãe de Deus e nossa Mãe,
Mãe do príncipe da paz,
Ensina-nos a fraternidade,
Que tanta harmonia nos traz,
Ensina-nos também a escuta,
A paciência na labuta,
Quando não somos capazes.

Que a benção do Senhor,
Teu filho amado e querido,
Possa nos trazer a paz,
Neste mundo tão sofrido,
Das guerras possa nos livrar.
E por Deus sempre nos guiar,
Sendo um povo redimido.

Que o nosso príncipe da paz,
Pela sua encarnação,
Ajude-nos na caminhada,
E o amor entre os irmãos,
Trazendo-nos alegria,
Que nasce da Eucaristia,
Pra nossa libertação..

 

HOMILIA

Junto a Mãe de Deus celebramos a Paz

Na liturgia solene da Santa Mãe de Deus os cristãos se reúnem carregados de esperanças, de revisões de vida, de expectativas e de muitos propósitos para o ano que se inicia. Há uma intenção especial por parte do Papa, que é celebrar o dia Mundial da Paz junto a Mãe de Deus. Ela que nos presenteou com o seu “sim”, acolhendo e fazendo com que o príncipe da paz pudesse reinar em nosso meio, nos trazendo o amor, a misericórdia e a salvação para todos.

O Evangelho proclamado é continuidade do texto da noite de Natal quando os pastores encontram o menino Jesus na manjedoura juntamente, com Maria e José, e depois vão anunciar esta alegria aos outros. Os pastores, descriminados que eram, foram os primeiros que receberam a notícia do nascimento do salvador. A eles cabe também o anúncio das maravilhas de Deus. Da boca deles também saiu os louvores por tudo que o que Deus tinha realizado em favor de toda a humanidade (cf. Lc 2,17-18.20).

Maria guardava, como que depositando, todos estes acontecimentos e meditava em seu coração (cf. Lc 2,19), procurando compreender todo o processo da sua resposta a Deus, quando o Anjo a visitou. Meditava porque também era mulher do silêncio e da oração, na escuta atenta a Deus, na reflexão da sua missão de gerar o Verbo e de ser agraciada com o compromisso de acompanhar o seu filho no cumprimento das promessas que vinha de Deus Pai.

Neste primeiro dia do ano os cristãos também reúnem para pedirem as bênçãos que vem de Deus, por que a benção é sinal de salvação como escutamos na primeira Leitura: “ ‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!’ Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei”. (Nm 6,24-27).

Olhando o ano que passou muitas vezes ficamos tristes pelas perdas, pelos desafios não superados, mas quantas bênçãos e proteção o Senhor nos deu quando não sabíamos por onde caminhar ou o quê fazer. Para o ano que se inicia temos sonhos, projetos e propósitos, que devemos colocamos no Altar de Deus. Neste sentido devemos também ter em mente que se faça a vontade do Senhor e não a nossa.

Maria nos possibilita que sejamos seus filhos. Ela, que é Mãe de Deus e nossa Mãe, também gerou a Igreja que somos nós. Ela é a mãe do príncipe da Paz, também nosso irmão, nosso Deus amado que veio ficar junto de nós para nos ensinar que Deus é Pai e tem misericórdia dos pecadores, por isso vem trazer a união e a fraternidade.

Nessa relação santa de filhos, São Paulo nos fala: “De modo que já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro, graças a Deus.” (Gl 4,7). Temos então o temor que vem do amor e da necessidade de santificação e não o medo da condenação. Se amamos o Senhor, faremos a vontade dele e por isso não devemos ter medo dele porque ele está bem próximo de nós.

Que neste ano que se inicia possamos promover cada vez mais a paz entre as pessoas, onde estivermos inseridos e que Nossa Senhora nos ensine a sermos obedientes, necessitados de amor e na escuta de Deus, que sempre está nos chamando a santidade e a sermos, ao mesmo tempo, discípulos missionários do seu Reino.

IV DOMINGO DO ADVENTO

Cor Litúrgica: Roxo

Leituras: 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; Sl 88; Rm 16,25-27; Lc 1,26-38

 

ESCUTA E OBEDIÊNCIA

 

Na simplicidade no meio dos homens,
Deus vem ao mundo pra nos salvar,
Mostrar seu rosto igual ao nosso,
Porque conosco quer caminhar,
Traz alegria e claridade,
Justiça e paz à humanidade,
No nosso meio vem habitar.

O mensageiro visita uma Virgem,
Traz um recado do criador
Traz a alegria que vem do alto,
Do Deus da vida e de imenso amor,
Uma mensagem que tira o medo,
E revelando divino segredo,
Pois a nós virá o Salvador.

E o Santo Espírito fará a obra,
Com sua sombra vai proteger,
Não faltará proteção e graça,
Pois o Santo menino irá nascer,
Filho de Deus será chamado,
Verbo divino no mundo encarnado,
Para um novo Reino acontecer.

A Virgem Santa se entregará,
Dizendo sim ao Deus da vida,
Na obediência da santa Palavra,
Na escuta atenta e refletida,
Sim à proposta e ao chamado,
Do Deus que ama e é amado,
Que quer um mundo todo redimido.

E neste mundo que agora estamos,
Somos a Igreja engravidada,
Da esperança e da justiça,
Para que a vida seja respeitada,
Para que as crianças recém-nascidas,
Sejam amadas e acolhidas,
E no amor de Deus encaminhadas.

E nas luzes que brilham em tantos lugares,
Possa lembrar nosso Deus de amor,
E entre os homens a fraternidade,
Que vem do alto com esplendor,
E os cristãos tochas brilhantes,
E qualquer lugar e a todo instante,
Sendo presença do Salvador.

Homilia

Corações abertos para o Cristo que vem

 

Neste IV domingo do Advento, estamos já envolvidos pelo clima espiritual e litúrgico da festa do Natal. A exemplo da Virgem Maria, somos convidados a escutar Deus que entra na nossa existência, traz a sua mensagem de esperança e de alegria e nos anuncia a chegada daquele que nos trará a alegria da salvação. Neste mesmo sentido, se queremos aprender da virgem Santa e colaborar com a obra redentora de Deus devemos também dizer um sim em atitude de entrega, para que a Sua vontade possa prevalecer.

O Evangelho narrado por Lucas nos traz o lindo trecho da anunciação do anjo. Nesta narração vemos que Deus envia um mensageiro à Virgem Maria para lhe apresentar uma proposta Divina. As primeiras palavras do anjo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Como deve ter ficado o coração de Maria? O que se passou nos seus pensamentos sobre seus projetos de uma futura mãe?

Ter consciência da presença e alegria de Deus em sua existência foi a experiência profunda desta jovem da Judéia, numa cidade escondida entre as montanhas de Israel. Deus quer realizar suas promessas através da resposta de uma mulher virgem e já noiva de um homem justo chamado José. Ele também nos ensina sobre o silêncio, a obediência e a escuta.

A Virgem meditou em suas perturbações e em seus questionamentos sobre as palavras do mensageiro. Ela mergulhou profundamente no mistério do Deus que há tanto tempo, através dos profetas, prometia a vinda do Messias. Quantas mulheres esperavam esta dádiva, este presente, que Deus podia oferecer a uma mulher da descendência de Davi.

“Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus” (Lc 1,30b), disse o anjo. Diante da mensagem que Deus envia, não poderá haver medo, somente a meditação e a escuta, somente a entrega com todo o ser, à voz do anjo que explica como tudo irá acontecer. Mesmo diante da escuta atenta e do silêncio sereno, Maria não fica passiva. Ela questiona não como uma rebelde, mas no sentido de dialogar sobre aquela novidade divina em sua vida: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” (Lc 1,34).

Disse o anjo: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35). Neste momento a Virgem completa o seu entendimento sobre o plano que Deus está lhe propondo: oferecer o seu ventre para que Deus possa operar as maravilhas da salvação em favor da humanidade através da sua encarnação.

Diante da mensagem, Maria entrega-se a Deus para colaborar no plano de salvação que o povo do seu tempo esperava. “Eis a serva do Senhor” (Lc 1,38b) é a grande resposta de amor e obediência. E “faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38c) é a entrega total para que Deus realize a sua obra salvífica não somente para a pessoa de Maria, mas para toda a humanidade que esperava a chegada do Messias.

Olhando para Maria, quantas coisas podemos meditar: Deus também nos visita e espera de nós uma resposta de amor em favor do seu Reino. Devemos nos alegrar quando somos chamados a exercer uma missão na comunidade onde participamos. Não devemos ter medo de dizer sim a Deus. Precisamos escutar a sua mensagem, a sua proposta e como Maria, até perguntar como o Senhor irá realizar a sua obra em nossa vida.

Jesus nasce longe do Palácio! Nasce nas periferias de Belém, na pobreza e entre os pobres e animais. Isso para nos ensinar que a sua Palavra tem que habitar os lugares distantes do poder político e religioso. O Evangelho precisa ir aos que precisam de amor, paz e dignidade.

Há violência e morte entre os pobres. Há morte da esperança, da ausência de alegria e da justiça. Há a violência da fome, do desemprego, do preconceito e da exploração. A Boa-Nova de Deus deve nascer e habitar nestes lugares existenciais para que a vida e a alegria aconteçam no coração dos homens.

O Espírito Santo é que nos cobrirá com sua sombra para nos proteger, nos iluminará com seus dons para que façamos a vontade de Deus. Ele nos dará força para que nos momentos difíceis da nossa missão possamos perseverar e continuar caminhando pelas estradas da vida.

Que neste Natal do Senhor possamos viver mais intensamente a oração e a escuta da Palavra num clima de alegria e de fraternidade onde o amor seja cada vez mais forte entre os nossos irmão e irmãs que se preparam para celebrar o divino encontro de Deus com todos os homens. Amém!

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Missa da Noite

Leituras: Is 9,1-6; Sl 96(95); Tt 2,11-14; Lc 2,1-14

POESIA

DEUS NASCE ENTRE OS PEQUENOS

Entre as montanhas de Judá,
Nas noites escuras dos pastores,
Vem a luz divina nos visitar,
Vencendo todos os temores.
Trazendo o amor e a salvação,
Vencendo em nós a escuridão,
Que muitas vezes nos traz horrores.

Nasce entre os animais e pecadores,
Anunciando desde já sua missão,
Rei simples e pobre e sem coroa,
Sendo sinal de contradição.
Vem como uma simples criança,
Mas traz para muitos a esperança,
E aos poderosos a confusão.

Naquela noite vem os louvores,
Da corte celeste a cantarolar,
E à voz do anjo mensageiro,
Que se une também a entoar,
Porque nasceu o salvador,
Deus de paz, justiça e amor,
E a todos os homens veio salvar.

O Natal nos traz um ensinamento,
Para nesta vida proceder,
Nasce Deus para o mundo inteiro,
Com sua palavra vem nos converter,
Ensina-nos a simplicidade,
O acolhimento e a fraternidade,
Pregar a justiça e o bem viver.

E em torno do santo altar,
Vivamos a coerência e a união,
Escutando sempre a santa Palavra,
A irmandade e a comunhão,
Sendo sinal da luz do Senhor,
Vencendo a tristeza e o rancor,
Vivendo todos como irmãos.

 

HOMILIA

Jesus nasce entre os pobres

Entre as luzes brilhantes das casas, das lojas, das árvores, dos diversos lugares e dos presépios montados nas nossas casas e nas nossas Igrejas, celebramos a noite do Natal do Senhor marcados com a alegria que vem da Palavra de Deus e com o calor dos que se reúnem para partilharem da mesma mesa que nos faz irmãos.

O texto do Evangelho para a liturgia da Igreja na noite de Natal é de Lucas, o qual apresenta a caminhada dura, entre as montanhas, que Maria e José, grávidos de Deus, fazem de Nazaré até Belém, com o objetivo de participarem do recenseamento como membros daquele povo.

Nos arredores daquele vilarejo, próximo aos campos dos pastores, numa gruta, nasce o nosso Pastor. Será aquele que vem trazer a paz, a justiça e, sobretudo, o amor misericordioso de Deus Pai.

O Cristo de Deus nasce numa manjedoura e o anjo leva a notícia aos pastores, não porque são os mais puros e santos. Segundo a história antiga, “os pastores não eram de forma alguma gente simples, bondosa, inocente, gozando da estima de todos. Eram considerados como os mais impuros dos homens… Os rabinos diziam que os pastores, os publicanos e os coletores de impostos dificilmente poderiam se salvar, porque praticavam o mal e estavam destinados à perdição”.[1] Portanto, é em favor da conversão e da salvação que Jesus virá e com eles seguirá durante toda a sua caminhada na terra.

Os primeiros a receberem a notícia são os que estão nos campos cuidando dos rebanhos. São os pobres distantes do centro da cidade, distante da casa real onde a corte humana esperava junto aos seus súditos um Rei poderoso e rico, com seus exércitos fortes e invencíveis.

Deus usa uma pedagogia diferente para se fazer presente entre os homens. Mesmo sendo capaz de se manifestar de uma forma mais óbvia e mais plausível aos olhos da humanidade. Deus vem como criança, nascendo numa estrebaria, através de uma família simples (Maria e José) e pobre, a ponto de não ter uma casa para realizar o parto.

Jesus nasce na noite dos pastores para dizer que ele é Luz e que é também o Pastor supremo que trará a alegria e a misericórdia a todos os homens. Ele vence o medo dos que escutam a sua mensagem através do anjo mensageiro, porque traz a alegria da salvação e onde há a presença salvadora de Deus não poderá haver medo, mas o temor pelo amor e pela adoração. Ele vem realizar as profecias do profeta Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria.” (Is 9,1).

Uma nova compreensão da ação de Deus se apresenta para confundir os poderosos, para contradizer as expectativas reais, porque agora já não se manifesta para um grupo privilegiado, mas para todas as nações e classe sociais a começar pelos mais pobres, os mais humildes.

Em Deus não há prepotência e nem acepção de pessoas. São Paulo irá nos dizer: “Com efeito, a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, e a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade.” (Tt 2,11-12).

Portanto, todos nós devemos sempre ficar atentos a ação de Deus, pois ela se manifesta na simplicidade e nos conduz a vivermos desta forma. Um Deus que se encarna pobre e entre os pobres e pecadores vem nos ensinar o quanto é preciso trabalhar pela evangelização em busca dos que estão perdidos e que necessitam do ensinamento e da misericórdia.

É preciso lembrar daqueles pobres que mesmo em condições econômicas de riqueza confortável se encontram mergulhados nas misérias humanas e necessitam da libertação pela palavra e pela cura interior.

E todos nós cristãos que nos reunimos para celebrar esta grande festa cristã somos convidados a nos unir à multidão da corte celeste para cantar em uma só voz: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama.” (Lc 2,14), porque o nosso Deus se faz presente na simplicidade de uma criança para nos ensinar a simplicidade e o amor a todos. Veio caminhar conosco, pois é “Deus conosco” e, sobretudo, veio nos trazer a salvação.

Rezemos pedindo a graça e a proteção pelos que não terão oportunidade de celebrar o Natal dignamente. Pelos que estão nas periferias da existência humana, distante das luzes e dos brilhos das árvores fantasiosas das nossas casas, das nossas igrejas e das casas comerciais. E por cada cristão, para que escutem Deus que o chama à fraternidade e a caridade em favor dos que padecem as consequências dos poderes humanos. Amém!

[1] ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria, 2012.

III DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 61,1-2a.10-11; Lc 1,46ss; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28

POESIA

A VERDADEIRA ALEGRIA

A verdadeira alegria
Vem sempre do Senhor,
Que completamente nos realiza,
Com seu eterno e perfeito amor,
Ele é o caminho certo,
À nossa vida sempre aberto,
Percurso santificador.

A verdadeira alegria
É plena de pura perfeição,
Preenche-nos totalmente,
Desnecessária complementação,
Sua Palavra é o alimento,
Seu corpo também é sustento,
Para a santificação.

A verdadeira alegria
Vem do fogo abrasador,
Do Espírito Santo em nós,
Com sua força e amor,
Trazendo a forte união,
Dos que se reúnem em oração,
Como povo do Senhor.

A verdadeira alegria,
É a certeza da salvação,
Que vem da voz do profeta,
Na sua forte pregação,
Pelos nossos desertos,
Levando-nos aos rumos certos,
Através da conversão.

A verdadeira alegria,
Devemos também proclamar,
Pelo nosso testemunho,
Para o mundo contemplar,
Ao Senhor que nos conduz,
Ele a verdadeira luz
E que vem pra nos salvar.

 

HOMILIA

A alegria no Senhor é para sempre

Neste 3º domingo do Advento vivemos a alegria da proximidade para com a celebração da encarnação do Verbo. A alegria que esta liturgia apresenta está além das nossas sensações humanas e dos nossos propósitos terrenos. Assim podemos ver na primeira leitura retirada do livro do profeta Isaías: “Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas jóias.” (Is 61,10).

Como extrair, do Evangelho deste domingo, o que a liturgia nos propõe referente a alegria? O evangelho nos apresenta João Batista que prepara a chegada do Messias que virá para trazer a Salvação. Diz o Batista: “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim” (Jo 1,26b-27a). João expressa a expectativa de alegria para o povo: Aquele que virá é maior, pois é o Ungido que o profeta Isaías falou na primeira leitura.

A alegria que o Messias irá trazer “é a boa nova aos pobres, é a cura aos quebrantados de coração e a proclamação da liberdade aos cativos… o tempo da graça do Senhor” (Is 61,1b-2a).

De Deus vem a nossa verdadeira alegria como também o seu amor para a nossa realização terrena e celestial. Sendo que é aqui, no plano de povo peregrino, quando padecemos nossos sofrimentos, que somos chamados a buscar nossa realização de filhos e nossa alegria verdadeira.

A alegria que vem de Deus é diferente e está além das propostas de felicidade que o mundo moderno propõe através de um paradoxo: a uns incentiva o acúmulo de bens (por avareza, orgulho ou vaidade) e a outros o consumo desenfreado de bens (por luxúria, orgulho ou vaidade). Nossa caminhada é muitas vezes de dores, tristezas e sofrimentos, mas no Senhor somos felizes porque encontramos o repouso, a serenidade e a misericórdia.

A comunidade dos irmãos reunidos em torno da Palavra e da Ceia do Senhor é o testemunho da alegria para o mundo dos tristes e sofredores. Quando estamos juntos diante do Altar do Senhor e quando apresentamos para o mundo o nosso jeito de ser, somos “a voz que grita no deserto da vida, contra tudo que entortou o caminho do Senhor”[1], nas realidades tristes dos homens de hoje onde a alegria se faz ausente.

Para que nós, cristãos de hoje, sejamos luz do mundo, precisamos acolher a presença da luz de Cristo que brilha sobre os homens. Devemos reconhecer que o Natal é a aceitação da luz que veio nascer em nossas vidas e pela sua iluminação divina trazer-nos a alegria verdadeira.

Não são as luzes das lojas, das ruas e dos prédios que representam o nascimento do Salvador e nos trazem a alegria, mas as luzes dos presépios nas Igrejas e casas, como também as velas acesas nas famílias reunidas nas novenas de Natal e em torno da Palavra quando no final do encontro repartem com alegria o biscoito, o cafezinho e os pães, numa confraternização de paz entre os irmãos e irmãs, realizando o ágape.

É a luz do nosso testemunho, das nossas motivações missionárias que deverão está acessas para clarear a quem está próximo de nós. É a luz da nossa caridade, lealdade, justiça e fraternidade que iluminará o nosso ambiente humano e eclesial para celebrarmos a liturgia da presença de Cristo renascido em nossos corações e que precisa ser conhecido para que haja a paz e a salvação do mundo.

Precisamos nos fundamentar também em São Paulo sobre o tema desta liturgia: “Alegrai-vos sempre, orai sem cessar. Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus. Não extingais o Espírito.” (1Ts 5,16-19). Pois é pela alegria e oração constante que realizamo-nos de forma completa como filhos e filhas de Deus, que nos ama e nos preenche de júbilo e louvores. Não podemos apagar a força que vem do Espírito Santo, pois é ele que nos alegra com o seu fogo abrasador.

[1] Jesus veio nos indicar os caminhos do reino: Roteiros homiléticos do Tempo do Advento-Natal – tempo comum, Ano B, novembro de 2014/fevereiro de 2015, CNBB. p. 32.

II DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 40,1-5.9-11; Sl 85(84); 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8

POESIA

NOSSOS CAMINHOS COM O SENHOR

Nos caminhos tortuosos,
Cheios de grandes defeitos,
Vem o Senhor concertar,
Para se tronarem direitos,
Uma voz em nossos desertos,
Ensina os caminhos certos,
Que não foram ainda feitos.

Esse caminho é refeito,
Pela nossa conversão,
Precisa de escuta e fé,
De silêncio e oração.
Pois para bem celebrar
O Natal que vai chegar,
Precisa-se dedicação.

A espera é importante,
Sendo alegre e prudente,
Numa busca bem atenta,
Vivendo o amor paciente,
Praticando a caridade,
A Paz e a solidariedade,
No agora, no presente.

Novos céus e uma nova terra,
É o que nós esperamos,
Na paz com os nossos irmãos,
Sempre que nos encontramos.
Para o Natal acontecer,
Devemos nos envolver,
É o que nós precisamos,

Ao redor da Santa Mesa,
De todos os caminheiros,
Que buscam endireitar,
Sua vida por inteiro,
Buscando a conversão,
Que leva à redenção,
Para o Reino verdadeiro

Peçamos a Santa Mãe,
Que soube bem esperar,
Para que nos auxilie,
Neste nosso caminhar,
Ela que silenciou,
E perseverante rezou,
Ensine-nos a rezar.

 

HOMILIA

O Senhor vem para endireitar nossos caminhos

Na liturgia deste 2º Domingo do Advento, a Igreja nos apresenta os primeiros versículos do evangelista Marcos, dizendo: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” (1,1). Parece óbvio começar um livro com esta expressão, mas não é por acaso que o evangelista faz questão de falar do “princípio” ou “início” e de “Jesus Cristo, Filho de Deus”.

Segundo os estudos bíblicos, os textos de Marcos são os mais antigos e poderão nos mostrar o início da pregação de Jesus no mundo ou o começo da pregação escrita pelo evangelista sobre a ação salvífica de Cristo. Isso, porque até aquele momento o testemunho sobre a experiência do seguimento a Jesus e o conhecimento da sua pessoa e da sua história eram apenas oral.

A outra designação que se torna mais forte e que não podemos deixar de refletirmos é: “Jesus Cristo, Filho de Deus”. Falar de Jesus como sendo o filho de Maria e de José é delimitá-lo como homem histórico, mas falar “Jesus Cristo, Filho de Deus” é algo que exige um conhecimento maior. Trata-se de uma compreensão mais profunda de Jesus, pois a palavra Cristo é um nome que só é compreendido de forma completa após a experiência da Cruz e da ressurreição.

O evangelista também nos apresenta um acréscimo importante: “Filho de Deus”. O homem que foi crucificado pelos romanos, que chamava a Deus de Pai, comprova que de fato Deus é Pai e que ele (Jesus) é verdadeiramente o Filho muito amado, desde o princípio (cf. Jo 1,1). Em Jesus há a natureza humana e divina, por isso ele nos traz a salvação e mostra-nos de verdade a face misericordiosa do Divino Pai Eterno.

Voltando-nos a liturgia de hoje, podemos agora entender as palavras de João Batista: “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias.” (Mc 1,7). O último profeta antes de Jesus, João Batista, tinha a compreensão de que Jesus era o enviado do Pai. Ele é verdadeiramente Deus e foi verdadeiro homem na carne.

Em função disso o Batista não se sente digno nem de se aproximar, porque o seu batismo é Santo e será com fogo[1] do Santo Espírito. Ele é aquele do qual o profeta Isaías anuncia ao povo de Israel quando estava escravo na Babilônia.

É interessante que o evangelista Marcos lê Isaías e o apresenta no início do seu texto para dizer que João Batista irá preparar a chegada do Ungido de Deus. É preciso que o povo busque a conversão, faça penitência para acolhê-lo. Será necessária uma preparação para que não ignorem a encarnação do verbo de Deus no meio do mundo.

A não conversão, a não aceitação da pregação do Batista ou a não escuta de sua mensagem preparatória, talvez tenham impedindo que muitos reconhecessem Jesus como o Cristo de Deus. Faz-se necessário ir ao deserto, longe dos poderes humanos para escutar a voz profética e o chamado à mudança de vida.

Hoje precisamos ouvir a Igreja como mensageira da vinda de Deus em nossas vidas. Precisamos viver a conversão e a reconciliação. Ouvir a Palavra proclamada e acreditar preparando os nossos caminhos para que Deus renasça em nossas vidas.

Ao mesmo tempo devemos ser como João Batista: preparar o mundo para celebrar o Natal para que esta festa não tenha muitas vezes, uma expressão folclórica, como muitas pessoas a entendem.

Talvez existam muitas distorções do sentido do Natal exatamente por falta de profetas, que faça a preparação ajudando ao povo sobre a vinda do Senhor. Nesse sentido é muito importante a Novena de Natal, a participação assídua e atenta nas liturgias com o objetivo de compreender e viver espiritualmente a experiência da espera alegre do Senhor, que quer renascer em nossa vida.

Cristo quer endireitar nossos caminhos o quais, muitas vezes são tortuosos. Ele quer reconstruir nossas relações de amizades e de companheirismo com os nossos irmãos que muitas vezes são desgastadas pela nossa displicência e nossas ocupações demasiadas e surtos de egoísmo.

Peçamos a Nossa Senhora que nos ensine a esperarmos na perseverança e no silêncio do coração, como ela mesma esperou na sua carne e no seu espírito a encarnação do Verbo. Esperarmos novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça (cf. 2Pd 3,13). Amém.

[1] Expressão usada pelo evangelista Mateus (cf. 3,11).

I DOMINGO DO ADVENTO

Leituras: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7; Sl 80(79); 1Cor 1,3-9; Mt 13,33-37

POESIA

COMO PORTEIROS DO SENHOR

Nas noites e madrugadas do nosso existir,
Esperemos o Senhor que quer chegar,
Para encontrar-nos sempre vigilantes,
Sem medo de se decepcionar,
E como o porteiro, sempre atento,
A cada passo e a cada momento,
Deixemos a promessa se realizar.

Também nos dias de chuva e de sol,
Faz-se necessário também vigiar,
Porque não sabemos qual o momento,
Em que Senhor vai nos chamar,
Porque nossa vida é de atenção,
Pela escuta e pela oração,
Nesta dinâmica do esperar.

Do sono da vã indiferença,
Busquemos sempre despertar,
Acordando para a vida verdadeira,
Que precisa sempre desabrochar,
E o otimismo em nossa existência,
Que não pode ser vítima da demência,
Que muitas vezes quer nos sufocar.

Que o culto seja o momento,
Da Palavra que vem nos sacudir,
Para não vivermos na ignorância,
Mas como despertos possamos seguir,
Reunindo com os nossos irmãos,
E na Paz vivemos a comunhão,
Eucaristia sempre a nos nutrir.

E como porteiros eficientes,
Que não cochilam na portaria,
Fiquemos atentos a quem quer entrar,
Seja na noite, seja no dia,
Porque nossa vida é esta morada,
Desta palavra que é encarnada,
Cristo, o amor, a nossa alegria.

 

HOMILIA

Esperemos alegres e vigilantes o Senhor que vem!

Iniciamos um novo ano no tempo da Igreja, na caminhada de filhos e filhas de Deus. Tempo em que somos chamados a viver a espera alegre do Senhor que se encarnará no nosso meio e nos abrirá as portas para a nossa salvação.

A cada ano que passa, seja litúrgico ou civil, quando chega ao seu final, é uma volta completa que damos na estrada cíclica da nossa vida. Precisamos nos perguntar: quantas voltas já fomos capazes de realizar na nossa existência? Quantas voltas Deus nos permitirá? Como fiz estes percursos? E como pretendo fazer os próximos caminhos?

O Advento é o tempo propício para nos perguntar sobre a nossa vida, nesta caminhada de encontros e desencontros, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas. Tempo de vigiar. Vigiar numa atitude meditativa onde o encontro com o Senhor pela sua Palavra e pelo seu corpo e sangue, nos faça continuarmos caminhando e crescendo na experiência de discípulos missionários que esperam a volta do Senhor.

Cada celebração é oportunidade de aprofundarmos nossa intimidade com o Senhor através da virtude da esperança. Somos marcados pela experiência da espera em Cristo, vivemos sempre expectativas de dias, meses e anos melhores onde possa haver em nossos ambientes mais condições para prosperidade, paz e fraternidade.

O evangelho de Marcos nos leva a refletirmos sobre a vigilância. Vigiar é estar em comunhão com o Senhor numa atitude de escuta da sua palavra viva que orienta e fortalece a nossa vida. “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã.” (Mc 13,35).

Neste versículo do evangelho de Marcos, Jesus nos alerta para que vigiemos durante o dia e a noite. Porém, prevalece momentos do período da noite, tais como a meia-noite, de madrugada e ao amanhecer. Isso significa que devemos vigiar a todos os momentos da nossa vida. Momentos em que estamos sobre a luz do dia e momentos em que caminhamos pelas trevas da noite.

Lembrando daqueles que são porteiros ou vigilantes nos condomínios, nos bancos e nos prédios de nossas cidades, podemos refletir sobre a importância da vigilância. É preciso que estejamos atentos para que o ladrão não roube o lugar pelo qual estamos responsáveis. Neste sentido o Evangelho também nos faz refletir sobre o estar desperto. É preciso está bem acordado para não vacilar e não ser enganado.

E nossa vida espiritual e psicológica, precisamos estar atentos para que no dia a dia de nossas atividades de desafios e sofrimentos não sejam roubadas a nossa alegria, nossa esperança, nossos sonhos. No emaranhado de ideologias e culturas do pessimismo, da desconfiança, da violência e do descréditos, devemos ficar atentos para não nos infectarmos destas realidades.

E como batizados, não deixemos que o sono do comodismo e da omissão nos impeça de seguir a Cristo na construção da comunhão, da paz e da fraternidade. Quando deixamos de lado nossa atenção ao Senhor e à sua Palavra corremos o risco de cairmos no sono espiritual e deixar nossa vigilância de lado. Neste momento as portas de nossa existência estarão abertas para que entre o mal, ladrão que rouba nossa esperança…

Devemos deixar que Deus nos molde à sua ação santificadora como fala o profeta Isaías (64,7) na primeira leitura: “Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos.” Vigiar é muitas vezes entender que, em diversos momentos da nossa vida, é o Senhor quem age, quem nos transforma e nos ensina por onde devemos seguir. “É ele também que vos fortalecerá até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Cor 1,8).

Quando perdemos a atitude de vigília ficamos perdidos e caímos nas confusões da vida. Por isso a importância da oração pessoal, comunitária e a nossa missão na comunidade onde estamos inseridos. Caminhar vigilante, como o porteiro que fica atento a todos que passam pela porta. Vigiar sem cair no sono espiritual é o que nos pede o tempo do Advento.

Portanto esta vigilância e esta espera não deve ser carregada de temor, mas de alegria, porque já temos a posse e a certeza de que o Senhor já está conosco pela sua Palavra, pelo seu corpo, pelos sacramentos e no nosso irmão.

O que nos cabe é fazer nossa parte: deixar que ele venha e possa nascer em nossa vida e trazer a salvação. O Advento é o momento de revermos como está a nossa espera, a qual deve ser constante durante todo o ano litúrgico. Amém.