SOLENIDADE DE PENTECOSTES

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

POESIA

SOPRO DE VIDA NOVA

Sopro santo de Deus,
Nas narinas da criatura humana,
Imagem e semelhança,
Que sua bondade emana,
E se espalha pelo mundo inteiro,
Através dos discípulos mensageiros,
Sobre todos aqueles que a Deus amam.

Sopro e fogo de Deus,
Nos discípulos agora encorajados,
Pela presença dos dons oferecidos,
Pelos frutos do amor, inflamados,
Na vivência da sua missão,
Pregando o Reino da salvação,
E pelos confins do mundo espalhados.

Sopro e luz de Deus,
No Pentecostes do nosso agora,
Nos discípulos no mundo atual,
Dizendo a todos que desperte na aurora,
Na diversidade das nossas situações,
Transformando os nossos corações,
Para anunciarmos que chegou a hora.

Sopro e força de Deus,
Agindo naqueles que estão chegando,
Que pelo Batismo são inseridos,
E à comunidade, vão se irmanando,
Tornando-se um povo em comunhão,
Impulsionados para a missão,
E a Igreja Santa vai aumentando.

Sopro e benção de Deus,
Que vem e desce sobre a Santa Mesa,
Para transformar o pão e o vinho,
Trazendo-nos o amor e a fortaleza,
Dando-nos o Santo e vivo alimento,
Para a comunidade o sustento,
Deus belo, forte… Nossa realeza.

 

HOMILIA

Manifestação pública do Espírito Santo

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente. Agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas que acolheram a mensagem do amor e da fé em sua própria língua. O que antes era uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo.

O que estava restrito a um grupo de homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

O antigo Pentecostes era a festa que lembrava a chegada do povo ao monte Sinai, cinquenta dias após a libertação do Egito. É no Sinai que Moisés recebe de Deus os mandamentos e os apresenta ao povo. O novo Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal porque inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e no espaço físico (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a paz para o grupo, que no mesmo momento é enviado para missão, com o objetivo de anunciar ao mundo a alegria do Evangelho.

A partir desta experiência de encontro com Cristo ressuscitado que traz também o sopro de vida nova, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminharem pregando a experiência da ressurreição. Todos agora se colocam em movimento, porque o Espírito do Senhor está sobre eles dando-lhes vigor e motivação nos seus corações para semearem o Evangelho até os confins da terra!

Na primeira leitura (At 2,1-11) temos o relato de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então há a manifestação do Espírito Santo, um fenômeno diferente, o qual os discípulos ainda não tinham presenciado. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (2,4).

Aquilo que o Senhor anunciou, antes e depois da Ressurreição, se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo agora é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua luz e força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer: é sobre o Santo Espírito que na sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI.

Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos que, carregados da fé corajosa, conscientes, e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer, dar frutos e se espalhar pelos imensos espaços do mundo até chegar em nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo que merece a nossa reflexão, apresentada na segunda leitura da liturgia desta solenidade: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6). São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito.

Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, numa dimensão de unidade na diversidade, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a vida de Deus esteja presente em todas as suas criaturas.

Quantos dons temos a oferecer a Deus, desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o altar, pregar para o povo, coordenar o grupo, animar as comunidades e grupos, visitar as famílias, cuidar dos doentes… E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado com a natureza e quando estamos a evangelizar e a se envolver nas causas sociais.

Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais… Tudo isso são dons do mesmo Espírito o qual estava no início da Criação. Espírito Santo que falou pelos profetas, que esteve presente no quando a encarnação do verbo foi anunciada a Maria, que esteve presente no batismo de Jesus e o conduziu ao deserto e a sua missão.

Espírito que animou os apóstolos após a ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos até os nossos tempos.

E em quantas realidades mais podemos certificar da presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais, na vida familiar, nas diversas profissões e serviços aos outros etc.

Portanto, devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova todas as criaturas e santifica a vida dos seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado. E com o salmo 103 podemos proclamar e suplicar ao nosso Deus, rezando o seguinte refrão: “Enviai o vosso Espírito Senhor, e da terra toda a face renovai, e da terra toda a face renovai”. Amém!

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

DIA DAS MÃES  **  DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20

POESIA

CRISTO NOS LEVA AO PAI

O Senhor nos eleva ao céu,
À face pura e Divina,
Quer-nos junto do Amor maior
Que nos chama e nos ensina,
Basta seguirmos nesta vida,
Com fé e oração na lida,
Com firmeza e disciplina.

O Senhor nos chama ao céu,
Junto a sua legião,
Quer unir todos os santos,
Na perfeita comunhão,
Para viver o puro amor,
Sem tristeza, morte ou dor,
Isto é, a salvação.

O Senhor nos quer no céu,
Mas nos chama a trabalhar,
No envia pelo mundo,
E sua Palavra pregar,
Levando a todos a vida,
Paz, dignidade e acolhida,
Sem nunca desanimar.

O Senhor vem e nos envia,
A todas as criaturas,
No cuidado a toda a terra,
Em sua vida e formosura,
À Natureza: fauna e flora,
Missão feita no agora,
Pelo amor, pela ternura.

O Senhor subiu ao céu,
Mas conosco ele está,
Pela sua santa Palavra,
Pelo seu corpo a nos dá,
Pela sua comunhão,
E sua Igreja em missão,
No mundo a continuar.

 

HOMILIA

Cristo na Glória do Pai

Neste 7º Domingo da Páscoa celebramos a Ascensão de Jesus Ressuscitado à Glória do Pai. A subida de Jesus ao céu não significa o distanciamento dele em relação a nós, mas também a possibilidade da nossa participação na Glória de Deus. Diz santo Agostinho: “Ele não abandonou o céu descendo até nós e nem se afastou de nós quando de novo subiu ao céu”[1]. O nosso Deus está sempre próximo, sempre caminhou conosco e agora quer continuemos a sua missão pelo mundo.

Os discípulos viveram durante quarenta dias a experiência da Ressurreição do Senhor que apareceu ao grupo sempre que estavam juntos. Preparou-os para a vinda do Espírito Santo, fez refeição com eles e depois de ter se manifestado os enviou em missão dizendo-os: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado.” (Mc 16,15-16).

Agora chega o momento de expandir a obra do Reino. É preciso caminhar firme com a certeza de que o Senhor caminha ao lado daquele grupo, orientando-os com a Palavra e alimentando-os com o seu corpo. Não se faz necessário fixar o olhar nas nuvens, é preciso dirigir a atenção para o caminho, local de itinerância e missão.

Às vezes, passa despercebido pelos pregadores a frase “… anunciai o Evangelho a toda criatura”. Esta mensagem de Jesus se refere não somente a todas as nações (povos diversos), mas a toda a criação de Deus. A Boa-Nova de Cristo deve ser disseminada pelo mundo de forma concreta como sendo um cuidado com toda a natureza criada por Deus: as matas, os animais, a terra, o ar, a água e tudo que ficou sobe o cuidado dos homens e mulheres. O que tem a ver isso com os cristãos? O Papa Francisco nos estimula à conversão ecológica e diz que “viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa.”[2]

Esta liturgia da Ascensão do Senhor também nos motiva a olharmos todo o mundo criado pela força divina. E não somente olharmos, mas perceber de que forma estamos cuidando de tudo isso. Percebemos muitas as doenças vinda dos poluentes, vemos tantas queimadas, ouvimos as notícias sobre a exploração dos povos indígenas e suas terras para se construir hidrelétricas e tirar madeiras, também tecnologias, mais em função da destruição que da preservação. Isso tem a ver com o Evangelho e com o envio dos discípulos de Jesus. É o cuidado com a “casa comum”, como prega o Papa Francisco.

Lucas, nos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, nos fala: Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia’, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10-11).

Estes versículos dos Atos dos Apóstolos nos ajuda a refletir sobre a nossa experiência de discípulos missionários no mundo de hoje. A religião cristã não é uma espiritualidade baseada nas nuvens, ou seja, na concepção de um Deus distante e que subiu ao céu para ficar longe de nós. Ele foi elevado ao céu exatamente para também nos elevar. Cristo é presença viva pela Palavra, pela Eucaristia e pela Igreja reunida sobre a ação do Espírito Santo.

Neste sentido, não devemos tirar os pés do chão e flutuarmos, achando que o nosso Deus está distante. Quando pensamos assim, esquecemos que na terra precisa-se de homens e mulheres que assumam a presença viva de Cristo “rumo ao reino definitivo”.[3] Precisamos continuar a proclamar a Boa-Nova de Jesus, mesmo depois de dois mil anos, para que haja conversão, para que os já batizados encontrem a salvação.

Precisamos seguir anunciando a Boa-Nova em meio ao mundo que se corrompe pelas injustiças sociais, pela escravidão! Recentemente o Papa Francisco denunciou que “a escravidão não é algo de outros tempos” e estima-se que “existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão”.[4]

Nestas circunstâncias, o discípulo do Ressuscitado deve está de pé para transmitir esperança e fazer emergir o sentimento e as ações em favor da justiça, da dignidade humana e da paz mundial.

Portanto, ainda há pessoas que não receberam o Evangelho e necessitam da presença de Cristo em suas vidas. Há muitos batizados que precisam mergulhar no mistério de Deus para que se sintam também chamados a se tornarem mensageiros do Reino no mundo de hoje.

Sem a presença viva de Deus em nós e nós nele perdemos o sentido do caminho de nossa existência e assim caímos na ilusão do consumo, das riquezas materiais, do individualismo. Somos reféns das inovações, novidades que não se tornam Boa-Nova. Precisamos da Palavra de Cristo que quando invade nosso coração, às vezes, nos arrebenta, mas se torna Evangelho, Boa-Nova de vida e esperança para nós e para o irmão. Neste momento saímos do isolamento e temos vontade de também falar aos outros sobre o que vivemos de bom através da presença do Ressuscitado.

Que a Nossa Senhora nos ensine sempre mais sobre a experiência de Jesus que foi elevado ao céu pela sua ressurreição para também nos elevar, mas que ao mesmo tempo caminha conosco em Espírito e verdade, como fala o evangelista Marcos: “O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Portanto, a missão do cristão é exatamente tornar presente a convicção da vida nova em Cristo no mundo. Amém.


Notas:

[1] Apud CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012, p. 320.

[2] FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’, n. 217. Documentos Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.

[3] CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 (Doc. 102), trecho do Objetivo Geral.

[4] Publicado em 7 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-05/papa-escravidao-moderna-forum-internacional.html>.

VI DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97(98); 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17

POESIA

UM AMOR QUE VEM PRIMEIRO

Olho para o Senhor,
E vejo que ele me escolheu,
Para ser seu amigo,
Para permanecer no seu amor,
E viver todo o esplendor,
E por isso no seu caminho eu sigo.

Olho para o Senhor,
E vejo o seu mandamento,
Que é um amor perfeito,
Que está além dos meus desejos,
Dos interesses que tenho e vejo,
Grande, abrangente e sem defeito.

Olho para o Senhor,
E vejo que a sua alegria é plena,
Porque traz vida e esperança,
Que não deixa nossas forças cair,
Nem no caminho a gente desistir,
Por que com Senhor ninguém se cansa.

Olho para o Senhor,
E vejo que ele nos quer amando,
Entre todos como irmãos,
Sem o rancor de outro dominar,
Nem na sua frente passar,
Querendo ser o seu patrão.

E vejo ainda que o Senhor,
Tem um amor de Pai e Mãe,
Ele está no início do meu existir,
Por primeiro nos amando,
Por isso está nos chamando,
Para com ele prosseguir.

Olho e vejo o seu banquete,
Que nos chama para festa,
Repleta de forte alegria,
Que chama para partir o pão,
Que mata a fome e a solidão,
Restaurando a vida em harmonia!

 

HOMILIA

O amor e a alegria no Senhor

A liturgia do 6º Domingo da Páscoa apresenta-nos, no evangelho de João, as temáticas do amor de Deus pelo Filho, o amor do Filho por nós e o conselho para que entre nós cristãos possa existir este amor a fim de que a nossa alegria seja completa.

Podemos nos perguntar: até que ponto a nossa compreensão do conceito e da prática do amor alcança o sentido mais próximo do amor de Deus? Podemos olhar para o amor do Pai pelo Filho, que se manifesta desde o início da Criação. Um amor que abraça por completo todas as criaturas não humanas e todos os homens e mulheres do mundo. Deus nos amou primeiro, nos quis semelhante a Ele, nos fez filhos através do seu Filho.

O amor de Jesus por todos nós se dá numa proximidade de amigos, pois nos revelar o seu plano de amor para o mundo e assim ele nos diz: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). E assim formamos a comunidade dos amigos de Jesus onde participamos das mesas da sua Palavra e da Eucaristia, comemos e bebemos com Cristo e em Cristo como irmãos e amigos seus. E vivemos na alegria, o que nos motiva a sermos irmãos na mesma mesa. Da mesma bebida, da mesma palavra que ressoa em todos os lugares do mundo, sem barreira de idiomas e culturas.

Nesta experiência de caminharmos com Jesus sendo amigos dele, devemos nos amar e viver este testemunho para que o mundo veja a beleza do amor que existia entre os primeiros cristãos. Eles mostraram para o mundo a experiência da partilha e da caridade colocando tudo em comum (cf. At 2,44). Como vivemos este amor entre nós? Como percebemos nossa relação de comunidade cristã, amigos do Senhor? Como está a partilha do nosso pão e da nossa vida cotidiana?

São reflexões necessárias no mundo de hoje, onde o amor é tão cantado e tão falado em palavras, mas que na prática é vazio de sentido. Às vezes, determinadas expressões de amor se apresentam com uma aparente tristeza ingênua, mas que, na verdade, buscam algum tipo de recompensa, de retribuição.

O amor da mãe pelos seus filhos é a expressão mais concreta deste amor que Jesus nos fala hoje na liturgia: um amor além dos sentimentos e dos afetos. Uma experiência da entrega e da consciência da missão de mãe. As mães amam os seus filhos, independentes das respostas que eles lhes dão. Assim é o amor de Deus por nós: um amor que vem antes de sermos gerados e que não espera retribuição nossa para que seu nome seja engrandecido.

O Senhor nos pede para guardar o seu mandamento e persistir no seu amor (cf. Jo 15,10). Permanecer no amor, perseverar nesta experiência do amor de Deus é a nossa tarefa de amigos de Jesus, para que a nossa alegria seja plena da presença da vida. Permanecer no amor… Até que ponto conseguimos permanecer nos nossos propósitos de caridade, de doação de nossa vida, de projetos a favor dos que precisam, como fez Jesus?

O Senhor deseja que permaneçamos no seu amor. Porque é isso que faz o Reino de Deus acontecer: manter o projeto de amor que Cristo pregou e viveu entre nós. Ele passou a vida fazendo o bem, disse o apóstolo Pedro (cf. At 10,38), que compreendeu que o amor de Cristo Ressuscitado também está para todos os homens e mulheres. “De fato, estou compreendendo que deus não faz distinção entre as pessoas”(At 10,34).

Que neste mês de maio, Nossa Senhora, a mãe de todas as mães e mãe de todos os homens, nos ensine o valor do amor de Deus em nossas vidas. O Senhor que nos escolheu para sermos seus amigos nos ajude a permanecermos no seu amor e na sua alegria, como nos fala o salmista: “Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai”. Busquemos e vivamos a alegria do Evangelho no lugar da tristeza das guerras, do medo, do ódio e das desesperanças. Amém.

V DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 9,26-31; Sl 21(22); 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8

POESIA

NOSSA ETERNA VIDEIRA

Cristo nossa videira eterna,
Pela força do amor,
Faz-nos seus ramos vivos.
E o Pai, o agricultor,
Poda-nos pra santidade,
Dá-nos a vivacidade,
A seiva do salvador.

Cristo tronco vivo e eterno,
Igreja ramo a frutificar,
Pelo mundo espalha os frutos,
E as sementes a germinar,
E pelo Pai tendo cuidado,
Pelo filho muito amado,
Vida nova a regar.

Nem um ramo viverá,
Sem à videira, ligado
Precisa permanecer,
E ao tronco enxertado,
Para ter vida de paz,
E a seiva, amor que refaz,
Mundo novo instaurado.

Nos unindo como irmãos,
Em Cristo permanecendo,
Somos ramos em evolução,
E muitos frutos oferecendo,
A esperança será constante,
Frutos doces a todo instante
E a vida nova oferecendo.

Seiva que traz o verdor,
E o existir em harmonia,
A vida com seu sentido,
Que floresce na alegria,
Dá sentido à nossa essência,
Motiva nossa existência,
Sendo à noite ou à luz do dia!

Força, fonte e beleza,
Faz os ramos em união,
O encontro à videira tão bela,
Festa que se faz de irmãos,
No encontro de paz e partilha,
Vinha que cresce e que brilha
Povo novo em comunhão.

 

HOMILIA

Cristo é nossa videira verdadeira

A liturgia deste quinto domingo do tempo Pascal nos apresenta Jesus que se denomina como a videira verdadeira. Jesus, que viveu dentro de uma realidade de plantadores de uvas, contempla o trato e o cuidado dos agricultores com cada ramo de parreira. Olhando para a Igreja, nós somos os ramos da videira e formamos a grande vinha de Deus. E se queremos produzir bons frutos devemos permanecer unidos a Ele. Jesus apresenta o Pai como o agricultor, ou seja, aquele que cuida da plantação podando os galhos e tirando os excessos de ramos secos que impedem a produção dos frutos.

Quando Jesus nos fala que é a videira verdadeira, nos vem naturalmente algumas perguntas: O que é a videira falsa? Porque o Pai é o agricultor? No tempo da promessa (Antigo Testamento) podemos verificar que Israel foi considerado como uma videira que nem sempre produziu bons frutos. Em alguns momentos produziu as uvas que nasceram amargas e inúteis (cf. Jr 2,21). Em outros momentos acumularam galhos seco e inférteis.

Faz necessário que os ramos sejam podados para que estejam limpos e com o objetivo de produzir bons frutos. Esta poda que se dar pelas atitudes de conversão e pelo novo caminhar, que retoma a vivacidade dos ramos que estão ligados ao tronco, que é o próprio Cristo.

Jesus é a videira verdadeira. A partir da sua encarnação e da ressurreição, nasce a vida nova. Ao mesmo tempo ele produz muitos ramos e frutos. Diz Jesus: “Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5b). Faz necessário permanecer ligado a ele para dar bons frutos. Pois dele brota a seiva, o amor que traz a vitalidade, o sabor e o sentido da nossa existência.

Não faz sentido ramos desligados da vida em Deus pela autossuficiência e pela ignorância em relação à Palavra. Quando agimos assim temos como consequência o vazio e o sentimento de abandono, como se Deus não estivesse caminhando conosco. Como se estivéssemos desligado do sentido de existir e por isso não se transmite vida e nem se irradia o seu sentido.

Nós, cristãos, somos os ramos que se ligaram a Cristo a partir do batismo e por isso precisamos permanecer unidos entre si e ao mesmo tempo ligados ao tronco. Precisamos deixar-nos ser podados pelo agricultor divino para que ele nos tire os ramos secos e improdutivos representado pelos nossos pecados.

Se nomearmos esses ramos secos (pecados) podemos dizer que estes se traduzem no nosso comodismo, na nossa indiferença, na nossa incoerência, na distância de quem amamos, nas nossas injustiças, falta de cuidado com o outro e as tantas maldades que praticamos contra nossos irmãos e irmãs.

O novo povo de Deus é a grande videira que espalha seus ramos pelo mundo através dos discípulos do Senhor. E nessa caminhada de fé e missão poderemos saborear frutos deliciosos, seja quando nos encontramos ao redor da mesa da Eucaristia e da Palavra ou quando partilhamos nossos sonhos e propósitos junto aos que amamos e também quando estamos perto das pessoas que sonham conosco, por um mundo que se parece com uma vinha de harmonia, amor e paz, como sendo os frutos doces que alegram e animam a existência humana e a criação de Deus.

A comunidade cristã, portanto, é o lugar onde nos relacionamos como ramos (irmãos) para expressar o esplendor da vida, da alegria e da beleza de nossa união. Isto acontece nos momentos de conversas, de confraternizações, nas orações e nas celebrações, onde o pão e o vinho são partilhados, onde acontece a união da vida em Cristo pelo encontro com ele e com os outros.

Quanto aos frutos, temos as obras concretas de caridade aos irmãos que se realizam nos movimentos a favor da justiça e da vida, nas campanhas de ajuda aos pobres, nos diversos projetos sociais e na conscientização política a favor do bem comum, quando os impostos são bem empregados em favor das pessoas.

Na segunda leitura desta liturgia, São João nos adverte: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18). A falta de amor aos irmãos corresponde a improdutividade da videira ou ao desligamento de Cristo. A lei do amor é praticada quando as nossas atitudes forem coerentes com nossos discursos, os quais, às vezes, são puramente teóricos.

Sem a presença do amor de Deus em nossas vidas, somos como galhos secos e sem vida. Quantas vezes dizemos que amamos a Cristo quando estamos dentro da Igreja, mas ao sair na rua já desprezamos um necessitado ou um doente. Em quantos momentos de euforia pregamos tão bonito e no nosso cotidiano somos incoerentes com tudo que falamos.

Por isso é importante sempre revermos nossas ações, nossos pecados, nossa miséria para que sejamos podados pela graça purificadora do perdão de Deus. E, sobretudo, nos perguntar como está a nossa harmonia de vida em nosso caminhar. Se buscarmos o contato com o ser infinito de Deus, nos tornamos mais expressão dele onde quer que estejamos e também naquilo que fazemos.

Peçamos ao Espírito Santo que a sua luz nos ilumine e nos faça iluminados, porque somos também iluminadores quando estamos unidos a Cristo. Precisamos iluminar o mundo que está em guerra e que também explora e massacra a criação de Deus, seja o homem, seja a natureza, a terra, “nossa casa comum”. Amém.

IV DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 4,8-12; Sl 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18

POESIA

O PASTOR E A OVELHA

Ó Pastor supremo e bom,
Que a todas as ovelhas,
Trata com tanto carinho,
Que orienta o caminho,
Totalmente por amor,
Ó eterno bom Pastor,
Não nos deixe aqui sozinhos.

Ó Pastor supremo e verdadeiro,
Que doa a vida livremente,
Para a todos vim salvar,
Sem assim descriminar,
Nenhum dos seres humanos,
Com verdade e sem enganos.
Vem nos fortificar.

Ó Pastor supremo e amigo,
Que falas palavra eternas,
Para nos alimentar,
Para nos encorajar,
Pois tua voz queremos ouvir,
Sem medo de te seguir,
Vem sempre nos iluminar.

Somos teu rebanho vivo,
Que quer sempre te encontrar,
Queremos o teu infinito amor,
Acende-nos com tua luz e teu ardor,
Para a nossa forte felicidade,
Para a nossa viva caridade,
Tu és nosso belo e bom Pastor.

Pastor que cuida com tanto zelo,
As ovelhas cansadas e feridas,
O seu rebanho por ti tão querido,
Trata-nos como teus amigos,
E vai também a outros rebanhos,
Não consideram como estranhos,
Acolhe e carrega quem está sofrido.

Prepara-nos a mesa do amor,
Com taças e o vinho da alegria,
Para as ovelhas sempre acolher,
Pois sua vida vem a nos oferecer,
E não deixa de fora ninguém,
Seu rebanho alimenta do sumo bem,
No banquete vem a todos receber.

 

HOMILIA

O Pastor Eterno e Amoroso

A liturgia deste quarto domingo da Páscoa celebra a figura do Bom Pastor, Jesus Cristo, nosso caminho de Salvação. Somos chamados neste dia a refletirmos nossa condição de participantes do rebanho do Senhor numa experiência de escuta da voz do Bom Pastor e na participação da sua mesa, onde há o alimento que mata para sempre a nossa fome e a bebida que sacia eternamente a nossa sede.

No evangelho desta liturgia, no texto de João 10,11-18, podemos refletir três pontos importantes para a nossa vida de Cristãos: primeiro Jesus se apresenta como o Bom Pastor que é diferente dos mercenários, os quais conduzem o rebanho por interesse e por dinheiro, não se importando com as ovelhas que estão aos seus cuidados.

Jesus é o Bom Pastor porque ele dá a vida pelo seu rebanho, por isso foi até as últimas consequências: foi pregado numa cruz. Ele tem a vocação vinda de Deus Pai que o confia como verdadeiro pastor. Braços abertos para acolher o rebanho que nasce da entrega e do seu cuidado que brota da força de seu amor incalculável.

Nós, cristão que nos reunimos como rebanho do Senhor, somos convidados a ouvir a voz do nosso Pastor divino e ao mesmo tempo segui-lo. Somos também convidados a colocar no nosso coração e na nossa vida, as qualidades e as marcas da experiência de Jesus aquele que nos guia por caminhos seguros. Que gestos, atitudes e postura do Bom Pastor temos diante da vida e dos irmãos?

Na vida nossa de cada dia, temos responsabilidades e missões que se parecem com a condução de um rebanho. Portanto, somos também pastores a exemplo de Cristo, como pais e mães de família, como coordenadores de grupos da Igreja, como chefes de repartições, com políticos, no nosso trabalho, nas pastorais sociais, nas organizações, também como ouvintes, conselheiros confidenciais e muitas outras experiências que devem ser realizadas com justiça e sinceridade, sem interesses e sem descaso.

Num segundo momento Jesus nos diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir.” (Jo 10,16). É interessante que a missão de Jesus não está restrita a grupo dos seus (povo judeus), mas também a outros pastoreios que precisam também ouvir a sua voz e aos quais ele os considera. Os cristãos são convidados a acolher cada ser humano, que vem e quer se inserir no rebanho do Senhor.

Portanto, o amor de Cristo se estende a todos, por que é o desejo de Deus que haja um só rebanho e um só Pastor no amor. É vontade do Bom Pastor que todos encontrem nele a vida nova e o sentido da sua existência. Por isso o acolhimento e o cuidado do bom Pastor faz a diferença na semeadura do Evangelho.

Por fim Jesus nos ensina que a sua vida é oferecida para a salvação do mundo: Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo.” (Jo 10,18). Há uma entrega gratuita e totalmente livre de Jesus em favor da humanidade. Não poderá haver total entrega quando há imposições.

Somos então convidados a refletir sobre a nossa vida de cristãos membros do rebanho do Senhor. Até que ponto nossas ações e opções de vida são uma experiência verdadeira de entrega sem interesses fúteis e vazios? Como nos sentimos dentro deste rebanho de Cristo, o Bom Pastor? Como usamos o nosso cajado das responsabilidades diante de nossa missão de servir?

O Cajado do pastor é para a pontar e proteger o caminhar do rebanho e não para bater nas ovelhas. Os maus pastores, fogem quando veem os perigos, e, muitas vezes batem com o cajado na cabeça das suas ovelhas quando estas se perdem ou caem pelo caminho. A estes, Jesus chama de mercenários, porque eles não se importam com a sua tarefa de cuidar. (cf Jo 10,12).

O que dizer dos chefes das nações, dos estados, dos municípios, os quais são responsáveis pela condução de um povo, como representantes. Estes, muitas vezes escolhidos pelo seu próprio rebanho, com frequência causam muitos sofrimentos ao povo quando não se interessa em cuidar com carinho daquilo que lhe foi confiado. Não se interessam em fazer valer a justiça, o bem comum e a vida digna. Jesus nos ensina que o pastor deve ter amor e compromisso na sua missão de fazer valer a dignidade e a igualdade a um povo.

Portanto, busquemos rezar pedindo pelos nossos pastores aqui na terra (Papa, Bispos, padres, diáconos) para que sejam fiéis na sua missão e que o seu trabalho seja vivenciado numa entrega verdadeira e numa atitude de carinho, fé e esperança.

E a nós, ovelhas reunidas em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia, que possamos seguir em frente ouvindo a voz do Bom Pastor e se alimentando da sua mesa a caminho da verdadeira vida e sendo responsáveis naquilo que o Bom Pastor nos confiou.

III DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 3,13-15.17-19 Sl 4; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

POESIA

TESTEMUNHAS DA ALEGRIA

A alegria do Senhor,
Vem trazer aos caminheiros,
Os discípulos das estradas,
De Emaús são mensageiros,
Ao Deus vivo encontraram,
Juntos também partilharam,
O Pão com o Senhor, primeiro.

O Pão com Jesus primeiro,
Foi uma santa experiência,
Participar da mesa Santa,
Com Jesus em sua essência,
Porque a mesa é o partilhar,
Do pão, Cristo, a alimentar,
E o amor divina ciência.

E o amor divina ciência,
Vem trazer a alegria,
Do Evangelho semeado,
Pela noite e pelo dia,
Vai ao mundo transformando,
E o Reino vai brotando,
Mensagem que não se esvazia.

Mensagem que não se esvazia,
No coração vivo e humano,
Na história dos discípulos,
Que superam seus enganos,
Na caminhada do povo,
Que acolhe o amor e o novo,
Do Reino e dos seus planos.

Do Reino e dos seus planos,
Vem Jesus se apresentar,
No meio da comunidade,
Que vem para celebrar,
No encontro em união,
Na Palavra e comunhão,
Que se faz a partilhar.

Que se faz a partilhar,
O que os discípulos viveram,
Seus encontros mais sagrados,
Quando então se envolveram,
Jesus, paz tranquilidade,
Constrói a fraternidade,
E os discípulos acolheram

E os discípulos acolheram,
O envio do Senhor,
Para serem as testemunhas,
Com força e com ardor,
Entregaram suas vidas,
Existências consumidas,
A serviço do Amor.

 

HOMILIA

A Paz e a alegria da Ressurreição

 

O evangelho de hoje encerra-se dizendo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,35-48). Eis o desafio dos discípulos: com dificuldades, seguir em frente ainda marcados pela saudade e por esta realidade do Ressuscitado que até então era nova.

É importante lembrar que esta leitura é continuidade de Lc 24,13-35 que narra os dois discípulos de Emaús, quando no mesmo dia da Páscoa caminhavam fugindo de Jerusalém, sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o reino de Deus (cf. Lc 24,21). Nisto Jesus aparece caminhando ao lado dos dois e conversa falando das escrituras e de tudo a qual se referia a ele (cf. Lc 24,27).

Quando chegaram ao povoado, Jesus fez que ia seguir em frente e os discípulos o convidam para que ele ficasse com eles. Disseram: “fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Jesus entrou para ficar, sentou e partilhou dos alimentos. Quando partia o pão e falava, o coração dos discípulos estava ardendo. Quando ele desapareceu, os discípulos voltaram imediatamente Jerusalém anunciando o que tinham experienciado junto ao Ressuscitado (cf. Lc 24,33).

Pois bem, é aqui que inicia o Evangelho desta liturgia: a volta dos discípulos para Jerusalém. A mesma Jerusalém que é lugar de missão, de coragem, de desafios, de proclamar, com ardor, a vida nova do Ressuscitado em suas vidas. E então meditemos, nesta parte: Quando nos falta a fé, há possibilidade de fuga para longe dos problemas, mas não é possível. O problemas nos acompanham aonde nós vamos.

Os Discípulos de Emaús também somos nós, que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do caminhar vão acontecendo.

No evangelho desta liturgia há uma segunda experiência de encontro da comunidade dos discípulos. Jesus vem e se apresenta mais uma vez para traze-lhes a paz e enviá-los em missão. Porque somente com o coração na paz seria possível anunciar a vida nova. Sem paz e na insegurança não é possível anunciar coisas positiva e que ajuda os outros. Era preciso que todos fizessem a experiência do encontro na paz, e que vivessem a alegria da partilha da mesa e do pão.

Os encontros de intimidade entre Jesus e seus discípulos ocorriam com frequência, sempre com o objetivo de amadurecer a partilha. Foram momentos fortes antes da crucificação e ressurreição. Pois é na mesa que se realiza a partilha, o companheirismo, a fraternidade e tantas outras descobertas importantes na vida das pessoas.

A mesa da família também é lugar do amor, que se dá em partilha e alegria. O mundo não pode perder o sentido do encontro da mesa, onde se dá muitas conversas de vida cotidiana, de tantas histórias da nossa existência. Lugar onde o vinho do amor deve ser brindado para fortalecer a amizade e a fé dos que são irmãos e irmãs.

Na missa, as mesas da Palavra e da Eucaristia é para nós, católicos, o lugar sagrado do encontro com o Senhor e com os irmãos. Pois quando alimentados, pela Palavra, pelo Corpo e pelo Sangue do Ressuscitado, somos fortalecidos para voltarmos para a nossa “Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos companheiros de caminhada profissional, irmãos da comunidade, e outros que iremos encontrando durante à semana.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas” (At 3,15).

Que a cada celebração, possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 4: Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!” Com o esplendor do Ressuscitado voltemos para anunciar a vida nova às nossas “Jerusaléns”. Amém.

II DOMINGO DA PÁSCOA – DOMINGO DA MISERICÓRDIA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

POESIA

MEU SENHOR E MEU DEUS

Tomé e seus irmãos somos nós,
Quando nos isolamos
Quando também duvidamos,
E ficando tão distantes,
Numa tristeza constante,
Fechados e não acreditamos.

Tomé, assim somos nós
Quando queremos fazer comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
As feridas e ilusões.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e muito amor,
E assim recomeçamos.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar vivo e crente,
Sem medo e sem duvidar.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
E de amor se consumir.

Como Tomé e os irmãos,
Nossas dúvidas então rompamos,
De portas abertas sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o ressuscitado,
E então não desistamos.

Seja a Palavra luz forte,
Em nosso peregrinar,
Sua luz a nos clarear,
Pra vencer a escuridão,
E seguirmos de pé no chão,
Sem medo de tropeçar.

 

HOMILIA

Cristo tem misericórdia dos que duvidam

 

Neste segundo Domingo da Páscoa, ressoa a voz do Ressuscitado: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo, 20,29). O Evangelho de João apresenta-nos dois momentos para nos mostrar as primeiras experiências dos discípulos no encontro com o Ressuscitado.

No encontro da comunidade, Jesus se revela vivo e traz a Paz para os que estão com medo e mergulhados na insegurança. (Jo 20,19). Na vida comunitária também se acolhe os que estão em dúvida como Tomé (cf. Jo 20,25). Foi preciso que a comunidade dos discípulos tivesse calma e esperasse pelo processo deste discípulo, para, no momento, oportuno ele tivesse a experiência do seu encontro com o Senhor.

Então temos dois momentos, os quais se dão sempre no primeiro dia da semana (Dies domini, o dia do Senhor), o domingo, porque foi neste dia que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (Jo 20,19-25), o evangelista nos fala: estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, feridas no coração dos discípulos, portas fechadas… E o ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19).

Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o príncipe da Paz estava no meio deles, ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e ao mesmo tempo anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si, duvidando de Deus…

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Tomé foi honesto em suas dúvidas, era preciso viver a experiência pessoal com o Senhor para pode professar: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).

Este discípulo ausente no primeiro momento, quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus e de suas obras, e nos tornamos incrédulos quando não participamos da experiência do encontro com o Senhor na comunidade reunida.

Oito dias depois, os discípulos estão reunidos e agora está também Tomé, que dessa vez vê o Senhor. Novamente Jesus deseja a Paz e convoca aquele discípulo que não acreditou antes, e diz a Tomé: “‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28).

A declaração de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo acolhe e tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no Deus da vida. Nós também somos acolhidos na misericórdia de Deus quando, pela nossa fraqueza e dúvida, queremos provas da sua presença no meio de nós.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentirmos e tocarmos! Elas estão presentes nos crucificados deste mundo e aparecem nos que passam fome, nos desempregados, nos presos e nos que injustamente são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade das realidades políticas, econômicas e sociais.

Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Quem romperá o grupo fechado no medo e na omissão dos que se dizem seguidores do ressuscitado? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, e, por isso lutam por uma sociedade nova e cheia de vida e de paz.

Somente os que deixam as portas se abrirem e saem em missão para anunciar a vida nova em Cristo, e que deixam Jesus inundar de paz e coragem a sua vida. Estes podem mostrar para o mundo o sentido verdadeiro da vida, da justiça e da esperança.

Quando nos fechamos em nosso egoísmo e individualismo e ficamos distantes da vida da Igreja que abre as suas portas e assim nos tornamos discípulos infecundos e incrédulos. A misericórdia do ressuscitado nos abraça e nos acolhe, fazendo-nos forte na fé e nos ajudando a tirar as dúvidas e insegurança sobre a vida nova.

Enquanto alimentarmos uma fé somente devocional e não no dedicarmos a vida de discípulos missionários, a alegria do evangelho ficará como que guardado em nossas normas frias e sem força para evangelizar o mundo. Ficamos como em templos de portas fechadas por medo, comodismo e pessimismo e com a ausência de confiança no ressuscitado.

Portanto, cada domingo também é como aquele oitavo dia, quando também professamos a nossa fé no ressuscitado. Em cada domingo, escutamos os ensinamentos dos apóstolos, louvamos, colocamos em comum a nossa oração, partilhamos o pão, fazemos nossas ofertas materiais e espirituais como as primeiras comunidades dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,46).

Em cada encontro, a partilha da vida, nas suas alegrias e tristezas, porque é aí que se alimenta a fé e se revigora a caminhado do dia a dia de nossa existência. E então, nos perguntamos: como está a nossa partilha em nossas comunidades? Somos capazes de sentir a necessidade verdadeira do irmão carente? Sentimos a presença do Ressuscitado em nosso meio? Com quem nos identificamos: com Tomé ou com os outros discípulos?

Peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo, da nossa insegurança e do nosso isolamento para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho. Atitudes que se expressam na nossa alegria, na nossa paz, na nossa fraternidade, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!

DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – ANO B

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 10,34a.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

POESIA

QUEM AMA CHEGA PRIMEIRO

Pelo amor e a esperança,
Madalena vai correndo,
Cheia de uma novidade,
Que está lhe preenchendo,
Volta do túmulo vazio,
Madrugada em vento e frio,
Coração se aquecendo.

Primeira anunciadora,
De Jesus ressuscitado,
Vai dizer aos seus irmãos,
Sobre o túmulo arrebentado
Precisa se refazer,
Para pode entender,
O que Deus tem realizado.

A mensagem é semeada,
Junto aos outros irmãos,
E aos pouco se espalhando,
Por Pedro e também por João,
Cristo trouxe a vida nova,
Túmulo vazio é a prova,
Da santa Ressurreição.

Há um amor que motivou,
Ao discípulo em seu correr,
Pois o amor chega primeiro,
E não se deixa esmorecer,
Sem medo ele segue em frente,
Sem dúvida a lhe preencher.

O amor do discípulo amado,
A muitos encorajou,
Fez Pedro seguir em frente,
Mesmo que ao mestre negou,
Pois foi o amor e a fé,
Que fez Pedro ficar de Pé,
Com coragem continuou.

Compreender a vida nova,
No caminhar dia a dia,
Aceitar outra maneira,
Pra seguir a nova via,
A morte não tem mais poder,
Basta seguir e também crer,
Na Paz e na alegria.

Somos também seguidores,
De Cristo ressuscitado,
Seguimos a nova vida,
Com o nosso Deus amado,
Que se faz nosso alimento,
Na alegria e sofrimento,
Caminhando ao nosso lado.

O encontro com os irmãos,
Faz sair da madrugada,
Pra abraçar a luz completa,
E a vida iluminada,
Pois Cristo que se faz clarão,
Na Palavra e comunhão,
E a assembleia renovada.

 

HOMILIA

Animados e iluminados pela Ressurreição de Cristo

 

Irmãos e irmãs, desde a noite da vigília no sábado, também neste domingo da ressurreição, soam os cantos alegres de aleluia e de glória em toda a Igreja. Esta alegria da ressurreição do Senhor se estenderá por cinquenta dias como sendo uma festa única, um único dia.

Vivemos o dia do Senhor marcados pela alegria verdadeira da sua vitória sobre as trevas da morte. Somos banhados em Cristo, somos novas criaturas, somos homens novos, por que o Senhor no encheu da sua vida e da sua força renovadora.

Contemplamos Maria Madalena, marcada pela dor da morte de Jesus e da saudade. Ela não espera o dia chegar e quando ainda é escuro corre para o túmulo (cf. Jo 20,1). Vendo o túmulo vazio retorna e vai falar aos outros discípulos. No evangelho desta liturgia, vemos que Maria Madalena é a primeira a anunciar o grande acontecimento.

Os discípulos, como estavam ainda marcados pelos últimos acontecimentos, não conseguiram vislumbrar, a grande dádiva de Deus: Jesus tinha ressuscitado (cf. Jo 20,9). Tudo era muito novo, muitas coisas precisavam acontecer para que eles vivessem a certeza da ressurreição do Senhor.

Aquela manhã do primeiro dia da semana ficará marcada no coração dos discípulos como sendo o dia do Senhor, o dia em que nasce a fé na ressurreição, por que o discípulo amado viu e acreditou e espalhou esta certeza entre os seus amigos (cf. Jo 20,8).

A notícia se espalhará por todos os cantos, a força do ressuscitado chegará ao coração dos discípulos e consequentemente ao povo. A fé agora será amadurecida na caminhada dos seguidores de Cristo até ao ponto de testemunharem sem medo tudo o que aconteceu.

Alimentados da esperança e pela certeza, os discípulos enfrentaram o mesmo destino do Senhor. Serão perseguidos, serão caluniados e martirizados, mas encontrarão a ressurreição e a vida eterna. Se fortalecerão na comunidade reunida com a presença de Maria mãe do Senhor.

Pedro e os outros discípulos irão anunciar a verdade da ressurreição como vemos na primeira leitura de hoje: Nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. Ele nos mandou proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,39-42).

Esta mensagem animou os primeiro seguidores e os fez continuarem em frente, motivo do qual chegou até nós. Por isso nos reunimos para encontrarmos com a Palavra viva para ouvirmos atentamente e também com a Eucaristia, corpo e sangue do Senhor, que nos alimenta na nossa peregrinação terrestre.

E nós, os cristãos neste dia de hoje, somos despertados para uma nova vida que se constrói a cada momento, que se renova em cada desafio vencido. A fé que temos no Senhor parte daquela madrugada de Madalena e dos outros discípulos. Somos os discípulos missionários e continuamos a levar a mensagem de esperança e de vida nova ao mundo.

Não podemos buscar o Ressuscitado nos túmulos das divisões, dos ritos vazios, do medo e da insegurança. Também não o encontraremos numa rotina de culto sem vida e muitas vezes sem convicção da fé que impulsiona e que faz fluir a motivação para correr e se chegar mais rápido aos lugares onde se faz necessário a esperança, a paz, a alegria e a vida nova. Vida nova à luz do dia e não da madrugada confusa de nossa fé.

Devemos continuar com a mesma fé dos primeiros discípulos e como disse o apóstolo Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (Cl 3,1-3).

Que em nessa caminhada pascal que se inicia, possamos semear esperança e alegria aos que encontrarmos. Nosso mundo precisa da alegria verdadeira do Evangelho para ser melhor e mais cheio de paz. E que a cada dia também possamos amadurecer a nossa fé no ressuscitado, dado que a fé é caminho, é experiência, é vida em comunhão e união realizada no amor que nos motiva a seguir sem medo e sem dúvida.

Sigamos em frente e meditemos neste período de 50 dias que se seguem, celebrados como sendo um, e cantemos confiante: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117/118). Amém.

VIGÍLIA PASCAL DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  Gn 1,1-2,2; Sl 103; Ez 36,16-17a.18-28; Sl 50; Ex 15; Rm 6,3-11; Mc 16,1-7

POESIA

A PÁSCOA DE CRISTO EM NÓS

Acompanhados da Luz do vivente,
Caminhamos como amigos e irmãos,
Vencendo as trevas e iluminados,
Fortes, vencendo a escuridão,
Seguindo-o vamos em frente,
Na procissão como povo crente,
Em busca do altar da comunhão.

Pela companhia da Palavra Santa,
Vamos ouvindo o novo mandamento,
Aprendendo e caminhando com o Senhor,
Vivendo a salvação como ensinamento,
Não como algo que ficou no passado,
Que aconteceu e ficou desprezado,
Mas no hoje de nossa vida fundamento.

Banhados pela água batismal,
Renovando o compromisso que se selou,
Sigamos a mesma fé professando,
Vivendo a nossa Páscoa que chegou,
A cantar o cântico dos renascidos
Como discípulos fiéis e redimidos,
Com o Jesus que conosco ressuscitou.

Encontro da mesa e do vinho novo,
Comungamos do corpo do ressuscitado,
Que nos convida e nos oferece a alegria,
Vem trazer a paz aos desanimados,
Na fraternidade sempre a seguir,
Com coragem e sem desistir,
No mundo novo que agora é recriado.

 

HOMILIA

Cristo é a Luz da nova Criação

 

A celebração da Vigília Pascal faz memória da história da Salvação desde a Criação do mundo e do homem até a nova Criação. A nova aliança que se dá na última ceia e se concretiza na ressurreição do Senhor.

É uma liturgia repleta de rituais com uma simbologia muito profunda e que nos insere no mistério da vida nova em Cristo. Ele vem como luz da nova criação. Nele somos banhados pelo batismo para fazermos parte do novo povo de Deus como sacerdote, profeta e rei, na dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para mergulharmos profundamente no sentido desta liturgia iremos vivenciar quatro momentos bem definidos. Primeiro adentramos na liturgia da luz, que é a celebração da Páscoa cósmica, marcando pela a passagem das trevas para luz. O círio aceso na fogueira, em frente ou ao lado da igreja, é a luz do ressuscitado que irá se espalhando por todo o espaço da assembleia, através das nossas velas, as quais nos lembra o dia de nosso batismo, o dia do nosso novo nascimento.

No segundo momento, na liturgia da palavra, revivemos pelas leituras bíblicas, a Páscoa histórica, enfatizada nos principais momentos da história da salvação. A Páscoa do povo Judeu e a páscoa da nova aliança, quando seremos um povo renovado pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Em terceiro lugar viveremos a liturgia batismal que celebra a Páscoa da Igreja, povo de Deus nascido da Fonte do Batismo. Neste momento a Igreja batiza e o povo renova seu compromisso batismal de discípulos e discípulas de Cristo.

Por último a liturgia Eucarística que celebra a Páscoa perene e futura quando seremos julgados definitivamente por Cristo, no final dos tempos. A Páscoa de todos os dias quando vamos à Missa e mergulhamos no mistério do banquete do Cordeiro que se oferece como alimento para a festa da vida e da esperança.

Portanto, os símbolos da Luz, da água, do Pão e do Vinho, acompanham toda a nossa vida de filhos e filhas de Deus em Cristo. A cada momento de nossa vida temos esses elementos vitais e sensíveis em nossa caminhada. Em cada celebração renovamos nosso compromisso de caminhar com o Senhor esperando a sua vinda gloriosa.

No Evangelho desta liturgia, ouvimos o testemunho das mulheres, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, com também de Salomé que vão ao túmulo vazio. A força da vida nova rompeu a pedra que queria impedir a vida. Como grão que arrebenta a terra para nascer, Cristo cm sua força salvífica arrebentou as barreiras da escuridão e da tristeza. Como nos fala São Paulo na carta aos Romanos, Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem pode sobre ele. (cf. 8,6).

As mulheres ainda iam ver o cadáver, o Cristo entre os mortos. Queriam ungir o corpo corruptível, mas ele já se tinha transformado para sempre em um corpo novo e cheio de vida. Nós também, muitas vezes, queremos cultuar um Cristo morto por não querer acreditar que ele nos trará vida nova. Queremos visitar os túmulos de nosso pessimismo, de nossas dúvidas e de nossa falta de esperança. No batismo somos novas criaturas e sinais de Cristo, luz do mundo.

A Páscoa não é um acontecimento do Passado, Crer em Cristo ressuscitado é portanto, acreditar nele agora e para sempre. Não podemos perder esse foco da fé. Cristo é o coração do Mundo, como disse o teólogo K. Ranner (*1904+1984). Nele está a nossa esperança de uma existência nova, redimida e transformada já aqui na nossa caminhada terrena.

Ele está em nossas lágrimas, como força, e nas dores como consolo permanente e vitorioso sobre nossos sofrimentos. Ele está em nossos fracassos e impotências como força segura que nos defende. Ele nos visita em nossas depressões, acompanhando-nos nossa solidão e nas nossas tristezas; Ele age em nossos pecados, nos oferecendo a misericórdia e o seu perdão como possibilidade de um novo significado para a nossa vida cotidiana e comunitária no caminho da santidade.

A ressurreição não é somente um só dogma, mas um contato vital e concreto com Cristo. Não podemos viver e crer na Ressurreição como uma teoria. Nós ressuscitamos na vida em comunidade, na experiência da casa entre esposo e esposa, pais e filhos. Também nas relações fraternas que realizamos, seja na dimensão família, laboral ou comunitária.

A experiência no Ressuscitado significa acreditar que ele está vivo, aqui e agora entre nós. É acreditar que ele está com a gente na comunidade reunida, na catequese, na liturgia, no Terço dos Homens, nos Terços nas casas, quando saímos em missão, quando nos encontramos para a Missa e em muitos outros momentos que vivenciamos na nossa comunidade a união e a alegria do evangelho.

Jesus tem força para ressuscitar a nossa vida, renovar a nossa esperança. Não são os bens materiais que nos dão a vida nova, mas a paixão e o amor à vida, alimentada pela mística espiritual do encontro, da partilha e da busca de harmonia com o supremo Deus que nos coloca na dignidade de filhas e filhos muito amados.

Como a mulheres, testemunhas primeiras da ressurreição, saiamos pelo mundo para pregar a vida nova em Cristo como algo concreto em nossas vidas. Não considerando um acontecimento do passado, mas do presente que se faz a cada momento do nosso existir.

Cristo ressuscita em nós todas as vezes que nos sentimos renovados pela cura de nossos rancores, ressentimentos, prepotências e profundas angústias e tribulações. Disse o Senhor: “Tende Paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem eu venci o mundo” (João 16,33).

Que a experiência da ressurreição do Senhor nos faça também pessoas pascais, ou seja, marcadas pela vida nova no amor do Senhor e no compromisso com a Paz e a justiça do Reino de Deus. Busquemos vencer a morte que está nas tantas realidades humanas – nas guerras, nas injustiças e nas pobrezas materiais e espirituais.

O Senhor está conosco, em todos os dias de nossas vidas até o fim dos tempos (Mt 28,20b). Sigamos com a vida e a esperança na força do ressuscitado, na busca de um mundo novo. Façamos algo pelo Reino de Deus!

DOMINGO DE RAMOS

COLETA NACIONAL DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Mc 11,1-10 (Procissão); Mc 14,1-15,47 (Paixão)

POESIA

CAMINHEMOS A JERUSALÉM

Caminhemos à cidade santa,
Com Jesus o Santo Peregrino,
Saudado por nossos aplausos e hinos,
Ele é o caminheiro da santa Paz,
Que caminha com total liberdade,
E que em seus seguidores livres nos faz.

Caminhemos à nossa Jerusalém,
Nos encontros de dores e alegrias,
Nas trevas da vida mesmo à luz do dia
Mas a voz de Deus sempre a escutar,
Esta palavra que traz a esperança,
Que nos leva ao culto verdadeiro celebrar.

Caminhemos com o Senhor a cada dia,
Em nossa vida e em nossa caminhada,
Deixando que em nós ele faça morada
E a sua justiça sempre seguindo,
Vivendo a verdade do evangelho,
E pelo o amor dele se consumindo.

Façamos aclamações na sinceridade
Com os ramos verdes da esperança,
Olhando seu amor que não se cansa,
Porque ele caminha carregado de coragem,
Pois o medo nele não pode existir,
Porque o amor é a sua viva mensagem.

Cristo que nos ensina a obediência,
Ao Pai do céu ele se entregou,
Pronto realizar o que pregou,
Chegar à cruz como consequência,
Ele foi livre dos reinos terrenos,
Seu silêncio venceu a prepotência

Caminhemos ao encontro da nossa união,
Que se dá no alimento da nossa alma,
E também na carne que se nutre e calma,
Buscando o caminho da serenidade,
Porque a paz nasce do encontro,
Pelo amor, braços abertos para a caridade.

 

HOMILIA

O louvor dos homens e a Paixão de Cristo

Irmãos e irmãs, a celebração do Domingo de Ramos insere-nos no clima e sentido espiritual da Semana Santa. Nesta liturgia contemplamos Cristo que caminha livre para Jerusalém onde irá viver a sua paixão e morte. Lá nos dará como presente a vida nova, pois vencerá a morte para sempre e ressuscitará para também nos dá a ressurreição.

Na caminhada de Jesus para Jerusalém também vemos a sua simplicidade e a sua entrega como rei diferente. Montará num jumentinho emprestado para nos mostrar que o seu reinado sobre o mundo é marcado pelo amor, simplicidade e pela entrega total para a nossa salvação (cf. Mc 11, 3).

Em procissão, vamos também nós, com ramos verdes, cantando Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. A nossa vida também é marcada pela caminhada rumo à cidade santa, a cidade celeste, em procissão para a casa da Palavra e do Pão, a qual nos orienta, nos alimenta e nos faz crescer como irmãos e irmãs.

Nesta liturgia, já reviveremos a paixão e morte de Jesus. Na narração do evangelista Marcos, encontramos com um Jesus silencioso, que não fala nada e se entrega totalmente à cruz como consequência de sua pregação entre os homens em função de sua missão redentora. Caminhará para a sentença injusta como um cordeiro ao sacrifício. Isso nos ensina sobre a nossa missão que muitas vezes precisa de entrega e silêncio para podermos viver fielmente.

O silencio só será pecaminoso quando nos calarmos diante das injustiças e das ameaças à vida. Quando somos omissos por não promover a paz ou quando calamos por medo de anunciar a beleza da vida. Quando deixamos de promover o amor que traz a harmonia entre os homens e mulheres, na sua relação com o mundo, com o outro, consigo mesmo e com Deus.

Em nossa caminhada também encontramos as muitas cruzes e mortes, como Jesus encontrou na sua missão. Mas também encontramos a vitória, pois ressuscitamos com ele, nos levantamos e seguimos em frente. Deixamos que muitas mortes aconteçam em nossa existência para que a vida nova possa fluir e trazer um novo sentido.

Somos ainda alimentados pela fé na ressurreição e por isso caminhamos para vida eterna que é a nossa meta principal como foi dos discípulos seus. Cristo vive entre nós e nos dá o seu Espírito para vivermos no mundo, seguindo os seus passos na construção do seu Reino de amor e paz.

A celebração de domingo de Ramos nos insere na Semana Santa, nos dando o clima e o tom de todo o percurso a ser vivido nos dias seguintes. O roteiro homilético da CNBB[1] nos lembra que nesta semana viveremos cinco movimentos os quais marcam não somente este tempo, mas também toda a nossa caminhada de fé, dentro do sentido de um itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão do domingo de Ramos usando a cruz à frente como sinal da paixão e da vitória de Cristo sobre a morte. Ele que nos guia no nosso caminhar de discípulos missionários seus. Como cristão, na nossa peregrinação terrestre, vivemos o louvor e o sofrimento, mas continuamos a caminhada, pois estamos com o Senhor.

O segundo movimento acontece concretamente na sexta-feira santa, quando caminhamos para beijar a cruz. Ela é o sinal da glória de Cristo, representação do amor máxima de Jesus por nós, a explicação do limite o qual Jesus chegou para nos apresentar a face misericordiosa de Deus Pai pelos homens. Quando desprezamos esta dimensão espiritual da cruz, fugimos da nossa missão e nos desanimamos. A Cruz também é sinal de misericórdia e vitória.

No terceiro movimento, podemos dizer que é o mais forte e marcante para os cristãos, pois é o nosso caminhar atrás do círio Pascal, a luz verdadeira que brilha nas trevas. A noite da morte agora já não existe mais. Cristo ressuscitado agora nos guia e nos ilumina com sua luz. Caminhamos sem medo da escuridão das dores, das angústias e das tristezas, pois agora somos vencedores marcados pela alegria, coragem e paz no mundo. Cristo está vivo!

O quarto movimento diz respeito à nossa procissão rumo à mesa cujo o alimento é o corpo do ressuscitado, o seu sangue nos mata a sede e nos sacia para continuarmos firmes, marcados pela esperança num mundo novo cheio de fraternidade e vida nova para todos.

E no quinto e último movimento, somos enviados em missão para proclamarmos que Cristo venceu a morte. Mas ele está conosco animando-nos com o seu Espírito. Lá fora da Igreja, no mundo, daremos testemunho de verdadeiros seguidores do Cristo. Seremos os continuadores de sua mensagem salvífica. Seremos presenças vivas entre os homens para mostrarmos a face do Senhor que é amor e a compaixão que deseja que todos sejamos irmãos.

Portanto, vivamos a semana das semanas, num espírito de oração, de penitência e jejum. Fiquemos atentos aos passos do Senhor na sua paixão, morte e ressurreição, pois é nesta verdade e neste acontecimento que está fundamentada a nossa fé. Amém.

[1] Roteiros homiléticos da quaresma, março e abril, ano A. 2014.