XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 145(146); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

EFATÁ

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.

Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvireis as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a fraternidade.

 

HOMILIA

Discípulos em escuta e missionário na fala

A liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum nos alerta para que nos curemos da nossa surdez e da nossa mudez na nossa experiência de discípulos missionários do Senhor. Discípulos que seguem a Cristo através da escuta da sua Palavra e proclamam o amor, encontrando em Deus a graça da cura porque o Senhor tocou os ouvidos e a língua para que anunciem ao mundo as maravilhas do Reino de Deus.

O Evangelho desta liturgia apresenta Jesus em território pagão, na região de Tiro e Sidônia, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado. Era alguém que não podia ouvir e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão e toca nos seus ouvidos e também na sua língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai abrindo a possibilidade do falar e do escutar para aquele homem que estava fora da comunidade e que foi trazido por seus amigos para ser curado, porque não era mais possível até então caminhar sozinho em busca de Jesus.

Esta ação de Jesus já era anunciada em Isaías quando fala ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5). Em Jesus se cumpre o que anunciou o profeta.

Na segunda leitura, São Tiago nos alerta para que, na nossa fé em Jesus Cristo não admitamos acepções de pessoas, porém fala que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus que exclui, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

A Palavra de Deus é a verdadeira referência para escutarmos a verdade. É pela escuta da Palavra nas celebrações, nos encontros, na leitura orante em comunidade e/ou individual que podemos ser curados da nossa surdez e da nossa mudez. É a palavra de Cristo que penetrando em nossos ouvidos leva-nos a entrar na comunidade. O isolamento nos tira da escuta, nos tira a vivacidade da comunicação com os irmãos. Por isso precisamos que alguém que já faça parte da comunidade nos encaminhe a Cristo.

É por amor e aceitação à Palavra que o próprio Cristo, Verbo encarnado, nos dá a capacidade para ouvir o clamor dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra. É pelo encontro com o Senhor, muitas vezes na escuta silenciosa, que somos motivados a abrirmos a nossa boca para proclamarmos a justiça, a caridade e vivermos a fraternidade no nosso caminho cristão em favor do mundo.

Façamos esse exercício do encontro com o Senhor, pela Eucaristia, pela leitura da Bíblia e escutando o Espírito Santo na voz da Igreja. É somente pela constante escuta do Senhor, à Palavra, que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida. Somente um proclamar insistente das maravilhas de Deus poderá transformar a nossa vida e a vida dos irmãos. É pela constante leitura da Sagrada Escritura e escuta da Igreja, o Corpo Místico de Cristo, que nos tornamos íntimos de Cristo e da sua proposta na vida nossa de cada dia.

A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, trazendo como consequência na escuta, na conversão e na fala a esperança na salvação, inserindo-nos na comunidade dos amigos de Cristo que constantemente aprende a ouvir os apelos de Deus em favor da humanidade, que em muitas situações precisa ser curada da surdez do individualismo que traz tanto sofrimento às pessoas. Amém.

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 4,1-2.6-8; Sl 14(15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23

 

POESIA

OS PRECEITOS DO SENHOR

A Palavra do Senhor tem seus preceitos:
Lei que eleva-nos à vida de caridade,
Que nos ensina agir na simplicidade,
A inserir-nos no mais profundo da comunhão,
Para buscarmos na mesa do Vinho e do Pão,
O sentido mais verdadeiro da santidade.

Os conselhos do Senhor são superiores,
Às prescrições da pedra e do papel,
É Carne, é Homem, é o Emanuel,
Que veio ao mundo conosco morar,
Renovando a lei pra nos alimentar,
Num banquete vivo de leite e mel.

A voz do Senhor nos faz pensar:
Nas impurezas do nosso coração,
Nas misérias que fazem a devastação,
Na hora dos lábios quando superficiais,
Pelo culto vazio e as regras materiais,
E pela busca de uma vida de ilusão.

O olhar do Senhor nos levará,
Ao verdadeiro culto que faz viver,
Pela santa Palavra que nos leva a crer,
Que a voz verdadeira não enganará,
Que sua força nos salvará,
Basta seguir o amor e obedecer.

Os caminhos do Senhor nos levarão:
A falar do amor e da alegria,
A prestar um culto de verdade a cada dia,
Para levar a paz na vida em missão,
Expulsando os males que saem do coração,
Pela Santa Palavra que nos recria.

 

HOMILIA

O verdadeiro culto ao Senhor

Neste 22º Domingo do Tempo Comum meditaremos o texto do evangelista Marcos no qual Jesus está diante dos fariseus e mestres da Lei. Há um questionamento deles em ralação à limpeza exterior e Jesus logo corrige tal questionamento: “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15).

Pois bem. O amor sai do nosso coração. O olhar verdadeiro sobre a vida, expresso no carinho, no caminho com os irmãos da comunidade, no grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossas mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

Segundo Marcos, Jesus faz referência ao texto do profeta Isaías (cf. 29,13). Disse o Senhor: “Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a boca, enquanto o coração está longe de mim. Seu temor para comigo é feito de obrigações tradicionais e rotineiras” (Mc 7,6). Jesus denuncia a postura dos especialistas da tradição de Israel, os alertando que não é o externo que agrada a Deus, mas o seguimento da Palavra é que traz o Espírito do amor e a vida nova expressa num culto verdadeiro e profundo direcionado a Deus.

Isso nos levar a refletirmos sobre nós cristãos, hoje: como está a motivação do nosso culto a Cristo ressuscitado? Buscamos no nosso coração, no mais profundo do nosso ser, os motivos que nos leva a ser um discípulo missionário com toda a nossa alma e com todo o nosso ser? Quais são as impurezas do nosso coração? A liturgia da Palavra irá nos apontar para que busquemos a libertação desta realidade das impurezas citada por Jesus. Estas sim nos torna impuros diante de Deus!

Na primeira leitura no livro do Deuteronômio, escrito na Babilônia, durante o exílio do Povo de Israel, Moisés aconselha a todos que guardem os mandamentos do Senhor. Esta obediência levará o povo a viver a justiça no mundo de sofrimento, pois o que sobrou para aquele resto do povo escolhido foi a lei de Deus, para orientar o caminho de Israel. Diz Moisés: E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?” (Dt 4,8). Nós cristão também devemos seguir o mandamento justo e vivo confirmado por Jesus, a partir do amor a Deus e ao próximo.

Na segunda leitura, São Tiago irá dizer: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é que assiste os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixa contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Aqui podemos confirmar o que falamos acima: o amor (caridade) é o maior dos preceitos pois é a prova concreta da obediência e culto que agrada a Deus.

Vejamos que toda a Palavra deste domingo se volta para pureza baseada em nossas atitudes, intenções e palavras. Somos chamados a viver a pureza cristã expressa na caridade a qual brota de nosso coração. Esta vivência somente será possível quando somos observadores às leis do Senhor, contidas primeiramente no Evangelho. Quando deixamos que a nossa vida seja marcada e demarcada pelo o mandamento do amor o qual não está no papel, mas no coração e nas nossas atitudes do bem e sobre a luz do Espírito de Deus que também conduz a nossa existência.

Vivemos num mundo em que se relativizam as leis dos homens não a favor do amor, mas a serviço de interesses, muitas vezes, econômicos e políticos, as quais ferem a dignidade humana. Também esquecemos que a nossa pureza brota de um coração que vive o amor por Cristo, expressa na ajuda aos necessitados, aos famintos do Pão e da Palavra, de atenção e do carinho do amor do Pai.

Portanto, a nossa comunhão com Cristo se dará de verdade quando somos um só corpo de Cristo, como uma esposa fiel. Aquela que sente a dor de seus membros. Ser seguidor de Jesus é exatamente viver escutando a sua Palavra e se alimentando dela; é seguir os verdadeiros preceitos, honrando a Deus com os nossos lábios e, sobretudo, com o nosso coração, numa atitude de escuta, numa poesia e canção que deverá brotar do mais profundo do nosso ser, como louvor e gratidão ao Deus que nos alimenta e nos oferece a vida verdadeira. Amém.

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Cor Litúrgica: Verde

Leituras: Ex 16,2-4.12-15; Sl 77; Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35

 

O PÃO QUE VEM DO CÉU

 

Além do pão que vem da terra,

 Que do trigo novo se faz grãos,

Plantado pelas mãos humanas,

Fruto do amor e da Criação,

Temos o pão da eternidade,

Que nos traz a novidade,

Para a nossa salvação.

 

Pão que se dá na Palavra Santa,

Pelas letras do Livro Sagrado,

Que nos orienta para a caminhada,

Fazendo sempre nos sentir amados,

Que muda nossos comportamentos,

Que transforma nossos sentimentos,

Como pérola e tesouro encontrados.

 

Pão que se oferece para a vida nova,

Na Mesa de todos e bem preparada,

Onde todos se voltam para o Alimento,

Como irmãos felizes da mesma estrada,

E então, se alimentam e se saciam,

E depois para mundo todos anunciam,

Esse Pão nos leva a eterna morada.

 

Alimento e Bebida que nos realiza,

Que nos sacia perfeitamente,

Dando-nos o sentido mais completo,

Alimentando a nós, a sua gente,

Configurando-nos ao seu imenso amor,

Nosso Pão da vida e Nosso Senhor

Força que nos faz seguir em frente.

 

Busquemos sempre por este Pão,

Nos caminhos da vida espiritual,

Mas, não deixemos de trabalhar,

Também pelo alimento material,

Porém, o Pão do céu é a maior razão,

Que nos dá força na tribulação,

Para a nossa vida, é santo sinal.

 

Que possamos ser Eucaristia,

No mundo das contradições,

No cotidiano de nossa existência,

Na vida, nas várias dimensões,

Na luta pelas causas sociais,

Nas fomes de comida e espirituais,

Na justiça do Reino nos fazendo iguais.

 

Por isso Senhor nós te pedimos,

Alimente em nós a confiança,

Pela providência do pão de cada dia,

Ensinai-nos o perdão em perseverança,

Perdoai-nos também as nossas ofensas,

Quebrai em nós toda a prepotência

Para que brote a Paz e a Esperança.

O Pão que nos leva à vida eterna

 

A liturgia deste 18º domingo do tempo comum dá continuidade ao capítulo 6 de João. É o discurso do “Pão da vida”, em que Jesus fala para a multidão sobre o Pão do Céu oferecido por Deus para a obra de salvação.

As pessoas querem mais pão material, querem vida fácil através de uma ação quase que mágica de Jesus. Jesus aproveita para reconduzir o foco na experiência do Pão Divino que sacia todo homem.

Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará (Jo 6,27). Essa é a grande mensagem para a multidão dos seguidores de Jesus. Desafio para nós cristãos dos dias atuais, quando o espírito do consumismo invade as consciências e a vida das pessoas de forma violenta e arbitrária. Jesus alerta à multidão para que realizem a grande obra de Deus, isto é, acreditar no Filho, enviado pelo Pai, que veio mostrar a sua face e ensinar a todos a viverem como irmãos.

O pão que Jesus oferece é o seu projeto de amor, onde todos podem se alimentar e também fazer com que a partilha, a fraternidade e a solidariedade estejam presentes como sentido principal da vida, numa caminhada onde não há mais fome de sentido da nossa existência. Somos saciados quando encontramos o sentido da nossa vida e a ofertamos como sinal de alegria e graça diante do mundo. Quando vivermos isso, estaremos alimentados do verdadeiro pão da vida, o qual está além da nossa fome do pão orgânico.

Entretanto, o Pão do céu é dom de Deus, é uma ação da pessoa do Pai. Os que estavam no deserto junto a Moisés receberam de Deus a providência do pão material, mas tiveram que aprender a confiar na providência divina quando receberam a ordem de não guardar para o outro dia (cf. Ex 16,4).

Muitas vezes, quando vamos à Missa, esquecemos que devemos alimentar nossa esperança no Pão do céu e não nas nossas barganhas com Deus. Não devemos agir como aquela multidão: querer um milagre de acordo com as nossas expectativas, como se a nossa presença na celebração fosse o suficiente para merecermos a graça.

Quando vamos à Missa, devemos estar atentos a duas dimensões: a primeira, é que se faz necessário escutar os ensinamentos da Palavra e receber o alimento da Eucaristia, para prosseguirmos nossa caminhada realizando a obra de Deus pela nossa

fé; a segunda é rezarmos que a providência de Deus para atue em nossa vida, mas esta dimensão não está submissa à nossa presença em uma Celebração, ela é gratuita por que Deus é misericordioso e nós é que temos a obrigação de cultuá-lo como um gesto de gratidão, obediência e amor ao Senhor. Podemos nos perguntar: o que iremos buscar na missa ou porque vamos à missa? Jesus nos pergunta: porque me procuram, porque buscam me encontrar?

Na segunda leitura, São Paulo nos exorta a despojarmos do homem velho para se revestir do homem novo (cf. Ef 4,17-24). Um ser humano que se insere no mundo do consumismo, achando que tudo pode, está, na verdade, com as atitudes do homem velho, porque está perdendo a imagem do qual foi criado por Deus. Por isso o Apóstolo nos alerta: Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. (Ef 4,24).

Trazer a imagem de Deus em nós está além da nossa visão física. Esta imagem é marcada por atitudes que transforma a nossa vida e da vida dos irmãos. As atitudes do homem novo se dão quando ele busca o verdadeiro pão do céu, e ao mesmo tempo se alimento do pão de cada dia, confiando na providência de Deus…

Portanto o homem novo é aquele que se alimenta do Pão do Céu e quer mostrar para o mundo que o sentido pleno da nossa existência está no alimento que vem do Céu. Por isso quando Jesus nos ensina a pedir o pão para cada dia, ele nos fala de Pão Nosso e de Pai nosso (cf. Mt 6,9-15). Porque o pão orgânico também é dado por Deus que é Pai de todos e por isso oferece a todos o Pão e a Vida. Ele é a fonte onde encontramos a força espiritual para labutarmos na vida. Ele é o alimento e a bebida plena que nos sacia completamente.

Ao sairmos do encontro com o Senhor, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, deveremos ir ao mundo como sinal de comunhão e de fraternidade, nas realidades da vida cotidiana, nos vários âmbitos sociais e comunitários. Na luta por justiça e pelo pão material e espiritual que se complementam e se tornam vida cheia de alegria e senso de irmandade. Sejais, o Senhor, nosso alimento e nossa esperança… Amém.

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 144(145); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

POESIA

A PARTILHA DO REINO

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.

Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do divino amor.

O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao pão da vida eterna tenha procurado.

E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.

Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o pão do amor e da comunhão,
Para beber o vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho leva vida e à salvação.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina a guardar o que sobra

Neste 17º domingo do tempo comum vamos aprender de Jesus a verdadeira partilha, a qual suscita o grande milagre que é a multiplicação do pão para todos. A multidão procura Jesus para aclamá-lo como rei de Israel porque ainda não compreendeu o sentido completo da sua vinda ao mundo.

Durante cinco domingos iremos ler o capítulo 6 de João, que inicia nesta liturgia com a multiplicação dos pães e prossegue o grande discurso sobre o pão da vida, alguns momentos no monte e em outros na sinagoga de Cafarnaum.

Jesus atravessa o mar e uma grande multidão o segue, estava próxima a Páscoa, Jesus percebe que o povo tem fome e provoca um de seus discípulos, Felipe, perguntando como resolver o problema da falta de alimentos. André percebe que há um menino com cinco pães e dois peixes.

Cada uma destas atitudes nos leva a refletir sobre o que ensina Jesus para a nossa caminhada cristã. Podemos perceber um paralelo entre o Antigo e o Novo Testamento: Jesus atravessa o mar da Galileia, como Moisés também atravessou o mar Vermelho, Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto. Há o milagre do pão como o maná no Deserto. Porém há algo novo no Evangelho: Jesus é o novo Moisés que caminha com a multidão, conduzindo-a ao Reino de Deus.

O Pão agora deve ser preservado e guardado para que os outros participem da graça do milagre de Jesus. O Pão da vida, a Eucaristia, deve alimentar o sentimento de justiça e também suscitar a percepção de que há irmãos necessitados do pão de cada dia e por passarem fome por causa do acúmulo das riquezas nas mãos de poucos.

A liturgia de hoje nos ensina o valor da partilha e da experiência da gratuidade diante do outro. Mesmo diante da fome de uma multidão necessitada, há sempre alguém a oferecer algo para que seja partilhado. O grande milagre necessário para os nossos dias é a conversão do coração humano para a partilha dos seus acúmulos.

O Evangelho quer nos ensinar que a Eucaristia é vivida quando o pão material também é disponível na mesa de todos. Não há uma comunidade eucarística onde não se sente a necessidade do outro, onde não se incomoda com as pessoas que precisam do pão de cada dia.

Outra realidade que podemos refletir nesta liturgia: a fome pode ser resolvida quando forem recolhidas as sobras das mesas fartas como um louvor pelo grande milagre da abundância oferecida por Deus. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino perdido na multidão, ou como “o homem de Baal-Salisa, que veio trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

O Papa Francisco[1],em sua encíclica, nos lembra que “desperdiçamos no mundo aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS,50). Esse é o grande pecado da humanidade e deve ser confessado e transformado em ação de partilha e sensibilidade pelos irmãos e irmãs da nossa casa comum, que é a terra, como nos fala o Papa.

As nossas celebrações precisam ser continuadas nas missões, onde devemos anunciar aos outros o quanto podemos contribuir com o milagre de Jesus, que é o alimento oferecido a todos. A Eucaristia deve também nos conduzir à fraternidade e a alegria do encontro onde todos são acolhidos e ajudados a viverem com a dignidade de irmãos no mesmo amor de Deus, que é justo e misericordioso.

O nosso pecado contra a Eucaristia acontece quando nos deixamos levar pela nossa obsessão ao consumismo e a nossa omissão no envolvimento com as políticas públicas de distribuição de renda. A verdade é que somos dominados pelo mercado, que presta culto ao deus do lucro, e pelo capitalismo, que exclui tantos irmãos ao acesso aos bens mais básicos de sobrevivência.

A segunda leitura nos exorta a olharmos para a nossa condição de batizados e agirmos como um povo que forma “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6). É em nome da unidade que podemos possibilitar o milagre do pão oferecido a todos, onde as mesas não estarão mais vazias do alimento material e também haverá a Eucaristia comungada e vivida como condição para a construção do Reino de Deus.

Que o Senhor tenha compaixão de nós, abrindo nossos olhos e nossos ouvidos, curando nossas paralisias diante da pobreza material, para que possamos ser sinal de Cristo, como foi o menino, que entregou tudo o que tinha: 5 cinco pães de cevada e 2 peixinhos. E que a partir daí possa acontecer um milagre, onde o amor possa alimentara a multidão, que passa fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora. Amém.

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[1] FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado sejas: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.

 

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jr 23,1-6; Sl 22; Ef 2,13-18; Mc 6,30-34

 

POESIA

A COMPAIXÃO DE JESUS

Coração que acolhe,
Que tem atenção,
Que dispensa o descanso,
Que dá proteção,
Que tem tanto amor,
Vê no povo o clamor,
Da sua missão.

Coração que contempla
Que vem abraçar,
Que olha as ovelhas,
Sem as desprezar
Pastor santo e forte,
Que expulsa a morte,
Para a vida ofertar.

Coração solidário,
Com olhar sempre atento,
Para os desprezados,
Sendo altar e alimento.
Aos que vem ao convívio,
Traz a todos o alívio,
Saciando os sedentos.

Coração que ensina,
E nos chama atenção,
Pelos tantos desprezos,
E ausência da missão,
De alguns dos pastores,
Que não são protetores,
Por faltar compaixão.

Coração que alerta,
Sobre o nosso egoísmo,
Quando buscamos bem-estar,
Somente no individualismo,
Esquecemos os sofridos,
Abandonamos os feridos,
E vivemos o cinismo.

Abrasai ó Senhor,
Nosso ser, nossa vida,
Tocai nossa memória,
Às vezes adormecida.
Ensinai a compaixão,
Para vivermos a ação,
Na missão assumida.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina sobre a compaixão

Nesta liturgia do 16º domingo do tempo comum somos convocados a refletir sobre os frutos da missão dos discípulos de Cristo e sobre o olhar cheio de compaixão que ele tem pelas pessoas cansadas da opressão e necessitadas da atenção e o do amor de Deus em suas vidas.

No domingo passado refletimos sobre o envio dos discípulos e sobre as orientações que o Mestre lhes deu. O trabalho dos missionários de Jesus trouxe muitos frutos, pois ao voltarem, as multidões buscam Jesus cada vez mais. O missionário é enviado por Jesus e levará no seu coração a chama viva do amor ardente pela compaixão e depois retorna a Jesus para juntos partilhar das alegrias e das tantas experiências vividas na missão confiada.

A missão parte de Jesus e retorna novamente a Ele. Nesta liturgia, podemos vivenciar os efeitos da participação dos discípulos no ministério de Jesus. Eles são os continuadores da mensagem do Reino. Para ter êxito na missão é necessário a oração e o deserto para que se interiorize tudo o que foi vivido e para que se prossiga o trabalho. Os discípulos continuarão com Jesus e agora viverão de forma mais intensa o ministério missionário. O barco será o transporte usado para as travessias, em virtude da missão e do trabalho da pesca, pois eles vivem daquele alimento material.

Na segunda parte do Evangelho, Marcos nos apresenta Jesus comovido: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.” (Mc 6,34). O que pensou Jesus naquele momento? O que disse aos seus discípulos sobre aquele povo? O detalhe que temos, é descrito pelo próprio evangelista: “eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Esta frase nos leva a pensar também nos dias de hoje, quando muitos rebanhos estão também como que ovelhas sem alguém que se preocupe com o pastoreio, pois os cristãos estão mais fechados nas estruturas normativas e físicas e por isso não se dispunham a saírem para se compadecer do povo sofrido.

Neste sentido o Papa Francisco também nos alerta: Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de agarrar às próprias seguranças”[1]. E agora nos perguntamos: até que ponto nós catequistas, ministros da Eucaristia, membros de pastoral familiar, grupos jovens, animadores de comunidades, os diversos grupos da Igreja e inclusive diáconos, padres e bispos carregamos no nosso coração a compaixão de Jesus pelo povo?

O Evangelho de hoje nos leva a refletir profundamente sobre esta questão que é, por sinal, a missão principal da Igreja: buscar, cuidar e alimentar as ovelhas que estão no mundo esperando que alguém lhes dê a mínima atenção. Vivemos cada vez mais ocupados em dar conta da correria do dia a dia e não há mais espaços para a atenção, para o cuidado e para o escutar e estar com o outro…

Ainda falando sobre pastor e ovelhas, na primeira leitura, do profeta Jeremias, temos outra chamada de atenção sobre o ministério pastoral: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!” (Jr 23,1). Nesta leitura, o profeta se refere aos governantes também como pastores, pois também pastoreiam o povo. Assim, nos dias de hoje, nossos representantes políticos, inclusive escolhidos por voto direto, são de certa forma, nossos pastores, pois devem estar atentos às necessidades da nação. Devem cuidar do bem-estar, da justiça e favorecer todos os direitos que as pessoas necessitam. Devem zelar pela vida e dignidade de todos.

Olhando o cenário político do mundo também vemos o descaso e a indiferença destes pastores escolhidos para servir o povo. Falta a compaixão e o cuidado. E por isso, o alerta do profeta Jeremias serve para hoje no que se refere à postura e as atitudes dos que governam o povo.

Portanto, esta liturgia nos pede que reflitamos e busquemos tomar novas atitudes diante do chamado do Evangelho. Em alguns momentos como responsáveis por um grupo ou um cargo, somos pastores, e em outros momentos somos ovelhas necessitadas da compaixão do Bom Pastor, mas o que deve concretizar o Reino de Deus é o amor de Cristo que nos une.

São Paulo nos diz na segunda leitura: Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos” (Ef 2,17). É importante a convicção de que somos todos irmãos em Cristo sendo próximos ou não. Isso nos leva a participar da mesma mesa do Pastor eterno onde há a paz e a dignidade. Ele nos conduz por caminhos seguros (cf. Sl 22) e iluminados por sua luz. Que Ele tenha compaixão de nós. Amém.

 

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[1] Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 2013, nº 49. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html>. Acesso em: 21 jul. 2018.

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Am 7,12-15; Sl 84; Ef 1,3-10; Mc 6,7-13

 

POESIA

MISSÃO, PROFECIA E UTOPIA

Ide missionários, dai a minha paz,
Vão onde precisam do meu amor,
Vão sem acúmulos e sem as riquezas,
Ide trabalhar para expulsar a dor,
Caminhai atentos pelas estradas da vida,
Aceitai aqueles que te dão acolhida,
E não levai nada, nem traga rancor.

Ide profetas do amor divino,
Dispensem as tuas tantas bagagens,
Deixai o corpo leve para caminhar,
A verdade será a tua mensagem.
Pregai com tua discreta humildade,
Vivei na tua simplicidade,
Trazei em teu rosto a minha imagem.

Caminhai dois a dois por onde fores,
Para não caíres no egoísmo,
Partilhai as tristezas e as alegrias,
Expulsai de vós o individualismo,
Formai um povo em comunidade,
Plantai a paz e a fraternidade,
E não esquecei o teu profetismo.

Falai a todos do Reino do Pai,
Testemunhai antes mesmo de falar,
Vivendo a entrega e o desapego,
Pois é a tua vida que deve falar,
Deixando que meu amor possa agir,
E que minha palavra possa fluir,
Sem tuas bagagens a sufocar.

Agindo assim tudo será novo,
A beleza das flores então surgirá,
Mundo diferente nós todos veremos,
E o amor infinito então brotará.
Cessará a violência, virá a comunhão,
As grades e cadeias ausentes estarão,
E a fraternidade todos a vivenciar.

 

HOMILIA

A missão e a profecia no mundo

A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum fala direto ao nosso coração: que saiamos do comodismo e do nosso egoísmo para partirmos em missão aonde for preciso anunciar o Reino de Amor que Deus nos pede. Contemplamos, portanto, o chamado e o envio dos discípulos de Jesus, segundo o evangelista Marcos.

“A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo”, diz o decreto Ad Gentes, n. 2[1]. É neste sentido que iremos refletir nesta homilia. Quando falamos de natureza missionária, lembramos os textos do evangelho nos quais Jesus envia seus discípulos.

Mateus, Marcos e Lucas falam desta atividade, cada um na sua versão. Esta ação tão necessária para o crescimento da Igreja. O que devemos está atentos e refletir com profundidade são as orientações que o Senhor dá para os que ele envia: primeiro envia dois a dois para que ninguém se sinta sozinho, para que partilhem entre si, das alegrias e tristezas que a caminhada poderá apresentar. Depois, que não levem bagagens (cf. Mc 6,7-8), para que as preocupações não sejam desviadas para os bens materiais, mas sim para o objetivo principal que é anunciar o evangelho. O desprendimento é primordial para que o missionário possa exercer seu ministério de evangelizador com firmeza. Sem bagagens materiais e sem acúmulos de interesses pessoais, o discípulos estará mais livre e leve para seguir o caminho e o mandato que lhe foi confiado.

Outro ponto importante, é que valorizem a acolhida dos que os receberem e que fiquem ali até a partida para que os vínculos do amor e do encontro com Cristo sejam fundamentados. E se alguém não quiser os escutar, deixe-os e sigam em frente porque a adesão ao Senhor não deve ser imposta por ninguém, mas livre (cf. Mc 6,10-11).

Estes pontos acima nos fazem pensar nos dias de hoje quando também somos convocados a uma ação missionário na caminhada de todos os dias, a todo instante e em todos os lugares. É interessante que de acordo com o que Jesus nos fala, evangelizar e/ou fazer missão, é muito mais do que decorar versículos e tentar convencer as pessoas quase que impondo uma religião ou um modo de vida. Fazer missão está muito mais no testemunho, nas atitudes e no desprendimento de nossas bagagens materiais e intelectuais.

O importante da vida do discípulo missionário de Jesus é a sua posição de profeta em meio ao povo. O enviado de Cristo também deve falar a verdade e denunciar a idolatria do poder, do acúmulo das riquezas e do vínculo com o poder político que muitas vezes oprime e engana o povo. E isso deve ser feito pela postura de quem vive a missão, além das palavras, ou seja, numa vida coerente com aquilo que se prega.

Na primeira leitura desta liturgia temos o exemplo do profeta Amós. Ele, que é agricultor e vaqueiro, é chamado por Deus para anunciar a Palavra em Israel, mas lá é advertido por Amasias, sacerdote do templo. Amasias é pago pelo rei e por isso teme que falem a verdade contra as ações do rei. Amós por sua vez é livre e poderá denunciar o poder político e religioso que se aproveita do dinheiro dos impostos, e por isso comete injustiças e opressão contra os pobres. O missionário é também profeta, ele deve está livre das atitudes que são convenientes a quem governa o povo de forma alienante e opressora.

Pensemos em nós cristãos de hoje: como se dá a nossa missão? Estamos coerentes com as orientações de Jesus que nos envia em missão? Às vezes nos dá a impressão de que estamos muito distantes do projeto de Jesus. Por isso não mudamos o mundo e cresce cada vez mais o individualismo, o acúmulo, as injustiças e os atentados contra a vida.

Podemos também nos perguntar: Quais as nossas bagagens que pesam e nos impedem de seguir a vida cristã com mais leveza e coerência? Quais os bastões de apoio temos? E com quem seguimos o caminho na missão de ser sal da terra e luz do mundo?

Ser missionário e ser profeta é exatamente estar sintonizado com Deus e viver tudo o que refletimos sobre a liturgia de hoje. Devemos estar sempre focados no amor e no louvor a Cristo, como nos fala são Paulo: Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Nele também vós ouvistes a palavra da verdade, o evangelho que vos salva” (Ef 1,3.13). Que possamos crescer cada vez na esperança e na fé de Jesus ressuscitado que, pelo batismo, nos resgata, nos santifica e nos envia a sermos profeta, reis e pastores. Amém.

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[1] Decreto do Concílio Vaticano II, sobre a Atividade Missionária da Igreja. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_ad-gentes_po.html>. Acesso em: 13 jul. 2018.

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ez 2,2-5; Sl 122; 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6

 

POESIA

UM OLHAR ALÉM DO HUMANO

Ele não é para nós somente,
O Jesus de Nazaré,
Que viveu perto da gente,
Que nos diz quem Ele é.
Ele é o Verbo prometido,
Mas não é bem acolhido,
Porque a muitos falta fé.

Ele não é tão somente,
O homem espetacular,
O prodigioso e admirado,
Que a alguns veio curar.
É o Messias esperado,
Por muitos, ignorado:
Por seu povo e seu lugar.

Ele caminhou conosco,
Cheio de simplicidade,
Caminhou pelas estradas,
Visitou tantas cidades,
A nossos olhos tocou,
Fez andar e perdoou,
Trouxe-nos dignidade.

Ele é também para nós,
Além do nosso olhar humano,
O filho do Deus vivo,
Que tem para nós um plano,
Plano de reconciliação,
De amor e salvação,
Tirando-nos do desengano.

Ele traz também a nós,
Palavra de transformação,
Viva eficaz e cortante,
Que rasga nosso coração,
Fazendo-nos voltar a traz.
Da guerra para a viva paz,
Seu amor é a revolução.

Veio também pra curar,
Pra pregar e reunir,
Tornando-se nosso irmão,
Sua voz fez-se ouvir.
Venceu a morte e a dor,
É o nosso Salvador,
Vida nova fez surgir.

 

HOMILIA

Ele está no meio de nós

Somos convidados, neste 14º do domingo do tempo comum, a mergulhar na simplicidade humana de Jesus de Nazaré para podermos enxergar a presença do Deus vivo e verdadeiro no meio dos homens. Marcos relata a presença de Jesus em sua cidade natal. Depois de fazer milagres por outros lugares da Galileia ele vem à sinagoga de Nazaré. Todos esperavam o profeta que os chefes da religião tinham nas suas expectativas: Alguém poderoso e cheio de ordem para libertar Israel do poder da escravidão política e manter a ordem em todos os lugares.

A presença de Jesus com sua postura simples e com um discurso na contramão do pensamento vigente, causa espanto e ao mesmo tempo indiferença por parte de seus conterrâneos. Ninguém enxerga o Verbo encarnado, o Filho do Deus vivo, o Reino de Deus entre os homens. Todos veem apenas o filho do carpinteiro, filho de Maria, aquele que morou durante trinta anos em Nazaré fazendo mesas, cadeiras e outros utensílios artesanais próprios da cultura judaica. Por isso, ali ele não fez quase nenhum milagre.

Enxergar Jesus além da natureza humana depende da fé e da experiência aberta a acolher a novidade do Reino. Apenas aqueles que já decidiram segui-lo e caminhavam com ele, tais como os discípulos e algumas pessoas curadas e perdoadas, puderam contemplar a presença viva do Filho de Deus, portador da natureza divina e da natureza humana. Somente Maria e José, no silêncio e na simplicidade, numa escuta atenta de Deus, puderem ter a consciência de que a salvação do mundo, o Reino de Deus, chegara em Israel.

O destino de Jesus diante dos que não o acolheram será como o dos profetas que vieram antes dele, pois alguns foram perseguidos pela religião oficial, outros foram até mesmo assassinados e desacreditados porque faziam a vontade de Deus e não a dos homens. Jesus será perseguido, porque a sua mensagem está a frente ou na contramão dos pensamentos dos fariseus e doutores da lei. Sua pregação é pela plenitude da Lei e não pela distorção.

No mundo de hoje, somos tentados a considerar a presença de Cristo somente nas ações litúrgicas de massas e de grandes dimensões, potencializadas pelo rádio, pela TV e pela Internet. Igualmente no excesso dos ornamentos e alfaias imponentes das nossas celebrações. Também na excessiva valorização dos ministros que aparecem nos meios de comunicação. Esquecemos que a presença de Cristo está na simplicidade e na alegria de todos os que se dedicam com carinho e amor ao Reino de Deus.

A presença de Cristo está em todos que se preocupam com as crianças, com os jovens e famílias para encaminharem no amor de Deus. Também o diácono, o padre, o bispo tem família consanguínea e foram tirados do meio do povo para servirem ao Reino de Deus. Os religiosos, os catequistas, os liturgistas, os missionários e tantas pessoas a serviço das pastorais moram com seus familiares, mas convivem conosco partilhando as alegrias, as tristezas e os sonhos. Em todos está a presença de Cristo pelo amor, pela paz e pela doação, apesar das misérias humanas que cada um carrega.

Enfim todos os batizados carregam a presença do Senhor pelo batismo e formam o Corpo Místico de Cristo. Reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia formam a assembleia da Igreja celeste na terra. Estando ao redor do banquete do cordeiro tornam-se sinal da presença do Reino no meio dos homens.

Que possamos sempre caminhar na busca do amor de Deus, na nossa simplicidade e na nossa doação, mesmo sabendo que em alguns momentos da nossa vida somente Deus poderá nos conduzir através do Seu amor misericordioso. Que a nossa fé nos conduza às curas necessárias para merecermos o Céu. Amém.

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19

 

POESIA

AS COLUNAS DA IGREJA

Um é o pescador
Dos mares da existência,
Chamado pelo Senhor,
Para uma experiência,
Segue-O pelo caminho
Não viverá sozinho,
Mas terá as exigências.

Outro é o doutor,
O sábio e rigoroso,
Que seguiu sem temor,
O Senhor amoroso.
Deixou a estrada da morte,
E seguiu firme e forte,
Apaixonado, fervoroso.

Os dois seguem andando,
Superando as barreiras,
Cristo os foi conquistando,
Para a missão primeira,
Que é o Reino implantar,
E Palavra a semear,
Pela sua vida inteira.

Pedro viveu com o Senhor,
Ainda neste mundo,
Conheceu seu amor,
Mais forte e mais profundo.
E quando o Senhor partiu,
E então ressurgiu,
Ele saiu pelo mundo.

Paulo viveu diferente,
Toda a sua conversão,
E foi seguindo em frente,
Caminhando em missão,
Formou as comunidades,
E pregou toda a verdade,
Nas busca da comunhão.

Hoje Pedro, o nosso Papa,
Segue firme, a remar,
Essa barca, que é a Igreja,
E o mundo, o imenso mar,
Vai sempre anunciando,
E com Cristo caminhando,
Sem medo de afundar.

E nós, os tantos cristãos,
Da nossa atualidade,
Como ser comunhão,
Nesta sociedade,
Como ser sal e luz,
Como carregar a cruz,
E formar fraternidade.

Somos Pedro e Paulo,
Pela várias estradas,
Comunhão e missão,
São as nossas jornadas.
Somos a fraternidade,
Vivendo a caridade,
E sendo vidas doadas.

 

HOMILIA

Pedro e Paulo: colunas da Igreja

Na liturgia de hoje, a Igreja celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo. Estes dois santos, colunas da Igreja, foram responsáveis pela condução e missão de levar a mensagem amorosa e vital do Ressuscitado ao mundo. Cabe, nesta homilia, tecermos uma análise do percurso destes apóstolos, ambos martirizados em Roma, entre 64 e 67 d.C.

Contemplemos primeiramente Pedro, o pescador da Galileia, filho de Jonas e irmão de André. Em Tiberíades, quantos dias e quantas noites ficou no mar para buscar o seu sustento? Vivia a procura de peixes! Foi naquele mar que Jesus o encontrou num dia de pesca e o chamou para tornar-se pescador de pessoas. Com o seu coração conquistado pelo chamado de Jesus de Nazaré, seguiu-o e, no percurso deste seguimento, teve altos e baixos, inclusive negando ser do grupo dos discípulos, quando na paixão de Cristo alguém o interrogou se era um dos seguidores dele.

Mas antes deste episódio, na avaliação que Jesus faz com seus discípulos, quando lhes pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13), Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,3.16). De Jesus recebe as chaves, para ligar e desligar no céu e na terra aquilo que convém ou não ao Reino (cf. Mt 16,19). Ele é pedra em torno da qual a Igreja de Cristo será edificada, ou seja, é vínculo de comunhão entre todos aqueles que seguem o Senhor, por que a Igreja é do Senhor.

A Igreja, partir desta dimensão, será chamada apostólica por estar fundada nesta missão de levar ao mundo a evangelização e a construção do Reino de Deus. Após a Ressurreição de Jesus, Pedro foi fortalecido e encorajado. Pedro tornou-se então, um apaixonado pela missão de levar a mensagem da ressurreição. Uma paixão que venceu o medo e que o fez andar na contramão do Império Romano, batendo de frente com os fariseus e autoridades, chegando a ser preso.

Mas a presença do Ressuscitado, que não tem barreiras e é invencível, quebrou as correntes da prisão e o fez caminhar firme ao lado do anjo de Deus, de porta a fora, para a missão de anunciar o amor e a paz ao mundo, e também ter certeza de que o Senhor caminha junto nesta missão divina, vencendo o poder de opressão e da escravidão (cf. At 12,7-11).

Sobre Paulo também temos muito a dizer de acordo com as leituras bíblicas. Foi um doutor da lei, zeloso pela doutrina judaica, contemporâneo de Jesus e de seus discípulos. Foi perseguidor e inimigo do grupo dos seguidores de Jesus. Chegou a matar cristãos. Mas um dia Jesus também o conquistou de forma impressionante numa viajem na estrada de Damasco.

Após convertido coloca todo o seu saber, suas forças e suas motivações para propagar a fé no Ressuscitado. Viajou a diversos lugares e formou comunidades entre os judeus e pagãos. Também sofreu pelo Senhor, foi perseguido, maltratado e martirizado, mas alimentado pela presença do Senhor também disse: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Suas cartas são de uma riqueza espiritual e pastoral imensa para a Igreja da época e também no decorrer dos séculos. Continuam hoje como textos valiosos e profundos para a liturgia, a catequese, grupos, comunidades e para a vida missionária da Igreja no mundo inteiro.

A liturgia de hoje está repleta do testemunho destes dois apóstolos. Eles são chamados colunas da Igreja, por que marcaram e marcam a caminhada dos cristãos. Eles nos fazem refletir que Deus chama os pecadores para serem santos e para levar a mensagem do Reino através do testemunho de conversão e a missão de levar a Palavra ao mundo inteiro, formando comunidades de amor e sendo vínculo de comunhão.

Também aprendemos que não é somente os sábios (intelectuais) que o Senhor chama, mas as pessoas das diversas realidades de vida. Basta estar aberto ao chamado e querer viver uma experiência de caminhada com o Senhor numa busca de crescimento espiritual e de discipulado.

Hoje, na condução da Igreja de Cristo, está um descendente de Pedro, o Papa, figura importante na busca pela santa unidade da fé cristã. Ele orienta e faz crescer o rebanho do Senhor. Ele governa e transmite o ensinamento na condução da barca do Senhor, que é toda a Igreja. Barca que rema e enfrenta as tempestades em meio ao imenso mar (o mundo), com suas inúmeras controvérsias.

Com o testemunho de Paulo, somos motivados a seguir em missão pelas diversas aldeias e realidades da vida humana. A cada palavra do evangelho semeada nos corações, uma oportunidade de anunciarmos a Cristo, pregando a vida nova, podendo dizer quem é o Ressuscitado e o que ele pede de todos nós. Nisto se dá o sentido da vida cristã: levar a Palavra aos vários cantos do mundo, com coragem, determinação e sem medo das consequências que poderão trazer a pregação sincera do Evangelho.

Portanto devemos seguir em frente olhando para São Pedro e São Paulo como bases da vida apostólica e missionária. Eles nos ensinam a caminharmos com o Ressuscitado e a superarmos nossas fragilidades e pecados que impedem de seguir em frente com ele. E assim podemos concluir, acolhendo as palavras de São Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer um que lhes pedir, a razão da esperança que há em vocês” (1Pd 3,15). Amém.

SOLENIDADE DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 49,1-6; Sl 137(138); At 13,22-26; Lc 1,57-66.80

POESIA

UMA VOZ NO DESERTO

Voz que soa ao mundo,
Para o povo preparação
Entre o antigo e o novo,
No plano da salvação,
Que prega pelo deserto,
Deixando o caminho aberto,
Pra chegar a salvação.

Voz cheia de humildade,
Que fala do salvador,
Prega a mudança de vida,
E entre os irmãos o amor,
Denuncia as injustiças,
As maldades e cobiças,
Salve o grande pregador.

João, aclamado pelo povo,
Nas festas e na alegria,
Na devoção popular,
Nas fogueiras e poesia,
Nos encontros de irmãos,
Na partilha e comunhão,
E  na família em harmonia.

Aos cristãos dos nossos tempos,
Também cabe a missão,
De anunciar o Senhor,
Pra trazer transformação,
Na justiça e caridade,
Na Paz e fraternidade,
A exemplo de São João.

 

HOMILIA

João, o último dos profetas

“Estando para terminar sua missão, João declarou: Eu não sou aquele que pensais que eu seja! Mas vede: Depois de mim vem aquele do qual nem mereço desamarrar as sandálias” (At 13,25). Assim pregou Paulo sobre João Batista, apresentando-o como o último dos profetas, aquele que liga a Antiga à Nova Aliança. Neste sentido, havia uma expectativa por parte do povo de Deus, sobre a vinda do Messias, e, o Batista, em alguns momentos, foi confundido pela semelhança, até então, com o que os profetas se referiam ao salvador esperado por Israel.

A pregação de João estava voltada para preparação da vinda de Cristo e por isso se colocou na posição de um missionário e propagador sobre Jesus. Por isso a postura humilde e consciente para esclarecer o seu papel profético. Suas palavras eram fortes e exigentes e assim, aqueles que as acolhiam transformavam suas vidas para melhor e viviam de acordo com a vontade de Deus. O batismo das pessoas marcava a mudança de vida, através do arrependimento (cf. Lc 3,3), de uma metanoia, mas ainda não era o batismo de Jesus.

O próprio João falou para o povo sobre os seu batismo: “Eu batizo com água, mas, virá aquele que é mais forte do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Lc 3,16). João Batista foi o grande precursor do Messias e por isso preparou realmente o povo simples para a chegada de Jesus.

João Batista nasce num família de gente discriminada (Zacarias e Isabel), idosos, para a época. A Misericórdia e a força do amor de Deus atuaram num ventre onde naturalmente não era possível gerar uma criança. Mas para Deus tudo é possível. Por isso que, seguindo o Evangelho de hoje, Zacarias, proclama, cheio do Espírito Santo, o seu cântico de louvor. Oração proclamada todas as manhãs por quem reza a Liturgia das Horas, nas laudes. Da boca de Zacarias sai as palavras sagradas, as quais se referem à missão de João Batista: “E tú, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor, preparando os seus caminhos, dando a conhecer a seu povo a salvação com o perdão dos pecados.” (Lc 1,76-77).

Os cristãos, olhando para o Batista, são também convidados a anunciarem a palavra de Deus aos outros corações humanos, onde se precisa de conversão e uma vida voltada para o amor de Deus. Neste sentido todos poderão parecer com precursor de Jesus. Preparar os caminhos do Senhor é proclamar a paz e a alegria ao mundo para que haja mais fraternidade e justiça entre as nações. As palavras dos cristãos podem transformar as estruturas que oprimem e que descriminam tantos nas suas condições sociais, étnicas, culturais e outras diversas questões existenciais.

Por fim, não podemos esquecer o quanto São João Batista é festejado e celebrado nas paróquias, nas comunidades, nas famílias, nas escolas e também nas manifestações culturais das quadrilhas e das fogueiras que iluminam as noites juninas. As quermesses, alegrias, danças e muitos vivas a São João estão presentes nas cidades de nosso país. Porém, sabemos que muita gente não conhece a história e missão profética do precursor.

Que o exemplo de São João Batista seja proclamado e imitado por todos os cristãos a fim de que a Palavra de Deus possa germinar nos corações e fazer nascer um mundo novo, onde cesse a violência e o sofrimento de tantos irmãos e irmãs. E assim a alegria do Evangelho inunde a vida e a missão da Igreja a qual deve ser de libertar e transformar o mundo em uma família de irmãos em harmonia.

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ez 17,22-24; Sl 91(92); 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34

POESIA

DEUS FAZ GERMINAR E CRESCER O REINO

Palavra que vem de mansinho,
Semeada pela mão do amor,
Que fecunda entre a noite e o dia,
Crescendo com a luz e o vigor,
Que aos poucos vai se espalhado,
E o mundo vai transformando,
Como árvore em seu esplendor.

Palavra, semente do Reino,
Que alimenta a missão,
Dos tantos semeadores,
Que vivem em constante ação,
Deixando Deus sempre agir,
Pra Boa-Nova se expandir,
E crescer a forte união.

Palavra que nos treina a espera,
Que vem ensinar a paciência,
Fazendo vencer a ansiedade,
E distrai a prepotência,
Gerando em nós a bondade,
E a força da fraternidade,
E o amor divina ciência.

Pequenas sementes do amor,
Nos gestos mais simples da vida,
Nas tantas ações em comum,
E nas propostas assumidas,
Nascendo os tantos projetos,
Que fazem o amor ser concreto,
E a paz ser reassumida.

O Verbo de Deus nos ensina,
O semear a caridade,
Pelos campos deste mundo,
Pra que tem necessidade,
A plantarmos nos corações,
E espalhar pelas nações,
O bem com gratuidade.

Novo Rebento da aliança,
Cristo que o Reino anuncia,
Que vem e que cuida da gente,
Trazendo a paz e a harmonia,
Que vem trazer a nova vida,
A todos fazendo acolhida,
E nos brindando com a alegria.

 

HOMILIA

As sementes do Reino

A liturgia deste domingo vem falar-nos do Reino de Deus através de parábolas. Para fazer o povo compreender a Boa-Nova, Jesus sempre esteve atento à maneira de como transmitir a sua mensagem. E, portanto, as parábolas (comparações) foram muito usadas na pregação do Mestre Galileu. Esse jeito de pregar (semear) fazendo comparações conseguia chegar de forma simples aos ouvidos e aos corações do povo. Todos compreendiam com facilidade, porque Jesus falava uma linguagem acessível e que fascinava os ouvintes.

Hoje, na primeira leitura, o profeta Ezequiel também usou a parábola quando apresenta no seu texto o seguinte versículo: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel” (Ez 17,22-23). Do povo escravo na Babilônia, Deus tira do broto de Davi, para replantar na terra livre da escravidão. Em Cristo o novo rebento de Israel (da família de Davi), o novo povo que vem buscar refúgio e proteção e sua libertação eterna.

“O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). O que nos motiva a refletir este lindo versículo de Marcos? “… ele não sabe com isso acontece”. Nesta fala de Jesus, parece haver um segredo, uma mística. Há uma força invisível no geminar do crescimento do Reino, onde não depende do semeador, mas somente de Deus.

Muitas vezes passamos despercebidos no que se refere a essa dinâmica da Palavra de Deus a qual nos cabe apenas semear, mas não, fazer crescer. É Deus quem faz crescer o Reino, ao percurso de cada dia e de cada noite. Existe um canto que diz: “Põe a semente na terra e não será em vão, não te preocupe a colheita, plantas para o irmão.”[1] As vezes não temos paciência com as sementes jogadas nos corações e queremos logo os frutos, ou também queremos interferir no processo que não compete a nós.

O que compete a nós é a semeadura, o jogar a semente do amor e da esperança nos corações humanos, terrenos que poderão acolher a semente e deixar germinar em suas vidas. O amor simples e humilde, às vezes aparentemente pequeno como um grão de mostarda, germinará e fará crescer a árvore da existência regada pela força do bem que vem de Deus.

Num mundo de tantas correrias, ocupações e obrigações, este evangelho nos ensina a ter calma com a vida. A exercitarmos a paciência e a contemplação sentimos a vida fluir e encontramos o seu sentido essencial. Na correria do nosso cotidiano, muitas vezes perdemos e não achamos momentos para pararmos e meditarmos sobre a essência da nossa existência. Sobre o amor que nos equilibra, que nos move para o bem e que nos impulsiona para a ajuda gratuita e o cuidado para com o outro.

“O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra” (Mc 4,27). O Reino de Deus cresce na simplicidade e aos poucos se expande como a árvore de minúscula semente e torna frondosa e produz seus muitos frutos. As diversas iniciativas pastorais sejam religiosas ou sociais são a forma de fazer o Reino acontecer no meio de nós.

Parecem pequenos e insignificantes certos gestos de acolhimento, de cuidado, de escuta e de uma palavra boa a quem precisa, mas é isso que significa a semente do Reino de Deus. São as visitas aos doentes, o cuidado com os mais frágeis da sociedade, a ajuda humanitária, a atenção a quem precisa a oração pelos irmãos que vão justificar nossa entrada ao paraíso. A saudosa Ir. Miria Kolling (*1939+2017), no canto “Aquela eterna fonte”, traz este refrão: “Pois ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo amor!” Sim, no final de nossa existência terrestre seremos julgados pelas boas sementes do amor, jogadas nos corações humanos para crescer o Reino de Deus.

Acolhamos as palavras de São Paulo, as quais nos reforçam sobre este tema do semear o Reino: “Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada.” (2Cor, 5,9). Ser agradável a Deus é fazer o bem aqui e agora, neste nosso mundo, nesta nossa morada terrestre em virtude do céu. O salmo 91 nos diz: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.” Busquemos o amor e a justiça de Deus e o resto acontecerá para o bem de todas as criaturas. Amém.

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[1] “Toda semente é um anseio” (Paulinas/COMEP), de José Acácio Santana (*1939+2011).