X DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 3,9-15; Sl 129; 2Cor 4,13-18-5,1; Mc 3,20-35

POESIA

PALAVRA QUE VENCE O MAL

Que vem ao nosso encontro,
Vem para nos tirar do mal,
Vem para nos dá um sinal,
Que invade o nosso coração,
Que vem nos fazer irmãos,
Para a vitória final.

Palavra do Senhor,
Que nos faz família Santa,
Contra todas as tentações,
Contra tantas invasões.
Que vence o tentador,
Que nos tira o desamor,
E habita em nossos corações.

Palavra do Senhor,
Que une em vez de dividir,
Que vem nos trazer a vitória,
Que caminha na nossa história,
Que nos faz ficar atentos,
Entre os tantos desalentos,
Purifica nossa memória.

Palavra do Senhor,
Que nos chama a nos unir
Na sua casa santa,
Que em nossas vidas planta,
Pelo Espírito a santidade,
O desejo de eternidade,
Que em todos nós encanta.

Palavra do Senhor,
Que nos faz irmãos, irmãs e mães,
Reunidos em torno do Senhor,
Para superarmos o desânimo e a dor.
Para sempre e sempre escutar,
A mensagem que nos vem transformar,
Fazendo-nos seguidores do vivo amor.

Palavra de Nosso Senhor,
Que nos envia em missão,
Para a Paz e o amor distribuir,
Que une em vez de dividir,
Que no alimento do Pão,
Traz a alegria e a união,
Para no mundo expandir.

 

HOMILIA

O Senhor chama-nos para dentro

A liturgia deste 10º domingo do tempo comum vem nos convidar a fazermos parte da nova família de Jesus, pela nossa adesão, livre e verdadeira, à sua Palavra e pelo nosso seguimento consciente de que é preciso vencer o mal da indiferença, reconhecendo que ser discípulo é abraçar o novo projeto de vida centrado nas palavras do Evangelho, a abraçar a Boa-Nova.

No evangelho desta liturgia, Marcos nos apresenta dois grupos. O primeiro está dentro da casa, em escuta, e que comunica sobre os familiares que estão lá fora. Os discípulos também fazem parte do grupo de dentro. Eles que, pelo amor e pela adesão, irão fazer parte da caminhada, vivendo a missão do amor e segui-lo onde quer que ele vá. Aprenderão com a caminhada e com as dificuldades da vida, mas também viverão o processo de conversão e de alegria em seus cotidianos.

Já o grupo que está de fora, são os mestres da lei e os familiares (a mãe e os irmãos). Os doutores e mestres da lei o acusam de estar possuído pelo príncipe dos demônios (cf. Mc 3,22). Eles são inimigos de Jesus e vão persegui-lo por toda a sua missão e com a ajuda destes o mestre será condenado. São como os vilões na história de Jesus, estão sempre tramando contra suas palavras e ações.

O grupo dos familiares diz que ele não está em perfeito juízo (cf. Mc 3,21). Estes quando chegam também ficam de fora e mandam chama-lo. Querem que Jesus venha até eles. Ele não vai e responde que os verdadeiros parentes (irmãos e mãe) são os que estão dentro da casa, porque fazem a vontade de Deus e seguem a sua palavra. São os que escutam suas palavras, ou seja, não duvidam de sua mensagem.

É importante que reflitamos em nossa vida sobre estes grupos e suas atitudes. Na vida dos cristãos, quando se fala de coerência evangélica (estar dentro), significa que o Evangelho é assumido na sua totalidade. É estar de acordo com os mandamentos da nova lei, é estar consciente também das realidades que envolvem pessoas que estão fora das práticas religiosas. Para estas, é bem mais fácil as práticas do que testemunhar com coerência a Palavra na vida cotidiana do trabalho, das convivências sociais e debates possíveis.

Estar dentro, portanto, significa estar contra os projetos que agridem os pobres e à vida. Neste momento devemos estar bem conscientes e sempre pensar o que defendemos de verdade quando alguém nos pergunta sobre determinadas leis que os nossos representantes apresentam para a aprovação.

Ser do grupo de Jesus significa está inserido na vida da Igreja além da certidão do Batismo ou da Crisma. É caminhar muitas vezes contra a correnteza de ideologias do mundo moderno que comprometem a unidade e a vida em abundância.

Devemos nos perguntar: a vida que eu levo, meu testemunho, está voltado para uma atitude de quem está dentro ou fora do grupo do Galileu? Pecar contra o Espírito Santo é ser indiferente ou duvidar da obra de amor e de libertação querida por Deus. Suas palavras podem nos incomodar também e deve nos provocar a mudança. O que nos incomoda quando as palavras do Senhor ardem em nosso coração?

A primeira leitura nos fala do pecado da desobediência a Deus e do empurra-empurra da culpa para o outro. Dificilmente assumimos os erros que são cometidos em virtude da nossa omissão. Enquanto não assumimos nossos compromissos e a parte que nos cabe em favor das mudanças no mundo, fica difícil as estruturas mudarem. Lembremos que a corrupção, a política, a economia e as várias dimensões da vida só se transformam quando também mudarmos nossas pequenas atitudes, consciências e posturas nas responsabilidades e nas atribuições que assumimos no dia a dia.

Peçamos a luzes do Espírito Santo para que ilumine nossa caminhada e a missão de tornarmos a vida mais centrada no bem e na alegria do Evangelho. Precisamos está dentro do grupo do Senhor para mudarmos o mundo. Coloquemos nossa confiança e esperança nele, como reza o Salmo 129: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. A minha alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora”.

IX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 5,12-15; Sl 80; 2Cor 4, 6-11; Mc 2,23-3,6

POESIA

A VIDA ACIMA DA NORMAS

Acima das normas ultrapassadas,
A vida vem em primeiro lugar,
Porque o Senhor veio trazer nova lei,
Que traz à existência o dignificar,
Pois seu amor veio promover a inclusão,
Dos que ficam fora da multidão,
Após a cura vem o novo caminhar.

Jesus que somente na vida fez o bem,
A todos os doentes e pobres acolhendo,
Trouxe um modo novo de viver a lei,
Deixando que os sábios fossem entendendo
Que a lei verdadeira sempre quer incluir,
E que somente amando pode-se cumprir,
Os estatutos que Deus está nos oferecendo.

É preciso buscar o sentido da nossa vida,
Buscando momentos fora das distrações,
Descansando e parando para refletir,
Na escuta, na oração e nas meditações,
Porque é importante buscar nossa essência,
Mas, é um trabalho feito em nós, com paciência,
Numa busca, num encontro e sem imposições.

Nosso Deus é amigo das suas criaturas,
Ele ama a todos sem discriminação,
Coloca o homem acima do sábado,
E o acolhe com dignificação,
Chama o enfermo e o coloca no meio,
Porque foi pra isso que ele mesmo veio,
Fazer o bem, e aos doentes a restauração.

Na nova aliança, com a ressurreição,
O novo povo vive o dia do Senhor,
Domingo primeiro dia para o descanso,
Inaugurado por Cristo, o Salvador,
Dá-nos o sentido do encontro e do pão,
Da partilha que se faz entre os irmãos,
Para depois saírem para semear o amor.

E assim o domingo vem a questionar,
As imposições da pós-modernidade,
Que ocupa as pessoas a todo o momento,
Sem o repouso que traz a dignidade
Para o encontro com a família reunida,
Na alegria das relações a serem mantidas,
No compromisso de paz e fraternidade.

 

HOMILIA

O que está acima da Lei?

Quando lemos o Evangelho desta liturgia, podemos responder ao tema desta homilia. O objetivo da Lei, para Jesus, é, em primeiro lugar, promover a vida e a dignidade. Quando as normas oprimem as pessoas perdem o seu sentido e os seus objetivos.

É no contexto da colheita das espigas no dia de sábado, que Jesus proclama a famosa frase: “O sábado foi feito para o homem, e não o sábado para o sábado” (Mc 2, 27). Porque era permitido (pela lei) colher espigas, mesmo na plantação de outros, quando alguém estivesse com fome, porém, não era permito colher no dia sagrado do descanso[1]. Mas o que era essencial naquele momento? Os peregrinos seguidores de Jesus, talvez pelo os dias exaustivos de caminhada na missão com o mestre, tivesse fome e esta necessidade, para Jesus, estava acima da lei.

É também no contexto da cura do homem da mão seca que Jesus entra em conflito com os fariseus e os questiona: “É permitido no sábado fazer o bem, ou fazer o mal” (Mc 3,4). Dá a entender que obedecer a lei naquele contexto era fazer o mal. Nestes dois momentos, podemos entender que havia uma distorção desumana das normas, na vida do povo, principalmente quando os doentes, os famintos e os descriminados tinham necessidades vitais inadiáveis.

O povo de Israel também tinha suas leis, as quais nasceram para o bem das pessoas, como vimos na primeira leitura (cf. Dt 5,12-15). Com o tempo, várias outras normas iam sendo criadas e muitas vezes eram usadas em contextos que não mais respondiam ao seu objetivo original. Como vimos no evangelho, os pobres eram os mais atingidos, como são ainda hoje, quando a leis do capitalismo, do poder político, dos tribunais e tantas emendas na constituição do país, estão contra a vida e a dignidade humana.

E nós cristãos, o que temos a ver com este tema da liturgia de hoje? Como entendemos e acolhemos a posição de Jesus no nosso contexto atual? Também na Igreja temos nossas normas, códigos e estatutos. Estas terão sentido e proveito quando usadas de modo evangélico. Sim, e quando estão a favor da vida e dignidade das pessoas.

Já mencionei em outras homilias, que precisamos entender o objetivo dos mandamentos da lei de Deus. Eles são como sinais que apontam para o caminho correto e que devem levar à vida e ao livramento dos perigos. Precisamos também ver e ficarmos atentos, quando as normas e os códigos julgam demais e não inclui as pessoas no centro da comunidade, como fez Jesus com o homem da mão seca (cf. Mc 3,3).

Os cristãos são chamados à profecia, ou seja, devem levar o Evangelho de modo que possa dar fundamentos à lei que orienta o caminhar e que leva à inclusão na vida comunitária, nas celebrações, nos encontros, nas festas, momentos que dão sentido e alegria à vida de fraternidade.

Somos chamados a transformar as correntes que escravizam e encarceram a vida humana no individualismo, no egoísmo e na opressão das leis que massacra o povo, isto, em nome de um progresso econômico que torna cada vez mais decadente a situação das criaturas de Deus. É a caridade e a sensibilidade pela vida em plenitude que coloca em prática o Evangelho e a posição de Jesus na liturgia de hoje. Neste sentido acolhamos as palavras do Papa Francisco na sua mensagem ao mundo para o primeiro dia dos pobres, em 19 de novembro de 2017: “não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade”. Amém.

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[1] No hebraico, שבת, sábado (sabá) quer dizer “descanso, inatividade”. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabá

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 24, 3-8; Sl 115; Hb 9,11-15; Mc 14,12-12.22-26

POESIA

COMUNGAR COM O SENHOR

Comungar com o Senhor,
É ação que transcende ao altar,
Vai lá, no nosso coração,
E que vem a nos impulsionar,
Para ser também o corpo seu,
Viver como ele viveu,
Sem dele se distanciar.

Comungar com o Senhor,
É ter seus mesmos sentimentos,
É viver a sua Boa-Notícia,
Como nosso ensinamento,
É como a semente a se espalhar,
Pelo mundo, para germinar,
Para o Reino em crescimento.

Comungar com o Senhor,
É viver sua santa memória,
Com ele presente aqui,
Rompendo os limites da história,
Povo vivendo em comunhão,
Encontro e partilha do Pão,
Onde a união tem a vitória.

Comungar com o Senhor,
É sair da acomodação,
Sendo sal e luz neste mundo,
Para fazer a transformação,
E aos corações que partilham o amor,
Oferecer à vida, o sentido e a cor,
Para se despedir da desilusão.

E comungando com o Senhor,
Vamos vivendo a caridade,
Sendo entrega que ele pediu,
Entre o sagrado e a humanidade,
Semeando a paz em vez da guerra,
Trazendo a harmonia a todo a terra,
E as criaturas em dignidade.

E vivendo o vínculo com o Senhor,
Pelo seu sangue, nova aliança,
E no seu corpo sendo seus membros,
Na entrega constante que não se cansa,
Estamos ligados pela Eucaristia,
Vivida nos passos de cada dia,
Mantendo a memória e a esperança.

 

HOMILIA

O Corpo e o Sangue da Nova Aliança

“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: ‘Tomai, isto é o meu corpo’. Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes e todos beberam dele.” (Mc 14,22-23).

Olhando os textos para esta solenidade, podemos ver que a aliança vivenciada pelo povo de Israel foi celebrada com um ritual que trazia os mesmos temas, mas que Jesus tomou para si. E o renovou. Dando um sentido novo e mais profundo. (cf. Ex, 24,4-8). Portanto, para a Nova Aliança, o sacrifício já não é do corpo e do sangue de um novilho, mas do próprio corpo do Cordeiro de Deus, que foi fiel até o fim e derramou seu sangue como uma entrega total pela salvação do mundo. Uma entrega que os seus seguidores teriam que aprender a viver também, no dia a dia de suas andanças a começar pela Galileia onde o próprio Senhor Ressuscitado proclamou o mandado, de irem pelo mundo inteiro (cf. Mt 28,16-20).

E os cristãos de hoje fazem memória viva e presente quando também doam suas vidas por um mundo cheio de vida, de dignidade, de fraternidade de “pão em todas as mesas”. São Paulo nos lembra: “… todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estarei proclamando a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26).

A cada Eucaristia celebrada, portanto, há uma renovação do compromisso com o Senhor que se entregou de forma total por todos. Há uma proclamação em memória do sangue derramado e do corpo doado, que é atualizado e vivido todas as vezes que comungamos e alimentados do Senhor, temos os mesmos sentimentos dele, na vida cotidiana, na sua família, no seu trabalho, na vida política, nas interações sociais e em outros ambientes.

Ser um cristão eucarístico é ir além do altar ou do espaço do culto. A Eucaristia não terá seu sentido completo se não for encarnada, através de uma experiência concreta de obras que o Senhor nos ensinou. Viver o amor à Eucaristia não é um ato devocional, mas ação que se dá na vida, dentro das realidades temporais também.

O encontro com o Jesus Eucarístico deve nos impulsionar para as estradas da vida e para o movimento que brota do culto e do encontro na Palavra, na assembleia, no corpo e sangue, e, no desejo de amor vivo que se move em favor do bem do outro (próximo ou distante) que esteja precisando de nós e de nossa caridade. Somos irmãos e irmãs no mesmo sangue do Senhor. O Sangue do Senhor nos dar o vínculo perpétuo da aliança que ele fez por nós e pelo mundo. Podemos nos lembrar: “Somos irmãos de sangue, em Cristo.”

Qual a memória que carregamos na nossa experiência de seguidores do Senhor? Como nos sentimos, quando dizemos que somos irmãos em Cristo? Antes da comunhão nos damos a paz… Quantas vezes, mecanicamente, não conseguimos olhar nos olhos do outro ao deseja-lhe a paz. O que nos falta para nos sentirmos naturalmente mais irmãos?

A vivência da Eucaristia nos pede profundidade que vai além das nossas emoções. Por exigência, devemos colocar Cristo ressuscitado no centro de nossas vidas. É a fé que dá sentido a tudo que é o Corpo e Sangue do Senhor, a qual vivenciamos nesta solenidade. O Cristo que irá na procissão é o mesmo que caminha conosco em nossas fadigas, angústias, derrotas, mas também em nossas alegrias, em nossas festas, encontros, jornada de trabalhos e em nossas amizades e interações sociais.

Sejamos cristãos Eucarísticos no templo, no culto, no nosso cotidiano, a cada passo de nossa existência. Deixemos nos conduzir pela memória viva, da entrega do Senhor que ofertou sua vida para que todos tenham a vida plena, alimentada pelo seu amor. Ele quer fazer a ceia conosco, ele quer partilhar seu corpo e seu sangue para nos dá força e mantermos viva a esperança. Encerremos com o louvor ao corpo do Senhor, rezando a estrofe do salmo 15: Elevo o cálice da minha salvação, invocando o nome santo do Senhor.” Amém.

Solenidade da Santíssima Trindade do Tempo Comum

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 4,32-34.39-40; Sl 32; Rm 8,14-17; Mt 28,16-20

POESIA

UM DEUS COMUNIDADE

Um Deus Trindade,
Que se faz presente,
Mas que já existia,
Na vida da gente,
Caminhando na história,
Que nos traz a vitória,
E é onipresente.

Um Pai de amor eterno,
Que se faz bondade,
Na misericórdia.
Na santa unidade,
Voz nos profetas,
Por eles aponta a seta,
Com fidelidade.

Um Filho de rosto amoroso,
Que se revelou,
Conosco veio morar,
E não se limitou,
À nossa inteligência,
Eterna benevolência,
Que tanto nos amou.

Espírito, sopro de Vida
Que vem nos capacitar,
Com os dons de seu amor,
Sempre a nos iluminar,
Fazendo-nos também luz,
Na vida vem e no conduz,
Sempre a nos recriar.

Um Deus trino e eterno,
Na Santa Eucaristia,
Mesa grande, santa e farta,
Que nunca fica vazia.
Que por sua santa ternura,
Faz-nos novas criaturas,
Restaura nossa alegria.

Deus em comunidade,
De Perfeita comunhão,
Que a nós se revelou,
Com a sua forte ação,
Fazendo-nos seus herdeiros,
Salvou-nos por inteiros,
E restaurou nossa união.

 

HOMILIA

A Comunidade Santa

No domingo depois de Pentecostes celebramos a solenidade da Santíssima Trindade, a comunidade Santa e Perfeita. O Deus dos cristãos tem uma peculiaridade que se difere dos deuses de outras religiões. É um só Deus, mas ao mesmo tempo se apresenta Trino. Um só Deus em três pessoas divinas, que ao longo da história se revelou criador, salvador e santificador. Não é um Deus distante, mas presente na vida das pessoas, que convive com o seu povo, que se mistura com o ser humano pela encarnação do Filho e que conduz os discípulos na realidade dos primeiros cristãos.

Na primeira leitura, tirada do Deuteronômio, Moisés fala ao povo sobre a ação de Deus na sua história e reconhecendo a Sua proximidade: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele.” (Dt 4,39). Sendo próximo, também é um Deus único o qual todos devem prestar culto e seguir os seus mandamentos. Nesta passagem bíblica podemos ver que se revela a voz de Deus Pai que vem e sela no coração humano o seu nome santo através de Moisés.

O Evangelho desta liturgia nos apresenta Jesus na Galileia com os discípulos. Jesus os envia em missão para que eles possam fazer novos discípulos pela ação da Trindade Santa. “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei.” (Mt 28,19-20).

Eis a ordem de Jesus: será necessário anunciar não somente para fazer grande número de seguidores, mas é preciso inserir todos na comunidade dos cristãos pela ação da Trindade. E não somente isso: também ensinar a observar o mandamento do amor contido na Boa-Nova, para que todos encontrem o caminho da salvação. É a presença do filho muito amado que se revelou para nos ensinar a prática do amor a fim de levá-lo ao mundo, através da mensagem de paz, de fraternidade, justiça, alegria e unidade.

São Paulo escreve aos romanos dizendo que Espírito nos faz filhos, herdeiro de Deus e coerdeiros de Cristo em vista da glória preparada para todos nós que queremos deixar-nos conduzir por Deus Espírito Santo (cf. Rm 8,17). Portanto, a santidade do homem é manifestada quando ele se deixar conduzir pela sabedoria do Espírito Santo, que através dos seus dons nos conduz a liberdade de filhos e não de escravos. É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, que nos capacita com os seus dons e nos santifica nos fazendo coerdeiros do Senhor e também templos onde ele habita e age.

A cada um de nós, cristãos, cabe refletir sobre a presença da Santíssima Trindade em nossas vidas, a qual nos inseriu na graça divina através dos sacramentos. Viver na graça de Deus é primeiramente reconhecer, a cada momento, que somos conduzidos pela Santíssima Trindade. Devemos nos colocar na presença da graça de Deus, do acordar até o momento de dormir.

A Igreja expressa a fé na Trindade Santa através do Credo que é rezado todos os domingos e em cada solenidade. Deus Trino que aos poucos, entre os primeiros cristãos, foi se revelando cada vez mais claro na sua presença. Também, como já falamos, todos os sacramentos são iniciados pela invocação à Santíssima Trindade. Pelos sacramentos somos inseridos, perdoados, alimentados e convocados para exercer o nosso serviço (ministério) de amor a Deus e aos irmãos.

Como os primeiros discípulos, devemos obedecer ao mandato do Senhor pela fé e viver a missão de fazer novos discípulos em nome do Deus Trino. O testemunho é a primeira atitude e depois a ação a serviço de Cristo pela caridade fraterna, pelo anúncio da Palavra e pelo acolhimento aos que nos procuram.

Devemos, portanto, nos perguntar: qual é a minha Galileia? Onde devo testemunhar esse Deus, único e trino, diferente de outros deuses apresentados pelo mundo moderno. Mundo de tantas ideologias filosófica, religiosas e científicas. Jesus nos indica sempre onde devemos ir, da mesma forma que indicou aos discípulos. Procuremos ouvi-los e percebermos aonde devemos ir para testemunhar a nossa fé e o nosso amor à Trindade Santa. Amém.

SOLENIDADE DE PENTECOSTES

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

POESIA

SOPRO DE VIDA NOVA

Sopro santo de Deus,
Nas narinas da criatura humana,
Imagem e semelhança,
Que sua bondade emana,
E se espalha pelo mundo inteiro,
Através dos discípulos mensageiros,
Sobre todos aqueles que a Deus amam.

Sopro e fogo de Deus,
Nos discípulos agora encorajados,
Pela presença dos dons oferecidos,
Pelos frutos do amor, inflamados,
Na vivência da sua missão,
Pregando o Reino da salvação,
E pelos confins do mundo espalhados.

Sopro e luz de Deus,
No Pentecostes do nosso agora,
Nos discípulos no mundo atual,
Dizendo a todos que desperte na aurora,
Na diversidade das nossas situações,
Transformando os nossos corações,
Para anunciarmos que chegou a hora.

Sopro e força de Deus,
Agindo naqueles que estão chegando,
Que pelo Batismo são inseridos,
E à comunidade, vão se irmanando,
Tornando-se um povo em comunhão,
Impulsionados para a missão,
E a Igreja Santa vai aumentando.

Sopro e benção de Deus,
Que vem e desce sobre a Santa Mesa,
Para transformar o pão e o vinho,
Trazendo-nos o amor e a fortaleza,
Dando-nos o Santo e vivo alimento,
Para a comunidade o sustento,
Deus belo, forte… Nossa realeza.

 

HOMILIA

Manifestação pública do Espírito Santo

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente. Agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas que acolheram a mensagem do amor e da fé em sua própria língua. O que antes era uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo.

O que estava restrito a um grupo de homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

O antigo Pentecostes era a festa que lembrava a chegada do povo ao monte Sinai, cinquenta dias após a libertação do Egito. É no Sinai que Moisés recebe de Deus os mandamentos e os apresenta ao povo. O novo Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal porque inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e no espaço físico (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a paz para o grupo, que no mesmo momento é enviado para missão, com o objetivo de anunciar ao mundo a alegria do Evangelho.

A partir desta experiência de encontro com Cristo ressuscitado que traz também o sopro de vida nova, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminharem pregando a experiência da ressurreição. Todos agora se colocam em movimento, porque o Espírito do Senhor está sobre eles dando-lhes vigor e motivação nos seus corações para semearem o Evangelho até os confins da terra!

Na primeira leitura (At 2,1-11) temos o relato de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então há a manifestação do Espírito Santo, um fenômeno diferente, o qual os discípulos ainda não tinham presenciado. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (2,4).

Aquilo que o Senhor anunciou, antes e depois da Ressurreição, se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo agora é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua luz e força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer: é sobre o Santo Espírito que na sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI.

Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos que, carregados da fé corajosa, conscientes, e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer, dar frutos e se espalhar pelos imensos espaços do mundo até chegar em nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo que merece a nossa reflexão, apresentada na segunda leitura da liturgia desta solenidade: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6). São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito.

Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, numa dimensão de unidade na diversidade, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a vida de Deus esteja presente em todas as suas criaturas.

Quantos dons temos a oferecer a Deus, desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o altar, pregar para o povo, coordenar o grupo, animar as comunidades e grupos, visitar as famílias, cuidar dos doentes… E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado com a natureza e quando estamos a evangelizar e a se envolver nas causas sociais.

Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais… Tudo isso são dons do mesmo Espírito o qual estava no início da Criação. Espírito Santo que falou pelos profetas, que esteve presente no quando a encarnação do verbo foi anunciada a Maria, que esteve presente no batismo de Jesus e o conduziu ao deserto e a sua missão.

Espírito que animou os apóstolos após a ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos até os nossos tempos.

E em quantas realidades mais podemos certificar da presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais, na vida familiar, nas diversas profissões e serviços aos outros etc.

Portanto, devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova todas as criaturas e santifica a vida dos seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado. E com o salmo 103 podemos proclamar e suplicar ao nosso Deus, rezando o seguinte refrão: “Enviai o vosso Espírito Senhor, e da terra toda a face renovai, e da terra toda a face renovai”. Amém!

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

DIA DAS MÃES  **  DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20

POESIA

CRISTO NOS LEVA AO PAI

O Senhor nos eleva ao céu,
À face pura e Divina,
Quer-nos junto do Amor maior
Que nos chama e nos ensina,
Basta seguirmos nesta vida,
Com fé e oração na lida,
Com firmeza e disciplina.

O Senhor nos chama ao céu,
Junto a sua legião,
Quer unir todos os santos,
Na perfeita comunhão,
Para viver o puro amor,
Sem tristeza, morte ou dor,
Isto é, a salvação.

O Senhor nos quer no céu,
Mas nos chama a trabalhar,
No envia pelo mundo,
E sua Palavra pregar,
Levando a todos a vida,
Paz, dignidade e acolhida,
Sem nunca desanimar.

O Senhor vem e nos envia,
A todas as criaturas,
No cuidado a toda a terra,
Em sua vida e formosura,
À Natureza: fauna e flora,
Missão feita no agora,
Pelo amor, pela ternura.

O Senhor subiu ao céu,
Mas conosco ele está,
Pela sua santa Palavra,
Pelo seu corpo a nos dá,
Pela sua comunhão,
E sua Igreja em missão,
No mundo a continuar.

 

HOMILIA

Cristo na Glória do Pai

Neste 7º Domingo da Páscoa celebramos a Ascensão de Jesus Ressuscitado à Glória do Pai. A subida de Jesus ao céu não significa o distanciamento dele em relação a nós, mas também a possibilidade da nossa participação na Glória de Deus. Diz santo Agostinho: “Ele não abandonou o céu descendo até nós e nem se afastou de nós quando de novo subiu ao céu”[1]. O nosso Deus está sempre próximo, sempre caminhou conosco e agora quer continuemos a sua missão pelo mundo.

Os discípulos viveram durante quarenta dias a experiência da Ressurreição do Senhor que apareceu ao grupo sempre que estavam juntos. Preparou-os para a vinda do Espírito Santo, fez refeição com eles e depois de ter se manifestado os enviou em missão dizendo-os: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado.” (Mc 16,15-16).

Agora chega o momento de expandir a obra do Reino. É preciso caminhar firme com a certeza de que o Senhor caminha ao lado daquele grupo, orientando-os com a Palavra e alimentando-os com o seu corpo. Não se faz necessário fixar o olhar nas nuvens, é preciso dirigir a atenção para o caminho, local de itinerância e missão.

Às vezes, passa despercebido pelos pregadores a frase “… anunciai o Evangelho a toda criatura”. Esta mensagem de Jesus se refere não somente a todas as nações (povos diversos), mas a toda a criação de Deus. A Boa-Nova de Cristo deve ser disseminada pelo mundo de forma concreta como sendo um cuidado com toda a natureza criada por Deus: as matas, os animais, a terra, o ar, a água e tudo que ficou sobe o cuidado dos homens e mulheres. O que tem a ver isso com os cristãos? O Papa Francisco nos estimula à conversão ecológica e diz que “viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa.”[2]

Esta liturgia da Ascensão do Senhor também nos motiva a olharmos todo o mundo criado pela força divina. E não somente olharmos, mas perceber de que forma estamos cuidando de tudo isso. Percebemos muitas as doenças vinda dos poluentes, vemos tantas queimadas, ouvimos as notícias sobre a exploração dos povos indígenas e suas terras para se construir hidrelétricas e tirar madeiras, também tecnologias, mais em função da destruição que da preservação. Isso tem a ver com o Evangelho e com o envio dos discípulos de Jesus. É o cuidado com a “casa comum”, como prega o Papa Francisco.

Lucas, nos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, nos fala: Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia’, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10-11).

Estes versículos dos Atos dos Apóstolos nos ajuda a refletir sobre a nossa experiência de discípulos missionários no mundo de hoje. A religião cristã não é uma espiritualidade baseada nas nuvens, ou seja, na concepção de um Deus distante e que subiu ao céu para ficar longe de nós. Ele foi elevado ao céu exatamente para também nos elevar. Cristo é presença viva pela Palavra, pela Eucaristia e pela Igreja reunida sobre a ação do Espírito Santo.

Neste sentido, não devemos tirar os pés do chão e flutuarmos, achando que o nosso Deus está distante. Quando pensamos assim, esquecemos que na terra precisa-se de homens e mulheres que assumam a presença viva de Cristo “rumo ao reino definitivo”.[3] Precisamos continuar a proclamar a Boa-Nova de Jesus, mesmo depois de dois mil anos, para que haja conversão, para que os já batizados encontrem a salvação.

Precisamos seguir anunciando a Boa-Nova em meio ao mundo que se corrompe pelas injustiças sociais, pela escravidão! Recentemente o Papa Francisco denunciou que “a escravidão não é algo de outros tempos” e estima-se que “existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão”.[4]

Nestas circunstâncias, o discípulo do Ressuscitado deve está de pé para transmitir esperança e fazer emergir o sentimento e as ações em favor da justiça, da dignidade humana e da paz mundial.

Portanto, ainda há pessoas que não receberam o Evangelho e necessitam da presença de Cristo em suas vidas. Há muitos batizados que precisam mergulhar no mistério de Deus para que se sintam também chamados a se tornarem mensageiros do Reino no mundo de hoje.

Sem a presença viva de Deus em nós e nós nele perdemos o sentido do caminho de nossa existência e assim caímos na ilusão do consumo, das riquezas materiais, do individualismo. Somos reféns das inovações, novidades que não se tornam Boa-Nova. Precisamos da Palavra de Cristo que quando invade nosso coração, às vezes, nos arrebenta, mas se torna Evangelho, Boa-Nova de vida e esperança para nós e para o irmão. Neste momento saímos do isolamento e temos vontade de também falar aos outros sobre o que vivemos de bom através da presença do Ressuscitado.

Que a Nossa Senhora nos ensine sempre mais sobre a experiência de Jesus que foi elevado ao céu pela sua ressurreição para também nos elevar, mas que ao mesmo tempo caminha conosco em Espírito e verdade, como fala o evangelista Marcos: “O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Portanto, a missão do cristão é exatamente tornar presente a convicção da vida nova em Cristo no mundo. Amém.


Notas:

[1] Apud CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012, p. 320.

[2] FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’, n. 217. Documentos Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.

[3] CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 (Doc. 102), trecho do Objetivo Geral.

[4] Publicado em 7 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-05/papa-escravidao-moderna-forum-internacional.html>.

VI DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97(98); 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17

POESIA

UM AMOR QUE VEM PRIMEIRO

Olho para o Senhor,
E vejo que ele me escolheu,
Para ser seu amigo,
Para permanecer no seu amor,
E viver todo o esplendor,
E por isso no seu caminho eu sigo.

Olho para o Senhor,
E vejo o seu mandamento,
Que é um amor perfeito,
Que está além dos meus desejos,
Dos interesses que tenho e vejo,
Grande, abrangente e sem defeito.

Olho para o Senhor,
E vejo que a sua alegria é plena,
Porque traz vida e esperança,
Que não deixa nossas forças cair,
Nem no caminho a gente desistir,
Por que com Senhor ninguém se cansa.

Olho para o Senhor,
E vejo que ele nos quer amando,
Entre todos como irmãos,
Sem o rancor de outro dominar,
Nem na sua frente passar,
Querendo ser o seu patrão.

E vejo ainda que o Senhor,
Tem um amor de Pai e Mãe,
Ele está no início do meu existir,
Por primeiro nos amando,
Por isso está nos chamando,
Para com ele prosseguir.

Olho e vejo o seu banquete,
Que nos chama para festa,
Repleta de forte alegria,
Que chama para partir o pão,
Que mata a fome e a solidão,
Restaurando a vida em harmonia!

 

HOMILIA

O amor e a alegria no Senhor

A liturgia do 6º Domingo da Páscoa apresenta-nos, no evangelho de João, as temáticas do amor de Deus pelo Filho, o amor do Filho por nós e o conselho para que entre nós cristãos possa existir este amor a fim de que a nossa alegria seja completa.

Podemos nos perguntar: até que ponto a nossa compreensão do conceito e da prática do amor alcança o sentido mais próximo do amor de Deus? Podemos olhar para o amor do Pai pelo Filho, que se manifesta desde o início da Criação. Um amor que abraça por completo todas as criaturas não humanas e todos os homens e mulheres do mundo. Deus nos amou primeiro, nos quis semelhante a Ele, nos fez filhos através do seu Filho.

O amor de Jesus por todos nós se dá numa proximidade de amigos, pois nos revelar o seu plano de amor para o mundo e assim ele nos diz: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). E assim formamos a comunidade dos amigos de Jesus onde participamos das mesas da sua Palavra e da Eucaristia, comemos e bebemos com Cristo e em Cristo como irmãos e amigos seus. E vivemos na alegria, o que nos motiva a sermos irmãos na mesma mesa. Da mesma bebida, da mesma palavra que ressoa em todos os lugares do mundo, sem barreira de idiomas e culturas.

Nesta experiência de caminharmos com Jesus sendo amigos dele, devemos nos amar e viver este testemunho para que o mundo veja a beleza do amor que existia entre os primeiros cristãos. Eles mostraram para o mundo a experiência da partilha e da caridade colocando tudo em comum (cf. At 2,44). Como vivemos este amor entre nós? Como percebemos nossa relação de comunidade cristã, amigos do Senhor? Como está a partilha do nosso pão e da nossa vida cotidiana?

São reflexões necessárias no mundo de hoje, onde o amor é tão cantado e tão falado em palavras, mas que na prática é vazio de sentido. Às vezes, determinadas expressões de amor se apresentam com uma aparente tristeza ingênua, mas que, na verdade, buscam algum tipo de recompensa, de retribuição.

O amor da mãe pelos seus filhos é a expressão mais concreta deste amor que Jesus nos fala hoje na liturgia: um amor além dos sentimentos e dos afetos. Uma experiência da entrega e da consciência da missão de mãe. As mães amam os seus filhos, independentes das respostas que eles lhes dão. Assim é o amor de Deus por nós: um amor que vem antes de sermos gerados e que não espera retribuição nossa para que seu nome seja engrandecido.

O Senhor nos pede para guardar o seu mandamento e persistir no seu amor (cf. Jo 15,10). Permanecer no amor, perseverar nesta experiência do amor de Deus é a nossa tarefa de amigos de Jesus, para que a nossa alegria seja plena da presença da vida. Permanecer no amor… Até que ponto conseguimos permanecer nos nossos propósitos de caridade, de doação de nossa vida, de projetos a favor dos que precisam, como fez Jesus?

O Senhor deseja que permaneçamos no seu amor. Porque é isso que faz o Reino de Deus acontecer: manter o projeto de amor que Cristo pregou e viveu entre nós. Ele passou a vida fazendo o bem, disse o apóstolo Pedro (cf. At 10,38), que compreendeu que o amor de Cristo Ressuscitado também está para todos os homens e mulheres. “De fato, estou compreendendo que deus não faz distinção entre as pessoas”(At 10,34).

Que neste mês de maio, Nossa Senhora, a mãe de todas as mães e mãe de todos os homens, nos ensine o valor do amor de Deus em nossas vidas. O Senhor que nos escolheu para sermos seus amigos nos ajude a permanecermos no seu amor e na sua alegria, como nos fala o salmista: “Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai”. Busquemos e vivamos a alegria do Evangelho no lugar da tristeza das guerras, do medo, do ódio e das desesperanças. Amém.

V DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 9,26-31; Sl 21(22); 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8

POESIA

NOSSA ETERNA VIDEIRA

Cristo nossa videira eterna,
Pela força do amor,
Faz-nos seus ramos vivos.
E o Pai, o agricultor,
Poda-nos pra santidade,
Dá-nos a vivacidade,
A seiva do salvador.

Cristo tronco vivo e eterno,
Igreja ramo a frutificar,
Pelo mundo espalha os frutos,
E as sementes a germinar,
E pelo Pai tendo cuidado,
Pelo filho muito amado,
Vida nova a regar.

Nem um ramo viverá,
Sem à videira, ligado
Precisa permanecer,
E ao tronco enxertado,
Para ter vida de paz,
E a seiva, amor que refaz,
Mundo novo instaurado.

Nos unindo como irmãos,
Em Cristo permanecendo,
Somos ramos em evolução,
E muitos frutos oferecendo,
A esperança será constante,
Frutos doces a todo instante
E a vida nova oferecendo.

Seiva que traz o verdor,
E o existir em harmonia,
A vida com seu sentido,
Que floresce na alegria,
Dá sentido à nossa essência,
Motiva nossa existência,
Sendo à noite ou à luz do dia!

Força, fonte e beleza,
Faz os ramos em união,
O encontro à videira tão bela,
Festa que se faz de irmãos,
No encontro de paz e partilha,
Vinha que cresce e que brilha
Povo novo em comunhão.

 

HOMILIA

Cristo é nossa videira verdadeira

A liturgia deste quinto domingo do tempo Pascal nos apresenta Jesus que se denomina como a videira verdadeira. Jesus, que viveu dentro de uma realidade de plantadores de uvas, contempla o trato e o cuidado dos agricultores com cada ramo de parreira. Olhando para a Igreja, nós somos os ramos da videira e formamos a grande vinha de Deus. E se queremos produzir bons frutos devemos permanecer unidos a Ele. Jesus apresenta o Pai como o agricultor, ou seja, aquele que cuida da plantação podando os galhos e tirando os excessos de ramos secos que impedem a produção dos frutos.

Quando Jesus nos fala que é a videira verdadeira, nos vem naturalmente algumas perguntas: O que é a videira falsa? Porque o Pai é o agricultor? No tempo da promessa (Antigo Testamento) podemos verificar que Israel foi considerado como uma videira que nem sempre produziu bons frutos. Em alguns momentos produziu as uvas que nasceram amargas e inúteis (cf. Jr 2,21). Em outros momentos acumularam galhos seco e inférteis.

Faz necessário que os ramos sejam podados para que estejam limpos e com o objetivo de produzir bons frutos. Esta poda que se dar pelas atitudes de conversão e pelo novo caminhar, que retoma a vivacidade dos ramos que estão ligados ao tronco, que é o próprio Cristo.

Jesus é a videira verdadeira. A partir da sua encarnação e da ressurreição, nasce a vida nova. Ao mesmo tempo ele produz muitos ramos e frutos. Diz Jesus: “Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5b). Faz necessário permanecer ligado a ele para dar bons frutos. Pois dele brota a seiva, o amor que traz a vitalidade, o sabor e o sentido da nossa existência.

Não faz sentido ramos desligados da vida em Deus pela autossuficiência e pela ignorância em relação à Palavra. Quando agimos assim temos como consequência o vazio e o sentimento de abandono, como se Deus não estivesse caminhando conosco. Como se estivéssemos desligado do sentido de existir e por isso não se transmite vida e nem se irradia o seu sentido.

Nós, cristãos, somos os ramos que se ligaram a Cristo a partir do batismo e por isso precisamos permanecer unidos entre si e ao mesmo tempo ligados ao tronco. Precisamos deixar-nos ser podados pelo agricultor divino para que ele nos tire os ramos secos e improdutivos representado pelos nossos pecados.

Se nomearmos esses ramos secos (pecados) podemos dizer que estes se traduzem no nosso comodismo, na nossa indiferença, na nossa incoerência, na distância de quem amamos, nas nossas injustiças, falta de cuidado com o outro e as tantas maldades que praticamos contra nossos irmãos e irmãs.

O novo povo de Deus é a grande videira que espalha seus ramos pelo mundo através dos discípulos do Senhor. E nessa caminhada de fé e missão poderemos saborear frutos deliciosos, seja quando nos encontramos ao redor da mesa da Eucaristia e da Palavra ou quando partilhamos nossos sonhos e propósitos junto aos que amamos e também quando estamos perto das pessoas que sonham conosco, por um mundo que se parece com uma vinha de harmonia, amor e paz, como sendo os frutos doces que alegram e animam a existência humana e a criação de Deus.

A comunidade cristã, portanto, é o lugar onde nos relacionamos como ramos (irmãos) para expressar o esplendor da vida, da alegria e da beleza de nossa união. Isto acontece nos momentos de conversas, de confraternizações, nas orações e nas celebrações, onde o pão e o vinho são partilhados, onde acontece a união da vida em Cristo pelo encontro com ele e com os outros.

Quanto aos frutos, temos as obras concretas de caridade aos irmãos que se realizam nos movimentos a favor da justiça e da vida, nas campanhas de ajuda aos pobres, nos diversos projetos sociais e na conscientização política a favor do bem comum, quando os impostos são bem empregados em favor das pessoas.

Na segunda leitura desta liturgia, São João nos adverte: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18). A falta de amor aos irmãos corresponde a improdutividade da videira ou ao desligamento de Cristo. A lei do amor é praticada quando as nossas atitudes forem coerentes com nossos discursos, os quais, às vezes, são puramente teóricos.

Sem a presença do amor de Deus em nossas vidas, somos como galhos secos e sem vida. Quantas vezes dizemos que amamos a Cristo quando estamos dentro da Igreja, mas ao sair na rua já desprezamos um necessitado ou um doente. Em quantos momentos de euforia pregamos tão bonito e no nosso cotidiano somos incoerentes com tudo que falamos.

Por isso é importante sempre revermos nossas ações, nossos pecados, nossa miséria para que sejamos podados pela graça purificadora do perdão de Deus. E, sobretudo, nos perguntar como está a nossa harmonia de vida em nosso caminhar. Se buscarmos o contato com o ser infinito de Deus, nos tornamos mais expressão dele onde quer que estejamos e também naquilo que fazemos.

Peçamos ao Espírito Santo que a sua luz nos ilumine e nos faça iluminados, porque somos também iluminadores quando estamos unidos a Cristo. Precisamos iluminar o mundo que está em guerra e que também explora e massacra a criação de Deus, seja o homem, seja a natureza, a terra, “nossa casa comum”. Amém.

IV DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 4,8-12; Sl 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18

POESIA

O PASTOR E A OVELHA

Ó Pastor supremo e bom,
Que a todas as ovelhas,
Trata com tanto carinho,
Que orienta o caminho,
Totalmente por amor,
Ó eterno bom Pastor,
Não nos deixe aqui sozinhos.

Ó Pastor supremo e verdadeiro,
Que doa a vida livremente,
Para a todos vim salvar,
Sem assim descriminar,
Nenhum dos seres humanos,
Com verdade e sem enganos.
Vem nos fortificar.

Ó Pastor supremo e amigo,
Que falas palavra eternas,
Para nos alimentar,
Para nos encorajar,
Pois tua voz queremos ouvir,
Sem medo de te seguir,
Vem sempre nos iluminar.

Somos teu rebanho vivo,
Que quer sempre te encontrar,
Queremos o teu infinito amor,
Acende-nos com tua luz e teu ardor,
Para a nossa forte felicidade,
Para a nossa viva caridade,
Tu és nosso belo e bom Pastor.

Pastor que cuida com tanto zelo,
As ovelhas cansadas e feridas,
O seu rebanho por ti tão querido,
Trata-nos como teus amigos,
E vai também a outros rebanhos,
Não consideram como estranhos,
Acolhe e carrega quem está sofrido.

Prepara-nos a mesa do amor,
Com taças e o vinho da alegria,
Para as ovelhas sempre acolher,
Pois sua vida vem a nos oferecer,
E não deixa de fora ninguém,
Seu rebanho alimenta do sumo bem,
No banquete vem a todos receber.

 

HOMILIA

O Pastor Eterno e Amoroso

A liturgia deste quarto domingo da Páscoa celebra a figura do Bom Pastor, Jesus Cristo, nosso caminho de Salvação. Somos chamados neste dia a refletirmos nossa condição de participantes do rebanho do Senhor numa experiência de escuta da voz do Bom Pastor e na participação da sua mesa, onde há o alimento que mata para sempre a nossa fome e a bebida que sacia eternamente a nossa sede.

No evangelho desta liturgia, no texto de João 10,11-18, podemos refletir três pontos importantes para a nossa vida de Cristãos: primeiro Jesus se apresenta como o Bom Pastor que é diferente dos mercenários, os quais conduzem o rebanho por interesse e por dinheiro, não se importando com as ovelhas que estão aos seus cuidados.

Jesus é o Bom Pastor porque ele dá a vida pelo seu rebanho, por isso foi até as últimas consequências: foi pregado numa cruz. Ele tem a vocação vinda de Deus Pai que o confia como verdadeiro pastor. Braços abertos para acolher o rebanho que nasce da entrega e do seu cuidado que brota da força de seu amor incalculável.

Nós, cristão que nos reunimos como rebanho do Senhor, somos convidados a ouvir a voz do nosso Pastor divino e ao mesmo tempo segui-lo. Somos também convidados a colocar no nosso coração e na nossa vida, as qualidades e as marcas da experiência de Jesus aquele que nos guia por caminhos seguros. Que gestos, atitudes e postura do Bom Pastor temos diante da vida e dos irmãos?

Na vida nossa de cada dia, temos responsabilidades e missões que se parecem com a condução de um rebanho. Portanto, somos também pastores a exemplo de Cristo, como pais e mães de família, como coordenadores de grupos da Igreja, como chefes de repartições, com políticos, no nosso trabalho, nas pastorais sociais, nas organizações, também como ouvintes, conselheiros confidenciais e muitas outras experiências que devem ser realizadas com justiça e sinceridade, sem interesses e sem descaso.

Num segundo momento Jesus nos diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir.” (Jo 10,16). É interessante que a missão de Jesus não está restrita a grupo dos seus (povo judeus), mas também a outros pastoreios que precisam também ouvir a sua voz e aos quais ele os considera. Os cristãos são convidados a acolher cada ser humano, que vem e quer se inserir no rebanho do Senhor.

Portanto, o amor de Cristo se estende a todos, por que é o desejo de Deus que haja um só rebanho e um só Pastor no amor. É vontade do Bom Pastor que todos encontrem nele a vida nova e o sentido da sua existência. Por isso o acolhimento e o cuidado do bom Pastor faz a diferença na semeadura do Evangelho.

Por fim Jesus nos ensina que a sua vida é oferecida para a salvação do mundo: Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo.” (Jo 10,18). Há uma entrega gratuita e totalmente livre de Jesus em favor da humanidade. Não poderá haver total entrega quando há imposições.

Somos então convidados a refletir sobre a nossa vida de cristãos membros do rebanho do Senhor. Até que ponto nossas ações e opções de vida são uma experiência verdadeira de entrega sem interesses fúteis e vazios? Como nos sentimos dentro deste rebanho de Cristo, o Bom Pastor? Como usamos o nosso cajado das responsabilidades diante de nossa missão de servir?

O Cajado do pastor é para a pontar e proteger o caminhar do rebanho e não para bater nas ovelhas. Os maus pastores, fogem quando veem os perigos, e, muitas vezes batem com o cajado na cabeça das suas ovelhas quando estas se perdem ou caem pelo caminho. A estes, Jesus chama de mercenários, porque eles não se importam com a sua tarefa de cuidar. (cf Jo 10,12).

O que dizer dos chefes das nações, dos estados, dos municípios, os quais são responsáveis pela condução de um povo, como representantes. Estes, muitas vezes escolhidos pelo seu próprio rebanho, com frequência causam muitos sofrimentos ao povo quando não se interessa em cuidar com carinho daquilo que lhe foi confiado. Não se interessam em fazer valer a justiça, o bem comum e a vida digna. Jesus nos ensina que o pastor deve ter amor e compromisso na sua missão de fazer valer a dignidade e a igualdade a um povo.

Portanto, busquemos rezar pedindo pelos nossos pastores aqui na terra (Papa, Bispos, padres, diáconos) para que sejam fiéis na sua missão e que o seu trabalho seja vivenciado numa entrega verdadeira e numa atitude de carinho, fé e esperança.

E a nós, ovelhas reunidas em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia, que possamos seguir em frente ouvindo a voz do Bom Pastor e se alimentando da sua mesa a caminho da verdadeira vida e sendo responsáveis naquilo que o Bom Pastor nos confiou.

III DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 3,13-15.17-19 Sl 4; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

POESIA

TESTEMUNHAS DA ALEGRIA

A alegria do Senhor,
Vem trazer aos caminheiros,
Os discípulos das estradas,
De Emaús são mensageiros,
Ao Deus vivo encontraram,
Juntos também partilharam,
O Pão com o Senhor, primeiro.

O Pão com Jesus primeiro,
Foi uma santa experiência,
Participar da mesa Santa,
Com Jesus em sua essência,
Porque a mesa é o partilhar,
Do pão, Cristo, a alimentar,
E o amor divina ciência.

E o amor divina ciência,
Vem trazer a alegria,
Do Evangelho semeado,
Pela noite e pelo dia,
Vai ao mundo transformando,
E o Reino vai brotando,
Mensagem que não se esvazia.

Mensagem que não se esvazia,
No coração vivo e humano,
Na história dos discípulos,
Que superam seus enganos,
Na caminhada do povo,
Que acolhe o amor e o novo,
Do Reino e dos seus planos.

Do Reino e dos seus planos,
Vem Jesus se apresentar,
No meio da comunidade,
Que vem para celebrar,
No encontro em união,
Na Palavra e comunhão,
Que se faz a partilhar.

Que se faz a partilhar,
O que os discípulos viveram,
Seus encontros mais sagrados,
Quando então se envolveram,
Jesus, paz tranquilidade,
Constrói a fraternidade,
E os discípulos acolheram

E os discípulos acolheram,
O envio do Senhor,
Para serem as testemunhas,
Com força e com ardor,
Entregaram suas vidas,
Existências consumidas,
A serviço do Amor.

 

HOMILIA

A Paz e a alegria da Ressurreição

 

O evangelho de hoje encerra-se dizendo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,35-48). Eis o desafio dos discípulos: com dificuldades, seguir em frente ainda marcados pela saudade e por esta realidade do Ressuscitado que até então era nova.

É importante lembrar que esta leitura é continuidade de Lc 24,13-35 que narra os dois discípulos de Emaús, quando no mesmo dia da Páscoa caminhavam fugindo de Jerusalém, sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o reino de Deus (cf. Lc 24,21). Nisto Jesus aparece caminhando ao lado dos dois e conversa falando das escrituras e de tudo a qual se referia a ele (cf. Lc 24,27).

Quando chegaram ao povoado, Jesus fez que ia seguir em frente e os discípulos o convidam para que ele ficasse com eles. Disseram: “fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Jesus entrou para ficar, sentou e partilhou dos alimentos. Quando partia o pão e falava, o coração dos discípulos estava ardendo. Quando ele desapareceu, os discípulos voltaram imediatamente Jerusalém anunciando o que tinham experienciado junto ao Ressuscitado (cf. Lc 24,33).

Pois bem, é aqui que inicia o Evangelho desta liturgia: a volta dos discípulos para Jerusalém. A mesma Jerusalém que é lugar de missão, de coragem, de desafios, de proclamar, com ardor, a vida nova do Ressuscitado em suas vidas. E então meditemos, nesta parte: Quando nos falta a fé, há possibilidade de fuga para longe dos problemas, mas não é possível. O problemas nos acompanham aonde nós vamos.

Os Discípulos de Emaús também somos nós, que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do caminhar vão acontecendo.

No evangelho desta liturgia há uma segunda experiência de encontro da comunidade dos discípulos. Jesus vem e se apresenta mais uma vez para traze-lhes a paz e enviá-los em missão. Porque somente com o coração na paz seria possível anunciar a vida nova. Sem paz e na insegurança não é possível anunciar coisas positiva e que ajuda os outros. Era preciso que todos fizessem a experiência do encontro na paz, e que vivessem a alegria da partilha da mesa e do pão.

Os encontros de intimidade entre Jesus e seus discípulos ocorriam com frequência, sempre com o objetivo de amadurecer a partilha. Foram momentos fortes antes da crucificação e ressurreição. Pois é na mesa que se realiza a partilha, o companheirismo, a fraternidade e tantas outras descobertas importantes na vida das pessoas.

A mesa da família também é lugar do amor, que se dá em partilha e alegria. O mundo não pode perder o sentido do encontro da mesa, onde se dá muitas conversas de vida cotidiana, de tantas histórias da nossa existência. Lugar onde o vinho do amor deve ser brindado para fortalecer a amizade e a fé dos que são irmãos e irmãs.

Na missa, as mesas da Palavra e da Eucaristia é para nós, católicos, o lugar sagrado do encontro com o Senhor e com os irmãos. Pois quando alimentados, pela Palavra, pelo Corpo e pelo Sangue do Ressuscitado, somos fortalecidos para voltarmos para a nossa “Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos companheiros de caminhada profissional, irmãos da comunidade, e outros que iremos encontrando durante à semana.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas” (At 3,15).

Que a cada celebração, possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 4: Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!” Com o esplendor do Ressuscitado voltemos para anunciar a vida nova às nossas “Jerusaléns”. Amém.