IV DOMINGO DA QUARESMA (LAETERE)

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

DOMINGO DA ALEGRIA (Lætare)

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

POESIA

UM AMOR QUE SE DERRAMA

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para ver nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fieis companheiros.

 

HOMILIA

O amor gratuito de Deus por nós

A liturgia deste quarto domingo da Quaresma nos apresenta uma reflexão sobre o amor de Deus e a resposta do homem a este amor. Também a Igreja lembra que pela proximidade a que estamos da Páscoa celebramos a alegria, pois se aproxima o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com voz forte e grande júbilo, o aleluia e o glória em honra a Jesus vencedor da morte, vitorioso para nos dá a vitória, ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é motivo de celebrarmos o Domingo da Alegria (Lætare): se aproxima, portanto o grande dia!

O evangelho de São João nos traz o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus, num monólogo de grande profundidade, nos mostra o sentido e o ilimitado amor de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os membros de Israel não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplar este animal venenoso em si, mas para que as pessoas voltassem o olhar para o alto, onde está o Deus que cura e liberta a todos do mal (cf. Jo 3,14).

Em Jesus também somos conduzidos a olhar para ele erguido na Cruz, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por nós. “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.” (Jo 3,16). O cristão é chamado a caminhar com a cabeça erguida, olhando para o alto, mesmo em meio as cruzes de sua vida, porque Deus é o amor ilimitado. Ele quer livrar a todos do veneno do pecado que impede de encontrarmos a salvação.

“… Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e não da condenação. A condenação é consequência da falta de amor. O mundo precisa do amor que tira o homem do pecado e da realidade onde há a ausência deste bem.

Deus sempre caminhará conosco mesmo quando somos infiéis ao seu projeto, como podemos ver na primeira leitura. O povo que teve seu templo destruído receberá de Deus o grande favor através do Rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo. A destruição anterior foi fruto da desobediência e da violência dos que não seguiam os mandamentos de Deus.

Muitas vezes temos uma concepção de que Deus castiga e que ele é vingativo. O que acontece é que olhamos Deus e o pensamos com nossas concepções humanas limitadas. Nossos desastres, nossas dores e nossos pecados são consequências de escolhas que fazemos em desobediência aos preceitos do Senhor. Também, muitos desastres em nossas vidas vêm do inimigo presente que nos seduz e por isso somos influenciados ou atingidos por tais pecados.

Voltando ao evangelho desta liturgia, podemos ver no texto de São João: “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18). Ou seja, para o evangelista João a salvação é hoje, é agora. Depende da minha opção a cada momento de minha existência.

Um pré-requisito é que tenhamos fé e estejamos decididos. A condenação, portanto, virá quando não houver fé no Filho de Deus. Assim podemos nos perguntar: quais são as minhas opções? O que vivo ou acredito está de acordo com os caminhos do Senhor? Qual o nível da minha fé?

Portanto, devemos carregar uma certeza: a salvação de Deus é gratuita, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa opção e arrependimento, mas precisamos logo nos decidir para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar. Pelo batismo, somos sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13), pois mesmo sabendo que é por “graça que somos salvos” (Ef 2,5b), precisamos comunicar ao mundo que o nosso Deus é amor misericordioso, e ele quer que sejamos misericordiosos também com os nossos irmãos.

Que o Espírito Santo de amor possa nos guiar e nos iluminar neste itinerário para a Páscoa, para que ao chegarmos à festa do Ressuscitado possamos nos alegrar verdadeiramente pela vida que venceu a morte e que é vitória também para nós. Ergamos nossa cabeça para a direção de onde está Deus, nele está a nossa da libertação e nossa salvação. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade. Amém.

III Domingo da Quaresma

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25

POESIA

NÓS, TEMPLOS SANTOS

Somos templos do Senhor,
Moradas do divino amor,
Da verdade e sinceridade,
Sem nada de opressão,
Morada do amor e o perdão,
Templo da santa bondade.

Somos templos do Senhor,
Na vivência do temor,
Com um culto verdadeiro,
Sem a tal da falsidade,
Mas com a pura verdade,
E uma entrega por inteiro.

Somos templos do Senhor,
Vivendo o fiel ardor,
Pelos santos mandamentos,
Como setas definidas,
Para proteger a vida,
Livre de tanto tormentos.

Somos templos do Senhor,
E da verdade esplendor,
Igreja, corpo vivo e santo,
Para firmes encontrar,
O alimento do altar,
Que alivia o nosso pranto.

Somos templos do Senhor,
Com a justiça a favor,
Da verdade que liberta.
Na missão do sumo bem,
Pois, o Espírito nos mantem,
Com a paz do Redentor.

Templos da Eucaristia,
Nós, Igreja de todo o dia,
Que se nutre da união,
Festa da vida e do amor,
Que fortifica o ardor,
No encontro e comunhão.

 

 

HOMILIA

O novo mandamento e o novo culto

Neste 3º domingo da Quaresma, tempo precioso de penitência e conversão, a liturgia nos apresenta dois temas principais para a nossa reflexão espiritual: culto e mandamento.

No primeiro tema, o evangelista João apresenta Jesus como o templo vivo onde há o culto verdadeiro e que nós, os cristãos, somos membros deste mesmo templo, que é a Igreja. O segundo tema se refere aos mandamentos que Deus apresentou ao povo da antiga aliança para que todos pudessem andar de acordo com a vontade divina.

Vamos refletir inicialmente sobre os mandamentos os quais foram escritos para orientar a vida judaica não como algo de imposição, mas como o cuidado carinhoso de um Deus que ama o seu povo e quer que o viva no amor e na obediência à sua vontade.

Na primeira leitura de hoje vemos que Deus, antes de anunciar os seus mandamentos, faz uma memória da sua ação salvadora para com o povo: “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra, da casa da escravidão.” (Ex 20,2). Trata-se não de um deus desconhecido, mas do Deus que tem uma história na caminhada do seu povo. Os mandamentos da lei de Deus, como aprendemos em nossos primeiros contatos com a catequese, servem para nos orientar na caminhada para a vida de Deus. É para nos livrar dos perigos que nos levam ao inferno.

Os mandamentos são como os sinais de trânsitos que nos orientam sobre os limites da velocidade, o percurso por onde devemos seguir. Desobedecer a um dos sinais poderá nos levar a um desastre automobilístico e nos trazer como consequência a nossa morte e até a de outras pessoas que não teriam nada a ver com o nosso erro. Assim será também a se desobedecermos os mandamentos do Senhor: poderemos nos perder e envolver os irmãos também na nossa perdição.

Ainda sobre os mandamentos, temos de meditar que em Jesus está a plenitude da lei: o amor é a lei maior, porque primeiramente obedecemos por amor e vivendo o amor que Jesus pregou, superaremos todos os mandamentos. Amar o outro não é apenas não matar, não traí-lo, não roubá-lo, não ser falso, mas sim defender a sua vida, lutar pela justiça em seu favor e dedicar todo o nosso sentimento de fraternidade e irmandade quando for necessário.

O evangelho nos apresenta Jesus em Jerusalém quando expulsou os vendedores do templo. Olhemos um pouco o cenário da cidade santa nos dias de celebração da Páscoa: Há peregrinos das diversas cidades da Palestina, e até de fora. São pessoas que durante muito tempo juntaram dinheiro para ir prestar o culto a Deus na sua casa santa. No templo, Deus habita. Ali existem os sacerdotes que aconselham os peregrinos.

Mas naquele lugar também há os aproveitadores que ganharão muito dinheiro explorando os pobres com a venda dos carneiros e bois para o sacrifício. Também as bancas de câmbio que trocavam o dinheiro pelas moedas sagradas para serem colocadas nos cofres do templo e comprar as vítimas para o sacrifício.

É nesse contexto que Jesus, como um judeu fiel à verdadeira religião, age, pois percebe que o lugar onde Deus deve ser adorado em espírito e verdade está sendo profanado pela corrupção e exploração realizado pelas próprias lideranças da religião.

O mais importante é que fiquemos atentos às poucas palavras que Jesus falou: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio.” (Jo 2, 16). A casa de Deus não é um lugar de comércio e exploração. O ambiente do culto ao Senhor Deus que caminhou com o seu povo, é o lugar do sacrifício verdadeiro e da oração que sobe aos céus.

Quando vamos à Igreja devemos abrir o nosso coração para que a Palavra de Cristo, mandamento novo, habite o nosso coração, toque a nossa alma e nos leva a ficarmos cada vez mais perto dele, na caridade, na honestidade, na missão e na entrega da vida ao Reino de Deus.

Quando saímos da igreja podemos também refletir sobre a importância da Palavra de Deus em nossa vida. E nos perguntamos: como nos relacionamos com os bem materiais? Como encaramos o mundo que faz comércio de tudo? E corrupção, não seria uma forma pós-moderna de compararmos com os vendilhões do templo, expulsos por Jesus? Realidade essa que causa desemprego, sofrimento e morte.

A segunda frase de Jesus, a mais importante e falada diante da pergunta dos judeus: “‘que sinal nos mostras para agires assim?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Destruí este santuário, e em três dias eu o levantarei’.” (Jo 2,19-20). Ninguém entendeu as palavras proclamadas por Jesus, inclusive os discípulos que somente depois da ressurreição vieram a ter claro o que foi falado naquele dia por seu mestre.

Formamos a Igreja corpo de Cristo, templo vivo de Deus, onde habita o Espírito Santo. Quando nos dirigimos à Igreja de pedra devemos sempre pensar: nós somos o sentido maior do verdadeiro culto, porque nos reunimos “em Cristo, com Cristo e por Cristo”, livres das explorações e corrupções humanas. Somos templos vivos onde habita Deus. Jesus nos leva a meditarmos que os nossos corpos são sagrados, ou seja, habita o amor de Deus em nós. Habita em nós a palavra da Justiça, da honestidade e da vida plena.

Os discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.(Jo 2,17). O que dizer das inúmeras denominações religiosas no mundo de hoje, voltadas para uma profanação do nome do Senhor e do seu templo? São tantos depoimentos sobre a aquisição bens materiais e do aumento de riqueza individuais atribuídas a uma barganha com Deus. São declarações pronunciadas abertamente como se fosse uma verdade.

Os cristãos são os que seguem a Cristo em espírito e verdade. Não devem pensar como os judeus do tempo de Jesus. Eles esperavam um rei poderoso, prepotente e milagreiro e rico. Por isso a crucificação de Jesus para eles é escândalo, pois Cristo foi um derrotado. Quanto aos gregos, estes por sua vez, não acreditavam em milagres. Eles confiavam somente nos raciocínios e na sabedoria, a razão era tudo para eles (cf. 1Cor 1,23). A morte de Jesus não se enquadra dentro de nenhuma lógica humana: por isso é uma autêntica loucura[1].

Que a nossa oração e o nosso culto sejam autênticos e que a Eucaristia nos fortifique a vivermos como verdadeiro adoradores de Deus. Que sejamos testemunho de amor e de santidade no mundo como verdadeiros templos santos neste tempo quaresmal, quando devemos intensificar a prática da caridade, da oração e do jejum. Amém.

[1] ARMALLINI, Fernando. Celebrando a palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria.

II DOMINGO DA QUARESMA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 115(116); Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10

POESIA

TRANSFIGURAR-NOS COM JESUS

Subamos ao monte do Senhor
Para ver a sua glória,
Para viver a intimidade,
Caminhar na nossa história,
Caminhar na humildade,
Buscarmos a santidade,
E não perder a memória.

Subamos ao monte do Senhor,
Para vivermos a nossa esperança,
Fortalecer nossa fé,
Na entrega e confiança.
Como um discípulo é.
Vivendo a sua fé,
Na paz e muita bonança.

Desçamos do monte do Senhor,
Para continuar a missão,
Voltando a realidade,
Pisando os pés no chão,
Precisamos continuar,
O evangelho pregar,
Para o Reino e a salvação.

Desçamos do santo monte,
Para com Jesus viver,
Num corpo ressuscitado,
E dele muito aprender,
Seu amor sempre abrasado,
E o céu sempre esperado,
E para sempre viver.

Vamos para a mesa Santa,
De pura fraternidade,
Ao templo da alegria,
Do amor e da irmandade,
Da escuta e do perdão,
Da paz e da comunhão,
Da plena felicidade.

 

HOMILIA

Subamos ao monte com o Senhor

Na liturgia deste 2º domingo da Quaresma contemplamos Jesus que sobe ao monte com três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João e lá se transfigura diante deles. A transfiguração, portanto, é uma forma de Jesus antecipar aos seus discípulos a sua ressurreição.

Na transfiguração, portanto, aparecem dois personagens da primeira aliança: Moisés, representante da lei e os mandamentos destinados ao povo de Israel para que viva plenamente a aliança verdadeira com Deus. Elias, que representa os profetas, os quais anunciaram a vontade de Deus, alimentando a espera do povo pelo messias verdadeiro.

Aquela experiência leva os discípulos a quererem ficar ali, armarem tendas para continuarem no monte, num lugar de conforto. Eles cultuam a divindade de Jesus, mas ainda não chegou a hora.

Outro momento importante é o aparecimento da nuvem de Deus e a sua voz que diz para ouvir o seu filho amado. Este filho que veio trazer a Boa-Nova aos homens e ensiná-los o caminho da santidade e do céu.

A voz do Pai é dirigida aos discípulos, a todo o povo e também a nós hoje: “Escutai-O”. Escutar a sua Boa-Nova, a sua mensagem de salvação que é destinada a todos. Escutar Jesus é ser obediente ao mandamento do amor e da fraternidade.

Há dificuldades no mundo moderno no que se refere à prática da escuta. Estamos sempre muito ocupados e agitados. Há fuga dos momentos de meditação, de oração silenciosa para escutar Deus e a nós mesmos. Só somos capazes de mudar nossa vida para melhor, quando mergulhamos em nós mesmos e escutamos nossas limitações e as possibilidades de conversão.

O que dirá o mundo dos cristãos agitados e distantes da prática da escuta e da oração? O que se testemunha da pessoa de Cristo quando não se saber ouvir, mas julgar e fazer barulhos? Precisamos ouvir a voz de Deus Pai. Precisamos ouvir a voz de Cristo que nos chama sermos seus seguidores e anunciadores.

Após a voz do Pai, Jesus convida os discípulos a descerem do monte ao mesmo tempo em que pede para manter em segredo sobre aquela experiência, pois ainda não é o tempo de manifestar a sua divindade a todos, porque somente na ressurreição é que tudo ficará público. É preciso descer para o dia a dia da missão e vê as diversas realidades do povo com seus sofrimentos e necessidades.

Na primeira leitura encontramos Abraão com seu filho Isaac, também no monte. Motivado pela sua fé sem limites, quer seguir os costumes da religião cananeia de sacrificar o primogênito, mas Deus interfere nesta ação e pede para não sacrificar o seu filho.

A fé de Abraão possibilitará a benção de Deus e uma descendência infinita como o número das estrelas do céu e os grãos de areia do mar. A fé de Abraão nos ensina sobre a obediência sem limites para com Deus, a ponto de sacrificar em nome de Deus o que ele mais amava: seu filho, gerado já na velhice e na esterilidade de Sara.

Podemos refletir sobre o paralelo entre a primeira leitura e o evangelho: no sacrifício de Abraão há uma prefiguração do sacrifício de Jesus. Isaac que carrega a lenha para o seu próprio sacrifício e Jesus que carrega a cruz para o calvário. A transfiguração e a crucificação de Jesus também se dão no monte (Jerusalém). Porém em Jesus há o sacrifício total e perfeito permitido pelo Pai em função da salvação de todos.

São Paulo nos lembrará que o filho de Deus não foi poupado pelo seu Pai e por isso nos entregou como garantia da nossa salvação. Jesus ressuscitou e intercede por nós (cf. Rm 8,32.34). O nosso Deus se esvaziou da sua condição por amor aos homens, numa entrega dolorosa e de esvaziamento.

Nós também queremos subir com Jesus ao monte para fazermos a experiência do encontro e da escuta com o Jesus transfigurado, que nos apresenta a sua divindade e nos ensina a descermos do monte para vivermos a missão por ele convocada.

Queremos também ter a fé de nosso Pai Abraão que viveu uma entrega total a ponto de levar Isaac, seu único filho, para ser sacrificado na fogueira. Foi impedido pela interferência de Deus que viu a sua fé sem limites.

A cada Eucaristia celebrada revivemos o nosso encontro com Jesus transfigurado e somos ao mesmo tempo enviados também para transfigurar o mundo dos que estão sofrendo nas ruas, nas drogas, com fome, presos e sem a oportunidade da acolhida da reconciliação com a vida.

Que o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó e salvador de todos, nos guie pelos nossos passos de fé e de obediência. E que o Senhor nos perdoe pelas tantas vezes que fomos desobedientes, medrosos e sem fé. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para que vivamos a humildade em nossas misérias e a coragem da mudança de vida. Amém.

I DOMINGO DA QUARESMA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 9,8-15; Sl 24(25); 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15

POESIA

OS DESERTOS DA VIDA

Por onde caminhamos,
Inseridos na vida do Senhor,
Não estamos livres das tentações,
Que nos traz medo e dor,
Mas Cristo no dá forças e nos ensina
E grava em nossos corações,
Como vencer o tentador.

Pelo nosso Santo Batismo,
Como Jesus, quando batizado,
E conduzidos pelo Espírito Santo,
Somos todos também tentados,
Nas diversidades da vida terrena,
Quando marcados pelo pranto,
Com Cristo somos justificados.

E do deserto nós descemos,
Para no mundo anunciar,
Vivendo como discípulos em missão,
Com o testemunho e também a pregar,
Nos caminhos escuros da humanidade,
Semeando a paz e comunhão,
Com fé e sem medo de tropeçar.

Somos o povo de Deus peregrinando,
Pelo mundo de tantas diversidades,
Reunimo-nos para o culto ao Senhor,
Para fortalecer nossas capacidades,
Que vem da fonte do puro amor,
Comungamos do Alimento eterno e Santo,
Que nos conduz a eternidade.

 

HOMILIA

Cristo nos ensina a vencermos as tentações

Neste primeiro domingo do tempo quaresmal contemplamos Jesus conduzido pelo Espírito ao deserto para viver a experiência do jejum e da oração a fim de nos ensinar como vencer as tentações. Jesus vai ao deserto logo após o seu batismo, para se preparar para a sua missão: pregar o Reino de Deus e trazer a salvação a todos.

Após retornar do deserto, Jesus vai para a Galileia pregando o Evangelho. A sua mensagem principal é um alerta e ao mesmo tempo um convite: o tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo (cf. Mc 1,15). Para dizer: o tempo da pregação de João já passou, agora chegou o Messias do qual ele pregou ao povo.

A segunda mensagem é exatamente um apelo ao povo: convertei-vos e crede no evangelho (cf. Mc 1,15). A mudança de vida e fé na Boa-Nova são requisitos concretos para a acolhida e a realização do Reino de Deus.

Na quarta-feira de cinzas a liturgia nos apresentou as três práticas principais para vivermos bem os quarenta dias: a esmola, a oração e o jejum. Estes três exercícios, mais que penitenciais, devem ser vividos de acordo com o texto do profeta Joel, isto é, rasgando o coração e não as vestes (cf. Jl 2,13). Ou seja, é a partir de uma atitude interior que devemos viver este retiro de quarenta dias em nossa Igreja.

O tema da liturgia de hoje é a conversão, pois Deus quer sempre estabelecer uma aliança com o homem a fim de resgatá-lo para junto de si. A conversão se dá quando nos sentimos sempre necessitados de mudarmos de vida para uma experiência mais profunda de santidade.

Na primeira leitura podemos ver que Deus se dirige a Noé e a seus filhos dizendo que irá estabelecer uma aliança com eles e inclusive com toda a criação de animais. Deus promete não provocar mais dilúvio (cf. Gn 9,9.11). E o sinal desta promessa (aliança) será o arco nas nuvens o qual representará este pacto do Céu com a Terra.

A mudança de vida sempre nos ajudará a evitar os diversos dilúvios que produzimos com violência, contra a humanidade. Olhando o nosso mundo, são tantos os desastres construídos por nós, homens e mulheres, em função de interesses financeiros e desumanos que produzem desemprego, pobreza e morte.

A falta de cuidado com a criação de Deus nos faz devastadores da natureza e nos colocam em descaso com a saúde do nosso planeta, nossa “casa comum”. Para vencer a violência em suas diversas facetas, precisamos mudar as nossas atitudes e alimentar o amor à vida. Somente a conversão nos afastará dos diversos dilúvios.

Deus quer sempre reconduzir a humanidade para o bem, ele destrói o mal e por isso estará em busca de conduzir a todos nos seus caminhos. Portanto a ação de Deus é sempre uma busca de reconstruir o coração do homem para que siga a sua aliança e carregue no seu coração os preceitos de amor e fidelidade.

Na segunda leitura o apóstolo Pedro relembra o dilúvio. Para ele, este episódio representa o nosso batismo, pois assim como do dilúvio surge uma nova humanidade, no batismo somos renovados para uma vida nova em Cristo. Porém não significa que já somos vitoriosos, mas que iremos também enfrentar as tentações como Jesus também enfrentou.

Na vida sempre teremos provações. Seremos tentados, mas com Cristo venceremos, pois ele nos ensinou como vencer. Não somente no deserto ele foi tentado e perseguido, mas, durante toda a sua missão. Por que a sua pregação causou mudanças nas estruturas do velho homem. Os poderes humanos foram abalados pela Palavra que se fez carne.

Que o Espírito Santo nos conduza pelos desertos da vida e que aprendamos de Jesus como vencer as tentações a fim de fortalecer nossa conversão aos caminhos do Evangelho e anunciarmos o Reino com o testemunho de nossas vidas e com anúncio verdadeiro da palavra do Senhor. Amém.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

DIA DE JEJUM E ABSTINÊNCIA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18

POESIA

CAMINHOS QUE LEVAM A DEUS

Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Sendo caridade,
Na simplicidade.

Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.

Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor.

Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.

Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto.

Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.

Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado.

Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.

Quero, com o Senhor,
Viver seu amor,
No sempre encontrar,
Para se alimentar.

Na mesa da alegria,
Encontrar a harmonia,
No alimento eterno,
Que nos faz fraternos,
A Eucaristia.

 

HOMILIA

Cinzas, Esmola, Oração e Jejum

Caminhando com o Senhor entramos no Ciclo Pascal que traz inicialmente a Quaresma como tempo de preparação para a festa mais importante do ano litúrgico. A Páscoa do Senhor é, portanto, o centro da caminhada litúrgica anual.

Nesta quarta-feira de cinzas somos chamados a iniciar um itinerário espiritual tendo como base a esmola, a oração e o jejum. Já iniciamos esta caminhada recebendo em nossas cabeças as cinzas numa atitude de simplicidade e de reconhecimento da nossa fragilidade humana e de corpo perecível que necessita da vida infinita em Cristo Senhor.

É nesta esperança e fé na vida nova que começamos vivendo este tempo de penitência aos pés do Senhor. Com Ele queremos caminhar passando pelo calvário, pela Cruz e acordar na manhã da ressurreição com um coração renovado e alegre, para cantar o aleluia vibrante e cheio de convicção no ressuscitado.

O Evangelista Mateus nos apresenta Jesus orientando os seus discípulos para terem cuidado com as ações de justiças diante das pessoas somente para serem vistos exteriormente. Há algo que deve brotar do coração para que seja agradável a Deus. Por isso a prática da esmola, da oração e do jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltado para Deus, mesmo que ninguém veja.

A nossa esmola deve ser feita não para ser divulgada, mas no sentido da caridade para com os irmãos. Muitas vezes a nossa presença com o acolhimento e a misericórdia é concretização da esmola que o Senhor nos pede a realizar.

Nossa prática de oração deve ser mais interior e com um coração que leve os nossos ouvidos estarem mais atentos às súplicas dos outros. Estando nesta postura podemos também ouvir Deus que fala na nossa vida e nos pede que vivamos o amor entre os irmãos.

E o jejum não deve estar apenas dentro do nosso intimismo, mas na intensão e sensibilidade aos que têm fome. Como é belo e pleno de sentido os tantos cristãos que deixam de consumir certas coisas e depois oferecem o que juntou com as abstinências aos que necessitam de ajuda.

O importante é que toda esta prática espiritual tenha como fruto a nossa conversão para a santidade, onde reavaliamos nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade, na oração e no jejum. Esta experiência deve nos ajudar a ser melhores pais de família, melhores filhos, melhores evangelizadores a serviço do Reino.

Todo esse caminho exige de cada um o esforço e luta contra as tentações materiais e espirituais. É importante estarmos conscientes que temos de sair do comodismo ou da zona de conforto para realizar este exercício de santidade.

Lembremos do que diz o profeta Joel: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. O Apóstolo Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho de santidade para a conversão do mundo.

Peçamos ao Espírito Santo a perseverança para que possamos seguir em frente com os nossos propósitos quaresmais e que ao chegarmos à páscoa tenhamos vencidos as tentações e então possamos dizer: agora sou um cristão melhor e quero continuar nesta busca constante de cada dia, ser mais santo e mais comprometido com o Evangelho. Amém.