II DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 26; Fl 3,17-41; Lc 9,28b-36

 

⇒ POESIA ⇐

VAMOS SUBIR O MONTE DE DEUS

 

Subamos ao monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-lo e contemplá-lo na sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é Senhor da nossa história.

Desçamos do monte
Em caminhada firme, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continua firme a sua oração.

Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.

Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Continuamos nossa caminhada com Jesus rumo a Jerusalém neste período quaresmal, alimentados pela certeza na Ressurreição. Neste segundo domingo da Quaresma, contemplemos Jesus e os três discípulos que vão ao monte para orar. Lá acontecerá a Transfiguração, sinal da glória infinita de Deus que é prefiguração da Ressurreição do Senhor.

Podemos refletir várias realidades nesta narração de Lucas: Jesus escolhe Pedro, Tiago e João para estarem com ele na oração do monte; aparecem dois representantes da primeira aliança: Moisés e Elias, os quais conversam sobre o tipo de morte de Jesus em Jerusalém (cf. 9,31).

Na oração, os discípulos adormecem e quando despertam veem Jesus transfigurado: seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante e junto a ele estão dois homens, Moisés e Elias, os três aparecem revestidos de Glória (cf. 9,31).

Há uma sugestão de Pedro para armar as tendas para continuarem por ali. O Evangelista fala que Pedro não estava entendendo (cf. 9,31-33). Isto significa que ele queria apenas a segurança do monte sem a passagem pela Cruz. E uma nuvem envolve a todos e desta saiu a voz de Deus que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35).

Toda esta realidade apresentada pelo evangelista Lucas nos ensina que se faz necessário a oração para o maior entendimento do projeto do Reino. Que é preciso o seguimento consciente nos caminhos do Senhor.

A presença dos profetas confirma tudo o que foi anunciado no primeiro Testamento sobre o novo êxodo, a libertação de todo homem na nova Aliança. Precisamos subir também ao monte em vista do encontro com o Senhor, para vivermos a oração pessoal ou comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, mas, para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo.

O interessante é que os três discípulos que Jesus chamou, coincidentemente, tinham dificuldades de entender a proposta do Reino, vejamos: Pedro, quando Jesus anuncia que irá sofrer e morrer não aceita naquele momento de maneira alguma esta realidade (cf. Mt 16,21-23); Tiago e João já haviam pedindo sobre um lugar de honra discutido sobre quem seria o maior (cf. Mc 10,35-38.43-45). Vemos que Jesus na sua pedagogia de Mestre os chama para viverem uma experiência de oração, para que se possa ficar clara para eles as consequências da Missão junto ao seu Mestre.

O despertar dos discípulos poderá significar a nova visão sobre o sentido da missão com o Senhor. A tendas também fazem referência à tenda do encontro, onde Moisés encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Na primeira leitura, Abraão, o nosso Pai na fé, é convidado a observar as estrelas, vê e pensar na promessa que Deus lhe confiou (cf. Gn 15,5). Ele nos ensina a confiar nas promessas de Deus e não duvidar. Quantas vezes somos fracos na nossa vida de cristãos e até duvidamos dos que acreditam e colocam sua vida totalmente nas mãos de Deus, mesmo diante das dificuldades e derrotas humanas.

São Paulo nos conforta: “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21). Toda a nossa vida de discípulos de Cristo é em vista da Ressurreição quando seremos também glorificados e viveremos eternamente com Deus.

Portanto, neste tempo em que somos convidados a vivermos uma escuta da palavra mais intensa, uma vida de oração mais profunda e rever a nossa caminhada através de um exame de consciência, faz-se necessário que escutemos o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” ( Lc 9, 31-35).

Precisamos silenciar para exercitar a escuta, não somente a escuta numa atitude de contemplação da voz de Deus, mas também ser mais ouvinte dos outros e estarmos atentos aos diversos gritos do mundo os quais estão expressos nos angustiados, nos órfãos, no povo da rua, nas penitenciárias e outras situações. Também ouvir os que estão mais próximos de nós.

Peçamos ao Espírito Santo o dom do discernimento para podermos descobrir aquilo que é mais necessário para chegarmos a uma vida transfigurada pelo amor, uma nova convivência juntos aos irmãos e irmãs, em direção à verdadeira felicidade a qual se encontra somente em Deus.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

II DOMINGO DA QUARESMA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 115(116); Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10

POESIA

TRANSFIGURAR-NOS COM JESUS

Subamos ao monte do Senhor
Para ver a sua glória,
Para viver a intimidade,
Caminhar na nossa história,
Caminhar na humildade,
Buscarmos a santidade,
E não perder a memória.

Subamos ao monte do Senhor,
Para vivermos a nossa esperança,
Fortalecer nossa fé,
Na entrega e confiança.
Como um discípulo é.
Vivendo a sua fé,
Na paz e muita bonança.

Desçamos do monte do Senhor,
Para continuar a missão,
Voltando a realidade,
Pisando os pés no chão,
Precisamos continuar,
O evangelho pregar,
Para o Reino e a salvação.

Desçamos do santo monte,
Para com Jesus viver,
Num corpo ressuscitado,
E dele muito aprender,
Seu amor sempre abrasado,
E o céu sempre esperado,
E para sempre viver.

Vamos para a mesa Santa,
De pura fraternidade,
Ao templo da alegria,
Do amor e da irmandade,
Da escuta e do perdão,
Da paz e da comunhão,
Da plena felicidade.

 

HOMILIA

Subamos ao monte com o Senhor

Na liturgia deste 2º domingo da Quaresma contemplamos Jesus que sobe ao monte com três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João e lá se transfigura diante deles. A transfiguração, portanto, é uma forma de Jesus antecipar aos seus discípulos a sua ressurreição.

Na transfiguração, portanto, aparecem dois personagens da primeira aliança: Moisés, representante da lei e os mandamentos destinados ao povo de Israel para que viva plenamente a aliança verdadeira com Deus. Elias, que representa os profetas, os quais anunciaram a vontade de Deus, alimentando a espera do povo pelo messias verdadeiro.

Aquela experiência leva os discípulos a quererem ficar ali, armarem tendas para continuarem no monte, num lugar de conforto. Eles cultuam a divindade de Jesus, mas ainda não chegou a hora.

Outro momento importante é o aparecimento da nuvem de Deus e a sua voz que diz para ouvir o seu filho amado. Este filho que veio trazer a Boa-Nova aos homens e ensiná-los o caminho da santidade e do céu.

A voz do Pai é dirigida aos discípulos, a todo o povo e também a nós hoje: “Escutai-O”. Escutar a sua Boa-Nova, a sua mensagem de salvação que é destinada a todos. Escutar Jesus é ser obediente ao mandamento do amor e da fraternidade.

Há dificuldades no mundo moderno no que se refere à prática da escuta. Estamos sempre muito ocupados e agitados. Há fuga dos momentos de meditação, de oração silenciosa para escutar Deus e a nós mesmos. Só somos capazes de mudar nossa vida para melhor, quando mergulhamos em nós mesmos e escutamos nossas limitações e as possibilidades de conversão.

O que dirá o mundo dos cristãos agitados e distantes da prática da escuta e da oração? O que se testemunha da pessoa de Cristo quando não se saber ouvir, mas julgar e fazer barulhos? Precisamos ouvir a voz de Deus Pai. Precisamos ouvir a voz de Cristo que nos chama sermos seus seguidores e anunciadores.

Após a voz do Pai, Jesus convida os discípulos a descerem do monte ao mesmo tempo em que pede para manter em segredo sobre aquela experiência, pois ainda não é o tempo de manifestar a sua divindade a todos, porque somente na ressurreição é que tudo ficará público. É preciso descer para o dia a dia da missão e vê as diversas realidades do povo com seus sofrimentos e necessidades.

Na primeira leitura encontramos Abraão com seu filho Isaac, também no monte. Motivado pela sua fé sem limites, quer seguir os costumes da religião cananeia de sacrificar o primogênito, mas Deus interfere nesta ação e pede para não sacrificar o seu filho.

A fé de Abraão possibilitará a benção de Deus e uma descendência infinita como o número das estrelas do céu e os grãos de areia do mar. A fé de Abraão nos ensina sobre a obediência sem limites para com Deus, a ponto de sacrificar em nome de Deus o que ele mais amava: seu filho, gerado já na velhice e na esterilidade de Sara.

Podemos refletir sobre o paralelo entre a primeira leitura e o evangelho: no sacrifício de Abraão há uma prefiguração do sacrifício de Jesus. Isaac que carrega a lenha para o seu próprio sacrifício e Jesus que carrega a cruz para o calvário. A transfiguração e a crucificação de Jesus também se dão no monte (Jerusalém). Porém em Jesus há o sacrifício total e perfeito permitido pelo Pai em função da salvação de todos.

São Paulo nos lembrará que o filho de Deus não foi poupado pelo seu Pai e por isso nos entregou como garantia da nossa salvação. Jesus ressuscitou e intercede por nós (cf. Rm 8,32.34). O nosso Deus se esvaziou da sua condição por amor aos homens, numa entrega dolorosa e de esvaziamento.

Nós também queremos subir com Jesus ao monte para fazermos a experiência do encontro e da escuta com o Jesus transfigurado, que nos apresenta a sua divindade e nos ensina a descermos do monte para vivermos a missão por ele convocada.

Queremos também ter a fé de nosso Pai Abraão que viveu uma entrega total a ponto de levar Isaac, seu único filho, para ser sacrificado na fogueira. Foi impedido pela interferência de Deus que viu a sua fé sem limites.

A cada Eucaristia celebrada revivemos o nosso encontro com Jesus transfigurado e somos ao mesmo tempo enviados também para transfigurar o mundo dos que estão sofrendo nas ruas, nas drogas, com fome, presos e sem a oportunidade da acolhida da reconciliação com a vida.

Que o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó e salvador de todos, nos guie pelos nossos passos de fé e de obediência. E que o Senhor nos perdoe pelas tantas vezes que fomos desobedientes, medrosos e sem fé. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para que vivamos a humildade em nossas misérias e a coragem da mudança de vida. Amém.

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR, FESTA (ANO A)

Leituras: Dn 7,9-10.13-14; Sl 96(97); 2Pd 1,16-19; Mt 17,1-9

POESIA

ESCUTAI O MEU FILHO AMADO

Ouvi o meu Filho querido,
Diz Deus Pai nos ensinando,
Para descermos do monte,
Continuar anunciando,
Sem temer a morte e a cruz,
Ter o Senhor como luz,
Sua Palavra semeando.

Levantar e não ter medo,
O Senhor vem nos dizer,
Quer que sigamos com ele,
E esta ordem obedecer,
Pois no mundo há ilusão,
Tem morte e opressão,
E nós precisamos vencer.

Fixar o olhar em Cristo,
Pra seguir na segurança,
Fazer santa experiência,
Da nova e viva Aliança,
Viver a Transfiguração,
Abraçando a paixão,
E seguir na esperança.

Não temer a sua voz,
Que vem nos questionar,
Às vezes nos provocando,
Pra poder nos levantar,
E sair da insegurança,
Continuar as andanças,
E o Reino anunciar.

Buscar o Senhor no silêncio,
Na escuta interior,
Desfazermos do supérfluo,
E optarmos pelo amor,
Que nos faz filhos queridos,
E por Deus, sempre reunidos,
Na vida e também no louvor.

Formar a comunidade,
Na paz e na alegria,
Reunir os batizados,
Velas que ao mundo alumia,
Nutrir-se da comunhão,
Brindar sempre a união,
Pra ressurgir novo o dia.

HOMILIA

Transfiguração: sinal da glorificação eterna

“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles.” (Mt 17,1-2a). A liturgia da Transfiguração nos apresenta a manifestação de Jesus na sua realidade divina junto aos seus discípulos, antes da sua ressurreição, quando peregrinou com seus seguidores nas terras da Palestina. Palavra divina que se fez carne, veio visitar o seu povo, habitou na humanidade e mostrou a sua glória que recebeu do Pai (cf. Jo 1,14). Essa é a compreensão que nos conduz a encontrar no homem Jesus a sua natureza divina.

Temos, na segunda leitura, o belo testemunho ocular de Pedro, o qual participa daquela profunda experiência mística com Jesus, na montanha: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer’. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo.” (2Ped 1,17.18).

A transfiguração de Jesus na montanha é a realização da visão que o profeta Daniel no apresentou na primeira leitura: “… e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença” (Dn 7,13). Em Cristo se concretiza o que o profeta anunciou: “…seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. (Dn 7,14).

Prosseguindo nossa meditação, mergulharemos em outros versículos que nos ajudam em nossa caminhada de discípulos do Senhor. Moisés e Elias (a Lei e os profetas) nos levam a refletir sobre todo o processo da história da salvação que agora culminada em Jesus. Eles foram importantes, mas agora se cumpre tudo o que a antiga lei orientou e se realiza todas as profecias contidas na primeira Aliança. Pedro ainda teve a incompreensão de igualar Jesus à Moisés e a Elias, quando sugeriu as três tendas (Mt 17,4).

Como Pedro, também queremos permanecer na Transfiguração (cf. Mt 17,4). É claro que quando somos invadidos pela experiência de amor e presença do Senhor, queremos ficar sempre na montanha dos louvores, dos encontros, dos retiros, das celebrações, porque na verdade é “muito bom”. Mas é preciso partir para a missão. Faz-se necessário descermos para o encontro com as realidades humanas, onde está o sofrimento do outro e há carência da presença libertadora de Cristo.

“Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (cf. Mt 17,5). Naquela experiência dos três discípulos quando Deus Pai lhes fala, o susto toma conta de seus corações. Diante disso Jesus os tranquiliza. Levantai-vos, e não tenhais medo” (Mt 17,7). Pois a partir daquele momento precisam seguir em frente com a missão de anunciarem o Reino.

Nós também precisamos ouvir a voz do Pai o qual nos ordena escutar o seu Filho. Levantar e seguir em frente. Vencer os nossos medos e inseguranças. Quantas vezes somos marcados pelo comodismo e pessimismo e queremos ficar somente na segurança da montanha?

Na nossa caminhada, quantos medos nos invadem e nos aterrorizam, quando não escutamos a voz de Deus. Não ouvir o Filho amado é seguir por caminhos de dúvidas. Por isso em muitos momentos temos receios do novo provocado pelo Evangelho. Queremos ficar na nossa zona de conforto. A Palavra de Deus é viva e dinâmica e nos impulsiona a nos movimentar e transformar as realidades de alienação e escravidão em nova consciência que liberta o homem do relativismo religioso e ideológico. A nossa liberdade está em optar pelo caminho de Cristo para que o seu Reino cresça e fermente o mundo.

Que a força e a alegria da Ressurreição de Cristo, prefigurada na Transfiguração, nos impulsione a descermos do monte de nossas comodidades e conveniências pessoais, para seguirmos ouvindo a Palavra fortificadora e libertadora do Evangelho. Porque em nossa caminhada de discípulos e discípulas do Senhor, podemos rezar e cantar como o salmo 96(97): Porque vós sois o Altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses.” Somente em Cristo temos a verdadeira segurança e liberdade. Amém.