III Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

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⇒ Domingo da Palavra de Deus, Ano C, São Lucas ⇐

 

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8.10; Sl 19(18); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4;4,1-4-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus é o Cumprimento das Escrituras

Lc 1,1-4;4,14-21

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do III Domingo do Tempo Comum, que o Papa Francisco instituiu como “o Domingo da Palavra de Deus”, nos motiva a contemplar Jesus de Nazaré, em Seu ministério, como o cumprimento de tudo o que Deus prometeu através de Moisés e dos profetas.

Para esta Liturgia, a Igreja nos oferece, como ápice da Mesa da Palavra (o Evangelho), dois trechos distintos do Evangelho Segundo São Lucas. O primeiro é a parte introdutória do Evangelho e o segundo trata do início da pregação de Jesus (cf. Lc 4,14-15) e o Seu retorno a Nazaré (cf. Lc 4,16-30) após a tentação no deserto.

A introdução (cf. Lc 1,1-4) é dirigida a um certo Teófilo, que estudos bíblicos indicam como “amigo de Deus”, ou seja, aqueles que estão abertos ao chamado do Senhor. Nos quatro primeiros versículos, o evangelista Lucas nos apresenta, em primeiro lugar, os acontecimentos sobre Jesus (cf. Lc 1,1); depois a pregação das testemunhas oculares (apóstolos e discípulos) (cf. Lc 1,2); no terceiro momento sobre os escritos menores transmitidos pelos primeiros cristãos (cf. Lc 1,3); e, por fim, no versículo 4, o próprio escrito do Evangelho como lemos atualmente, quando o evangelista comunica sua decisão de escrever de modo ordenado (cf. Lc 1,4).

Já o segundo trecho do Evangelho desta Liturgia é composto pelos versículos de 14 a 21 do capítulo 4. A partir deste Domingo começamos a ser iluminados pela terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “O ministério de Jesus na Galileia”, que nos acompanhará até o XII Domingo do Tempo Comum e que neste ano acontecerá após a Solenidade da Santíssima Trindade.

Neste trecho do Evangelho, Jesus está na sinagoga de Nazaré, cumprindo um dos preceitos do Sábado. Na ocasião, a leitura dos profetas poderia ser comentada por qualquer pessoa autorizada pelo dirigente da assembleia. Portanto, aquele que parecia mais um encontro celebrativo foi um evento totalmente novo e após a leitura feita por Jesus todos estavam de olhos fixos n’Ele (cf. Lc 4,20). Jesus tem a permissão e faz um comentário afirmando que ali se cumpria aquela profecia de Isaías (cf. Is 61,1-2). E mesmo que a libertação de Israel fosse esperada (e desejada) a afirmação de Jesus não foi aceita e nem bem recebida.

A Boa-Nova de Jesus é uma mensagem de esperança direcionada aos pobres – os cativos, as viúvas, os estrangeiros, os órfãos, os doentes, os oprimidos; estes que esperavam a promessa de Deus desde Moisés e os profetas. Jesus é a encarnação da Palavra de Deus e também do sonho do povo prefigurado no livro de Neemias, presente na primeira leitura desta Liturgia. Ali, o sacerdote e escriba Esdras celebra com o povo a Palavra de Deus, apresentando um conjunto de orientações litúrgicas para renovar e nutrir a Aliança com o Senhor.

Ao declarar o cumprimento da Escritura (cf. Lc 4,21), Jesus nos apresenta a chegada do Reino e a redenção para todos. Também somos estimulados a vivermos plenamente a Palavra como regra principal, a fim de combatermos o relativismo que deixa o ser humano à mercê da escravidão das drogas, do álcool e de tudo aquilo que enfraquece a essência da dignidade humana.

Assim, Cristo nos fornece os recursos necessários para sermos Seus seguidores, membros do Seu Corpo, como nos exorta São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: “Vós, todos juntos, sois o Corpo de Cristo e individualmente, sois membros desse Corpo.” (1Cor 12,27). Ser membro do Corpo de Cristo é ser fraterno, sentir a dor do outro e também valorizar a dignidade independente do ter ou do poder.

E neste Domingo queremos recordar que neste ano estamos vivendo pela terceira vez “o Domingo da Palavra de Deus” como instituído, no dia de São Jerônimo em 2019, pelo Papa Francisco na sua Carta Apostólica em forma de Motu Proprio intitulada Aperuit Illis(1). “O Domingo da Palavra de Deus” nasceu no final do Ano da Misericórdia (2015-2016) quando o Papa Francisco quis que houvesse, no Ano Litúrgico, um Domingo dedicado à Palavra de Deus, seja como Sagrada Tradição, Sagrada Escritura ou como Magistério da Igreja (DV, 10)(2).

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Rainha dos Profetas, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Inspiração dos Profetas, para termos os olhos fixos em Cristo e melhor vivermos o testemunho autêntico de um discípulo missionário do Senhor. Amém.

 

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(1) Cf. Papa FRANCISCO. Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Aperuit Illis, pela qual se institui “O Domingo da Palavra de Deus”. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-francesco-motu-proprio-20190930_aperuit-illis.html>. Acesso em: 21 jan. 2022.
(2) SANTA SÉ. Dei Verbum: Constituição conciliar sobre a revelação divina. 1965. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents /vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>. Acesso em: 21 jan. 2022.

 

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⇒ POESIA ⇐

O Espírito do Senhor está sobre Nós


O Espírito do Senhor está sobre nós
Para que ilumine o nosso caminhar,
Para que purifique o nosso olhar,
Para que no Corpo do Senhor,
Encarnemos o Seu amor,
E não venhamos a desanimar.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós
Para fazermos o Reino acontecer,
No “hoje” desde o amanhecer,
Como naquele dia da Ressurreição,
Certeza da nossa Redenção,
Infinita nossa vida há de ser.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós
No seguimento de discípulos missionários,
Na vida dos pobres sendo solidários,
Para sermos “sal e luz do mundo”,
Vivendo com amor profundo,
Trabalhando como dignos operários.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós,
Na escuta da Palavra e na oração,
Como membros em fraterna comunhão,
Vivendo em Cristo o amor perfeito.
Pra ser feliz não há outro jeito,
Somente buscando a santificação.

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Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá o poder de nos tornarmos filhos de Deus (cf. Jo 1,12), ilumine o seu caminho!

 

 

III DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18(19); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21

 

⇒ POESIA ⇐

O ESPÍRITO DO SENHOR ESTÁ SOBRE NÓS

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para que ilumine o nosso caminhar,
Para que purifique o nosso olhar,
Para que no corpo do Senhor,
Encarnemos o seu Amor,
E não venhamos a desanimar.

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para fazermos o Reino acontecer,
No “hoje” desde o amanhecer,
Como naquele dia da Ressurreição,
Certeza da nossa redenção,
Infinita nossa vida há de ser.

O Espírito do Senhor está sobre nós
No seguimento de discípulos missionários,
Na vida dos pobres sendo solidários,
Para sermos sal e luz do mundo,
Vivendo com amor profundo,
Trabalhando como dignos operários.

O Espírito do Senhor está sobre nós,
Na escuta da Palavra e na oração,
Como membros em fraterna comunhão,
Vivendo em Cristo o amor perfeito.
Pra ser feliz não há outro jeito,
Somente buscando a santificação.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus é o cumprimento das Escrituras

Lc 1,1-4; 4,14-21

 

A liturgia deste Domingo, no que se refere ao Evangelho, nos apresenta dois trechos distintos de Lucas, ambos carregados de uma profunda mensagem. Na primeira parte (1,1-4) trata-se da introdução onde podemos observar as quatro etapas da formação dos evangelhos: (i) os acontecimentos sobre Jesus (cf. 1,1); (ii) a pregação dos apóstolos e discípulos de Jesus, os quais Lucas chama de testemunhas oculares e ministros da palavra (cf. 1,2); (iii) vários escritos menores também transmitidos pelos primeiros cristãos (cf. 1,2); (iv) o próprio escrito do Evangelho como lemos atualmente, quando o evangelista fala que decidiu escrever de modo ordenado (cf. 1,3).

Toda a introdução é dirigida a um certo Teófilo, que os estudos bíblicos e teológicos traduzem como “amigo de Deus”, ou seja, aqueles que estão abertos ao chamado do Senhor e querem seguir a sua Palavra e o seu caminho.

A segunda parte nos mostra Jesus indo à sinagoga como de costume. Na liturgia das sinagogas, celebradas aos sábados, eram proclamadas duas leituras: uma do Pentateuco, seguida do comentário de um especialista; e a outra tirada dos profetas, que poderia ser comentada por qualquer pessoa que tivesse a permissão do presidente da assembleia.

Parece que para muitos naquele sábado era uma celebração comum como as outras, mas não foi. Após a leitura feita por Jesus, algo era diferente: todos estavam de olhos fixos nele (cf. Lc 4,20). Jesus tem a permissão e faz uma homilia, afirmando que aquela palavra do Profeta Isaías (cf. 61,1-2) se cumpriu naquele momento. Mesmo que o povo esperasse por alguém para trazer a libertação de Israel anunciada pelos profetas foi difícil aceitar a afirmação de Jesus.

Jesus anuncia o programa da sua missão: a Boa-Nova (Boa-Notícia) direcionada aos pobres (devedores, cativos, doentes, oprimidos) que esperavam da parte de Deus tal benevolência. O olhar voltado para os pobres está mais presente em Lucas do que nos demais evangelistas, embora seja esse o projeto do Reino apresentado por Jesus. Ele é a própria Palavra encarnada, nele está encarnado o sonho do povo de Deus prefigurado na primeira leitura (livro de Neemias), quando Esdras celebra com o povo a Palavra de Deus para nutrir a esperança e para a renovação da Aliança com o Senhor. O texto de Neemias nos apresenta uma lista de orientações litúrgicas e, sobretudo, mostra-nos como deve ser o verdadeiro culto a Deus.

Ao declarar: “hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura.” (Lc 4,21) Jesus nos apresenta o cumprimento da chegada do Reino, o “hoje” determina que chegou a hora de vivermos plenamente a Palavra como regra principal, pois a libertação anunciada por Jesus é a própria redenção do homem, a salvação para todos. O vazio que torna as pessoas escravas das drogas, do álcool, da prostituição do corpo e das ideias relativistas é a maior pobreza. Além disso, o comodismo e a incoerência dos cristãos também trará consequências como a pobreza material, moral e as injustiças para os pequeninos de Deus.

Portanto, Jesus indica o que é necessário que façamos como seguidores dele e, sobretudo, como membros do seu corpo. É o que fala São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Vós, todos juntos, sois o corpo de Cristo e individualmente, sois membros desse corpo.” (1Cor 12,27). Ser membro do corpo de Cristo é sentir a dor dos outros membros, é também valorizar cada pessoa com dignidade independente do que seja, do que faça e do que tenha.

Para finalizar esta reflexão, podemos nos perguntar: qual o meu programa de vida cristã? Como batizado, será que tenho os olhos fixos em Cristo, para melhor viver o testemunho autêntico de um discípulo missionário do Senhor?

Peçamos ao Espírito Santo que nos conduza na nossa missão de seguidores de Cristo, sempre se sentindo como membro do Corpo de Cristo. Amém!