VIII Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Eclo 27,5-8; Sl 92(91); 1Cor 15,54-58; Lc 6,39-45

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Autêntico Exame de Consciência

Lc 6,39-45

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VIII Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré, o Cordeiro de Deus, no “Sermão da Montanha”, hoje nos apresentando a necessidade de um profundo exame de consciência. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,39-45, sequência do Domingo passado.

Nesta Liturgia, Jesus ainda continua no contexto do “Discurso Inaugural”(1) nas proximidades de Cafarnaum, a cidade em que Ele habitou (cf. Mt 4,12;9,1) em cumprimento da profecia de Isaías que diz que Deus não deixará sem luz os que padecem na região da sombra da morte (cf. Mt 4,13-16).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta, ainda na sequência das bem-aventuranças, as quais vimos nos dois últimos Domingos, mais um recurso para o vocacionado, para o discípulo, para que ele alcance e anuncie o Reino de Deus: a permanente vigilância do que está cultivando no próprio coração. Convém recordar que na Bíblia o coração representa o território das emoções, dos sentimentos, mas principalmente o centro da razão e das decisões.

O Senhor quer que os Seus seguidores imprimam na alma uma nova forma de relação com as pessoas e também entre eles próprios. Jesus pergunta: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39). Como, em vista da missão, o discípulo poderia “guiar” as pessoas em busca do Reino se não percebesse também seus próprios limites e obstáculos?

Mais adiante, Jesus fala: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,42). Os discípulos, chamados a serem também luz do mundo (cf. Mt 5,14), necessitavam tirar de sua vida aquilo que os impediam de enxergar o mundo e as pessoas com os olhos de Deus. Não podemos ajudar o outro se não tirarmos as traves que nos impedem de nos reconhecermos como somos. O risco é de acabamos agindo hipocritamente, pois como podemos iluminar a vida das pessoas sem estarmos iluminados?

Jesus também lembra da árvore que deve ser reconhecida pelos seus frutos (cf. Lc 6,43). Os frutos do cristão deve ser a paz, a justiça, sabedoria, a fraternidade, o perdão, o cuidado com os pobres e necessitados da Providência de Deus. E do cultivo de tais valores no coração poderá brotar atitudes coerentes com o Evangelho.

As orientações de Jesus aos Seus discípulos também são destinadas a todos nós e refletem perfeitamente as palavras contidas na primeira leitura desta Liturgia. Diz o autor sagrado do Eclesiástico: “Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa, O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem.” (Eclo 27,6-7).

Portanto, irmãos e irmãs, a Liturgia de hoje nos estimula fortemente a fazermos um profundo exame de consciência, a ponto de tirarmos os obstáculos, as traves, que represam em nós o egoísmo, a ganância, o individualismo e a falta de convivência fraternal. Enxergando o seu caminho, sua vida e sua missão, o discípulo poderá, pelo seu exemplo, guiar outros a Jesus.

Somente a humildade, que nos leva ao reconhecimento de nossa condição humana, poderá nos fazer novas criaturas. O cultivo da sabedoria que vem de Deus nos fará produzir bons frutos em qualquer fase de nossa vida. O salmo 91 nos exorta: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.”

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, unção de todos os santos, para que tenhamos a atitude de confiança dos noivos das bodas de Caná, pois o vinho melhor é promessa para nós e através de nós. É com a graça e a força de Deus que podemos viver estas máximas de Jesus, sendo iluminados por Deus e sendo instrumento de Sua luz para o próximo. Amém.

*   *   *
(1) No Evangelho Segundo São Mateus é conhecido como “Sermão da Montanha” (cf. Mt 5,1-7,29).

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Sabedoria que Vem do Alto


Ações sábias alegram o coração de Deus,
Pois do Senhor brota o sumo bem,
Que alimenta a santidade do homem,
Que lhe faz coerente também,
Porque o coração cheio de amor,
Traz para a vida a força e o ardor,
Que aos bons e justos convém.
*
E os olhos limpos das tantas traves,
Fará o sábio para o mundo iluminar,
Porque a sabedoria vem da luz de Deus,
Que ao seu coração vem a orientar,
Para seguir em frente como caminheiro,
Pela longa estrada caminhará inteiro,
Firme e iluminado e sem tropeçar…
*
Quem for discípulo como seu mestre,
Carregará o amor como fundamento,
No ministério do seu dia a dia,
Será da paz em qualquer momento,
Nascerão bons frutos da sua missão,
No seu caminhar terá compaixão,
Seu testemunho será ensinamento.
*
Cristãos iluminados pelo Senhor,
Curados das trevas e das cegueiras,
Fazendo-os também a outros se guiarem,
E se livrarem das trilhas traiçoeiras,
Que às vezes tentam os atropelar,
Porque a vida é este trilhar,
Existência que se faz em nós verdadeira.
*
A comunhão nos traz a lucidez,
Pois o olhar do outro pode nos orientar,
E assim o encontro nos conduz à cura,
Em vista de a nossa vida transformar,
Porque a boa mensagem é fruto do seguidor,
Sentido e fortaleza que vem do Senhor,
Pela Boa Notícia a nos alegrar.

*   *   *

 

Extrato da obra “O Sermão da Montanha” (1920), de H. Copping, In wikipedia.org – “File:Harold Copping – The sermon on the mount – (MeisterDrucke-52362).jpg”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos apresenta mais uma fonte de recursos para realizarmos a nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

VI Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Jr 17,5-8; Sl 1; 1Cor 15,12.16-20; Lc 6,17.20-26

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Felicidade que Não se Acaba

Lc 6,17.20-26

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VI Domingo do Tempo Comum, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar Jesus apresentando as bem-aventuranças aos pobres e o alerta aos ricos. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,17.20-26.

Nesta Liturgia, Jesus continua percorrendo a Galileia, possivelmente ao pé da colina de Tabgha, onde fica a Igreja da Multiplicação (também conhecida como Igreja do Primado de São Pedro). Tabgha está entre Genesaré e Cafarnaum.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta o programa do vocacionado, ou seja, aqueles que são chamados a serem discípulos e missionários. E as bem-aventuranças – e as ameaças aos ricos – são apresentadas por Jesus após a eleição do grupo dos Doze (cf. Lc 6,12-16). O Evangelista nos conta que, ao descer da montanha e, diante de uma imensa multidão oriunda da Judeia, de Jerusalém e de Tiro e Sidônia, Jesus ensina aos Seus discípulos (cf. Lc 6,17.20).

Jesus se dirige aos pobres – sejam famintos, odiados, perseguidos (cf. Lc 6,20-22) – e Sua pregação revela uma realidade que oprime o povo com fome, angústia, hostilidade. Mas a pregação do Jovem Galileu também traz um alento e revela o amor (a caridade), a esperança e a fé como recursos para que os discípulos (os vocacionados) alcancem e anunciem o Reino de Deus.

Jesus, o Profeta por excelência, anuncia e denuncia o sofrimento do povo expondo um conflito com a elite religiosa (e política) de sua época. Na segunda parte do Evangelho desta Liturgia (cf. Lc 6,24-26) a Palavra se volta, em modo de ameaça, aos ricos. E diz Jesus: “Ai de vós ricos, porque já tende vossa consolação… Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!” (Lc 6,24-25). Deste modo, Jesus quer converter os que agem com avareza e zombaria, para que usem seus dons (bens e capacidades) para uma vida de amor (uma vida de caridade e de fraternidade).

Os que buscam experiência da confiança no Senhor e que lutam por um mundo melhor são como “como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca de umidade, por isso não teme a chegada do calor: sua folhagem mantém-se verde” (Jr 17,8). Portanto, a primeira leitura desta Liturgia nos indica que é Deus a fonte da nossa força quando somos atingidos pelo sofrimento, provindo da pobreza, da opressão e das calúnias – consequência do exercício do discipulado.

A Palavra de Deus será sempre o alimento e o guia para o cristão seguir em frente com desprendimento (ou seja, a pobreza evangélica), pois os bem-aventurados encontram em Deus o sentido pleno de suas existências, sem reproduzir atitudes desumanas, incoerentes com o Evangelho. A cada encontro com o Senhor, através de Sua Palavra, todos somos convidados a refletir sobre o sentido das bem-aventuranças.

recisamos entender que as bem-aventuranças não representam uma apologia ao sofrimento vitimista, mas é uma forma de fazer a vontade de Deus, proporcionando o encontro com a verdadeira felicidade, pois as bem-aventuranças (ou as felicidades) nos apontam para a vida eterna, onde tudo é pleno e permanente.

Portanto, irmãos e irmãs, podemos nos perguntar: como está nossa vida de seguidor e de servidor de Cristo? Como agimos no nosso dia a dia? Em quem depositamos nossa confiança? E a resposta para tais questões podemos encontrar na experiência da fé no Ressuscitado, pois Cristo é o fundamento que nos faz seguir vivendo como peregrinos em busca da felicidade plena.

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, escreve na Primeira Carta aos Coríntios: “na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram.” (1Cor 15,20). Nossa fé cristã deve se fundamentar nessa verdade para que possamos prosseguir com segurança no discipulado a serviço do Reino de Deus.

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Distribuidor dos Dons Celestes, para que possamos ouvir como discípulos e falar (anunciar) como missionários a Boa-Nova das bem-aventuranças. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Raízes Mais Profundas da Vida


Como a raiz da árvore próxima ao rio,
Buscando a energia e a força vital,
Assim é o homem que busca o Senhor,
Vivendo sua essência original,
Com os pés no chão da vida, firmando,
Com segurança ele vai caminhando,
Sendo mensageiro e para o mundo um sinal.
*
Seguir o caminho da vida aventurada,
Na busca do verdadeiro sentido,
Nos propósitos das bem-aventuranças,
Com o caminho iluminado e fortalecido,
Sem se render a uma posição superficial,
Mas mergulhando na Palavra que é sinal,
E nos braços de Deus – Amor e Pai querido!
*
O Senhor nos alerta a viver a felicidade,
Que se constrói pela nossa conversão,
Que se expressa na coerência e bondade,
Porque Ele nos ensina a compaixão,
Nos motiva a vivermos no sumo bem,
Abraçados pela sua misericórdia também,
Porque Ele nos oferece a Redenção.
*
A Palavra do Senhor é também alimento,
Para os peregrinos da paz e da alegria,
Para os que promovem a justiça e a vida,
Na realidade da criação, a cada dia,
Porque Deus nos criou para a felicidade,
Para comunhão, o encontro e a fraternidade,
Como Pai amoroso nos fortalece e nos sacia!

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá o alimento e o guia para a realização da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

V Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Is 6,1-2a.3-8; Sl 138(137); 1Cor 15,1-11; Lc 5,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

“Eis-me Aqui, Envia-me!”

Lc 5,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do V Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar a vocação como uma iniciativa de Cristo. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 5,1-11.

Nesta Liturgia, Jesus está nas margens do lago de Genesaré(1). Genesaré ficava situada entre Cafarnaum e Magdala, que são separadas por uma distância de 10 quilômetros.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta a dimensão vocacional. Anteriormente, no Domingo passado, vimos que Jesus agiu e falou sozinho, mas agora estará em movimento, fora do espaço religioso e às margens do Lago, formando, assim, o Seu grupo (discípulos e Apóstolos) e futuros missionários a todas as nações (cf. Lc 24,44-48).

Para isso, a Liturgia nos apresenta o Evangelho em três momentos: o primeiro é a pregação à multidão (cf. Lc 5,1-3); o segundo é a pesca milagrosa (cf. Lc 5,4-7); e terceiro é o chamado aos quatro primeiros discípulos (cf. Lc 5,8-11).

Podemos imaginar o cenário daquela manhã às margens do Lago: uma multidão que cerca Jesus; pescadores desanimados pelo insucesso do trabalho noturno e barcos vazios de peixe. Depois de dar o ensino às multidões, Jesus ordena a Pedro e aos seus companheiros que lancem suas redes em águas mais profundas (cf. Lc 5,4), pois estavam na margem.

Como resultado, eles pescam uma abundância de peixes que chega a romper as redes. Em resposta, Pedro, aos pés de Jesus, diz “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). Isso indica que começa a acontecer o reconhecimento de que Jesus é o Senhor e Ele mesmo já sinaliza para a sua Ressurreição quando vencerá a morte, dando-nos a prova de que Ele é o Deus verdadeiro e quer que todos ressuscitem.

O momento final é o chamado para serem pescadores de homens e lançarem suas redes anunciando a chegada do Reino. E a resposta está contida numa belíssima descrição. Diz o Evangelista: “Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.” (Lc 5,11).

A barca simboliza a Igreja onde Jesus sacia os famintos (uma imagem da Mesa da Palavra) e onde também Jesus opera o milagre da abundância (imagem da Mesa da Eucaristia). Ao nos dar o ensino e o milagre da abundância, Jesus nos fornece elementos essenciais para combater o desânimo, a desmotivação e a desesperança. Mas há um detalhe importante: para ensinar, Jesus tinha à sua disposição duas barcas (cf. Lc 5,2) e Ele escolhe a de Pedro (cf. Lc 5,3). Naquele dia, a barca de Pedro, “uma barca petrina”, foi um verdadeiro ambão, uma verdadeira Mesa da Palavra.

Sendo obediente, o discípulo precisa ir além das práticas religiosas e se lançar no mundo como testemunha da Salvação. E diante do desânimo e da debilidade, se volte para Deus, fonte de coragem para ser sal e luz do mundo no caminho que Deus mesmo indica. Para isso, é preciso discernir quando deixar aquilo que para nós “é tudo” e seguir em frente, mesmo continuando a nossa profissão, mas colocando os dons (bens e capacidades) a serviço da Missão.

Recordarmos que neste mês as intenções do Papa Francisco, herdeiro da barca de Pedro, estão voltadas para as religiosas e consagradas, que respondem a muitos desafios e são exemplos de fé, esperança e caridade, num tempo carente de pão, fruto da terra, mas também, e sobretudo, do Pão descido do Céu que nos sacia verdadeiramente (cf. Jo 6,58).

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Torre de Marfim, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Espírito das Virtudes, para sermos melhores cristãos, pois, como diz São Paulo, pela graça de Deus (cf. 1Cor 15,10) e completemos com as palavras do profeta Isaías: “aqui estou! Envia-me!” (cf. Is 6,8). Amém.

*   *   *
(1) Depois de ser expulso de Nazaré (cf. Lc 4,29), Jesus vai para Cafarnaum (cf. Lc 4,31-41). Em seguida, sai de Cafarnaum em segredo e vai pregar nas sinagogas da Judeia (cf. Lc 4,42-44).

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Avancemos para a Messe


Avancemos para os campos,
Para as cidades, vilas e favelas,
Anunciemos nelas,
O dom do amor,
Também do fervor,
Sempre a proclamar,
E acreditar,
No que diz o Senhor.
*
Avancemos com a barca de Jesus,
Em busca das multidões,
Em mutirões,
Para viver a pesca,
Pois ainda resta,
A nossa obediência,
Na paciência,
E na vida honesta.
*
Avancemos com os discípulos,
Que firmes seguiram,
E se uniram,
A caminhar,
Vivendo a pregar,
As vezes a cair,
Mas sem desistir,
Sempre a levantar.
*
Avancemos para os mundos humanos,
Em suas existências,
Com suas essências,
Se fazendo união,
Na vida de irmãos,
Nas tantas partilhas,
Nas estradas e trilhas,
Pela comunhão!

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que tem a iniciativa da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

IV Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐

 

Leituras: Jr 1,4-5.17-19; Sl 71(70); 1Cor 12,31-13,13; Lc 4,21-30

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Caridade como Chave para o Reino de Deus

Lc 4,21-30

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré, em Seu ministério, como sendo o cumprimento de tudo o que Deus prometeu ao povo através de Moisés e dos profetas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 4,21-30, sequência, do tipo revezamento, do Evangelho do Domingo passado.

Nesta Liturgia, Jesus continua na Sinagoga de Nazaré, em observação a um dos preceitos do Sábado, quando anunciou o cumprimento da profecia de Isaías (cf. Is 61,1-2) sobre a chegada do Enviado do Pai portador da Boa-Nova aos pobres.

Para esta Liturgia, o início do Evangelho que a Igreja nos oferece é o final do Texto do Domingo passado, em Lc 4,21, que diz: “Então começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura’.” A afirmação de Jesus provoca reação em dois grupos diferentes: os que davam testemunho a Seu respeito pelas palavras que saíam da Sua boca (cf. Lc 4,22); e os que ficaram furiosos – estes O expulsaram da cidade e queria lançá-Lo no precipício (cf. Lc 4,28-29).

O Evangelho desta Liturgia nos proporciona dois elementos para meditarmos sobre a nossa ação evangelizadora. O primeiro é o fato de Jesus ser um conterrâneo: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22) e o segundo, que provoca a fúria de alguns, é que o Enviado do Pai não está a serviço de um grupo de privilegiados, como Jesus mesmo faz memória da ação de Deus em favor de estrangeiros como a viúva em Sarepta (cf. 1Rs 17,7-24) e do leproso Naamã (cf. 2Rs 5,1-27).

Pois bem, como discípulos missionários do Senhor precisamos caminhar com a pertença de algum lugar e com a liberdade profética que nos leva onde quer o Senhor. Na pregação sempre haverá os que escutam e ficam até admirados (e elogiam), depois dão testemunhos como seguidores do Senhor. Por outro lado, há os que não aceitam e até matam os profetas da verdade.

Na primeira leitura desta Liturgia, ouvimos sobre a vocação do profeta Jeremias. Diz o texto sagrado: “antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações.” (Jr 1,5). Somos, enquanto cristãos, chamados a pregar a experiência de ser como Cristo, que foi hostilizado (e ignorado) e perseguido. O chamado profético quer a nossa adesão, que nos aprofundemos na Palavra e que sejamos testemunhas do projeto salvífico no mundo (cf. CIgC 785).

Há, ainda, outra dimensão própria dos cristãos, presente tanto em Jeremias quanto em Lucas: a universalização da Palavra, em que todos são os destinatários da salvação, mas livres para aceitar ou rejeitar o Chamado de Cristo. Vimos, desde os profetas do Antigo Testamento, que a liberdade esperada pelos hebreus era destinada a todas as nações.

A segunda leitura desta Liturgia, da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, nos exorta para abraçar as virtudes necessárias para nos firmarmos na caminhada com o Senhor. Diz o Apóstolo: “atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13). Tudo o que fazemos deve ser fundamentado no amor caritativo, para que nossa pregação não caia no vazio e nossa ação social não seja apenas uma filantropia que não aponta para Deus e Seu projeto salvífico.

Por fim, peçamos a intercessão de São João da Cruz, Doutor Místico da Igreja e um dos principais ícones do Carmelo, que sejamos fortes para abraçar nossas circunstâncias com a certeza de que, como disse o próprio São João da Cruz, “ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo Amor”. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Marcados pelo Amor


Somente no amor,
Somos capazes de caminhar,
Seguir firmemente e sem desanimar,
Caminhar com o coração livre e dizer:
Que a caridade não se deixa vencer,
Pois o nosso julgamento final será pelo amor.
Quando em nós houve o agir acolhedor,
E a esperança nunca a desaparecer!
*
Somente com o amor,
Exalamos o perfume da vida verdadeira,
Vindo da Flor que sai da Videira,
Vida que segue até eternamente,
Se estendendo com calma e fraternalmente,
Fundamentada na Palavra sempre viva,
Encarnada e com a unção ativa
Que se cumpre no hoje no povo crente.
*
Somente no amor,
Semeamos também nos gestos de profecia,
Da verdade não aceitada que se anuncia,
Porque a Palavra está na boca dos profetas,
Para que as almas estejam despertas,
Denunciam as mentiras e as injustiças,
Os poderes, opressões e as cobiças,
E por isso caminha também em alerta!
*
Somente com o amor,
Somos capazes de entender,
Que desde o ventre e ao nascer,
Fomos por Deus, chamados e amados,
A serviço do Reino a ser implantado,
Que se dar na vida e na comunhão,
Na comunidade viva dos irmãos,
No encontro que nos faz congregados.

*   *   *

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos trouxe as virtudes necessárias para nos tornarmos filhos de Deus (cf. Jo 1,12), ilumine o seu caminho!

 

 

III Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Domingo da Palavra de Deus, Ano C, São Lucas ⇐

 

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8.10; Sl 19(18); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4;4,1-4-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus é o Cumprimento das Escrituras

Lc 1,1-4;4,14-21

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do III Domingo do Tempo Comum, que o Papa Francisco instituiu como “o Domingo da Palavra de Deus”, nos motiva a contemplar Jesus de Nazaré, em Seu ministério, como o cumprimento de tudo o que Deus prometeu através de Moisés e dos profetas.

Para esta Liturgia, a Igreja nos oferece, como ápice da Mesa da Palavra (o Evangelho), dois trechos distintos do Evangelho Segundo São Lucas. O primeiro é a parte introdutória do Evangelho e o segundo trata do início da pregação de Jesus (cf. Lc 4,14-15) e o Seu retorno a Nazaré (cf. Lc 4,16-30) após a tentação no deserto.

A introdução (cf. Lc 1,1-4) é dirigida a um certo Teófilo, que estudos bíblicos indicam como “amigo de Deus”, ou seja, aqueles que estão abertos ao chamado do Senhor. Nos quatro primeiros versículos, o evangelista Lucas nos apresenta, em primeiro lugar, os acontecimentos sobre Jesus (cf. Lc 1,1); depois a pregação das testemunhas oculares (apóstolos e discípulos) (cf. Lc 1,2); no terceiro momento sobre os escritos menores transmitidos pelos primeiros cristãos (cf. Lc 1,3); e, por fim, no versículo 4, o próprio escrito do Evangelho como lemos atualmente, quando o evangelista comunica sua decisão de escrever de modo ordenado (cf. Lc 1,4).

Já o segundo trecho do Evangelho desta Liturgia é composto pelos versículos de 14 a 21 do capítulo 4. A partir deste Domingo começamos a ser iluminados pela terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “O ministério de Jesus na Galileia”, que nos acompanhará até o XII Domingo do Tempo Comum e que neste ano acontecerá após a Solenidade da Santíssima Trindade.

Neste trecho do Evangelho, Jesus está na sinagoga de Nazaré, cumprindo um dos preceitos do Sábado. Na ocasião, a leitura dos profetas poderia ser comentada por qualquer pessoa autorizada pelo dirigente da assembleia. Portanto, aquele que parecia mais um encontro celebrativo foi um evento totalmente novo e após a leitura feita por Jesus todos estavam de olhos fixos n’Ele (cf. Lc 4,20). Jesus tem a permissão e faz um comentário afirmando que ali se cumpria aquela profecia de Isaías (cf. Is 61,1-2). E mesmo que a libertação de Israel fosse esperada (e desejada) a afirmação de Jesus não foi aceita e nem bem recebida.

A Boa-Nova de Jesus é uma mensagem de esperança direcionada aos pobres – os cativos, as viúvas, os estrangeiros, os órfãos, os doentes, os oprimidos; estes que esperavam a promessa de Deus desde Moisés e os profetas. Jesus é a encarnação da Palavra de Deus e também do sonho do povo prefigurado no livro de Neemias, presente na primeira leitura desta Liturgia. Ali, o sacerdote e escriba Esdras celebra com o povo a Palavra de Deus, apresentando um conjunto de orientações litúrgicas para renovar e nutrir a Aliança com o Senhor.

Ao declarar o cumprimento da Escritura (cf. Lc 4,21), Jesus nos apresenta a chegada do Reino e a redenção para todos. Também somos estimulados a vivermos plenamente a Palavra como regra principal, a fim de combatermos o relativismo que deixa o ser humano à mercê da escravidão das drogas, do álcool e de tudo aquilo que enfraquece a essência da dignidade humana.

Assim, Cristo nos fornece os recursos necessários para sermos Seus seguidores, membros do Seu Corpo, como nos exorta São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: “Vós, todos juntos, sois o Corpo de Cristo e individualmente, sois membros desse Corpo.” (1Cor 12,27). Ser membro do Corpo de Cristo é ser fraterno, sentir a dor do outro e também valorizar a dignidade independente do ter ou do poder.

E neste Domingo queremos recordar que neste ano estamos vivendo pela terceira vez “o Domingo da Palavra de Deus” como instituído, no dia de São Jerônimo em 2019, pelo Papa Francisco na sua Carta Apostólica em forma de Motu Proprio intitulada Aperuit Illis(1). “O Domingo da Palavra de Deus” nasceu no final do Ano da Misericórdia (2015-2016) quando o Papa Francisco quis que houvesse, no Ano Litúrgico, um Domingo dedicado à Palavra de Deus, seja como Sagrada Tradição, Sagrada Escritura ou como Magistério da Igreja (DV, 10)(2).

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Rainha dos Profetas, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Inspiração dos Profetas, para termos os olhos fixos em Cristo e melhor vivermos o testemunho autêntico de um discípulo missionário do Senhor. Amém.

 

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(1) Cf. Papa FRANCISCO. Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Aperuit Illis, pela qual se institui “O Domingo da Palavra de Deus”. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-francesco-motu-proprio-20190930_aperuit-illis.html>. Acesso em: 21 jan. 2022.
(2) SANTA SÉ. Dei Verbum: Constituição conciliar sobre a revelação divina. 1965. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents /vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>. Acesso em: 21 jan. 2022.

 

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⇒ POESIA ⇐

O Espírito do Senhor está sobre Nós


O Espírito do Senhor está sobre nós
Para que ilumine o nosso caminhar,
Para que purifique o nosso olhar,
Para que no Corpo do Senhor,
Encarnemos o Seu amor,
E não venhamos a desanimar.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós
Para fazermos o Reino acontecer,
No “hoje” desde o amanhecer,
Como naquele dia da Ressurreição,
Certeza da nossa Redenção,
Infinita nossa vida há de ser.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós
No seguimento de discípulos missionários,
Na vida dos pobres sendo solidários,
Para sermos “sal e luz do mundo”,
Vivendo com amor profundo,
Trabalhando como dignos operários.
*
O Espírito do Senhor está sobre nós,
Na escuta da Palavra e na oração,
Como membros em fraterna comunhão,
Vivendo em Cristo o amor perfeito.
Pra ser feliz não há outro jeito,
Somente buscando a santificação.

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Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá o poder de nos tornarmos filhos de Deus (cf. Jo 1,12), ilumine o seu caminho!

 

 

II Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐

 

Leituras: Is 62,1-5; Sl 96(95); 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Fazei Tudo o que o Senhor Vos Disser

Jo 2,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do II Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar a oração da Virgem Maria que nos indica para fazer tudo o que o Senhor nos disser. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 2,1-11, passagem conhecida como “as bodas de Caná” e que está localizada no anúncio da nova economia da salvação (cf. Jo 1,19-4,54) no início da segunda parte do Evangelho segundo São João, intitulada “O ministério de Jesus” (cf. Jo 1,19-12,50).

Nesta Liturgia, Jesus está em Caná, próxima do Mar da Galileia e muito próxima de Nazaré.

Na cultura judaica, as festas de casamento duravam em média uma semana e o vinho era a bebida principal, a qual não poderia faltar. Mas naquela festa, faltou vinho. A Virgem Maria, percebendo a situação constrangedora dos noivos e consciente de que Jesus poderia resolver o problema, pede que Ele encontre uma saída e depois diz aos servos da festa que obedecessem ao Senhor (cf. Jo 2,5).

E Jesus opera o Seu primeiro milagre, que o evangelista João chama “sinal”, pois a água transformada em vinho é sinal de vida nova ao mesmo tempo em que já aponta para a Sua Ressurreição e a certeza da nossa salvação por meio d’Ele. O vinho novo também se relaciona com a Eucaristia quando é transformado no Corpo e Sangue do Senhor, o sangue da Nova Aliança que nos conduz à nossa redenção.

A passagem das bodas de Caná nos fornece alguns pontos para meditação. O primeiro é sobre a intercessão da Virgem Maria, a “nova Eva” que nos conduz à salvação e nos pede para fazermos tudo o que nos manda Cristo (cf. Jo 2,5).

O segundo ponto de meditação é o sinal, o milagre em si que resgata o Antigo Testamento, presente na primeira leitura desta Liturgia. A profecia de Isaías diz que “não mais te chamarão Abandonada, e tua terra não mais será chamada Deserta; teu nome será Minha Predileta e tua terra será a Bem-Casada, pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada.” (Is 62,4). Em cumprimento à profecia de Isaías, Jesus é o esposo fiel da Igreja e doa o Seu Corpo e Seu Sangue que alimenta a própria esposa, a Igreja, para que se torne a presença do Reino no mundo.

O terceiro ponto é que, segundo o evangelista João, foi o sinal, o milagre que fez com que os discípulos acreditassem em Jesus. A partir do encontro e da vivência com o Senhor devemos testemunhar, como missionários, o próprio Cristo num mundo de tantas controvérsias. Deus é o esposo fiel, mesmo diante das nossas infidelidades. Ele que não deixa acabar o vinho da alegria e do amor na festa da nossa vida.

Não podemos esquecer que o Matrimônio é um grande sinal do Reino no mundo, expresso na vida conjugal pelo amor na unidade, no diálogo e na fidelidade. A família que vive tais virtudes é sinal da presença de Deus e do vinho novo transbordado desde Caná.

E nesta Liturgia, queremos fazer memória de São Simão e São Judas Tadeu, que são cultuados no dia 28 de outubro. Algumas tradições(1) nos indicam que São Simão é o mestre-sala das bodas de Caná que atestou a qualidade do vinho bom e São Judas o noivo das bodas de Caná.

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, unção de todos os santos, para que tenhamos a atitude dos servos da festa e sejamos obedientes e assíduos na meditação da Palavra de Deus que nos converte, que nos chama e depois pela fé nos torna discípulos missionários de Cristo, como Maria. Amém.

 

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(1) Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br.

 

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⇒ POESIA ⇐

Festa do Vinho Novo


Convidamos o Senhor
Para a festa nova da nossa vida,
Para matar a sede que nos torna tristes,
Para transformar a estrada percorrida,
Superando a barreiras que existem,
E que torna nossa história sofrida.
*
Convidamos a nossa Santa Mãe,
Que percebe nossas dificuldades,
Quando não temos o suficiente,
Para prosseguir o encontro com a verdade.
Pois nem sempre há clareza existente,
Para seguir o caminho da unidade.
*
Convidamos ainda os primeiros seguidores,
Que pela fé aderiram o Senhor,
Para sempre foram anunciadores,
Mesmo diante das barreiras e da dor,
Viveram a santidade como grandes pregadores,
Entregaram a vida com radical amor.
*
Que sejamos servos obedientes,
Quando o Senhor algo nos pedir,
Possamos exercer a liturgia da vida,
Vivendo a santidade agora e aqui,
Que nossa missão nunca seja esquecida,
E que o vinho novo possa sempre existir.
*
Que a mesa santa traga-nos a fraternidade,
E os gestos falem mais do que pronunciamentos,
Trazendo os sinais da transformação,
E a alegria viva como fermento,
A justiça e a paz via de comunhão,
E o amor na vida: sentido e sustento.

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Extrato da obra “As Bodas de Caná”, de J. Tissot, In brooklynmuseum.org – “The Marriage at Cana (Les noces de Cana)”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá o alimento novo e a bebida nova, ilumine o seu caminho!