XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 66,18-21; Sl 116(117); Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30

 

“Jesus discutindo com os judeus, um evento comum durante o seu ministério” , por J. Tissot (1886-1894)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A porta do Reino

Lc 13,22-30

 

Neste 21º Domingo do Tempo Comum, a liturgia da palavra nos apresenta um texto de São Lucas (cf. 13,22-30), onde Jesus nos fala que a porta do Reino Eterno é estreita e exige, de cada um de nós, força para cumprir os critérios para entrar no Reino e ser conhecido por ele.

Alguém perguntou a Jesus: “Senhor é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). Talvez esta seja a pergunta de muitos dos que estão nas missas nos domingos ou que participam todos os dias. Talvez seja também a pergunta dos que fazem parte dos diversos ministérios responsáveis pela liturgia e buscam cumprir todas as normas e ritos.

A resposta de Jesus, como sempre, não vem com um sim ou um não, mas trará um apelo para os seus ouvintes: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24). Portanto, a resposta de Jesus não é se são poucos ou muitos os que se salvam, mas ele ensina o que se deve fazer para entrar no seu Reino. E Jesus vai além. Ele ensina como fazer: uma maneira é se esforçando para entrar pela porta estreita. Qual a chave para podermos entrar por esta porta que nos leva à salvação? O que poderá me atrasar à chegada da porta do Reino?

Neste texto de Lucas, Jesus nos ensina que precisamos nos esforçar para poder chegarmos a tempo à porta que leva ao Reino definitivo. Esforçarmos para viver o amor, o perdão, a fraternidade e a prática da Justiça. Porque o seu Reino não é para um grupo de privilegiados, mas para os que vivem o que ele anunciou ao mundo, isto sem discriminação de cultura, raça ou nação.

Por isso ele nos diz: “Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,29). Ou seja, a salvação de Deus é oferecida a todos os homens que seguem o caminho de Jesus e que já foi anunciado muito tempo antes pelo profeta Isaías: “Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória” (Is 66,18). Em Jesus se cumpre a promessa da salvação universal anunciada pelos profetas.

Agora ficam duas reflexões para nós cristãos que ouvimos a Palavra e buscamos nos aperfeiçoar no caminho de Jesus. Primeiramente, já sabemos o que devemos fazer para chegar a tempo à porta estreita e depois sermos acolhidos pelo dono da casa celestial. Depois, não devemos ignorar os outros que, mesmo sem o completo conhecimento dos valores do evangelho, poderão fazer parte da mesa do Reino de Deus.

Jesus nos fala que será grande o nosso sofrimento, haverá choro e ranger de dentes, se nós, que comemos e bebemos da Mesa do Senhor e que escutamos sua Palavra, chegarmos atrasados à porta e depois o dono da casa não nos conhecer. Porque durante o caminhar terrestre com Jesus não fomos capazes de testemunhar o bem, a simplicidade, a humildade, promover a paz, realizar a caridade para com o necessitado, ou seja, viver as bem-aventuranças que ele anunciou a todos.

Rezemos neste dia por todos os catequistas, os quais são responsáveis nas comunidades paroquiais por ajudar as crianças, os jovens e os adultos fazerem a experiência de encontro com o Senhor Jesus, ele que viveu a paixão de amor à humanidade, foi crucificado e que ressuscitou para nos oferecer a vida que nunca terá fim.

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⇒ POESIA ⇐

A porta do Reino de Deus

 

Busquemos a entrada da porta do Reino,
Antes que esteja para nós, fechada!
Busquemos viver os valores do amor maior,
Para que não percamos neste Reino a entrada.

Corramos para anunciar a todos os irmãos,
Que a porta está a nossa espera para nos acolher,
Mas para isso é preciso seguir o Senhor,
Nos caminhos do seu amor que nos faz crescer.

Imitemos os gestos, e o agir de Cristo,
Andemos vivendo o que ele nos pediu,
Com um caminhar firme e alegre viver,
Junto à mesa Santa que ele nos reuniu.

Mas também acolhemos a todos
Como o Senhor abraçou aos que lhe seguiram,
Porque há muitos que estão tão perto,
Mas que por outros caminhos se decidiram.

Sigamos, sigamos em frente e sem olhar para trás,
Mirando no essencial que nos leva à vida,
Pois a porta estreita nos faz contemplar o Céu,
E porta larga é um beco sem saída.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Sb 18,6-9; Sl 32(33); Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48

 

“A parábola do servo fiel e prudente”, por Jan Luyken (1649-1712)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Vivendo a segurança e a vigilância no Senhor

Lc 12,32-48

 

Vencermos o medo, sermos caridosos, estarmos atentos, abraçarmos o desprendimento e vivermos a fé, é o que a liturgia da Palavra nos pede neste 19º Domingo do Tempo Comum, através do Evangelho de Lucas, do livro da Sabedoria e da Carta aos Hebreus.

Jesus está formando os seus discípulos, orientando-os para a experiência das realidades do Reino. E para que os seus seguidores estejam preparados, em primeiro lugar, devem perder o medo daquilo que os atrapalham no caminhar, pois o medo os desvia-os do foco, ou seja, do caminho e da missão.

Jesus os chama de pequeno rebanho, nome que lembra o povo de Israel. O grupo dos discípulos agora é o novo Israel que segue a caminho da libertação plena. Libertação que o Senhor realizou na ressurreição, quando venceu para sempre a morte, e nos presenteou com a vida nova… Vida banhada pelo seu sangue libertador, motivada pela paz, iluminada e conduzida pelo Espírito Santo.

Outro assunto refletido por Jesus é a esmola, pois segui-lo é viver a doação e a partilha, não somente dos ideais e projetos, mas também dos bens materiais, os quais são muitas vezes empecilhos para cultivarmos o bem maior que é o céu. Jesus agora pede aos discípulos essa atitude, porque percebe a dificuldade que ainda tinham em colocar no coração o desejo de construir tesouros eternos, santos, seguros e imperecíveis.

Em seguida, Jesus orienta para a vigilância: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). Esse é um dos maiores desafios para os que seguem o Senhor, pois parece que nunca estamos preparados para as situações que acontecem de repente na nossa vida.

Não estamos preparados porque colocamos nossa confiança e nossa segurança nas coisas contrárias ao Reino de Deus, apegando-nos àquilo que vamos adquirindo e amontoando nas nossas casas. Por isso, em certos momentos de nossa vida, o medo e a insegurança nos invadem, nos paralisam. E então nos perguntamos: em quem ou em que colocamos nossa segurança? Somente nas coisas terrenas ou nas realidades divinas?

Muitos serão os desafios que enfrentaremos na vida, muitos serão os desesperos que poderemos abraçar. E a nossa capacidade de encarar as barreiras e vencer as provações irão depender da nossa atenção às realidades essenciais que Jesus nos apresenta. Muitas vezes ainda iremos nos desviar do caminho verdadeiro até que coloquemos no nosso coração a atenção ao verdadeiro tesouro.

Assim como os discípulos que estiveram próximos a Jesus e caminharam com ele, demoraram em aprender sobre as verdades do Reino, assim também será conosco se não nos preparamos para quando chegar a nossa hora. Até porque não temos nenhuma mínima noção de quando este momento acontecerá.

A Carta aos Hebreus nos faz refletir sobre o belo e profundo significado da fé: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1).Quem tem fé já possui aquilo que se espera, já tem a posse do tesouro que não se corrói. Que vive na fé já é convicto das coisas de Deus mesmo não enxergando com os olhos físicos, mesmo não apalpando ou usufruindo. Portanto, é preciso, ao mesmo tempo, ter fé – tomar posse – e viver a fé – se apropriar da fé em nosso dia a dia.

Já está mais do que provado que o apego às coisas materiais somente traz o vazio, a ansiedade, a depressão e a perda de sentido das realidades mais importantes para a nossa vida interior. Desenvolvemos e possuímos tantas tecnologias, temos acesso a tanta sofisticação e somos infelizes.

Precisamos então buscar em Deus as razões fundamentais para vivermos realizados como filhos dEle. Porque a nossa felicidade está dentro de nós e não nos arredores, nas coisas exteriores. Somos imagem e semelhança de Deus! Às vezes buscamos esta felicidade de forma egoísta, esquecendo que é na partilha, na comunidade que nos completamos e nos realizamos como irmãos, filhos do mesmo Pai.

Portanto, busquemos nossa realização no nosso “ser pessoa” (essência), também aprendamos a nos relacionar com o mundo e com as coisas, sem sermos escravos. Por fim, o mais importante: “o ser e o viver” com os outros, como comunidade de filhos que partilham e que se amam no Senhor.

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⇒ POESIA ⇐

Segurança e vigilância no Senhor

Porque termos medo
e insegurança desesperadora?
Diante do mundo,
Nesta vida, neste caminhar.
Se Deus é nossa segurança
e nosso tesouro,
Sentido maior
Que não nos deixa amedrontar.

Porque a displicência,
deixando a vida acontecer?
No egoísmo, na ganância,
a nos consumir.
Quando o amor
é o nosso bem maior,
Sentido principal
Deste nosso existir?

O Senhor nos orienta
sobre o essencial,
Que devemos buscar
sem afogamento no mar,
Para não sermos
surpreendidos naquele dia,
Quando Ele virá nos cobrar?

Por que precisamos
viver tanta fadiga?
Sabemos que nos bens
não está a segurança,
Somente vivendo a fé
de forma completa,
Pois em Deus
está a nossa esperança.

Alegremo-nos,
pois Ele sempre nos ama,
Devemos abraçá-Lo
como nosso fundamento,
Rocha firme
que nos faz perder o medo,
Ele, a nossa Paz,
o amor, nosso alimento.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Rabí (Mestre) ilumine o seu caminho ***

 

 

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 1,2;21,21-23; Sl 89(90); Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21

“A parábola do rico insensato” por Rembrandt (1627)

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O verdadeiro e infinito tesouro somente encontramos em Deus

Lc 12,13-21

 

O texto próprio de Lucas (cf. 12,13-21), que refletiremos neste 18º domingo do Tempo Comum, irá nos ajudar no procedimento diante do dinheiro e dos bens materiais. Jesus conta a parábola do rico tolo, em que um homem coloca todo seu prazer nos seus celeiros cheios de grãos. Para aquele homem, parecia que tudo estava resolvido na sua vida. Podia agora descansar, comer e esbanjar seus bens, curtir a vida e ficar tranquilo.

Mas, Jesus alerta: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Pois bem, Deus nos dá a vida terrena, nós a administramos, sonhamos, escolhemos caminhos, fazemos projetos, construímos relações, porém não temos domínio sobre o seu fim. Somente Deus tem esse poder sobre a nossa vida e sobre a morte.

A atualidade desta passagem de Lucas é impressionante! Hoje nos vemos rodeados e estimulados por tantas propostas de consumo, que nos vem através das diversas formas de publicidades, as quais nos sufocam no nosso cotidiano.

Sem o cultivo da essência existencial, sem o alimento da nossa vida interior e espiritual com os tantos recursos que temos a nossa disposição, tais como, boas leituras, boas conversas, momentos de oração, meditação, celebrações, retiros, não conseguimos viver a profundidade e o sentido de nosso existir.

E quando não cultivamos as coisas profundas que vem de Deus, ficamos vulneráveis e buscamos preencher nossa existência com a idolatria aos bens materiais. Ou seja, colocamos Deus e seu amor em último lugar, ou, nem o colocamos em nossa vida. E por esse motivo ficamos carentes dos tesouros essenciais para nossa existência e do cultivo da nossa espiritualidade em busca do absoluto.

“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade, diz o livro do Eclesiastes” (1,2). A vaidade vem da nossa ilusão para com as coisas materiais e do nosso vazio interior o qual muitas vezes queremos preenche-lo com elementos e motivações superficiais.

Às vezes acontece que quando ficamos ricos das coisas materiais ficamos pobres no que se refere à sensibilidade humana, ao cuidado conosco mesmo, e assim nos alimentamos do orgulho, dos ressentimentos, das indiferenças para com o outro.

São Paulo nos alerta: “esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo… aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3,1-4).

Precisamos buscar as coisas do alto, não para flutuar ou nos alienar das realidades humanas e terrenas, mas para podermos alcançar o que é essencial em nosso existir, pois, quanto mais vivermos a aspiração às coisas de Deus, melhor viveremos a nossa relação com os bens terrenos, os quais devem estar ao nosso serviço e também destinados ao outro, com quem devemos partilhar, quando houver necessidades.

Que possamos meditar nesta liturgia sobre a necessidade de buscarmos, em primeiro lugar, a essência de nossa existência em Deus, o cultivo da nossa espiritualidade e a partilha fraterna, para vivermos os sinais do Reino neste nosso peregrinar terrestre, em vista de cultivarmos o sentido da vida, na busca da paz, do amor e da comunhão entre os povos, aspirando, já agora, os tesouros celestiais. Amém.

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⇒ POESIA ⇐

O verdadeiro tesouro

 

Com um olhar na vida infinita e verdadeira,
Buscando o sentido que nos traz felicidade,
Devemos seguir vivendo na simplicidade,
Sem nos afogarmos nos prazeres das riquezas terrenas,
Que, em muitos dos casos, até nos desordenam,
Trazendo às vezes muitas frustrações e ansiedades,
Pois devemos não levar em conta as tantas vaidades,
Que no final da vida somente nos condenam.

*

Apostar-nos tanto e tanto nos bens materiais,
Como segurança para toda a nossa vida,
Na avareza e nos desprezos pelo “amor” sem medida,
É desconhecer o sentido na Palavra do Senhor,
Que veio para perto de nós com o seu amor.
É como construir nossos sonhos nas ilusões,
Ficando mergulhado nas tantas paixões,
Que no final somente nos traz insegurança e dor.

*

Fitemos então o olhar e nosso foco no essencial,
Que é buscar as coisas na vida que não há de acabar,
Segurança nos bens celestes a nos esperar,
Como sendo a nossa principal riqueza,
Uma vida infinita em Deus e na sua eterna beleza,
Que jamais fomos capazes de contemplar,
E que nunca, e nunca irá acabar,
Por que estaremos ao lado da Divina Realeza.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Rabí (Mestre) ilumine o seu caminho ***

 

 

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Gn 18,20-32; Sl 137(138); Cl 2,12-14; Lc 11,1-13

 

“A oração do Senhor” por J. Tissot (1896)

 

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⇒ HOMILIA ⇐

A oração que o Senhor nos ensinou

Lc 11,1-13

 

Continuamos nossa caminhada com o Senhor neste 17º Domingo do Tempo Comum, quando o Senhor nos ensina a oração que os cristãos rezam, sempre que se encontram, seja para a Eucaristia, seja para as reuniões, estudos, Terços, novenas ou nas várias práticas devocionais que temos na Igreja.

O Evangelista Lucas (cf. 11,1-13), portanto, nos apresenta Jesus rezando num certo lugar e depois levando os discípulos a sentirem o desejo de também quererem rezar. Para isso eles pedem ao Mestre que lhes ensinem, numa suplica muito significante: “Senhor, ensina-nos a rezar” (11,1).

Com a oração que saiu da boca de Jesus, o Pai Nosso, podemos confirmar que Ele nos ensinou a chamarmos a Deus de Pai, pois nesta oração reconhecemos que somos irmãos e irmãs, porque este Pai é de todos e para todos. Com a oração do Pai Nosso, podemos também aprender a rezar, deixando que Deus faça a sua vontade e não a nossa. Por que na nossa vida muitos acontecimentos estão nas mãos de Deus e somente ele poderá conduzir ao que deve ser melhor para os seus filhos.

O Pai que Jesus nos apresenta é bondoso e misericordioso, tem um amor tão grande que veio mostrar a sua semelhança aos homens, vindo caminhar conosco, ter o nosso rosto e nos ensinar o caminho que devemos percorrer para chegar ao Céu, porque Ele é Santo e quer todos os seus filhos juntos dele na morada celeste.

Nesta oração ensinada por Jesus pedimos que o Reino de Deus venha a nós. Quantas vezes Jesus nos fala que este Reino estava perto ou que estava no meio dos homens. Jesus e sua ação salvadora é o próprio Reino em nosso meio. Quantas vezes pensamos que este Reino ainda está distante… Talvez esteja distante sim, porque ainda não aprendemos a colocar em prática o que rezamos no Pai Nosso. Porque o pão que pedimos ainda falta a muitos, ou muitos têm, mas ainda não aprenderam a partilhar, pois falta a justiça, a dignidade, o respeito e a atenção para com os irmãos necessitados.

Porque a Eucaristia que participamos aos domingos, ou diariamente, ainda não se transformou em verdadeira comunhão, partilha dos irmãos e irmãs que fazem a comunidade ser viva, fraterna e expressão concreta da caridade.

Este Reino ainda pode estar distante porque não aprendemos a perdoar os outros e pelo o nosso egoísmo ainda estamos fechados. Neste caso, nos falta a humildade de pedirmos perdão para que a fraternidade e a santidade de Deus estejam presentes entre nós. Nos falta a atitude de irmãos e irmãs, amigos e amigas de verdade sem receio de corrigir o outro quando percebemos errando e caindo nas tentações da não escuta ao outro e no individualismo.

Precisamos meditar profundamente colocando no coração aquele pedido final do Pai Nosso, quando dizemos: “perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação” (Lc 11,4). A presença do Reino no meio de nós é, portanto, o perdão dos nossos pecados, no momento em que nos reconhecemos pecadores e também perdoamos aos outros quando estes nos vem pedir perdão, em vista de retomamos a harmonia na convivência humana e na comunidade religiosa.

Faz-se necessário pedir sempre ao Senhor que nos livre das tentações que vem do maligno e dos males que muitas vezes nos rodeiam. Nosso erro é querermos resolver sozinhos sem a ajuda do Senhor. Por isso o evangelho de são Lucas continua o resto do texto insistindo sobre a perseverança na oração diante de Deus. “Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,15).

Confiemos ao Senhor nossa existência, nosso convívio e nossa vontade de construirmos a comunhão, a fraternidade e a paz, para que o Reino de Deus esteja sempre presente no mundo!

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⇒ POESIA ⇐

Jesus nos ensinou a rezar

 

O Senhor nos ensinou a rezar,
Quando de nós próximo ficou,
Sabendo de nossas carências,
Por isso se aproximou,
Quando quis nossa humildade,
Pra acolher sua santidade,
Pois primeiro nos amou!

Senhor ensina-nos a tua oração,
Para Deus, nosso Pai, chamarmos,
Ensina-nos a perseverança,
Para não desanimarmos,
E a rezar sem egoísmo,
Com perdão e otimismo,
Para nos santificarmos.

Senhor ensina-nos a rezar,
Com a tua oração,
Que a nós venha o teu Reino,
Nosso Deus e salvação,
Pra tua vontade fazer,
E não o nosso querer,
Mas na tua santa ação!

Nosso Pão de cada dia,
Ensina-nos a pedir,
Para continuar a vida,
E na missão nos nutrir,
Este pão de cada dia,
É também a Eucaristia,
No teu caminho a seguir.

O perdão de nossas culpas,
Ensina-nos a suplicar,
Quando ferimos os irmãos,
Ou viemos a errar,
Tu és o Deus de puro amor,
És o nosso Salvador,
Que quer nos santificar!

Livra-nos de todo o mal,
Quando a Ti suplicamos,
Pra vencer a tentação,
Quando com ela estamos.
Assim devemos rezar,
Firmes, sem desmoronar,
Pois em Ti nós confiamos!

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Gn 18,1-10a; Sl 14(15); Cl 1,24-28; Lc 10,38-42

 

“Jesus na casa de Maria, Marta e Lázaro” por W Hole (1846-1917)

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O equilíbrio entre a oração, a contemplação e a ação

Lc 10,38-42

 

Neste 16º Domingo do Tempo Comum, o evangelho de Lucas (cf. 10,38-42) nos apresenta Jesus sendo acolhido na casa de Marta e Maria. Duas mulheres, irmãs, que se apresentam com comportamentos diferentes diante do Mestre.

Maria que está aos pés do Senhor para escutá-lo. Marta que estava preocupada em preparar a ceia, com a visita de Jesus à sua casa. Jesus chama a atenção de Marta dizendo: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas.” E em seguida ainda fala: “Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.” (Lc 10,41-42).

Escutando estas palavras de Jesus podemos também meditar: Vivemos sempre numa realidade de tantos compromissos, afazeres inacabáveis, preocupações que nos tiram a atenção e até a nossa paz. Atividades e atividades que nos desviam daquilo que é essencial para a nossa vida. Somos mais Marta do que Maria e esquecemos que precisamos unir estas duas características bíblicas para vivermos bem e assumirmos a experiência de discípulos na missão do Reino de Deus no mundo.

O que Jesus chama atenção em Marta não é com relação ao seu trabalho, pois ela tem a melhor das intenções, na preparação das coisas para acolhê-lo, mas por que ela está sem o foco no essencial, que é a atenção à sua Palavra. Marta está sem harmonia nos seus afazeres, a ponto de repreender a sua irmã.

Assim também acontece conosco, às vezes nos afogamos no ativismo da vida pastoral ou nas nossas preocupações particulares, que nem sempre temos tempo de fazer nossas orações pessoais, de ir à celebração da comunidade e por isso perdemos o foco principal à Palavra e a Eucaristia que nos conforta e nos nutre na caminhada da nossa vida diária. E ainda, até repreendemos os irmãos e irmãs acusando-os de estarem rezando demais.

Portanto, na vida cristã devemos buscar o equilíbrio entre a ação (Marta) e a oração e contemplação (Maria), para não cairmos nos extremos do ativismo ou do intimismo.

Outro aspecto levantado nesta liturgia é o da acolhida apresentada na primeira leitura com Abraão que acolhe os três homens e que a Igreja interpretou através dos Santos Padres como sendo, tipologicamente, a Santíssima Trindade. Depois temos no próprio evangelho em que Jesus é acolhido pelas irmãs Marta e Maria, em Betânia. Naquela casa Jesus foi acolhido várias vezes, inclusive quando ressuscitou Lázaro (cf. Jo 11,42-45).

O que nos fará verdadeiros discípulos numa experiência de equilíbrio entre a espiritualidade e a missão é exatamente a acolhida ao Senhor na nossa vida, acolhida que se estenderá no cuidado aos peregrinos, aos que sofrem e aos que precisam de nossa atenção. A nossa fé se alimentará e será uma expressão de equilíbrio entre contemplação e ação, quando estivermos atentos à Palavra de Deus e quando estivermos dispostos a acolher o Senhor na paz e no amor, atitudes que nos impulsionam à vida plena. Amém.

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⇒ POESIA ⇐

Escolher a melhor parte

 

Está sempre com Senhor,
Na vida de oração,
Atento à sua Palavra,
Vivendo a contemplação
É assim que deve ser,
Quando queremos crescer,
Como um autêntico Cristão.

Escolher a melhor parte,
É amar a Eucaristia,
Estar aos pés do Senhor,
Com fé e muita alegria,
É querer sempre rezar,
Firme sem desanimar,
Toda noite e todo dia.

É também viver a missão,
Pedido de Nosso Senhor,
Sempre atento ao que ele diz,
Como um filho servidor,
Não viver na ilusão,
Ou estar na distração,
Sem contemplar o amor.

Somos Marta e Maria,
Juntas, sem se separar,
Orando e também agindo,
Sem o Senhor desprezar,
Só fazendo deste jeito,
Seremos cristãos perfeitos,
No mundo a testemunhar.

Nesta nossa caminhada,
Precisamos refletir,
Que os afazeres da vida,
Não nos levem a fugir,
A melhor parte é o Senhor.
Sua Palavra e seu amor,
Nós queremos repartir.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Dt 30,10-14; Sl 68(69); Cl 1,15-20; Lc 10,25-37

 

“A parábola do Bom Samaritano” (1864), por J.E. Millais

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Cristo é a Palavra Viva que veio ficar próximo de nós

Lc 10,25-37

 

O Evangelho deste 15º Domingo do Tempo Comum está em Lucas (cf. 10,25-37) e trata da parábola do Bom Samaritano. Este texto nos ensina sobre a caridade, que é a plenitude dos mandamentos apresentados por meio de Moisés, na primeira aliança. E Jesus veio dá um sentido completo e concreto à lei, através mandamento do amor.

Meditemos sobre a parábola: há um homem que foi assaltado e espancando, está sem nada, quase sem vida, sem nome, na estrada de Jerusalém a Jericó. Perdeu suas forças, sua voz e precisa de socorro como tantos assaltados, espancados, sem voz e sem nome, no hoje das realidades humanas, nos âmbitos sociais e econômicos, e que devem fazer parte do olhar de Deus pela ação dos discípulos missionários do Senhor.

Naquela estrada passam muitas pessoas, inclusive ladrões e assaltantes, mas também sacerdotes, levitas, e até homens discriminados culturalmente, socialmente e religiosamente como aquele samaritano. Muitos tinham compromissos, agendas lotadas, preocupação com as normas a ponto de impedir o socorro a alguém que foi vítima de assalto e espancamento. Assim como os outros, o samaritano também tem uma agenda, está de viagem, tem compromissos de negócio, mas não está cego para a necessidade e sofrimento do outro.

Este relato é feito por Jesus para ensinar àquele Mestre da lei, sobre quem é o próximo e também para que ele entenda o significado completo dos mandamentos instituídos na antiga aliança. Os padres da Igreja interpretaram o Bom Samaritano como sendo o próprio Cristo que nas estradas da vida deste mundo acolhe os sofredores, os violentados, cuidando das suas feridas, curando-os e levando-os para a sua casa, a Igreja, para que sejam alimentados e restaurem suas vidas.

Nos dias de hoje os cristãos são chamados a serem os bons samaritanos que colocam em prática o amor, no cuidado aos irmãos, indo ao seu encontro e ficando bem próximo deles, não somente fisicamente, mas, como Deus, que veio ficar próximos de nós, a ponto de sentir a nossa dor, tocar e curar nossas feridas.

Sejamos cristãos atentos às dores que encontramos pelo nosso caminho e aprendamos do Bom Samaritano que a caridade está além das nossas normas e dos nossos cultos, os quais muitas vezes se tornam vazios e sem sentido, porque nos tornam distantes dos irmãos que precisam de nós. E ao sairmos das nossas celebrações, possamos meditar no que Jesus falou para aquele mestre da lei: “Vai e faze a mesma coisa” (Lc 10,37). Pois é a atitude de se fazer próximo do outro, de corpo e alma, que nos faz vivermos plenamente os mandamentos e ganharmos a vida eterna. Amém.

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⇒ POESIA ⇐

Os Bons Samaritanos de hoje

 

Quem são os bons samaritanos de hoje?
Nos dias e viagens de tantos sofredores,
Que acolhem e curam tantas feridas,
Que recolhem e aliviam as muitas dores?
São os cristãos na vida de caridade,
São também outros na sociedade,
Como corações sensibilizados e sensibilizadores.

Estão nas ruas sem a luz da vida,
Lá nas tocas e apoios da compaixão,
Nos portos seguros do acolhimento,
Nos grupos unidos do amor em ação,
Que se reúnem para pensar o amor,
Para seguirem servindo com fervor,
Colocando o evangelho em plenificação.

São os Bons Samaritanos que se sentem próximos,
Tão próximos a ponto de tocar as muitas feridas,
Buscando remédio para aliviar a dor.
E neste compadecer-se reprogramam a sua vida,
Para servir como um braço do Senhor,
Sendo não somente gesto, mas a prática do amor,
Como chama que no peito é expandida.

E cada um de nós seremos bons samaritanos,
Quando deixarmos o amor de Cristo nos preencher,
Deixando o irmão cada vez mais próximos de nós,
E da sua vida cada vez lhes pertencer,
Afastando os olhares do preconceito,
Não mais tornando em nós o desrespeito,
E das suas necessidades não desconhecer.

E agora contemplemos com muito zelo nosso Senhor,
O Bom Samaritano perfeito e santo,
Caridade divina que veio ao nosso encontro,
Que sentiu nossas dores e enxugou nosso pranto,
Que ergueu os que caíram na cova da morte,
Que os fez caminhar com pés firmes e fortes,
E que tirou dos seus corações todo medo e espanto.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 66,10-14c; Sl 65(66); Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20

 

“Jesus envia os discípulos”, por J. Tissot (1886-1894).

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A alegria dos missionários do Senhor

Lc 10,1-12.17-20

 

O Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum nos apresenta um texto de caráter profundamente missionário, porque não traz somente um chamado e um envio por parte de Jesus. No texto de Lucas (cf. 10,1-12.17-20), podemos comprovar dois momentos bem distintos sobre a convocação, envio e retorno dos 72: na primeira parte as orientações sobre como viver a missão, e, no segundo momento, a volta dos missionários e a avaliação realizada diante de Jesus. Os 72 discípulos, provavelmente, foram escolhidos a partir do grupo de seguidores que andavam com Jesus em peregrinação pelos diversos lugares da Galileia.

E, então, os discípulos recebem as orientações práticas sobre a missão: ter cuidado com os perigos que encontrarem (os lobos), não ficarem chateados com a falta de recepção, não se preocupar com bagagens e aparatos, mas sim, e principalmente, com a mensagem que cada um deve levar, ou seja, o coração do missionário deve estar livre e cheio de paz para cumprir o mandato do Senhor: “em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa!” (Lc 10,5).

Porque a paz é a grande missão do discípulo do Senhor. Paz que foi sonhada pelo povo de Israel quando saiu do Exílio da Babilônia, anunciado pelo profeta Isaías, na primeira leitura: “Eis que farei correr para ela a paz como um rio e a glória das nações como torrente transbordante” (Is 66,12).

A presença do verbo encarnado é a realização plena desta Paz esperada. Outra mensagem do evangelho desta liturgia é sobre o Reino de Deus que está próximo e precisa ser instaurado no meio dos homens, porém não pode ser imposto, pois quando os mensageiros do Reino não forem bem recebidos, estes devem passar a frente sacudir o pó das sandálias e seguir perseverantemente o caminho da missão.

Porém, a missão não se fará somente de mensagens, mas também de ações concretas como a cura dos doentes, a expulsão dos males (demônios) e, sobretudo, o encontro fraterno da partilha com aqueles que receberem, de coração aberto, os missionários de Jesus (cf. Lc 10,7).

A segunda parte é sobre a volta dos missionários e a avaliação feita diante de Jesus. Os 72 voltam com o coração cheio de alegria e grandes motivações, porque exerceram autoridades inclusive sobre demônios (cf. Lc 10,17). A missão não foi feita para o próprio discípulo, mas para o Senhor e em nome do Senhor. É importante ressaltar que a missão não poderá ser feita individualmente, mas acompanhado no mínimo por outro irmão ou irmã, para que haja fraternidade na ação missionária.

E na volta da missão é necessário colocar em comum para se partilhar das maravilhas da experiência. Quando levamos a mensagem de Paz em nome de Jesus, e há um acolhimento, construímos a Paz e a fraternidade no mundo. Isto é, derramamos nos corações humanos a presença do Ressuscitado que também deu a paz nas suas aparições aos discípulos nos dias próximos à ressurreição.

Este texto de Lucas nos ensina que os cristãos batizados de hoje são os convocados para viverem esta missão de Paz. Chamados pelo Senhor para serem sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16) nas diversas realidades da vida das pessoas, todos são enviados a anunciar a paz a cada lugar que estiver. E o anúncio mais forte será o testemunho de uma experiência com Jesus, reconhecendo que primeiramente a missão é feita em nome dele e para o seu Reino. Faz-se necessário reconhecer que a messe é grande, ou seja, é maior que os nossos espaços religiosos, os grupos que participamos ou os ministérios que assumimos.

Outra necessidade é o crescimento do grupo daqueles que respondem ao chamado do Senhor e que podem dedicar ao serviço do Reino. E para que isto aconteça é preciso que a Igreja esteja em oração (cf. At 12,5). A evangelização não é exclusividade dos bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e os leigos consagrados, mas de todos os batizados. Evangelizar é tarefa de todos. Os casados, os jovens, as crianças, os ministros ordenados e consagrados numa comunhão e partilha, como catequistas e missionários permanentes, cada um com seus dons, em seu próprio campo de atuação e estado de vida cristã.

Para vivermos a vocação missionária precisamos abraçar a dimensão mística do cristianismo, que é o amor ao Ressuscitado dentro de uma realidade de pessoa renovada, carregando as marcas de Cristo em nosso corpo, como testemunhou São Paulo (cf. Gl 6,17). Pois somente percorrendo o caminho de Jesus como aqueles 72 que ele enviou em missão, podemos também partir para missão e retornarmos alegres pelo bem que fizemos, pois fizemos em nome dele e para ele. É a certeza de ser chamado pelo Senhor e a alegria de segui-lo anunciando a Paz do Reino que produz conversão aonde vamos ou estamos. Amém.

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⇒ POESIA ⇐

Abençoe os missionários, Senhor

Abençoai Senhor,
Os jovens que estão começando,
E os que há muito tempo estão andando,
Aos que acolhem os pobres desamparados,
Aos que rezam mesmo enclausurados.

Abençoai Senhor,
Os que levantam de madrugada,
Que andam a pé pelas estradas,
O que estão em pátrias distantes da sua,
Aos que evangelizam na própria rua.

Abençoai Senhor,
Os que promovem a cidadania,
Os que lutam por uma reta democracia,
Os que evangelizam pela educação,
E os artistas das diversas formas de criação.

Abençoai Senhor,
Os que voltam alegres da missão,
Que promoveram a paz e a união,
Os que do mal e os seus irmãos protegeram,
E que os seus nomes no céu escreveram.

Enfim, abençoai Senhor,
A tantos que não saem do seu próprio lugar,
Mas convertem o seu próprio lar.
Com um testemunho evangelizador,
Promovendo a paz, a harmonia e o amor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Rabí (Mestre) ilumine o seu caminho ***

 

 

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Zc 12,10-11;13,1; Sl 62; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24

 

“A profissão de fé de São Pedro” (1886-1894), por J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A identidade de Jesus

Lc 9,18-24

 

Neste 12º domingo do tempo comum, contemplamos Jesus em oração com os seus discípulos. O evangelista Lucas (cf. 9,18-24) nos apresenta duas perguntas concretas sobre Jesus. Primeiro: o que as pessoas dizem sobre ele? Em seguida ele se dirige aos discípulos e pergunta: E vós, quem dizeis que eu sou? Neste trecho podemos constatar o testemunho de Pedro na sua profissão de fé quando responde a Jesus: “és o Cristo de Deus” (Lc 9,20), … ou seja, o ungido, o escolhido ou o enviado do Pai (cf. Lc 9,20).

O evangelho prossegue com mais dois momentos bem distintos: Jesus apresenta o primeiro anúncio da sua paixão, morte e ressurreição – O filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia (cf. Lc 9,22). Depois Jesus fala para os discípulos sobre as condições para segui-lo (cf. Lc 9,23-24). Para quem quer segui-lo, deve saber que neste caminho encontrará o sofrimento, a perseguição, a cruz.

No tempo dos discípulos, naquele momento, a pergunta era mais para Jesus na sua natureza humana entre os homens (Jesus histórico) do que para o filho de Deus, o enviado do Pai. Necessariamente se teria uma resposta da parte dos que estavam convivendo com ele na sua caminhada (os discípulos) e outra resposta da parte dos que viam Jesus de longe, nas suas pregações, milagres e curas ou os que ouviam falar dele.

Estes últimos conseguiam vê-lo pelos menos como um grande profeta (os curados ou convertidos), ou como um blasfemo, agitador do povo (os fariseus). Mesmo as escrituras mostrando sobre a vinda de Deus aos homens; mesmo os profetas anunciando a realidade da qual Jesus viveria, não era possível acolher a mensagem do filho de Deus. O profeta Zacarias, na primeira leitura, faz referência ao que Jesus iria passar (a cruz): “Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” (Zc 12,11).

Quanto à resposta de Pedro [“és o Cristo de Deus” (Lc 9,20)], esta deve ser também a resposta dos que hoje vivem a experiência do ressuscitado na comunidade dos batizados, dos que buscam viverem mais fortemente a comunhão. Ou seja, os que vivem a experiência de oração com o Senhor, na Eucaristia, na escuta da sua palavra e o veem como o Deus que salva, que os ama e que está glorificado, ressuscitado, para glorificar todos aqueles que abraçaram o seu amor e se abriram para o infinito da vida celestial.

Porém existem muitos que o enxerga como o “reencarnado”, o “curandeiro”, o “mago”, o “psicológo”, o “sociólogo”, o “grande profeta” etc… Menos como Deus verdadeiro. Isto é o que lemos como títulos de diversos livros espalhados pelo mundo a fora.

Agora podemos também nos perguntar: quem é Jesus para nós batizados? Como acolhemos a sua proposta de vida em nosso caminhar, nos nossos dias claros e nas nossas “noites escuras”?

É importante refletir que a nossa vida de cristãos tem estas três dimensões espirituais e humanas apontadas por Lucas: a oração com o Senhor; a fé na sua ressurreição e consequentemente na nossa; e a consciência de que no caminho do Senhor sempre teremos cruz. Sempre teremos desafios a superar, mas temos uma certeza: ele está conosco nos fazendo uma comunidade fraterna, nos tornando irmãos e irmãs como referência para a paz e a fraternidade no mundo e, ao mesmo tempo, nos encaminhando para a vitória, nos conduzindo e nos preparando para o Céu.

Esta experiência de compromisso nasce do nosso batismo como nos fala São Paulo na segunda leitura: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Portanto aos batizados que vivem a experiência de comunidade, vem o compromisso de viverem as mesmas atitudes de Cristo, porque são revestidos da sua presença e vida. E aos que estão de fora, batizados ou não, também o nosso mandato de nos dirigirmos para anunciar a Boa-Nova do Reino, para que estes possam viver um reencontro com Senhor, por que somente nele encontramos a liberdade, a paz e a felicidade perfeita.

A nossa adesão perseverante e consciente ao seu caminho é nossa melhor resposta ao que ele nos perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E os cristãos darão sempre uma resposta de fé e que deve ser de plena convicção, quando na oração Eucarística o sacerdote anuncia o mistério da fé e nos respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!” Meditemos nesta resposta durante a semana.

 

 

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⇒ POESIA ⇐

Quem é este Senhor?

 

Quem é este Senhor?
Repleto de PAZ,
Que o amor nos traz,
Que nos questiona,
Mas não nos aprisiona,
Que nos mostra o caminho,
E não nos deixa sozinho.

Quem é este Senhor?
Primeiro vivente,
Que de repente,
Faz-me parar,
Para meditar,
E vai me perguntando,
Quando vou caminhando.

Quem é este Senhor?
Que me é sincero,
Quando não espero,
Fazendo-me rezar,
Para a cruz carregar,
Sem decepção,
Rumo a redenção.

Ele é a Verdade,
Nele está a Vida,
Dando-nos a medida,
Para o bem viver,
Para na fé crescer,
Todos que a ele ama,
E não se desengana.

Ele é o vencedor,
O Ressuscitado,
Nosso bem-amado,
Que nos tira da morte,
Com ele somos fortes,
E nas diversas dores,
Faze-nos vencedores.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Cristo de Deus ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15

 

 

Os três anjos que visitaram Abraão, como símbolo da Trindade. (cf. Gn 18), por A. Rublev (*1360+1430).

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Santíssima Trindade: um Deus que é comunidade

Jo 16,12-15

 

Na segunda semana após o dia de Pentecoste iniciamos outro momento na Igreja, o tempo comum. Trata-se do percurso mais longo dentro da caminhada litúrgica dos cristãos católicos. No domingo passado, o Círio Pascal foi recolhido para um espaço mais reservado, porque agora são os cristãos que, com a força do Espírito Santo e alimentados da experiência do Tempo Pascal, são chamados a serem luz do mundo, velas acesas da fé nas várias realidades da vida.

Dentro do tempo comum teremos várias solenidades, a primeira é a da Santíssima Trindade, a qual celebramos no domingo após Pentecostes. A Trindade Santa é o fundamento da nossa vivência cristã, pois tudo o que celebramos ou vivemos, segundo a vontade de Deus, é em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Há uma reflexão belíssima, inspirada na exortação apostólica Verbum Domini (Palavra do Senhor), de Bento XVI, que pode nos servir muito bem no que se refere à Santíssima Trindade: “Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.”[1]

É a voz que chamou Abraão, Moisés e orientou os profetas na caminhada do povo, que é apresentado na 1ª leitura, como a sabedoria que existe antes de tudo. Esta voz é o próprio Deus que falou na história e fala para nós, é o Pai de onde tudo procede. (cf. Pr 8,22-31).

A Palavra também tem um rosto, o Verbo encarnado que também estava no princípio. É ele quem nos revela o “sentido pleno” e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa: Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos confirma o que o texto do Gênesis diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gn 1,26). Porque nós nos parecemos com Deus e Jesus não somente é parecido conosco como também assumiu a nossa natureza.

No Evangelho desta liturgia, ele próprio nos fala do Espírito da verdade e do Pai. Tudo o que o Pai possui é dele (cf. Jo 16,13.15), ou seja, ele revela a missão do Espírito Santo e apresenta o Pai para os discípulos.

E podíamos completar: A Palavra também tem uma fonte de amor que distribui os dons e anima os caminhos da Igreja fazendo criar comunhão e unidade. Ele, que segundo o Credo Niceno-Constantinopolitano, é o “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado e que falou pelos profetas.”

Tudo isso para dizer que a Trindade Santa é esse Deus único, que é comunidade, é comunhão, que nos chama a vivermos o amor a partir dele. Santo Hilário, Bispo (*300+368), no seu tratado sobre a Trindade, nos diz: “um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita.”[2] Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no dom.

Portanto, a Santíssima Trindade é o nosso Deus comunhão que nos acompanha na nossa vida litúrgica e no dia-a-dia da nossa caminhada terrena, pois sempre iniciamos e terminamos nossas celebrações, encontros e momentos de oração, em nome da Santíssima Trindade. Também recebemos os sacramentos em nome da Trindade. Por fim, o nosso dia será sem sentido e a nossa noite incompleta se não iniciarmos e terminarmos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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[1] Resumo da mensagem do Sínodo dos Bispos ao povo de Deus, em 24 out. 2008. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/resumo-da-mensagem-do-sinodo-dos-bispos-ao-povo-de-deus/>. Acesso em: 12 jun. 2019.

[2] Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Sexta-feira da 7ª Semana da Páscoa.

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus comunidade

 

Poder de onde tudo inicia,
Que ama e que cria,
Que nos faz parecido com ele.
Que tudo nos dá de presente
Ele é o Pai onipotente.

Rosto para nós revelado,
Que por nossas fraquezas é doado,
Que também está no princípio,
Natureza humana oferecida,
Caminho, verdade e vida.

Força de sabedoria e amor,
Também criador,
Que pairava sobre as águas,
Que seus dons a nós oferece,
Que anima e que aquece.

Deus que é comunidade,
Que nos ensina a unidade,
Envolvendo toda a nossa existência,
Que nos reúne como irmãos,
Que nos envia em missão.

 

*** Que a Palavra e a Luz da Santíssima Trindade ilumine o seu caminho ***