Solenidade da Santíssima Trindade, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Dt 4,32-34.39-40; Sl 33(32); Rm 8,14-17; Mt 28,16-20

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Comunidade Santa

Mt 28,16-20

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Solenidade da Santíssima Trindade nos motiva a contemplar Deus como comunidade santa, como comunidade perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 28,16-20, passagem que encerra o Evangelho segundo Mateus.

No Domingo depois do Pentecostes, celebramos a Trindade Santa. O Deus dos cristãos, que é o mesmo de Abraão, Isaac e Jacó, é Um, é Uno e, ao longo da história da salvação, se revelou Trino, ou seja, Criador, Salvador e Santificador.

Na primeira leitura desta Liturgia, Moisés fala ao povo sobre a proximidade de Deus na história: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele.” (Dt 4,39). Sendo próximo, também é Único e que todas as pessoas devem prestar culto e seguir os Seus mandamentos. Graças a Moisés, temos a revelação de Deus como Pai e Criador.

O evangelista Mateus nos apresenta Cristo na Galileia com os discípulos. Na passagem, Cristo os envia em missão para fazer novos discípulos pela ação da Trindade. “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei.” (Mt 28,19-20). Os novos discípulos deverão ser inseridos na comunidade cristã pela ação da Trindade, observando o mandamento do amor contido na Boa-Nova, para que entrem no caminho da salvação e levem ao mundo a paz, a fraternidade, a justiça, a alegria e a unidade. Graças ao evangelista Mateus, temos a revelação de Deus como Filho e Salvador.

São Paulo diz aos romanos, que o Espírito nos faz herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo em vista da glória preparada para todos que se deixam conduzir por Ele (cf. Rm 8,17). Portanto, a santidade é manifestada quando deixamos que os dons nos capacite a viver não a condição escravo, mas a de coerdeiro de Cristo e também templo, onde o Espírito possa habitar e agir. Graças a São Paulo, Apóstolo, temos a revelação de Deus como Espírito Santo e Santificador.

Devemos refletir sobre a presença da Trindade e dos sacramentos em nossas vidas. Viver na graça de Deus é primeiramente reconhecer, a cada momento do dia, que somos conduzidos pelo mistério da Trindade.

A dimensão trinitária de Deus foi se revelando paulatinamente desde o Antigo Testamento com Abraão, Moisés e os profetas até o Pentecostes e as ações missionárias como as de São Paulo. Com os primeiros cristãos, aprendemos, enquanto Igreja, a expressar a fé na Trindade através do Credo, que é rezado nas solenidades. Também os sacramentos são iniciados pela invocação à Santíssima Trindade e a graça sacramental (cf. CigC 1129) nos insere, nos perdoa, nos alimenta e nos convoca a exercer o nosso serviço, o nosso ministério de amor a Deus e ao próximo.

Como os primeiros discípulos, devemos obedecer ao mandato de Cristo e viver a missão de fazer novos discípulos em nome da Santíssima Trindade. A primeira atitude missionária é o testemunho. A segunda é o serviço na caridade, no anúncio da Palavra e no acolhimento aos que procuram a Igreja.

Devemos, portanto, nos perguntar: qual é a minha Galileia? Onde devo testemunhar a Santíssima Trindade num mundo que oferece um pseudoamor, ou seja um amor fantasioso, falso, superficial, como um sentimento e que estimula as pessoas a um daninho dilema entre gostar e descartar? Deus nos indica sempre onde devemos ir para testemunhar a fé da Igreja que recebemos no nosso Batismo e o nosso amor à Santíssima Trindade. Para isso precisamos silenciar nosso interior e nos esvaziar da lógica pessoal.

 

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus Comunidade

 

Um Deus Trindade,
Que se faz presente,
Mas que já existia,
Na vida da gente,
Caminhando na história,
Que nos traz a vitória,
E é onipotente.

Um Pai de amor eterno,
Que se faz bondade,
Na misericórdia.
Na santa unidade,
Voz nos profetas,
Por eles aponta a seta,
Com fidelidade.

Um Filho, um rosto amoroso,
Que se revelou,
Conosco veio morar,
E não se limitou,
À nossa inteligência,
Eterna benevolência,
Que tanto nos amou.

Espírito, sopro de Vida
Que vem nos capacitar,
Com os dons de seu amor,
Sempre a nos iluminar,
Fazendo-nos também luz,
Na vida vem e no conduz,
Sempre a nos recriar.

Um Deus trino e eterno,
Na Santa Eucaristia,
Mesa grande, santa e farta,
Que nunca fica vazia.
Que por sua santa ternura,
Faz-nos novas criaturas,
Restaura nossa alegria.

Deus em comunidade,
De perfeita comunhão,
Que a nós se revelou,
Com a sua forte ação,
Fazendo-nos seus herdeiros,
Salvou-nos por inteiros,
E restaurou nossa união.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos mostrou a face misericordiosa, ilumine o seu caminho! ***

 

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade, Ano A

 

Leituras: Ez 34,11-12.15-17; Sl 23(22); 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Um Reino que não é deste Mundo

Mt 25,31-46

 

Meus irmãos e minhas irmãs, o mistério pascal da Liturgia do XXXIV Domingo do Tempo Comum do Ano A, Solenidade de Cristo, Rei do Universo, nos motiva a contemplar a realeza de Cristo, na dimensão da justiça e da misericórdia. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 25,31-46, sequência do Domingo passado.

Assim, entramos na última semana do ano litúrgico. No próximo Domingo seremos chamados a começar um novo percurso, quando entraremos no Advento do Ano B, período em que teremos a orientação dos textos do evangelista Marcos.

Celebrar a realeza de Cristo é olhar para ele como o Pastor que cuida do seu rebanho com amor, mas também vê-lo como o Juiz que tem o julgamento sobre nossas ações enquanto caminhamos nesta terra.

A caridade é o critério principal para participarmos da sua alegria. Ele mesmo nos ensina: “pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me.” (Mt 25,35-36). O amor ao irmão necessitado tem o mesmo valor que a mesa do Altar do Senhor. Segundo São João Crisóstomo, ele diz “enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”.[1] É mais importante a nossa preocupação com os sofredores do que o nosso apego ao espaço material. Nesse sentido, devemos refletir sobre isso e nos perguntar como está a atenção ao Cristo escondido nos pobres, o crucificado nos irmãos e irmãs que clamam o amor concreto de Deus.

Os textos da Liturgia apresentam o Senhor como o Pastor e o Rei do universo. Pastor que cuida, que vai atrás das ovelhas perdidas, reúne ao seu redor (cf. Ez 34,11-12.15-17), o Rei que julga as ovelhas, separando-as de acordo com os critérios do amor.

Aos que obedeceram a voz do Senhor acolhendo-o nos pobres, famintos, sedentos, estrangeiros, despidos e presos, estes receberão a herança do Reino, serão chamados benditos do Pai (cf. Mt 25,34).

Quanto aos que desconheceram a presença do Senhor nos que sofrem, ele os dirá: “afastai-vos de mim malditos” (Mt 25,41) e serão jogados no fogo eterno. Parece muito duro ouvir tais palavras do Jovem Galileu. O Evangelho nos motiva a estar atentos às palavras do Pastor e Rei.

As palavras de Cristo neste último Domingo do ano A nos convida a avaliar nossas ações como cristãos, durante todo o tempo em que escutamos a Palavra, comungamos da Mesa e nos reunimos na comunidade de discípulos de Cristo. É permanente a necessidade de rever nossas ações e posturas como ovelhas do redil do Bom Pastor.

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos fortaleça em nossa missão. Que possamos usar nosso tempo para avaliar, propor e melhorar nosso agir como seguidores do Bom Pastor que nos conduz pelos caminhos retos, mas que também nos julga quando somos ovelhas distantes e errantes que não reconhecem o sofrimento do Filho Unigênito do Pai na existência humana.

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[1] Das homilias sobre Mateus, de são João Crisóstomo (*309+407), bispo e doutor da Igreja. In Liturgia das Horas, 1999, vol. IV, p. 157.

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⇒ POESIA ⇐

Um Reinado que Vem do Senhor

 

O Reinado do Senhor,
É justiça e caridade,
Caminho ao paraíso,
Marcado pela bondade,
Seremos chamados benditos,
Porque consolamos os aflitos,
Pela solidariedade.

O Reinado do Senhor,
É o amor em nosso agir,
Enxergando-o nos sofredores,
No seu corpo a se ferir.
No chão da nossa existência,
Em tudo que for carência,
No humano a existir.

O Reinado do Senhor,
É herança garantida,
Para todos os benditos,
Pelo Rei oferecida,
Pois o critério é o amor,
Ao Cristo no sofredor,
Para retomar a vida.

O Reinado do Senhor,
Nos leva a meditar,
Há tempo para se rever,
Para no seu reino entrar.
Recriar nossa postura,
Retomar nossa ternura,
Para não nos enganar.

O Reinado do Senhor,
É encontro e alegria,
É o encontro com o outro,
Sendo noite ou de dia,
É caridade ao irmão
É serviço e gratidão,
Que brota da Eucaristia.

 

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*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que com justiça e misericórdia nos motiva a participar do Reino de Deus, ilumine o seu caminho! ***

 

XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ex 17,8-13; Sl 120(121); 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8

 

“O juiz iníquo e a viúva inoportuna” (1908), por Eugène Burnand

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Oração perseverante

Lc 18,1-8

 

O evangelista Lucas (cf. 18,1-8) inicia o seu texto, neste 29º domingo do tempo comum, com mais uma parábola. Jesus “contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1).

O sucesso na experiência de oração será exatamente quando houver a perseverança e a percepção da necessidade de sempre rezar. A oração, portanto, é este encontro com o Mistério Santo e Infinito, o nosso Deus Verdadeiro que está sempre pronto a nos encontrar e nos escutar.

Quando buscamos aprofundamento nos mestres espirituais, percebemos que rezar está muito além das petições, dos louvores, das fórmulas e dos textos decorados. A oração, portanto, é o diálogo livre com Deus, numa atitude de filhos, numa postura interior de total confiança e entrega aos braços divinos. Claro que quando rezamos a oração da Ave Maria e a oração do Pai Nosso não somente falamos palavras, mas buscamos, no nosso coração, orante o fundamento e o sentido maior destas orações para nós cristãos.

A parábola do juiz iníquo e da viúva inoportuna nos ensina também que se deve orar suplicando a Deus sem cessar, porque ele escuta o clamor dos seus filhos os quais confiam no seu amor, pois ele fará justiça à todos que lhes suplicam dia e noite.

No livro Êxodo (cf. 17, 12-13), temos a experiência de Moisés na sua luta contra o inimigo, pois, para vencer, precisou ser forte e até mesmo necessitou do apoio do povo que o ajuda a manter seus braços erguidos para continuar vencendo os amalecitas. Muitas vezes, nós também precisamos contar com a ajuda e as orações dos outros para nos mantermos firmes e obtermos a vitória. Portanto, temos um modelo de oração no sentido bíblico, para nos mostrar que é a fé no Deus verdadeiro, a perseverança e a força, também nossa, é que nos mantém vencendo o mal.

Diante destas reflexões podemos nos perguntar: Como está a minha experiência de oração pessoal e comunitária? Qual a qualidade dos meus momentos de encontro com Deus? A nossa oração também suplica a justiça de Deus em favor dos irmãos que sofrem descriminação, desprezo, desemprego e muitos outros sofrimentos?

Como cristãos, discípulos do Senhor, devemos sempre nos perguntar se a nossa vida está marcada por uma atitude de oração pessoal e comunitária, tendo como base a Eucaristia, a meditação da palavra do Senhor e a comunhão com os irmãos.

Devemos viver os momentos litúrgicos e eclesiais, como combustível que fortalece a nossa caminhada diária, na nossa vida familiar, no nosso trabalho, nas interações sociais, na vida de comunidade e na nossa missão de ser sal e luz, em vista de mundo mais fraterno e justo para os filhos e filhas de Deus.

Que neste mês das missões possamos refletir que sem a oração verdadeira o discípulo não terá sucesso na evangelização, pois a oração fortalece o missionário e, ao mesmo tempo, o coloca consciente de sua caminhada em meio a tantos desafios a serem superados.

 

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⇒ POESIA ⇐

Necessitamos da oração

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: 2Rs 5,14-17; Sl 98(97); 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19

 

“Jesus com o leproso que voltou para dar graça”, por W. B. Hole (1846-1917)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Deus nos chama para ajudarmos na construção do seu Reino

Lc 17,11-19

 

Iniciemos a reflexão da liturgia deste 28º Domingo do Tempo Comum com uma pergunta que nos ajudará na meditação do evangelho de Lucas (17,11-19): Até que ponto somos capazes de agradecer a Deus pelas tantas graças (curas) que ele realiza em nós e por nós?

A fé e a gratidão são duas chaves, entre outras, da liturgia que celebramos neste 2º domingo do mês missionário. O Evangelho nos fala dos dez leprosos que foram curados por Jesus e que depois somente um vem aos seus pés bendizê-lo pela cura. Este, por sua vez, era um samaritano. Os samaritanos eram inimigos dos judeus.

Podemos nos perguntar, por que o evangelista Lucas, nos seus textos, nos apresenta figuras fora da cultura judaica. A resposta é simples: o evangelista quer nos comunicar que a salvação é para todos os homens, basta que estes reconheçam e acolham, pela fé, o poder e ação salvadora de Deus em suas vidas. Isto aconteceu com aquele samaritano, que, recebendo a cura, volta para o Senhor e numa atitude de fé prostra-se aos seus pés e agradece não somente pela restauração física, mas também pela cura total do homem, que é a salvação.

No 2º livro de Reis, podemos comprovar uma atitude muito parecida com a do samaritano. Naamã o sírio, aconselhado pelo profeta Eliseu, foi mergulhar no Jordão sete vezes. Ele volta curado. Mas não somente para agradecer, senão também para reconhecer que há um só Deus que atende ao pedido dos seus filhos: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!” (2Rs 5,15b).

A atitude de voltar sempre para agradecer a Deus pelo seu imenso amor deve ser própria dos cristãos. Talvez não tenhamos noção do quanto Deus age em nosso favor, o quanto ele nos livrou dos perigos, o quanto ele nos alimenta na nossa caminhada e como é grande a sua misericórdia por nós. Para isso, basta que queiramos receber suas graças e o perdão que vem ao nosso encontro com imenso abraço de Pai.

Gratidão é o que precisamos exercitar no nosso cotidiano: gratidão pela vida de cada dia, por cada nascer do sol, a cada manhã, pelo encontro com os irmãos em cada momento de nossa vida, por nossos familiares, pelos nossos amigos, pela comunidade que nos faz fraternos, pelo nosso trabalho, pela coragem de enfrentarmos as adversidades da nossa existência e pelo imenso amor de nosso Deus que nos faz irmãos e seus filhos.

Portanto, gratidão é o gesto de querer voltar a Deus, sempre para a ação de graças (missa), para a escuta da sua Palavra que nos orienta no nosso caminhar, para (confissão) que nos cura e nos coloca no nosso processo de conversão e para a mesa (eucaristia) que nos alimenta no dia-a-dia, rumo à eternidade.

Neste sentido podemos lembrar a segunda leitura quando São Paulo nos diz: “Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.” (2Tm, 2,12-13).

Neste mês missionário voltemo-nos para o Senhor que caminha conosco e quer nos curar das enfermidades materiais e espirituais. Ele quer que façamos parte do seu rebanho, quer a nossa colaboração na construção do seu Reino, “porque ele fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça” (Sl 98/97), pois seu amor e seu reino são para todos os homens. Ele nos chama para este projeto universal e santo a cada momento.

 

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⇒ POESIA ⇐

A fé e a gratidão do discípulo

A fé nos dá o retorno
Para o abraço do Senhor,
Quando muito agraciados,
Por seu imenso amor,
Pois a cura será completa,
Quando a vida for repleta,
Das graças do Salvador.

Um retorno agradecido,
Pela cura operada,
Quando as tantas feridas
Já estiverem fechadas,
E então levantaremos,
E firmes prosseguiremos,
Com a vida agraciada.

Nossa salvação completa,
É nossa cura total,
A alma purificada,
E o corpo sem o mal,
Uma vida santificada,
Pra seguir a caminhada,
Ao reino celestial

Para seguir o Senhor,
Devemos agradecer,
Pelas suas santas bênçãos,
Que estão a acontecer,
Pois não temos nem noção,
Das graças que nos virão,
Para nos fortalecer.

É bom sempre retornar,
Com gesto de gratidão,
Pelo pão na mesa santa,
E a vida em comunhão,
Viver a gratuidade,
Construir a unidade,
Em Deus e com os irmãos.

A fé é a grande chave,
Que nos faz sempre voltar,
Para ouvir a Palavra santa.
E o pecado confessar,
E também a perceber,
Tantas curas acontecer,
Nesse nosso caminhar.

Obrigado, ó Senhor,
Por seu corpo em alimento,
Pelos imensos milagres,
Sua Palavra, o sustento.
Pois sua santa caridade,
Sua Paz, sua bondade,
Cura nossos ferimentos.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Hab 1,2-3;2,2-4; Sl 94(95); 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10

 

“A exortação aos apóstolos” (1886-1894), por J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Aumentando a fé na caminhada

Lc 17,5-10

 

O Evangelho deste 27º domingo do tempo comum inicia exatamente com uma forte súplica dos apóstolos a Jesus: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5).

Os apóstolos caminham com Jesus para Jerusalém e, depois de terem ouvido sobre a misericórdia, a pobreza e a riqueza, sentem o desafio e as possíveis barreiras a serem enfrentadas no apostolado.

E Jesus, vendo aquela fé “infantil”* dos apóstolos, vinda da tradição do antigo povo de Israel, responde: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.” (Lc 17,6).

Na caminhada com o Mestre, os apóstolos necessitavam de aumentar fé, pois a experiência de segui-lo em missão exigia um compromisso maduro e mais concreto, baseada numa resposta consciente de cada seguidor, a cada dia, a cada desafio, a cada crise. Caminhar com Jesus não era mais como seguir a tradição dos mestres da lei, que muitas vezes impunha normas e preceitos sem adesão das pessoas.

Para seguir o mestre exigia-se novas atitudes de vivência religiosa, e desta vez concreta e encarnada na vida, no contato com os doentes, com os pobres e com os marginalizados, também no embate com as lideranças políticas e religiosas daquela época. Isso exigia que a fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, precisaria crescer, ter força de transformação, de movimento e de mudanças consistentes na vida de cada apóstolo.

Estas palavras de Jesus nos leva a refletir que talvez precisamos suplicar uma fé que seja mais sólida e que tenha a força das palavras do evangelho, maior do que a fé infantil absorvida, mas necessária, nos primeiros anos de catequese. E então podemos pedir: Senhor, aumenta a nossa fé, qualifica a nossa fé, torna a nossa experiência com o Senhor cada vez mais autêntica, como aquela que transformou a vida dos primeiros seguidores do Caminho, mesmo que ela seja tão pequena quanto um grão de mostarda.

E Jesus nos ensina sobre a nossa posição de servos: “quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’.” (Lc 17,10). Neste sentido, é o crescimento de nossa fé como discípulos do Senhor que nos faz nos reconhecermos como servos inúteis ou simples servos.

Crescer na fé é uma graça que vem de Deus. Servir ao Senhor não nos dar o direito aos merecimentos, às honrarias, mas de bem-aventurança por fazermos um caminho de discipulado para como o Senhor e nos convertermos e ganharmos o Céu. Vivemos num mundo que estimula os méritos. Ser discípulos é se colocar na contramão desta concepção de merecimentos humanos. Ser um simples servo é ser discípulo em gratuidade e agradecimento por caminhar com Jesus e colaborar com o seu Reino e no anúncio de sua Boa-Nova.

Na primeira leitura podemos constatar um diálogo entre o profeta Habacuc e Deus, que poderá nos ajudar nesta compreensão da experiência da fé. O profeta se queixa de tantos sofrimentos a sua frente, pois ele já não compreende porque tantos problemas a sua vista e aparentemente sem soluções. E Deus lhes responderá no final: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé.” (Hab 2,4). O justo viverá pela sua fé, este é o segredo.

Na segunda leitura, São Paulo, na carta a Timóteo, nos exorta a vivermos sem medo ou timidez nesta estrada do Senhor: “Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade.” (2Tm 1,7). O discípulo do Senhor não pode caminhar na insegurança, nem no medo. Ele deve carregar no coração a esperança, e como servo inútil buscar viver a sua fé numa dinâmica de crescimento do mandato recebido.

E no início do mês missionário e do Santo Rosário, peçamos ao Senhor que aumente o nossa fé e o nosso entusiasmo na missão. Também o nosso compromisso na evangelização, caminhando com Ele na construção do seu Reino. Mesmo reconhecendo que a nossa fé seja tão pequena quanto um grão de mostarda, supliquemos ao Senhor que qualifique a nossa confiança, pois somos servos inúteis e necessitamos sempre da Graça de Deus e, ao mesmo tempo, incapazes de corresponder plenamente ao que o Senhor nos favorece, porque seu amor além de ser incalculável é gratuito. Amém.

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* A expressão “infantil” nos remete à uma vivência de adoração a Deus anteriormente a encarnação do Filho. Essa noção pode ser lida em Pagola (O caminho aberto por Jesus: Lucas. Petrópolis: Vozes, 2012, pp. 279-285).

 

 

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⇒ POESIA ⇐

Os caminhos da fé

Em missão vão os discípulos,
Junto ao Senhor que tanto os ama,
Suplicam a fé em quantidade,
Para que não se apague o fervor da chama,
Que se acendeu quando Ele os chamou,
E continua acessa por onde Ele caminhou,
Mas que por um momento já não inflama.

Ao perceberem os desafios do caminhar,
Pedem a fé para perseverar,
A confiança na rocha firme que é o Senhor,
Para na missão com pés firmes continuar,
Sem medo, sem desconfiança,
Mas na obediência e na esperança,
Que com o Senhor não irão desandar.

Hoje somos nós os seguidores,
Que pedem o dom da esperança e da alegria,
Com o peito marcado pelo fervor
Nas noites escuras e, mas também ao dia,
Buscando ouvir a palavra como alimentação,
Querendo viver sem desolação,
E seguindo a Luz que sempre alumia.

O Senhor nos chama a sempre caminhar,
E nos dá o seu corpo que nos fortalece,
Nos chama a viver na comunhão,
Acolher seu amor que nos enternece,
E o Santo Espírito sempre acolher,
Que a nossa vida quer aquecer,
Numa firme busca que se oferece.

E nesta vida de peregrinação,
Como servos inúteis vamos andando,
Aos passos lentos procurando entender,
Tudo que o Senhor vai nos ensinando,
Como na fé a gente vai crescendo,
Mesmo que no momento não entendendo,
Porque a vida santa se faz caminhando.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Am 6,1a.4-7; Sl 145(146); 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31

 

(1) “O pobre Lázaro à porta do mau rico”; (2) “O mau rico no inferno” (1886-1894), obras de J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

No amor de Cristo, vencemos os abismos entre os irmãos

Lc 16,19-31

 

O Evangelho do 26º domingo do tempo comum, que está em Lc 16,19-31, nos traz a parábola do rico avarento e do pobre Lázaro. Jesus fala sobre duas realidades que envolvem o homem: a riqueza e a pobreza. Um homem rico que se vestia de vaidade, com belas e caras roupas. Do outro lado, o pobre Lázaro ao chão, estava ferido, faminto e esfarrapado, diante da porta do rico (cf. Lc 16,19-21).

A segunda cena deste Evangelho já não é mais no plano terrestre. Lázaro encontra-se “junto de Abraão” (Lc 16,22) enquanto que o rico está na “a região dos mortos, no meio dos tormentos” (Lc 16,23).

As realidades se invertem: Lázaro que padeceu na terra, está agora gozando da paz e da harmonia, porque mesmo vivendo na extrema miséria, confiou totalmente na Graça divina. O rico, que não soube usar dos seus bens para se aproximar e ajudar os outros, pecou pela indiferença, agora está nos tormentos.

Vejamos que, de forma mesquinha, o rico pede uma gota de água para refrescar a sua língua, como que não acreditando na abundância da Graça divina, e ainda mais: pede não pelos os homens que estão na terra, mas de forma egoística, apela pelos cinco irmãos. No seu abismo não há mais possibilidades de criar uma ponte para junto de Abraão (cf. Lc 16,26).

A riqueza na antiga Aliança por muitas vezes foi vista como benção de Deus, como prosperidade ao homem fiel à promessa. Por outro lado, a pobreza era como uma maldição e falta de benção e de prosperidade. Os tempos passaram e as riquezas materiais foram se tornando mais obstáculos para o homem do que possibilidades para que o mesmo prepare o seu caminho rumo ao paraíso eterno.

Atualmente, não parece que mudou muito estas duas realidades, entre ricos e pobres. Há um abismo enorme, quase intransponível, entre os filhos do mesmo Pai Divino. Ainda há muitas mansões e palácios luxuosos, ainda há muita ostentação e esbanjamento das riquezas materiais.

O pior é que ainda persiste o pecado da indiferença e do desrespeito para com a necessidade dos pobres. Há nas calçadas, nas ruas, nas portas, os famintos, os doentes, os sofredores, os excluídos. Eles clamam por comida, por assistência médica e por justiça social. Em suas situações de sofrimento, eles nos revelam e denunciam as feridas de um sistema desigual e excludente, criado pelo capitalismo do mundo pós-moderno e seus interesses lucrativos.

Diante disso, podemos nos perguntar: Como está a nossa atenção aos irmãos que estão na miséria, nas calçadas, feridos e sem a assistência que os humanos merecem? Como está a nossa relação com os bens materiais? As riquezas são possibilidades de aproximação ou de abismos para com o Reino de Deus?

O cristão é chamado a ser o agente de transformação desta realidade. Jesus nos chama a romper as portas da indiferença de nosso coração para construímos pontes de solidariedade, de justiça e caridade no mundo.

Podemos concluir, lembrando-nos do salmo desta liturgia, o qual mostra como Deus deseja que o homem trilhe pelo caminho do bem e ao mesmo tempo como ele protege os sofredores, pobres materiais e espirituais guiando-os na sua vida, porque ele reina e sempre vence o mal. “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. Ele ampara a viúva e o órfão, mas confunde os caminhos dos maus. O Senhor reinará para sempre! (Sl 145/146). Amém.

 

 

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⇒ POESIA ⇐

Abismos entre irmãos

Mundo de tantos altares,
Onde o dinheiro é adorado,
Onde tantos estão focados,
Nas coisas materiais,
Tornando-se desiguais.
Como Deus será amado?

Jesus nosso Salvador,
É quem nos traz a lição:
Vivermos sem ambição,
As coisas não adorar,
Mas somente administrar,
Para o bem do nosso irmão.

Servir somente ao Senhor,
Como único e verdadeiro,
Não sendo interesseiro,
Sem o outro corromper,
Mas a ele oferecer,
O Amor como primeiro.

Ser fiel no que lhe cabe,
Saber administrar,
Sem ao outro enganar
Viver com muito cuidado,
Para não ser condenado,
Quando Deus vier cobrar

Deus de amor Ressuscitado,
Curai nosso coração,
Pra não viver a ilusão,
De uma vida enganada,
Guia-nos na tua estrada,
Que nos leva a salvação.

Abençoai todos aqueles,
Que estão sempre a servir,
Amando sem oprimir,
Que sabem administrar,
O que Senhor lhe confiar,
E os irmãos vivem a unir.

Espírito Santo de amor,
Iluminai nosso viver,
Faz-nos esclarecer,
Cada passo desta estrada,
Nessa nossa caminhada,
Pois, o Céu queremos ver.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Am 8,4-7; Sl 112(113); 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13

 

“O administrador desonesto” (1908), por Eugène Burnand

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os discípulos de Cristo são os adoradores e servidores do único Deus

Lc 16,1-13

 

A Liturgia da palavra deste 25º domingo do tempo comum nos apresenta mais uma parábola de Jesus contada pelo evangelista Lucas (cf. 16,1-13). Esta parábola fala sobre o administrador infiel e esperto. Ele é alertado pelo seu patrão por praticar uma administração desonesta. Este administrador, refletindo sobre a sua demissão, usa uma estratégia para sair desta situação. Ele abre mão do seu lucro e desta forma consegue devolver o dinheiro que é do seu patrão. (cf. Lc 16,5-7).

Jesus elogia a esperteza daquele administrador e fala para seus discípulos: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). Para Jesus, o dinheiro injusto era aquele que os ricos ajuntavam à custa da exploração das pessoas. Porém, este dinheiro poderia ser usado a serviço da caridade e da vida dos pobres. Desta forma, os pobres, os bem-aventurados, poderiam acolher os ricos no Céu, porque estes colocaram suas riquezas a favor dos necessitados. Pois o Céu é daqueles que fizeram o bem e viveram a caridade na sua caminhada terrena (cf. Mt 25,34).

Jesus chama a atenção dos seus discípulos para que sejam fiéis no seguimento a Ele e na missão, pois eles serão administradores dos bens celestes e deverão carregar no coração a honestidade e a verdade da Palavra de Deus.

Na missão, os discípulos de Jesus deveriam também estar atentos com a mesma astúcia do administrador infiel, porém buscando a sabedoria do Espírito Santo para administrarem os bens do Reino. Em nossa caminhada cristã, precisamos também da sabedoria e da coerência, em virtude do nosso testemunho e do serviço ao Evangelho.

Jesus também ensina que o seu discípulo é aquele que é fiel nas pequenas e grandes coisas, as quais são colocadas sobre sua responsabilidade (cf. Lc 16,10). Também para ser discípulo é preciso que este ame a Deus como único Senhor (cf. Lc 16,13). O dinheiro pode ser cultuado como um deus (ídolo) com muitos altares erguidos por todos os lugares, pode ser adorado e confundir o homem na busca do bem maior de sua existência, que é o sentido da sua vida e seu papel no mundo.

O profeta Amós nos apresenta a situação de corrupção que já existia desde os tempos antigos: “E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?” (Am 5b-6). Parece que o nosso mundo não mudou. Sempre existiu esta luta entre os filhos das trevas e os filhos da luz.

Hoje temos tantas situações parecidas com o que apresenta Amós, pois as fraudes comerciais, políticas e administrativas são visíveis. Nem sempre o dinheiro é usado a serviço das necessidades básicas e concretização dos direitos os quais as leis nacionais e internacionais exigem que os governantes devam cumpri-las.

Também fiquemos atentos ao que nos ensina São Paulo, na sua primeira carta a Timóteo: “Antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador; ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.” (1Tm 2,1-4). A nossa oração pelos que nos governam e o sincero propósito de crescermos na comunhão, na verdade e na honestidade, nos ajudará na construção do Reino de Deus, através do anúncio da Boa-Nova (Evangelho) ao mundo.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Servir somente ao Senhor

Mundo de tantos altares,
Onde o dinheiro é adorado,
Onde tantos estão focados,
Nas coisas materiais,
Tornando-se desiguais.
Como Deus será amado?

Jesus nosso Salvador,
É quem nos traz a lição:
Vivermos sem ambição,
As coisas não adorar,
Mas somente administrar,
Para o bem do nosso irmão.

Servir somente ao Senhor,
Como único e verdadeiro,
Não sendo interesseiro,
Sem o outro corromper,
Mas a ele oferecer,
O Amor como primeiro.

Ser fiel no que lhe cabe,
Saber administrar,
Sem ao outro enganar
Viver com muito cuidado,
Para não ser condenado,
Quando Deus vier cobrar

Deus de amor Ressuscitado,
Curai nosso coração,
Pra não viver a ilusão,
De uma vida enganada,
Guia-nos na tua estrada,
Que nos leva a salvação.

Abençoai todos aqueles,
Que estão sempre a servir,
Amando sem oprimir,
Que sabem administrar,
O que Senhor lhe confiar,
E os irmãos vivem a unir.

Espírito Santo de amor,
Iluminai nosso viver,
Faz-nos esclarecer,
Cada passo desta estrada,
Nessa nossa caminhada,
Pois, o Céu queremos ver.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50(51); 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32

 

(1) “A moeda perdida”, por J. Tissot (1886-1894); (2) “O Bom Pastor regozijando-se com seus amigos”, por J. Luyken (1649-1712); (3) “O retorno do filho pródigo”, por Rembrandt (1606-1669)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Na sua misericórdia, Deus se alegra com a nossa volta para os seus braços

Lc 15,1-32

 

A liturgia da Palavra, neste 24º domingo do tempo comum, nos traz o capítulo 15 do evangelho de Lucas, o qual nos apresenta três parábolas: a da ovelha perdida, a da moeda perdida e o do filho perdido e encontrado (ou parábola do Pai misericordioso).

As três narrações, chamadas de parábolas da misericórdia, podem ser lidas como um todo. O pai, o pastor e a mulher, representam Deus. A ovelha perdida se relaciona com o filho perdido e achado. A moeda se relaciona com o filho mais velho. Estas narrações nos expressam, na sua interpretação, a misericórdia de Deus para conosco.

O motivo pelo qual são contadas estas parábolas está associado às críticas dos fariseus que diziam que Jesus fazia refeições nas casas de pecadores e, ao mesmo tempo, os acolhia.

Às vezes nos perdemos como a ovelha, outras, sem que tenhamos muito domínio de nós, somos perdidos como a moeda, perdidos pelos caminhos de nossa existência. Considerando um contexto narrativo, a ovelha perdida pode ser sujeito ou objeto, mas a moeda perdida é um objeto. O pastor só encontra a ovelha quando esta se reconhece perdida, quando ela para de perambular e se afastar do redil. Já a moeda, que é objeto, só pode ser encontrada pela persistência da mulher.

Sendo ovelha (sujeito) ou moeda (objeto), precisamos da luz de Deus e da sua Palavra para nos reencontrarmos. E quando somos encontrados, haverá a alegria dos outros, pois a experiência da volta para Deus é sempre uma alegria comunitária.

A ovelha perdida pode nos lembrar dos momentos em que, por um tempo, saímos da comunhão com o rebanho do Senhor e depois nos damos conta dos erros e queremos voltar para o Senhor, porque Ele nos reencontrou e nos carregou nos seus ombros, com imensa alegria e muito amor, de volta ao encontro de seu rebanho.

Já a moeda nos remete aos momentos de noites escuras, quando precisamos que Deus nos ache de qualquer forma, pois ficamos impotentes diante de uma crise de fé. Às vezes não conseguimos encontrar o sentido do caminho e nem nos encontrarmos mesmo estando na casa do Pai.

Na parábola do Pai misericordioso, vemos o quanto é grande a alegria de Deus na volta do seu filho. Assim Deus faz com cada um de nós, quando retornamos aos seus braços. Somos sempre bem acolhidos no banquete da vida, na casa do Pai, com cantos de alegria, com o anel da dignidade, vestes e sandálias novas e o abraço de Deus.

Outras vezes participamos do amor de Deus na realidade do filho mais velho. Este esteve sempre na casa do Pai, mas quis ficar distante da sua alegria. No retorno do seu irmão, o orgulho tomou conta do seu coração. Mesmo o Pai dizendo que ele estivera sempre na sua casa, mesmo tendo recebido o perdão constante de seu Pai o qual nunca o desprezou e nem o expulsou de sua casa, porque este filho também recebeu a herança.

Portanto, o Deus misericordioso que é apresentado nas três parábolas é o mesmo Deus que, diante da intercessão de Moisés, “desistiu” da punição que havia ameaçado fazer ao seu povo idólatra (cf. Ex 32,13-14), pois, pela sua misericórdia, acreditou na possibilidade do retorno dos seus filhos para o seu amor e sua graça.

Que neste mês da Bíblia possamos iluminar as nossas ações com a Palavra Santa de Deus, que é luz para os nossos passos e guia na nossa vida de discípulos missionários do Senhor. Ele nos chama em cada liturgia a voltarmos sempre cada vez mais para sua Casa e para o seu amor e por isso nos abraça na sua alegria de Pai misericordioso.

 

***

⇒ POESIA ⇐

A alegria da volta

Quando na vida nos percebemos errantes,
E caminhamos por trilhas tão tortuosas,
Quando no abismo chegamos a cair,
Por atitudes e práticas faltosas.
Parar e procurar o que estava perdido,
Voltar um pouco o caminho percorrido,
É a ação mais necessária e corajosa.

É encontrar o que no caminho se perdeu,
Com a luz que vem do eterno amor,
Limpar cada recanto para encontrar uma pérola,
Que somente nos vem de Nosso Senhor,
Ele que na alegria nos quer voltando,
Nos acolhe e vai logo nos abraçando,
Por que é misericórdia e vê a nossa dor.

Como é bom sentir o abraço do supremo amor,
Que na alegria da volta nos dá o perdão,
Que até nos carrega nos seus ombros santos,
Para nos tirar dos males e da perdição,
E ainda faz festa na nossa chegada,
Porque nossa vida foi restaurada,
Livrou-se das correntes da escravidão.

E, agora como ovelhinhas reencontradas,
Ficaremos no rebanho que ele colocou,
Partilhando a caminhada que ele ofereceu,
Porque para a vida ele nos retornou,
E o seu corpo será nosso alimento,
Para não cairmos nos duros tormentos,
Que por algum tempo nos escravizou.

A alegria de Deus é nossa salvação,
Ele é Pai de misericórdia infinita,
Sua alegria maior é nos ver voltando,
Pois ele corre, abre os braços e grita,
Porque vê seu filho que está chegando,
E sem explicações vai logo perdoando,
Oferecendo as joias e roupas mais bonitas.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Sb 9,13-18; Sl 89(90); Fm 9b-10.12-17; Lc 14,25-33

 

“Jesus senta-se à beira-mar e ensina ” , por J. Tissot (1886-1894)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Ser cristão é ser discípulo do Senhor, vivendo no seu amor e na sua bondade

Lc 14,25-33

 

No Evangelho deste 23º Domingo do Tempo Comum Jesus nos fala, claramente, que seu verdadeiro discípulo é aquele que responde ao seu chamado, seja marcado pela prudência na resposta, seja pelo desprendimento à família, aos bens materiais e ao, mesmo tempo, pela atitude de abraçar a Cruz na vida de cada dia, no cotidiano, nas circunstâncias, nas contingências.

Ao aderir o chamado de Jesus e interiorizar o espírito do Evangelho, cada discípulo, deve antes pensar nas exigências deste seguimento, deste caminho de missão. O Senhor chama a cada um de nós para caminhar com ele, mas não quer que ninguém seja enganado sobre os desafios e as decisões a serem tomadas no exercício do discipulado. Por isso Jesus nos orienta: “…qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?” (Lc 14,28). O discípulo também precisa refletir sobre as condições de sua resposta, precisa ser prudente, ter consciência do que assume! O cristão não pode seguir o exemplo do construtor imprudente, do qual nos fala o evangelho de Lucas. Ele precisa refletir sobre sua escolha e decisão, para ver se dá conta naquilo que assumiu viver como missão!

Outro tema deste evangelho é o desprendimento: quando nos desapegamos das pessoas por amor ao Senhor, nos tornamos mais coerentes com os irmãos e com a própria família, por que amar a Deus é também amar o irmão e querer o bem para os que estão mais próximos de nós, é estarmos a serviço por amor e não por apego afetivo ou por imposição. Quando nos apegamos às pessoas, as idolatramos e até podemos lhes tirar o espaço que Deus poderá ocupar em suas vidas.

Em sua essência, o cristão é a pessoa que tem o coração livre dos excessos de coisas que muitas vezes os sufocam e também os desviam à atenção ao caminho do amor. É claro que sempre precisaremos servir-nos de vários meios para o nosso trabalho, para o nosso estudo, para o lazer na nossa vida, porém, nunca estes deverão ser, para nós, um obstáculo na experiência espiritual e na convivência humana. O Espírito do Evangelho sempre nos pedirá o desprendimento do coração, pois é neste sentido que somos livres para nos colocamos de braços abertos às nossas escolhas, como sentido e missão para a nossa existência.

Também é oportuno refletirmos que na vida pastoral também podemos nos apegar a certos serviços (ministérios) como se fossem cargos de nossa propriedade e não da Igreja. Agindo assim haverá o grande perigo de tornarmos a Igreja estéril no crescimento do seu rebanho.

Portanto, coloquemos em nossos corações o apelo que o Senhor nos faz para nos esvaziarmos de nós mesmos e seguirmos com o coração livre para ouvir a sua Palavra e acolher o seu amor. Tenhamos também a consciência e a sabedoria de que, o deixar ou o desapegar, faz parte de todos os ministérios da Igreja, pois sacerdotes, diáconos, religiosos, consagrados e leigos são chamados a abrirem o coração para a experiência do desprendimento, pela pregação do Evangelho.

Que neste mês da Bíblia possamos fortalecer cada vez mais o amor à Sagrada Escritura, através da leitura, orante e constante, no sentido de que a cada dia estejamos mais preparados para sairmos em missão, levando aos outros a alegria dos que seguem o Senhor e que, ao mesmo tempo, querem que outros também participem desta mesma alegria. Porque a alegria e a sabedoria brotam da Palavra de Deus, pela iluminação do Espírito Santo, como nos ensina o livro da sabedoria: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito?” (Sb 9,17). Amém!

***

⇒ POESIA ⇐

Ser cristão, ser missionário

Ser Cristão é ser discípulo,
Livre e desapegado,
De tudo que o aprisiona,
Não sendo escravizado,
É abraçar também a Cruz,
Caminhar na santa luz,
De Jesus ressuscitado.

Ser Cristão é ir aos outros,
Levando a alegria,
Dos que seguem o Senhor,
Na vida de cada dia,
Deixando um pouco o seu lar,
Firme, sem desanimar,
Na paz e na harmonia.

Ser cristão é caminhar,
Com o amor no coração,
Enfrentando desafios,
No trabalho e na missão,
É estar também rezando,
E aos irmãos sempre ajudando,
Num gesto de gratidão.

Ser cristão é prosseguir,
Sempre a Palavra escutar,
Para crescer sempre mais,
No seguir, no caminhar,
É crescer na comunhão,
Na alegria com os irmãos,
Sempre a perseverar.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 3,19-21.30-31 Sl 67(69); Hb 12,18-19.22-24a; Lc 14,1.7-14

 

“A refeição na casa do fariseu” , por J. Tissot (1886-1894)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A humildade é a virtude que nos leva à Mesa do Reino

Lc 14,1.7-14

 

O Evangelho deste 22º Domingo do Tempo Comum nos ensina sobre a humildade que vem de Deus, através de Jesus Cristo. É dia de sábado, Jesus está na casa de um fariseu importante para fazer uma refeição. A mesa está pronta, muitos convidados chegam e Jesus observa lugares não ocupados. Observa também os convidados. Deveriam estar presentes outros fariseus naquela casa, os quais ocupavam os lugares principais.

Há um ensinamento de Jesus diante daquela refeição no que se refere aos lugares à mesa e também aos convidados. Jesus ensina sobre a humildade numa relação não somente do homem para com o seu semelhante, mas também do homem para com Deus. A humildade é a virtude das virtudes porque ela é em Deus concretizada no próprio Jesus, que desceu à nossa miséria e caminhou conosco, não só nos ensinando, mas também sentido as dores do nosso pecado.

“Quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14,11). Este ensinamento, contido no texto de Lucas é de uma profundidade esplêndida. Pois humildade é se abaixar. Jesus desceu à terra (se abaixou), se igualou em natureza aos homens, menos no pecado, e foi mais longe: desceu à sepultura, viveu a experiência da morte, mas foi exaltado para vida infinita a fim de oferecer à humanidade a possibilidade da redenção eterna.

Jesus, Deus e homem, viveu a humildade como servo, lavou os pés dos discípulos para nos ensinar que precisamos também nos abaixar aos outros para servir. Parou para conversar com as crianças ficando no mesmo nível (físico) delas para acolhê-las e para nos dizer que é necessário viver como elas para participarmos da mesa do Reino.

Para nós, cristãos, faz-se necessário olharmos para a humildade de Deus e nos enchermos desta virtude, pois o mundo do capital, da política e até das profissões parecem andar na contramão deste valor. A grande pergunta é: como podemos viver, neste mundo, a humildade a caminho do banquete do Reino? Como construirmos fraternidade e inundar os corações das pessoas sobre os cristãos, sem que deixemos de ser eficientes, humanos e úteis no mundo do nosso trabalho?

A humildade verdadeira agrada a todos e leva a cada pessoa a meditar neste valor. Quem é humilde coloca a sua função e eficácia a serviço dos outros. O motivo de alguém se tornar responsável por uma instituição, empresa ou outras responsabilidades na linha de frente, será de qualidade na medida em que esta se torna coerente. E deve ser construída na humildade, ou seja, na contramão da prepotência, abuso de poder e interesses egoístas.

Na escola da vida cristã, há muitos meios de aprendermos e aperfeiçoarmos no caminho da humildade, dependendo da opção que vamos fazendo. Por exemplo: na família quando os cônjuges são chamados a se completarem e se construírem através da aceitação do outro, do perdão diário e de muitas vezes se abaixarem (pela humildade) um ao outro, para que o lar seja um ambiente de amor, de paz e de comunhão.

Não podemos esquecer o testemunho dos sacerdotes, religiosos e leigos que pela missão de levar o evangelho aos outros na humildade caminham lado a lado aos injustiçados, pobres – espiritualmente e materialmente –, lavando os seus pés pela doação e defesa da justiça, da verdade, da caridade e do amor incondicional, tendo como fonte o evangelho da vida, da paz e da esperança.

São tantos os exemplos concretos os quais podemos contemplar e seguir em frente para vivermos a humildade a caminho da mesa do Reino. Pois os últimos lugares são dos que querem viver com os mesmos sentimentos de Cristo, não somente para serem percebidos pelo dono da ceia, mas porque esta postura indica serviço e doação cristã onde está ausente o egoísmo e os interesses individuais.

Neste início do mês da Bíblia, abramos cada vez mais o coração para a Palavra de Deus, para que ela produza frutos no terreno do nosso coração e depois possamos lançar as sementes em outros terrenos com a confiança na providência de Deus, na firme esperança de um mundo mais fraterno e cheio de paz.

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⇒ POESIA ⇐

Buscar a Mesa de Deus

Buscar a mesa do Reino,
É viver a humildade,
Caminhar na caridade,
Sem orgulho e sem rancor,
É viver primeiro o amor,
Que nos leva à santidade.

Buscar a mesa do Reino,
É olhar para o Senhor,
É viver o seu amor,
Sem ser um interesseiro,
Não querer ser o primeiro,
E nem ser dominador.

Buscar a mesa do Reino,
É procurar sempre servir,
É a Jesus aderir,
Sem orgulho e prepotência,
É esperar na paciência,
O Reino que há de vir.

Buscar a mesa do Reino,
É viver a oração,
Sem esquecer a ação,
Mas na paz e na harmonia,
Cultivar a alegria,
Que é própria do cristão.

Busque esta Mesa Santa,
Que Jesus nos oferece,
Façamos a nossa prece,
Para sermos o sinal,
Do seu amor filial,
Que nossa vida enternece.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***