XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 53,10-11; Sl 32(33); Hb 4,14-16; Mc 10,35-45

 

POESIA

ENTRE NÓS NÃO DEVE SER ASSIM

Entre nós não deve ser assim:
Quem caminha em missão
Não deve ser o primeiro,
Mas viver a servidão.
Precisa de humildade,
Servir com simplicidade
E sem a dominação.

Entre nós não deve ser assim:
Nada de popularismo,
Nem querer os pedestais
E nem o autoritarismo.
Não deve assim viver,
Devem é se converter,
Pra não cair no abismo.

Entre nós não deve ser assim:
Não esqueçamos nossa essência.
Para vivermos a Palavra,
Fazendo a experiência.
Pra viver o discipulado,
Precisamos estar focados,
E ter muita consciência.

Entre nós não deve ser assim:
Luz do mundo, sal da terra,
Nas tantas realidades,
Plantar paz e não guerra,
Semeando o amor,
Seguindo sempre o Senhor,
Caminho que ninguém erra.

Entre nós não deve ser assim:
Deve haver sempre a partilha,
Nas nossas comunidades,
Seguindo sempre as trilhas,
Do Senhor que nos chamou
E pro mundo nos enviou,
A ser luz que brilha.

Entre nós não deve ser assim:
Devemos sempre servir
Com amor e alegria,
Sem nada de oprimir.
Ser profetas da verdade,
Ser sinal de caridade,
Mundo novo construir.

Entre nós não deve ser assim:
Vamos viver em missão,
Na Trindade iluminados,
Corpo e alma em doação.
A festa em comunidade,
Busca da fraternidade,
Em Deus, nossa comunhão.

 

HOMILIA

Ser discípulo de Cristo, é servir

Neste 29º domingo do tempo comum caminhamos com Jesus em missão, aprendendo dele sobre o verdadeiro discipulado. Como sabemos, a missão é a essência da nossa ação evangelizadora, sem missão a Igreja não será fecunda e não será sinal para o mundo. No mês missionário, a Igreja faz a coleta para as missões a qual é muito importante para manter os projetos missionários dentro e fora do nosso país. É importante salientar que quem ajuda, fazendo sua oferta na coleta para as missões, já é também missionário. Muitas vezes não temos disponibilidade para levar a Palavra como gostaríamos. Portanto, é um gesto nobre para a vivência cristã ser sensível e solidário àquilo que a Igreja realiza.

A liturgia deste domingo nos apresenta Jesus caminhando com os discípulos para Jerusalém, quando dois deles, Tiago e João, motivados pela concepção de um reino terreno, fazem diante de Jesus um pedido ingênuo e desconcertante para o seu mestre: “Deixa-nos sentar um a tua direita e outro a tua esquerda, quando estiveres na tua glória. (Mc 10,37). Esta atitude dos dois discípulos causou um problema no grupo e os outros dez ficaram indignados com Tiago e João (cf. Mc 10,41), porque, com certeza, almejam o mesmo.

Jesus, diante desta situação, orienta os discípulos quanto à seriedade do que é viver o compromisso do Reino. Ser discípulo, não é tão simples, pois requer atitudes diferentes dos poderes do mundo. O Mestre alerta: “entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10,43-44). Jesus deixa claro que o discípulo deve viver o serviço, oferecendo a própria vida. Esta reflexão está ligada à primeira leitura, quando Isaías apresenta o servo sofredor que oferecerá a sua vida em expiação (cf. Is 53,10), depois a segunda leitura, Carta aos Hebreus, que afirma: “temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas…” (Hb 4,15).

Jesus é o servo de Deus que oferece a sua vida. É o sumo sacerdote que oferece a sua vida para o resgate de todos no seu Reino. Ele se entrega totalmente ao serviço do Reino do Pai. Lava os pés dos discípulos, apresentando-os o gesto concreto de simplicidade e desprendimento de quaisquer honrarias, prepotência e desapego ao poder.

Portanto, todos os que querem seguir Jesus devem ter bem claro as exigências do seguimento: não querer ser o melhor ou o mais autoritário. Não deve oprimir os outros, e nem querer o primeiro lugar, como privilégio diante do mundo, porque essa postura já está presente no mundo. Mesmo nos regimes democráticos, os chefes já trazem muita opressão e imposição sobre as pessoas.

Estas orientações de Jesus estão praticamente na contramão da mentalidade humana. Estamos sempre em busca de ser o primeiro nas nossas empresas, nos concursos, no esporte, na nossa vida profissional e etc. Claro que ninguém deve ser irresponsável nos seus ofícios. Deve ser justo e comprometido naquilo que realiza e também nunca deve-se usar as habilidades e dons para menosprezar ou se desfazer do outros. Pelo contrário, é com nossos dons e bens desenvolvidos que servimos melhor ao outro e é com nossa doação que contribuímos melhor para um ambiente de paz onde quer que estejamos.

A vida do discípulo missionário é exercida nos diversos ministérios das comunidades cristãs. Nossa ação deve estar orientada para servir melhor aos irmãos nas diversas situações de vida, mesmo que haja a cruz das críticas e dificuldades diante do ministério. Mesmo quando exercemos coordenações de grupos, quando representamos conselhos pastorais, devemos servir com humildade e simplicidade, sem querer ser o melhor ou o maior.

Entre nós cristãos não deve haver indiferença, nem dominação, não deve imperar a prepotência e a insensibilidade. Entre as nossas comunidades é essencial a solidariedade, a colaboração, a escuta da Palavra, onde há a mesa da partilha e da alegria. Deve haver a festa, onde todos possam perdoar e retornar à dignidade de filhos muito amados e em comunhão com Deus.

Peçamos as luzes do Espírito Santo para que ilumine a nossa missão e nos leve a ser um sinal de humildade e de vida neste mundo marcado pelo autoritarismo, pelo egoísmo e pela opressão sobre os mais simples e pobres. Os cristãos devem apresentar ao mundo o rosto do Cristo misericordioso e servidor, pois é essa ação divina que liberta e salva a todos que querem seguir o supremo mestre.

 

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13; Mc 10,17-30

 

POESIA

COMO GANHAR A VIDA ETERNA?

Ansiando a vida eterna
Alguém a Jesus procurou,
Dos mandamentos sabia,
Mas isso não lhe bastou
Precisava algo mais:
Deixar bens materiais
Para seguir o Senhor.

Jesus logo respondeu
O que era preciso:
Viver o desprendimento
E não ficar indeciso.
Mas o homem desistiu,
E muito triste saiu,
Chorando e sem sorriso.

Vender todos os seus bens
Não estava nos seus planos.
Jesus foi muito exigente
Sem mostrar nem um engano.
Para ser seu seguidor,
Tem que lhe prestar amor
Sem desvio ao profano.

Com as palavras de Jesus
Os discípulos se espantaram,
Surgiram interrogações.
Muitas coisas questionaram,
Pra poder no céu entrar
Como então se preparar,
São poucos os que sobraram.

Pra Deus tudo é possível.
Jesus então respondeu,
Ter uma mudança de vida,
Ao jovem ele esclareceu.
Viver o desprendimento,
Ir além dos mandamentos,
Venceu o egoísmo seu.

Olhando esta narração
Que nos leva ao seguimento
Precisamos refletir
Sobre o desprendimento.
A Jesus o amor primeiro,
As coisas por derradeiro,
Sem apego e fingimento.

O nosso discipulado
É marcado pelo amor.
Tendo Jesus por primeiro,
Mesmo diante da dor.
Pois pra ter a salvação,
Temos que amar o irmão
Sem reserva e sem rancor.

Buscar a sabedoria
Que vem da fonte divina
Para ser um bom discípulo,
Como Jesus nos ensina.
Estar aos pés do Senhor
Para não perder o ardor,
Ter também a disciplina.

Também desprendimento
Dos métodos ultrapassados,
Fazem parte do roteiro
Do nosso discipulado,
A conversão pastoral
Sem desprezo ao social,
Atenção e amor doado.

Peçamos as luzes divinas
Supremas do Deus Trindade,
Para a nossa caminhada.
Que nos dê a santidade,
E que a nossa missão,
Nunca venha a ser em vão,
Mas, caminho à eternidade.

 

HOMILIA

Viver além dos preceitos

Irmãos e irmãs, caminhamos com Jesus neste 28º domingo do tempo comum, numa busca de aprofundar cada vez mais a natureza missionária e a vivência da caridade, que devem ser as marcas principais dos cristãos.

O Evangelho nos apresenta desta vez alguém que quer seguir Jesus. Numa atitude de reverência, ajoelha-se aos pés do Senhor e pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). Pelo texto podemos deduzir que esta pessoa já observava os mandamentos desde muito jovem e que queria algo mais que saber de forma decorada a lei de Deus.

Então Jesus lança o desafio: “Vai vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21). Jesus pede o desprendimento de tudo que amarra, do que é obstáculo, daquilo que desvia do Caminho. Pede também que partilhe com os que não têm nada. Depois destas condições poderá segui-lo. Com a exigência da renúncia aquela pessoa desiste, pois é demais para ela viver uma prática de partilha e de mudança radical de vida.

Seguir a Jesus exige uma reflexão constante sobre o desprendimento das coisas materiais, as quais muitas vezes são obstáculos fortes na vida. A primeira leitura nos faz refletir profundamente sobre esse assunto: “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). Jesus, nas conversas com os discípulos fará sua formação, usando o tema dos ricos e suas riquezas. E neste momento, eles se espantam a ponto de duvidarem que alguém possa ser salvo (cf. Mc 10,26).

Ouvindo seus discípulos e as dificuldades de entenderem sua exigência, Jesus os conforta, dizendo que é Deus quem age quando alguém quer ser seu seguidor. E Jesus vai mais além ao dizer que a vida do discípulo missionário implica em deixar muitas vezes casa, irmãos, mãe, pai, filhos e campos em favor do Evangelho.

Os pontos levantados acima, no Evangelho e na 1ª leitura, sugerem duas reflexões dentro da vocação cristã. Primeiro sobre o seguimento das vocações específicas, tais como a vida consagrada e o presbiterato, vocações essas que exigem do homem ou da mulher, o deixar a família, o emprego e até a sua terra, quando se decide pela vocação missionária além-fronteiras.

O segundo ponto é sobre a vida profissional dos jovens, dos casais, das comunidades de vida e de aliança e dos leigos em geral, que na vida secular decidem por seguir Jesus de forma autêntica dentro da sua condição particular, nas diversas realidades do mundo. Nesta condição, nem sempre é possível deixar os bens, mas é possível sim ser desapegados das coisas, ou melhor, colocar os bens materiais no seu devido lugar.

Quando servimos ao Senhor na evangelização, muitas vezes a nossa casa é colocada à disposição para as reuniões, nosso carro para conduzir pessoas, o nosso computador para elaborar os conteúdos de formação, nossos instrumentos musicais para animar os encontros e celebrações e, sobretudo, o nosso tempo de dedicação. Tudo isso é partilha também.

Podemos, ainda, refletir que o nosso desprendimento como discípulos missionários de Cristo também passa pelo desapego às nossas ideias pessoais e/ou métodos, que, muitas vezes, já não funcionam no nosso trabalho pastoral. Para isso é necessária uma conversão pastoral, como nos fala o Documento de Aparecida nº 370, o qual cito, abaixo, na íntegra:

“A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que ‘o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária.”

Neste sentido, podemos olhar para a carta aos Hebreus que nos diz que a Palavra de Deus é como “espada de dois gumes e que penetra todo o nosso ser e nos julga nas nossas ações e intenções do nosso coração” (Hb 4,12). A Palavra do Senhor quando entra em nosso coração transforma, questiona nossas atitudes e nossos esquemas egoístas. Às vezes nos desconstrói e nos orienta a vivermos uma conversão no nosso caminhar. Por isso ela nos corta como espada, nos inunda como a água da chuva e não volta para o Senhor, sem antes produzir frutos em nós (cf. Is 55,10-11).

Portanto, é praticando esta Palavra que nos tornamos verdadeiros discípulos e missionários de Cristo, na doação aos irmãos, no desprendimento, na partilha dos bens e na conversão pessoal e pastoral. Para seguir o Senhor temos que caminhar com o coração livre, isto é, pautado na Palavra viva que nos transforma e com uma atenção ao chamado e ao mandato de Cristo, os quais estão além de simplesmente observar preceitos. Amém.

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 2,18-24; Sl 127(128); Hb 2,9-11; Mc 10,2-16

 

POESIA

CRIADOS PARA O AMOR

O Deus de infinita grandeza,
Artista da criação,
Bem da suprema beleza,
Um oleiro em ação,
Na obra que iniciou
Ao homem entregou
Para a contemplação. (cf. Gn 2,18-19)

E o homem assim olhou
Para todas as criaturas
E não se identificou
Com nenhuma a sua altura.
Então Deus fez nascer
Outro semelhante ser
De beleza e formosura. (cf. Gn 2,22-23)

Do homem se fez companheira
A caminhar do seu lado
Pra viver a vida inteira.
Ele então o seu amado
Rompendo a solidão
Foram viver a união
Como Deus tinha pensado. (cf. Gn 2,24)

Foram feitos para o amor
E para a fecundidade.
O matrimônio iniciou
O Bem para humanidade.
Uma só carne serão (cf. Gn 2,24b)
Pra viver em união
Sempre em fidelidade.

Jesus então confirmou
A santa Instituição.
Aos fariseus contestou,
Fazendo a reprovação. (cf. Mc 10,5)
No início foi assim
E ninguém porá o fim
Nesta sagrada união. (cf. Mc 10,6)

Ninguém pode separar
Aquilo que Deus uniu (cf. Mc 10,9)
E também nem desmanchar
O que Deus instituiu.
A união é para sempre.
Temos que ser conscientes
Do que Deus instituiu.

O cristão deve zelar
Desta santa união.
Tem sempre que protestar
Quando houver profanação.
A família é o fundamento
Que dará sempre sustento
Pra formar um bom cristão.

Quando o lar é bem formado
A Moral é respeitada.
Os filhos são educados.
Numa fé fundamentada
Jesus Cristo é amado
E também anunciado.
Se vive o discipulado.

É importante a oração
Com a família no lar
Também nossa pregação
Na fé, no testemunhar.
É preciso esperança,
Viver com perseverança
Para não desmoronar.

Jesus, esposo perfeito
Da Igreja, esposa amada,
Confortai os seus eleitos
Que te seguem em caminhada.
Que a Mãe do salvador
No seu infinito amor
Auxilie na caminhada.

 

HOMILIA

O projeto de amor de Deus

O Evangelho deste domingo, segundo Marcos, nos apresentará dois momentos bem distintos: no primeiro há o encontro de Jesus com os fariseus, vem colocá-lo à prova quanto ao tema do divórcio. Jesus irá recordar literalmente aquilo que está na primeira leitura: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). E acrescentará: “O que Deus uniu o homem não pode separar” (Mc 10,9). Jesus conversará com os discípulos reforçando a indissolubilidade da união conjugal, deixando bem claro que o rompimento de uma primeira união e o início de uma segunda implicará em adultério. (cf. Mc 10,12).

Portanto homem e mulher são chamados a vivência de uma relação indissolúvel, pois se trata de uma união sacramentada, santificada. Os elementos que darão sustentação ao matrimônio serão o amor e a fidelidade, que serão vividos através no dia a dia através do perdão, do cuidado, do companheirismo e da admiração entre os cônjuges, e, ao mesmo tempo, alimentados pela escuta da palavra e pela perseverança. O adultério quebrará essa preciosidade do matrimônio e poderá causar como consequência, ao homem e à mulher, uma vida de tristezas e muitas vezes grandes desastres existenciais na união conjugal.

Quanto ao segundo momento do evangelho, constatamos a postura dos discípulos diante das crianças (cf. Mc 10,13). Jesus mais uma vez fará a intervenção e, aborrecido, orientará os seus discípulos dizendo que o Reino de Deus é daqueles que se convertem em crianças (cf. Mc 10,15), pois elas são exemplos de inocência e simplicidade. As crianças naquela cultura eram excluídas, uma espécie de pobre, ou seja, não tinham vez e não eram acolhidas. Jesus rompe com esta postura, abraçando e abençoando-as, e, desta forma, apontando uma nova atitude e exemplo para entrar no Reino de Deus.

Diante destas duas cenas do evangelho podemos refletir como está o mundo de hoje diante das realidades do matrimônio e dos pobres: quanto ao sacramento do matrimônio enfrentamos uma mentalidade de inversão de valores, onde a instituição família é banalizada e, ao mesmo, tempo bombardeada pelos meios de comunicação com os valores que ferem a vida cristã. O pior é que, muitas vezes, aqueles que querem assumir um compromisso matrimonial também são atingidos pela cultura do relativismo referente às uniões conjugais. Muitos, quando são orientados para uma preparação adequada para o casamento religioso, se possível, fogem dessas responsabilidades.

O Sacramento do matrimônio é uma entrega, uma vocação e um compromisso de fidelidade como a entrega de Cristo à cruz, a caminho da ressurreição em favor de todos, como cita a carta aos hebreus (cf. Hb 2,9), e também como seu amor a Igreja esposa.

Ainda referente à segunda cena do Evangelho, vemos Jesus que acolhe, abraça e abençoa as crianças, como sinal do abraço a todos que buscam nele a redenção. Esta opção de amor aos simples de coração e pobres é o grande sinal de que nós cristãos devemos também estar atentos e vivê-lo na nossa prática. O Reino de Deus é daqueles que acolhem, amam e que se tornam como crianças e não dos arrogantes que se fecham no mundo do individualismo e do egoísmo. É interessante refletir que Deus é misericordioso e sua misericórdia e a sua salvação é para todos, porém não de forma impositiva e automática, mas com a nossa colaboração de acolhermos a sua graça. Santo Agostinho falará exatamente desta nossa colaboração na nossa caminhada: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti.”[1]

Peçamos a graça e a perseverança da vivência da caridade cristã em que estamos inseridos como discípulos e missionários de Cristo e que o nosso amor a ele seja fiel e constante. E então possamos proclamar como salmista: “O Senhor nos abençoe cada dia de nossa vida.” Amém!

 

 

[1] Santo Agostinho de Hipona – Religioso e teólogo cristão. Doutor da Igreja sistematizou a doutrina cristã com enfoque neoplatônico. Foi o primeiro filósofo a refletir sobre o sentido da história, mas tornou-se acima de tudo o arquiteto do projeto intelectual da Igreja Católica.

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Nm 11,25-29; Sl 18(19); Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48

 

POESIA

MÃOS, PÉS E OLHOS PARA O SENHOR

Dai-me Senhor,
Mãos que abençoam e que promovem a paz,
Mãos que escrevem uma história de amor capaz,
Que seguram firme para não romper o cordão da ciranda,
E que sejam para Ti força para que o Reino se expanda.

Livra-me Senhor das mãos da violência,
Que provocam escândalo e tantas carências…
Corta-me as atitudes que destroem a fraternidade
E que promovem a morte e a desigualdade.

Dai-me Senhor,
Pés que caminham para missão
Que vão em busca do encontro com o irmão;
Livra-nos das veredas do mau caminho
E da tentação de querer caminhar sozinho.

Abençoa os caminheiros da perseverança,
Pelas estradas da existência que às vezes cansa,
Pés que pisam o chão da comunidade em união
Que dançam na festa da paz e da comunhão.

Enfim, ensina-nos a enxergar um mundo novo,
Com o teu olhar na vida do povo,
Contemplando as tristezas e alegrias,
Mas esperando o teu Reino como o novo dia.

 

HOMILIA

Jesus nos ensina a não escandalizar os pequeninos

Queridos irmãos e irmãs, este último domingo de setembro a Igreja dedica à Bíblia Sagrada. Todos são convidados a viver o amor à Palavra que é o próprio Cristo que se encarnou e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14). A Bíblia é o livro ou coleção de livros mais publicada e lida do mundo e por isso temos que aceitar que o seu conteúdo vai além dos nossos templos, casas, capelas e grupos.

No Evangelho desta liturgia podemos constatar mais um ato vergonho dos discípulos diante de Jesus: eles espalham, equivocadamente, que alguém estava expulsando demônios em seu nome e por isso até querem impedir a ação dessa pessoa (cf. v. 38). A intervenção de Jesus é imediata, advertindo que fazer o bem não é um privilégio do grupo dele, mas também de outros, que, ao fazê-lo, também se incluem ao lado de Jesus (cf. v. 40). É o que vemos também na primeira leitura, quando Moisés quer partilhar o seu dom de profetizar com os setenta anciãos. Josué discípulo de Moisés cai também no mesmo erro de querer proibir Eldad e Medad de profetizar por não fazerem parte dos setenta (cf. v. 28). Mas Moisés, numa atitude de sábio e profeta de Deus, fala: “quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor e lhe concedesse o seu Espírito” (cf. v. 29).

O Evangelho de Marcos traz em seguida outros pontos que merecem ser refletidos com profundidade como o escandalizar os pequeninos que crêem. A esses é melhor se afogar no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. v. 42): os pobres, os doentes, os órfãos, os imigrantes, os sem-lar são pequeninos que, muitas vezes, são escandalizados pela sociedade do acúmulo e do poder. Infelizmente, muitas vezes são os cristãos que também promovem tais escândalos.

Outra preocupação de Jesus é o cuidado com o uso do nosso corpo físico (tais como mãos, pés, olhos, língua, etc), pois o mau uso pode levar-nos ao inferno. Ou seja, é preciso cortar as atitudes más que brotam do nosso corpo físico pois estas devem estar a serviço da fraternidade. Servem para escrever uma nova história, para levantar os que estão no chão, oferecer a caridade e não para roubar o salário dos pobres ou para matar o outro. É o que São Tiago nos alerta na segunda leitura: “O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (v. 4).

Quanto ao “pé”, temos de cortar as atitudes que nos levam ao caminho errado, o caminho do mal. Precisamos usá-los para levar a Palavra, semear o amor e fazer com que Cristo seja conhecido e amado. O mundo precisa de tantos caminheiros do bem que visitem os pobres, os doentes e todos os sofredores marcados pela exclusão social. Como missionários, somos chamados a vestir os pequeninos da dignidade de filhos de Deus.

Os nossos “olhos” também podem nos levar à perdição quando olhamos para o outro com inveja, com más intenções, com atitudes de julgamento e de desprezo. Devemos perceber a necessidade que o outro tem da nossa atenção e, desta forma, enxergar as coisas boas do Reino de Deus ou a outras pessoas que não estão no nosso grupo e que fazem o bem, mostrando a face de Cristo pela sua caridade.

O grande ensinamento da liturgia deste domingo é que para ser discípulos do Senhor precisamos mudar a nossa maneira de agir e de pensar diante do mundo.

Convido agora a refletirmos a caminhada que o evangelista Marcos fez conosco durante o mês de setembro:

02/09/18 (XXII Dom.): “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15). Do nosso coração sai o amor, o olhar verdadeiro sobre a vida, expressa no carinho, no caminho com os irmãos da nossa comunidade, do nosso grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossa mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

09/09/18 (XXIII Dom.): “Aos seus pés trazem um surdo e mudo para ser curado, era alguém que não podia ouvir, e para falar tinha dificuldades” (Mc, 7,32). Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

16/09/18 (XXIV Dom.): “quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29); “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga…” (Mc 8,34). O primeiro requisito para ser cristão é saber quem é Jesus. Este saber quem é Ele exige o conhecimento do seu projeto, do seu plano de amor, da postura diante do mundo e suas realidades adversas e, sobretudo, a coragem de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do próprio martírio.

23/09/18 (XXV Dom.): “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todo” (Mc 9,37). Seguir Jesus é ter consciência dos sofrimentos, é comprometer-se com o outro, é um estar com Ele na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança);

E neste último domingo de setembro aprendemos muito sobre o ser discípulo de Jesus, que precisa primeiramente está aberto aos outros que querem também servir e amar. A caridade não uma propriedade única dos cristãos, outros fazem a experiência do amor aos irmãos e até mesmo da missão.

Peçamos ao Espírito Santo o dom de amar e de viver a comunhão em Cristo querendo ser discípulo seu, “vivendo como ele viveu, amando como ele amou e pensando como Ele pensou”[1].

 

[1] (Pe. Zezinho).

 

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 53(54); Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37

 

POESIA

VIVER NO SENHOR

Quero estar contigo Senhor,
No silêncio do meu quarto interior;
Na escuta das tuas Palavras cortantes;
Que desmontam o meu coração,
Que me fazem ver o mundo com o teu olhar.

Quero caminhar contigo Senhor
Querendo ser servo,
Querendo ser o menor,
Querendo ser o último,
Querendo ser como criança…

Ajuda-me a colocar a toalha da caridade,
E caminhar num mundo de tantas pobrezas,
Ensina-me a lavar os pés machucados,
Dos caminhantes sem rumo…
E sem ninguém por eles.

Aos poucos vou entendendo
A essência do discípulo fiel:
Ser servo,
Ser sal,
Ser luz,
Ser fermento,
E também ser trigo.

Isto mesmo,
Ser trigo triturado, esmagado…
Ou caído na terra,
Pelos caminhos do mundo,
Para ser semente do Reino.

HOMILIA

Aprendendo a ser servo e acolhedor

Estamos no 25º Domingo do tempo comum. Nesta experiência da escuta da Palavra, caminhamos com Jesus atentos aos ensinamentos que nos preparam para sermos discípulos missionários neste mundo de tantas realidades e ideologias contra a proposta do Reino.

Aprendemos nesta liturgia dominical que Jesus queria estar a sós com os discípulos para prepará-los melhor, para que ficassem atentos aos seus ensinamentos. Mais uma vez ele surpreende àqueles que o seguem, mas era importante que os seguidores tivessem consciência das consequências do discipulado.

Num primeiro momento, Jesus fala aos seus discípulos sobre o seu calvário, também sobre a sua ressureição após três dias, mas eles não conseguem entender, pois ainda estavam presos às honrarias humanas, marcada pelo costume judaico, no qual muitos se preocupavam sobre a importância dos postos de status (cf. v. 34).

Jesus prossegue dizendo que para ser discípulo primeiro seja aquele que serve, aquele que acolhe os pequeninos, pois quem acolhe uma criança em seu nome na verdade está acolhendo o Pai do Céu (cf. v. 37). Acolher e ajudar o indefeso e sem voz é acolher o próprio Deus.

Essa experiência de segui-lo terá suas consequências de sofrimento, mas Deus o defenderá e o livrará de seus inimigos, como fala o livro da Sabedoria (cf. 18). Isso mesmo, no “calvário” colocado pelos inimigos do Senhor, em alguns momentos, somente Deus estará caminhando ao seu lado. Somente quem faz a opção e vive a radicalidade do seguimento em favor do Reino, poderá entender esta dimensão da vida cristã.

São Tiago, na segunda leitura, falará da sabedoria que vem do alto e como ela será a base dos valores dos que vivem a fé autêntica em Jesus Cristo. Esta sabedoria é pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento (cf. v. 17).

Diante destes fundamentos bíblicos que a liturgia da Palavra vem iluminar nossa experiência de fé, podemos refletir que seguir Jesus supõe estar na “contramão” das ideologias predominantes do chamado mundo pós-moderno, onde a ideia é chegar primeiro, é projetar-se, é aparecer, ser o maior diante dos homens; outra reflexão a partir do seguimento de Jesus é ter consciência dos sofrimentos, é comprometer-se com o outro, é um estar com Ele na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança) numa postura de simplicidade e entrega nas mãos de Deus; seguir Jesus também é estar disposto a enfrentar perseguições, calúnias, incompreensões. É não ter medo do “mundo” é ser consciente das possíveis consequências.

Sem a compreensão do verdadeiro seguimento, como caminho de Redenção, fica difícil ser um seguidor autêntico de Cristo. Sem uma meditação constante e atenta à Palavra corremos o risco de ficarmos preocupados com o supérfluo, com as honrarias, estrelismo, popularidade e podemos desaguar na inversão da proposta do Reino.

Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine e nos dê forças para enfrentarmos as tentações, que desviam o nosso olhar das coisas do Reino. Que nosso testemunho possa falar pelas obras onde quer que estejamos. Que aprendamos a ser servos e acolhedores para que a luz do Reino brilhe no mundo do desprotegidos e desamparados. Amém.

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 50,5-9a; Sl 114(115); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

QUEM ÉS TU SENHOR?

Quem és tu o meu Senhor?
Que me chama pra te seguir.
Que me trata como amigo…
Que me é sincero e não me enganas,
Pro seu caminho assumir.

És Pão e Palavra que vem do alto,
Alimento dos que estão unidos,
Dos que sonham sempre juntos,
Dos que caminham na tua escuta.
Dos que procuram abrigo.

Tens palavras de vida eterna,
Mas também palavras duras.
A teus discípulos é exigente,
Porque é um mestre diferente,
E com amor nos segura.

Pra te seguir conscientes,
As consequências teremos,
O teu mandato é exigente.
Tem cruz e humilhações,
Mas a vida encontraremos.

O que fazer então, ó Senhor?
Para te responder coerente,
A verdade do meu coração,
Que ainda te desconhece,
Como age tanta gente.

Somente continuar te seguindo,
No teu caminho de ensinamento,
Nas tuas perguntas curtas,
Que me incomodam, mas limpa
Todo o meu entendimento.

 

HOMILIA

A Palavra de vida eterna em nosso caminho

O Senhor nos ensina, durante nossa caminhada com ele, a sermos conscientes das consequências da nossa opção de discípulos. É o que nos faz refletir a liturgia deste 24º domingo do tempo comum.

A intenção da Igreja é que os cristãos busquem, cada vez mais nesta fonte viva da Palavra, o maior conhecimento de Jesus e do projeto do seu Reino. Conscientes do chamado do Senhor, devemos anunciar a todos o amor misericordioso do Ressuscitado, que vem recriar o homem para a contemplação eterna do mistério Santo.

No Evangelho deste domingo, no capítulo 8 de Marcos, podemos contemplar Jesus em caminhada com seus discípulos para Cesareia de Felipe. Ele faz uma pesquisa sobre a sua identidade, com uma única e simples pergunta: “quem dizeis que eu sou?” (v. 29). Parece que, para alguns, não estava tão claro quem era ele. A resposta de Pedro salva da decepção dos outros: “Tu és o Messias” (v. 29). Porém, logo depois o decepciona, pois a visão de Pedro ainda é puramente humana, arraigada na concepção dos mestres e doutores da lei (cf. v. 32), quando Jesus o repreende por não entender o novo messianismo (cf. v. 33).

O próprio Jesus fará imediatamente a correção da visão de Pedro, pois este ainda não pensa nas coisas de Deus, mas sim na realidade dos homens, na superficialidade terrena. Por isso Jesus não autoriza que saiam falando sobre suas obras, pois ainda não tinham conhecimento da verdadeira missão de Jesus e das suas consequências.

O texto proclamado nesta liturgia dominical encerra com as palavras de Jesus aos discípulos e à multidão: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (v. 34). Seguir não quer dizer honrarias, fama e status. Abraçar a missão do servo de Deus implica muitas vezes fracassos, humilhações, dores e morte. Quem estava preparado para este projeto aparentemente fracassado aos olhos humanos e terrenos?

Jesus passará pela realidade anunciada na primeira leitura, quando Isaías fala do servo de Javé: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba...” (v. 6). As palavras de Jesus no Evangelho são o primeiro anúncio da sua Paixão. Nele se cumprirá o que o profeta Isaías anunciou na primeira leitura desta liturgia. Cristo é o servo sofredor que, por sua vez, vencerá a morte e trará a salvação para todos os homens.

Caminhar com Jesus, portanto, exige a prática do seguimento, como fala São Tiago, na segunda leitura. A fé sem obras é morta (cf. v. 17). Implica unir a fé como uma certeza e convicção da ação de Deus e, ao mesmo tempo, viver a obra do amor e do seguimento.

Assim sendo, para ser cristão o primeiro requisito é saber quem é Jesus. Este saber exige o conhecimento do seu projeto, do seu plano de amor, da postura diante do mundo e suas realidades adversas e, sobretudo, a coragem de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do próprio martírio.

Seguir Jesus é defender a vida concretamente e isso acontece quando somos contra o aborto, quando não aceitamos a eutanásia, quando ajudamos os necessitados sendo solidários com o sofrimento e procurando saídas para que vençam o desemprego e o abandono. Eis o desafio dos que seguem Cristo. Tudo isso, muitas vezes, exige uma postura desconfortável diante da sociedade, pois é a ação que Jesus nos pede e não uma fuga do outro para ficar com a consciência tranquila. Pelo contrário é um encontrar-se com o outro e preocupar-se com ele sendo capaz de desmontar num itinerário que possamos servir e cuidar do irmão caído, como Cireneu e o Bom Samaritano.

Somente entenderemos o sentido verdadeiro da cruz e do seu discipulado quando soubermos quem é Jesus. Segui-Lo é antes de tudo abraçar a cruz, pois, como disse o Papa Francisco não há cristianismo sem cruz[1]. E conhecer Jesus é viver a fé expressa nas obras, ou seja, na nossa ação verdadeira sem fingimentos e falsidades. Isso será possível quando tivermos uma constante leitura e meditação da Palavra. É nessa busca que poderemos cantar como no salmo responsorial desta liturgia: “Andarei na presença de Deus, junto a Ele, na terra dos vivos.” Amém!

[1] Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2014/documents/papa-francesco_20140408_meditazioni-47.html>. Acesso em: 12 set. 2015.

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 145(146); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

EFATÁ

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.

Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvireis as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a fraternidade.

 

HOMILIA

Discípulos em escuta e missionário na fala

A liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum nos alerta para que nos curemos da nossa surdez e da nossa mudez na nossa experiência de discípulos missionários do Senhor. Discípulos que seguem a Cristo através da escuta da sua Palavra e proclamam o amor, encontrando em Deus a graça da cura porque o Senhor tocou os ouvidos e a língua para que anunciem ao mundo as maravilhas do Reino de Deus.

O Evangelho desta liturgia apresenta Jesus em território pagão, na região de Tiro e Sidônia, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado. Era alguém que não podia ouvir e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão e toca nos seus ouvidos e também na sua língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai abrindo a possibilidade do falar e do escutar para aquele homem que estava fora da comunidade e que foi trazido por seus amigos para ser curado, porque não era mais possível até então caminhar sozinho em busca de Jesus.

Esta ação de Jesus já era anunciada em Isaías quando fala ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5). Em Jesus se cumpre o que anunciou o profeta.

Na segunda leitura, São Tiago nos alerta para que, na nossa fé em Jesus Cristo não admitamos acepções de pessoas, porém fala que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus que exclui, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

A Palavra de Deus é a verdadeira referência para escutarmos a verdade. É pela escuta da Palavra nas celebrações, nos encontros, na leitura orante em comunidade e/ou individual que podemos ser curados da nossa surdez e da nossa mudez. É a palavra de Cristo que penetrando em nossos ouvidos leva-nos a entrar na comunidade. O isolamento nos tira da escuta, nos tira a vivacidade da comunicação com os irmãos. Por isso precisamos que alguém que já faça parte da comunidade nos encaminhe a Cristo.

É por amor e aceitação à Palavra que o próprio Cristo, Verbo encarnado, nos dá a capacidade para ouvir o clamor dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra. É pelo encontro com o Senhor, muitas vezes na escuta silenciosa, que somos motivados a abrirmos a nossa boca para proclamarmos a justiça, a caridade e vivermos a fraternidade no nosso caminho cristão em favor do mundo.

Façamos esse exercício do encontro com o Senhor, pela Eucaristia, pela leitura da Bíblia e escutando o Espírito Santo na voz da Igreja. É somente pela constante escuta do Senhor, à Palavra, que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida. Somente um proclamar insistente das maravilhas de Deus poderá transformar a nossa vida e a vida dos irmãos. É pela constante leitura da Sagrada Escritura e escuta da Igreja, o Corpo Místico de Cristo, que nos tornamos íntimos de Cristo e da sua proposta na vida nossa de cada dia.

A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, trazendo como consequência na escuta, na conversão e na fala a esperança na salvação, inserindo-nos na comunidade dos amigos de Cristo que constantemente aprende a ouvir os apelos de Deus em favor da humanidade, que em muitas situações precisa ser curada da surdez do individualismo que traz tanto sofrimento às pessoas. Amém.

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 4,1-2.6-8; Sl 14(15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23

 

POESIA

OS PRECEITOS DO SENHOR

A Palavra do Senhor tem seus preceitos:
Lei que eleva-nos à vida de caridade,
Que nos ensina agir na simplicidade,
A inserir-nos no mais profundo da comunhão,
Para buscarmos na mesa do Vinho e do Pão,
O sentido mais verdadeiro da santidade.

Os conselhos do Senhor são superiores,
Às prescrições da pedra e do papel,
É Carne, é Homem, é o Emanuel,
Que veio ao mundo conosco morar,
Renovando a lei pra nos alimentar,
Num banquete vivo de leite e mel.

A voz do Senhor nos faz pensar:
Nas impurezas do nosso coração,
Nas misérias que fazem a devastação,
Na hora dos lábios quando superficiais,
Pelo culto vazio e as regras materiais,
E pela busca de uma vida de ilusão.

O olhar do Senhor nos levará,
Ao verdadeiro culto que faz viver,
Pela santa Palavra que nos leva a crer,
Que a voz verdadeira não enganará,
Que sua força nos salvará,
Basta seguir o amor e obedecer.

Os caminhos do Senhor nos levarão:
A falar do amor e da alegria,
A prestar um culto de verdade a cada dia,
Para levar a paz na vida em missão,
Expulsando os males que saem do coração,
Pela Santa Palavra que nos recria.

 

HOMILIA

O verdadeiro culto ao Senhor

Neste 22º Domingo do Tempo Comum meditaremos o texto do evangelista Marcos no qual Jesus está diante dos fariseus e mestres da Lei. Há um questionamento deles em ralação à limpeza exterior e Jesus logo corrige tal questionamento: “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15).

Pois bem. O amor sai do nosso coração. O olhar verdadeiro sobre a vida, expresso no carinho, no caminho com os irmãos da comunidade, no grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossas mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

Segundo Marcos, Jesus faz referência ao texto do profeta Isaías (cf. 29,13). Disse o Senhor: “Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a boca, enquanto o coração está longe de mim. Seu temor para comigo é feito de obrigações tradicionais e rotineiras” (Mc 7,6). Jesus denuncia a postura dos especialistas da tradição de Israel, os alertando que não é o externo que agrada a Deus, mas o seguimento da Palavra é que traz o Espírito do amor e a vida nova expressa num culto verdadeiro e profundo direcionado a Deus.

Isso nos levar a refletirmos sobre nós cristãos, hoje: como está a motivação do nosso culto a Cristo ressuscitado? Buscamos no nosso coração, no mais profundo do nosso ser, os motivos que nos leva a ser um discípulo missionário com toda a nossa alma e com todo o nosso ser? Quais são as impurezas do nosso coração? A liturgia da Palavra irá nos apontar para que busquemos a libertação desta realidade das impurezas citada por Jesus. Estas sim nos torna impuros diante de Deus!

Na primeira leitura no livro do Deuteronômio, escrito na Babilônia, durante o exílio do Povo de Israel, Moisés aconselha a todos que guardem os mandamentos do Senhor. Esta obediência levará o povo a viver a justiça no mundo de sofrimento, pois o que sobrou para aquele resto do povo escolhido foi a lei de Deus, para orientar o caminho de Israel. Diz Moisés: E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?” (Dt 4,8). Nós cristão também devemos seguir o mandamento justo e vivo confirmado por Jesus, a partir do amor a Deus e ao próximo.

Na segunda leitura, São Tiago irá dizer: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é que assiste os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixa contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Aqui podemos confirmar o que falamos acima: o amor (caridade) é o maior dos preceitos pois é a prova concreta da obediência e culto que agrada a Deus.

Vejamos que toda a Palavra deste domingo se volta para pureza baseada em nossas atitudes, intenções e palavras. Somos chamados a viver a pureza cristã expressa na caridade a qual brota de nosso coração. Esta vivência somente será possível quando somos observadores às leis do Senhor, contidas primeiramente no Evangelho. Quando deixamos que a nossa vida seja marcada e demarcada pelo o mandamento do amor o qual não está no papel, mas no coração e nas nossas atitudes do bem e sobre a luz do Espírito de Deus que também conduz a nossa existência.

Vivemos num mundo em que se relativizam as leis dos homens não a favor do amor, mas a serviço de interesses, muitas vezes, econômicos e políticos, as quais ferem a dignidade humana. Também esquecemos que a nossa pureza brota de um coração que vive o amor por Cristo, expressa na ajuda aos necessitados, aos famintos do Pão e da Palavra, de atenção e do carinho do amor do Pai.

Portanto, a nossa comunhão com Cristo se dará de verdade quando somos um só corpo de Cristo, como uma esposa fiel. Aquela que sente a dor de seus membros. Ser seguidor de Jesus é exatamente viver escutando a sua Palavra e se alimentando dela; é seguir os verdadeiros preceitos, honrando a Deus com os nossos lábios e, sobretudo, com o nosso coração, numa atitude de escuta, numa poesia e canção que deverá brotar do mais profundo do nosso ser, como louvor e gratidão ao Deus que nos alimenta e nos oferece a vida verdadeira. Amém.

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Cor Litúrgica: Verde

Leituras: Ex 16,2-4.12-15; Sl 77; Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35

 

O PÃO QUE VEM DO CÉU

 

Além do pão que vem da terra,

 Que do trigo novo se faz grãos,

Plantado pelas mãos humanas,

Fruto do amor e da Criação,

Temos o pão da eternidade,

Que nos traz a novidade,

Para a nossa salvação.

 

Pão que se dá na Palavra Santa,

Pelas letras do Livro Sagrado,

Que nos orienta para a caminhada,

Fazendo sempre nos sentir amados,

Que muda nossos comportamentos,

Que transforma nossos sentimentos,

Como pérola e tesouro encontrados.

 

Pão que se oferece para a vida nova,

Na Mesa de todos e bem preparada,

Onde todos se voltam para o Alimento,

Como irmãos felizes da mesma estrada,

E então, se alimentam e se saciam,

E depois para mundo todos anunciam,

Esse Pão nos leva a eterna morada.

 

Alimento e Bebida que nos realiza,

Que nos sacia perfeitamente,

Dando-nos o sentido mais completo,

Alimentando a nós, a sua gente,

Configurando-nos ao seu imenso amor,

Nosso Pão da vida e Nosso Senhor

Força que nos faz seguir em frente.

 

Busquemos sempre por este Pão,

Nos caminhos da vida espiritual,

Mas, não deixemos de trabalhar,

Também pelo alimento material,

Porém, o Pão do céu é a maior razão,

Que nos dá força na tribulação,

Para a nossa vida, é santo sinal.

 

Que possamos ser Eucaristia,

No mundo das contradições,

No cotidiano de nossa existência,

Na vida, nas várias dimensões,

Na luta pelas causas sociais,

Nas fomes de comida e espirituais,

Na justiça do Reino nos fazendo iguais.

 

Por isso Senhor nós te pedimos,

Alimente em nós a confiança,

Pela providência do pão de cada dia,

Ensinai-nos o perdão em perseverança,

Perdoai-nos também as nossas ofensas,

Quebrai em nós toda a prepotência

Para que brote a Paz e a Esperança.

O Pão que nos leva à vida eterna

 

A liturgia deste 18º domingo do tempo comum dá continuidade ao capítulo 6 de João. É o discurso do “Pão da vida”, em que Jesus fala para a multidão sobre o Pão do Céu oferecido por Deus para a obra de salvação.

As pessoas querem mais pão material, querem vida fácil através de uma ação quase que mágica de Jesus. Jesus aproveita para reconduzir o foco na experiência do Pão Divino que sacia todo homem.

Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará (Jo 6,27). Essa é a grande mensagem para a multidão dos seguidores de Jesus. Desafio para nós cristãos dos dias atuais, quando o espírito do consumismo invade as consciências e a vida das pessoas de forma violenta e arbitrária. Jesus alerta à multidão para que realizem a grande obra de Deus, isto é, acreditar no Filho, enviado pelo Pai, que veio mostrar a sua face e ensinar a todos a viverem como irmãos.

O pão que Jesus oferece é o seu projeto de amor, onde todos podem se alimentar e também fazer com que a partilha, a fraternidade e a solidariedade estejam presentes como sentido principal da vida, numa caminhada onde não há mais fome de sentido da nossa existência. Somos saciados quando encontramos o sentido da nossa vida e a ofertamos como sinal de alegria e graça diante do mundo. Quando vivermos isso, estaremos alimentados do verdadeiro pão da vida, o qual está além da nossa fome do pão orgânico.

Entretanto, o Pão do céu é dom de Deus, é uma ação da pessoa do Pai. Os que estavam no deserto junto a Moisés receberam de Deus a providência do pão material, mas tiveram que aprender a confiar na providência divina quando receberam a ordem de não guardar para o outro dia (cf. Ex 16,4).

Muitas vezes, quando vamos à Missa, esquecemos que devemos alimentar nossa esperança no Pão do céu e não nas nossas barganhas com Deus. Não devemos agir como aquela multidão: querer um milagre de acordo com as nossas expectativas, como se a nossa presença na celebração fosse o suficiente para merecermos a graça.

Quando vamos à Missa, devemos estar atentos a duas dimensões: a primeira, é que se faz necessário escutar os ensinamentos da Palavra e receber o alimento da Eucaristia, para prosseguirmos nossa caminhada realizando a obra de Deus pela nossa

fé; a segunda é rezarmos que a providência de Deus para atue em nossa vida, mas esta dimensão não está submissa à nossa presença em uma Celebração, ela é gratuita por que Deus é misericordioso e nós é que temos a obrigação de cultuá-lo como um gesto de gratidão, obediência e amor ao Senhor. Podemos nos perguntar: o que iremos buscar na missa ou porque vamos à missa? Jesus nos pergunta: porque me procuram, porque buscam me encontrar?

Na segunda leitura, São Paulo nos exorta a despojarmos do homem velho para se revestir do homem novo (cf. Ef 4,17-24). Um ser humano que se insere no mundo do consumismo, achando que tudo pode, está, na verdade, com as atitudes do homem velho, porque está perdendo a imagem do qual foi criado por Deus. Por isso o Apóstolo nos alerta: Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. (Ef 4,24).

Trazer a imagem de Deus em nós está além da nossa visão física. Esta imagem é marcada por atitudes que transforma a nossa vida e da vida dos irmãos. As atitudes do homem novo se dão quando ele busca o verdadeiro pão do céu, e ao mesmo tempo se alimento do pão de cada dia, confiando na providência de Deus…

Portanto o homem novo é aquele que se alimenta do Pão do Céu e quer mostrar para o mundo que o sentido pleno da nossa existência está no alimento que vem do Céu. Por isso quando Jesus nos ensina a pedir o pão para cada dia, ele nos fala de Pão Nosso e de Pai nosso (cf. Mt 6,9-15). Porque o pão orgânico também é dado por Deus que é Pai de todos e por isso oferece a todos o Pão e a Vida. Ele é a fonte onde encontramos a força espiritual para labutarmos na vida. Ele é o alimento e a bebida plena que nos sacia completamente.

Ao sairmos do encontro com o Senhor, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, deveremos ir ao mundo como sinal de comunhão e de fraternidade, nas realidades da vida cotidiana, nos vários âmbitos sociais e comunitários. Na luta por justiça e pelo pão material e espiritual que se complementam e se tornam vida cheia de alegria e senso de irmandade. Sejais, o Senhor, nosso alimento e nossa esperança… Amém.

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 144(145); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

POESIA

A PARTILHA DO REINO

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.

Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do divino amor.

O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao pão da vida eterna tenha procurado.

E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.

Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o pão do amor e da comunhão,
Para beber o vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho leva vida e à salvação.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina a guardar o que sobra

Neste 17º domingo do tempo comum vamos aprender de Jesus a verdadeira partilha, a qual suscita o grande milagre que é a multiplicação do pão para todos. A multidão procura Jesus para aclamá-lo como rei de Israel porque ainda não compreendeu o sentido completo da sua vinda ao mundo.

Durante cinco domingos iremos ler o capítulo 6 de João, que inicia nesta liturgia com a multiplicação dos pães e prossegue o grande discurso sobre o pão da vida, alguns momentos no monte e em outros na sinagoga de Cafarnaum.

Jesus atravessa o mar e uma grande multidão o segue, estava próxima a Páscoa, Jesus percebe que o povo tem fome e provoca um de seus discípulos, Felipe, perguntando como resolver o problema da falta de alimentos. André percebe que há um menino com cinco pães e dois peixes.

Cada uma destas atitudes nos leva a refletir sobre o que ensina Jesus para a nossa caminhada cristã. Podemos perceber um paralelo entre o Antigo e o Novo Testamento: Jesus atravessa o mar da Galileia, como Moisés também atravessou o mar Vermelho, Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto. Há o milagre do pão como o maná no Deserto. Porém há algo novo no Evangelho: Jesus é o novo Moisés que caminha com a multidão, conduzindo-a ao Reino de Deus.

O Pão agora deve ser preservado e guardado para que os outros participem da graça do milagre de Jesus. O Pão da vida, a Eucaristia, deve alimentar o sentimento de justiça e também suscitar a percepção de que há irmãos necessitados do pão de cada dia e por passarem fome por causa do acúmulo das riquezas nas mãos de poucos.

A liturgia de hoje nos ensina o valor da partilha e da experiência da gratuidade diante do outro. Mesmo diante da fome de uma multidão necessitada, há sempre alguém a oferecer algo para que seja partilhado. O grande milagre necessário para os nossos dias é a conversão do coração humano para a partilha dos seus acúmulos.

O Evangelho quer nos ensinar que a Eucaristia é vivida quando o pão material também é disponível na mesa de todos. Não há uma comunidade eucarística onde não se sente a necessidade do outro, onde não se incomoda com as pessoas que precisam do pão de cada dia.

Outra realidade que podemos refletir nesta liturgia: a fome pode ser resolvida quando forem recolhidas as sobras das mesas fartas como um louvor pelo grande milagre da abundância oferecida por Deus. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino perdido na multidão, ou como “o homem de Baal-Salisa, que veio trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

O Papa Francisco[1],em sua encíclica, nos lembra que “desperdiçamos no mundo aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS,50). Esse é o grande pecado da humanidade e deve ser confessado e transformado em ação de partilha e sensibilidade pelos irmãos e irmãs da nossa casa comum, que é a terra, como nos fala o Papa.

As nossas celebrações precisam ser continuadas nas missões, onde devemos anunciar aos outros o quanto podemos contribuir com o milagre de Jesus, que é o alimento oferecido a todos. A Eucaristia deve também nos conduzir à fraternidade e a alegria do encontro onde todos são acolhidos e ajudados a viverem com a dignidade de irmãos no mesmo amor de Deus, que é justo e misericordioso.

O nosso pecado contra a Eucaristia acontece quando nos deixamos levar pela nossa obsessão ao consumismo e a nossa omissão no envolvimento com as políticas públicas de distribuição de renda. A verdade é que somos dominados pelo mercado, que presta culto ao deus do lucro, e pelo capitalismo, que exclui tantos irmãos ao acesso aos bens mais básicos de sobrevivência.

A segunda leitura nos exorta a olharmos para a nossa condição de batizados e agirmos como um povo que forma “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6). É em nome da unidade que podemos possibilitar o milagre do pão oferecido a todos, onde as mesas não estarão mais vazias do alimento material e também haverá a Eucaristia comungada e vivida como condição para a construção do Reino de Deus.

Que o Senhor tenha compaixão de nós, abrindo nossos olhos e nossos ouvidos, curando nossas paralisias diante da pobreza material, para que possamos ser sinal de Cristo, como foi o menino, que entregou tudo o que tinha: 5 cinco pães de cevada e 2 peixinhos. E que a partir daí possa acontecer um milagre, onde o amor possa alimentara a multidão, que passa fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora. Amém.

»»» «««

[1] FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado sejas: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.