Celebração da Paixão do Senhor (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: Is 52,13-53,12; Sl 31(30); Hb 4,1416;5,7-9; Jo 18,1-19,42

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Páscoa de Cristo na Cruz

Jo 18,1-19,42

 

Irmãos e irmãs, nesta Sexta-feira Santa, no silêncio e de joelhos, toda a Igreja inicia, às 15h, a Celebração da Paixão do Senhor, a sua segunda Páscoa, dentro do mistério da redenção. Todo o momento desta Liturgia é realizado na mais absoluta reverência e clima de meditação da Palavra e da contemplação da cruz. Da cruz, a qual Jesus foi pregado e elevado, viveu o seu Sacrifício de entrega e a tornou o trono do seu reinado para a nossa salvação. Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por entrega total e livremente.

No Jardim das Oliveiras, Jesus foi entregue aos inimigos para viver a sua paixão e morte e nos resgatar para a vida nova. O jardim é simbólico. Lá o homem (Adão) desobedeceu a Deus e quis ser igual a Ele. No jardim, Jesus foi obediente ao Pai pela nossa Salvação. A maioria de seus discípulos fugiu porque esperavam um rei poderoso segundo as expectativas imperiais e humanas. Pilatos se acovardou por medo da popularidade de Jesus. Por medo de perder seu poder diante do Império Romano.

O Reino de Cristo não é deste mundo, mas do alto e do Pai. Esse Reino não tem critérios humanos, não tem interesses de poderes terrenos e de ambições de poder e opressão contra os pobres, os sem vez e sem voz. Jesus sim, esteve a todo tempo ao lado dos necessitados de saúde, de acolhimento, de perdão, de misericórdia, de amor e de libertação. Tudo isso levou Jesus a ser condenado pelos poderes do mundo.

Ontem, na Última Ceia, Jesus nos deu o exemplo do mandamento do amor e do serviço e nos pediu que fizéssemos o mesmo. Hoje nos dar o testemunho da entrega total, do esvaziamento pelo sofrimento, limítrofe humanamente falando. “Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). É a natureza humana e santa de Cristo que se entrega pela nossa salvação.

Nós somos chamados a viver a paixão de Cristo nos tornando solidários aos que sofrem vivendo a compaixão pela dor do outro e tentando amenizá-la. Somos convidados a valorizarmos a vida, a cada dia. Quantas vezes reclamamos por pouca coisa e queremos desistir de seguir em frente. Cristo nos chama a caminharmos com Ele em meio às glórias e carregando a cruz.

O Senhor se compadeceu de nossos pecados e sofrimentos. É misericordioso quando erramos e quer que retornemos à dignidade de filhos e filhas. Quer que voltemos à sua Casa, onde há o Pão, da Palavra e da Eucaristia, e onde há a Bebida que mata a nossa sede para sempre.

O salmo responsorial desta Liturgia, o Salmo 30, nos convida a refletirmos sobre a confiança no Senhor: Pai em tuas mãos eu entrego o meu espírito. O servo justo coloca toda a confiança em Deus que lhe dá força e não o abandona. Às vezes temos o sentimento de abandono, achamos que Deus nos abandonou e não nos escuta. Mas Cristo nos ensina que devemos perseverar (mesmo no sofrimento, mesmo no sacrifício e nas dores da cruz, mesmo quando somos caluniados em busca da nossa redenção).

Nós, hoje, estamos com Jesus vivendo a Sua Páscoa na cruz, vivendo a Sua passagem pela cruz. Como Maria e o discípulo amado, nós também aos pés da cruz para dizermos que somos uma comunidade onde se abraça o sofrimento, mas, ao mesmo tempo, com coragem e carregados de esperança e amor. Reconhecemos que, muitas vezes, queremos desistir da cruz, queremos mais glória, mais festa, mais apegos humanos e por isso temos medo das consequências do abraço à cruz.

Nesta Celebração vamos unir nossas preces em favor das realidades humanas, temporais e espirituais. Depois iremos acolher a cruz como símbolo da vitória de Cristo. Em procissão reconheceremos que somos a Igreja que nasce do lado de Cristo no alto da cruz. Pelas águas do Batismo somos unidos aos discípulos do Senhor.

Pela Eucaristia nos unimos como Igreja corpo que se torna comunhão mística, comunhão espiritual, que busca a redenção. Depois, em silêncio, também sairemos para meditarmos em nossas casas, sobre a paixão do Senhor. Amanhã, Sábado Santo, deverá ser vivido no silêncio até o início da Vigília Pascal. Que o Senhor nos abençoe e nos dê a perseverança de vivermos santamente este Tríduo Pascal. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Árvore da Vida Nova


Ó cruz libertadora,
Que Cristo a passou por amor,
Para nos trazer a vida,
Mesmo aos tormentos e na dor,
Sinal da entrega total,
Matando a morte, afinal,
Pra ser o nosso Salvador.
*
Cordeiro que se entregou,
Ao Sacrifício, livremente,
No silêncio e na firmeza,
Em favor de sua gente,
Fez de Si santa Comida,
Como também a Bebida,
Que se dá agora e sempre.
*
Essa cruz também se estende,
Aos irmãos, os sofredores,
Que também carregam o fardo,
Expressos em suas dores,
Os sem voz e oprimidos,
Aos tristes e deprimidos,
Que vivem os seus temores.
*
O silêncio da cruz do Senhor,
Se une aos abandonados,
Às famílias em desalento,
Aos tantos desempregados,
Aos reféns dos tantos conflitos,
Reféns das guerras, aflitos,
E aos irmãos refugiados.
*
Que a cruz de nosso Senhor,
A sua santa Paixão,
Faça-nos a Igreja viva,
Fundada na comunhão,
E que o Seu Corpo Santo,
Faça-nos enxugar o pranto,
E nos dê consolação.


*   *   *

 

Obra: “Uma Santa Mulher Enxuga o Rosto de Jesus”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a ser Servos por amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

Missa Vespertina da Ceia do Senhor (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: Ex 12,1-8.11-14; Sl 116(114-115); 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Lava-pés e a Ceia do Senhor

Jo 13,1-15

 

Irmão e irmãs, com esta Liturgia, a da Missa Vespertina da Ceia Senhor, nós iniciamos o Tríduo Pascal que seguirá como uma única Liturgia até a vigília do Sábado Santo. Nesta Liturgia, o refrão do salmo 115 nos diz: “O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor”. Este refrão nos oferece a profundidade da celebração da Ceia do Senhor, porque todos que se reúnem na comunidade dos batizados vem partilhar da mesma palavra, do mesmo pão e do mesmo sangue, abençoados, consagrados e oferecidos pelo mesmo Senhor. Nesta liturgia Jesus institui o Sacerdócio e a Eucaristia; o mandamento do amor.

A Missa da Última Ceia, do Lava-pés, é a porta de entrada do Tríduo Pascal, cume do Ano Litúrgico e em que celebramos três páscoas (passagem): a primeira, na quinta-feira, celebramos a páscoa da ceia; a segunda, na sexta-feira, a páscoa da paixão; e a terceira, no sábado e no Domingo, a páscoa da Ressureição.

Nesta celebração, da quinta-feira, o evangelista João vem apresentar a sua particularidade na Última Ceia de Jesus: o gesto do lava-pés o qual os outros evangelistas não trazem em seus textos. Isso significa que é mais um elemento que enriquece o sentido da Ceia nas narrações dos evangelhos.

Jesus realiza um gesto que era próprio dos escravos ou servos daquela época: lavar os pés do seu senhor. Isso para nos dizer que a Eucaristia só será completa quando, ao recebê-la, estivermos prontos para servir também os outros. Prontos para vivermos a caridade, cuidando também do irmão. Eucaristia também é lava-pés, é abaixar-se e se colocar também à disposição do outro no serviço, no cuidado e na simplicidade.

Jesus realizou este gesto para dizer aos discípulos que era preciso fazer o mesmo. E por isso disse: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos” (Mt 10,43-44). Todo o ensinamento de Jesus, antes de ser falado, é vivido por Ele. Vemos que se tornou servo das pessoas; compassivo, caridoso para com os pobres; misericordioso com os pecadores; e consolador dos aflitos.

Vemos que os discípulos tiveram dificuldade de entender o gesto de lavar os seus pés. Foi algo totalmente novo e desafiador para os Seus seguidores. Pedro, por exemplo, disse-lhe: “Tu nunca me lavarás os pés. E Jesus lhe responde: Se eu não lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,8). O pensar de Pedro era ainda dos antigos judeus. Um mestre nunca poderá lavar os pés de seus seguidores.

Assim são os cristãos, quando acham que a religião traz status e honra. Ser discípulo de Jesus é estar primeiramente a serviço dos irmãos que precisam de nós. É pão partilhado e sangue oferecido para a salvação de todos, mas que traz libertação e vida nova. Isso quando os necessitados forem atendidos e os sem esperança forem animados e fortalecidos pela força edificadora de Cristo.

Hoje, somos nós, os batizados em Cristo, que participamos e atualizamos aquela ceia derradeira. A Eucaristia nos faz sentirmos como os seus discípulos naquele momento. Muitas vezes temos dificuldades de entender o agir do Senhor para conosco. E, em outros momentos, nos sentimos incapazes de realizar o que Ele nos pediu, pois a Eucaristia nos motiva a ter parte com Jesus Cristo e com seu projeto, de missão, de amor e de misericórdia.

Portanto, a Última Ceia de Jesus foi marcada pela memória da libertação de Israel, mas ao mesmo tempo atualizada pela sua entrega como o Cordeiro que se oferece em Sacrifício pela salvação, não somente de um povo, mas de todo o mundo. Jesus inaugura a Nova Aliança e o novo Povo de Deus.

Que a cada dia possamos entender que o encontro perseverante e constante com o Senhor, na Palavra e na Eucaristia, nos fortalece e nos faz continuar a caminhada, como também nos ensina, a cada dia, algo novo para chegarmos à salvação e ao Céu. É caminhado com Jesus que nos tornamos cada vez mais capacitados para servir e amar os irmãos e sermos sinais de servidão e de santidade no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Avental de Cristo


Jesus que tanto amou o mundo,
E continua a nos amar,
Ensina-nos a servir aos outros,
Quando um avental quis usar,
Como o servo do amor,
Fez-se Rei servidor,
A fim de nos libertar.
*
Abaixou-se a nossos pés,
Com a solidariedade,
Ensinou-nos a comungar,
Pra vivermos a unidade,
Pois comungar é servir,
No amor se consumir,
Por toda a humanidade.
*
Só comunga com o Senhor,
Aquele que quer servir,
Que veste o avental da entrega,
E segue sem desistir,
Que desce da prepotência,
Pra viver a benevolência,
E a voz do outro ouvir.
*
A santa Eucaristia
É Jesus Ressuscitado,
Ensinando-nos o serviço,
Para o necessitado,
É os pés do outro lavar,
E o amor testemunhar,
Com o coração doado.
*
Recordando a Última Ceia,
Hoje também partilhando,
Avental e lava-pés,
E mesma fé professando,
Na comunhão e caridade,
No serviço e na irmandade,
Corpo e Sangue comungando.


*   *   *

 

Obra: “O Lava-pés”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a ser Servos por amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

Domingo de Ramos e da Paixão, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 22(21); Fl 2,6-11; Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Entre Aclamações e a Cruz

Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do Domingo de Ramos nos motiva a contemplar o mistério salvífico numa dupla dimensão: a primeira é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando é aclamado Rei e que vem de forma simples e sem exércitos de força, para nos mostrar que o Seu Reino tem como base principal o amor e a paz e a segunda é a paixão e morte, nos mostrando as consequências da missão de Jesus neste mundo.

O Evangelho de hoje nos coloca, neste início da Semana Santa, diante da ação em que Jesus rompe com o culto antigo, que com tantas leis oprimiam os pobres, deixando-os à margem da sociedade. As demais leituras da Liturgia deste Domingo de Ramos nos fornecem a dimensão do verdadeiro culto em toda a História da Salvação.

O profeta Isaías nos apresenta a figura do servo sofredor, paciente diante da humilhação. Diz o Profeta: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). São Paulo nos confirma que este servo sofredor que se esvazia na humilhação é de condição divina (cf. Fl 2,6). No salmo responsorial temos o lamento no sofrimento e no abandono máximo o qual passa a natureza humana de Deus e que se solidariza com todos os que carregam a cruz na caminhada da vida.

A liturgia deste início de Semana Santa, portanto, nos leva a meditar sobre os dois acontecimentos no final da vida de Jesus. Primeiro, a aclamação do povo e dos discípulos na entrada de Jerusalém com ramos tapetes: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38), nos lembrando dos pastores em Belém, na noite do nascimento.

Alguns querem silenciar as aclamações e manifestação dos discípulos, Jesus, porém, repreende, pois são os discípulos que aclamam e caminham com Ele. Ser discípulo é anunciar a presença de Cristo no meio do povo, não é possível calar a voz dos missionários, dos pregadores e dos profetas.

O caminho de Jesus não tem volta. Segue em direção à sua paixão e à cruz. Por isso é importante que juntemos os dois textos de Lucas nesta Liturgia. Precisamos caminhar com o Senhor aclamando como Rei de amor e contemplando a sua paixão, no calvário e na cruz. É a cruz que nos leva à vitória e a redenção.

Qual seria a nossa reposta se começássemos a refletir sobre nosso caminhar com Jesus na nossa história. Seríamos um “Cireneu” que ajudou, involuntariamente, a carregar a cruz? Seríamos como Maria que ficou, voluntariamente, ao pé da cruz? Ou estaríamos de longe, com medo, fugindo e negando ser discípulo d’Ele?

Esta reflexão é importante tendo em vista que, ainda hoje, o Filho de Deus é crucificado nas crianças abortadas, nos jovens assassinados, nos pais de família que enfrentam a violência e o desemprego, nos refugiados, nos fugitivos das guerras e nas tantas mulheres vítima da exploração sexual, violência doméstica, exploração moral e social.

E para proclamá-Lo Ressuscitado no meio do mundo, precisamos também viver a experiência da ressurreição, quando somos vencedores com o Senhor mesmo diante de tantos desafios e tribulações inerentes à vida no “vale de lágrimas”.

Precisamos nos envolver na pregação do Evangelho em nossa vida e na proclamação de seus valores para que a existência humana seja libertada das tantas cruzes, dos tantos sofrimentos a fim de que uma vida nova ressurja em cada pessoa.

Recordemos ainda que neste mês de abril as intenções do Papa Francisco, Vigário de Cristo e Bispo de Roma, estão voltadas pelo êxito dos profissionais de saúde na assistência aos doente e idosos, sobretudo nas localidades mais pobres e carentes.

Também neste dia, a Igreja, no Brasil, está voltada para o dia nacional da coleta da solidariedade referente à Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, cujos recursos são geridos tanto pelas dioceses quanto pelo fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora da Piedade que ela interceda por nós para que, nesta Semana Santa, possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para, junto com Jesus, passarmos pelo triunfalismo e fazer a vontade do Pai. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Com Jesus na Cruz e na Nossa Vida


Vamos caminhar com Jesus
Com cantos de alegria,
Com ramos nas mãos sem hipocrisia,
Caminhemos com Ele até a cruz,
Sejamos discípulos do Amor e da Luz,
Façamos por inteiro nosso peregrinar,
Expusemos o medo de com Ele caminhar.
*
Façamo-Lo Rei,
Não da força e da prepotência,
Mas do amor, da paz e da paciência,
Num caminhar sereno e de prontidão,
Seguindo a estrada na partilha e na união,
No culto novo e cheio de amor,
Além do que se pede a lei e seu rigor.
*
Entre a fama e a cruz,
Há um caminhar ainda a se fazer,
Há violentos e assassinos a se atrever,
Há também os traidores,
Há os medrosos, os fujões e desertores,
Mas há os que são solidários,
Que caminham até o fim, mesmo solitários.
*
Triste é saber, e ver,
Que no mundo, neste caminhar,
Ainda há muitos crucificados a gritar,
Marcados pelo flagelo e a humilhação,
Que gemem com o peso da opressão,
Mas aparecem os “cireneus” para ajudar,
Para o peso do sofrimento aliviar.
*
Olhemos para Jesus,
Que caminha com a gente e sem desistir,
Fazendo Sua aliança conosco cumprir,
Caminhando sem medo e com humildade,
Totalmente entregue e na liberdade,
Para nos dar o prêmio da vida por Ele anunciado,
Para nos conduzir ao Reino, pelo Pai preparado.


*   *   *

 

Ouça o áudio preparado para esta Liturgia.


*   *   *

 

 

Obra: “A Procissão nas Ruas de Jerusalém”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos aproxima da verdadeira Sabedoria e do verdadeiro Amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

V Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 126(125); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Pedras dos nossos Julgamentos

Jo 8,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do filho pródigo ou do Pai Misericordioso, que foi reflexão do Domingo passado.

Enquanto no texto do 4º Domingo da Quaresma o filho volta arrependido por sua própria iniciativa, neste 5º Domingo, o evangelista são João (8,1-11) narra que uma mulher, sem nome, adúltera é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada por adultério (cf. Jo 8,3).

Segundo o livro do Levítico (20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados, homem e mulher. E diz: “se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte”. Também no Deuteronômio (22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). O autor do cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano de 2022 supõe que Jesus escreveu “amor e sabedoria”. Outros ainda especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

A postura de Jesus e suas palavras de sabedoria fizeram com que todos largassem as pedras no chão. Seus ensinamentos com amor gerou uma reflexão não somente no coração da mulher, mas também no coração dos acusadores. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que obviamente era o mais experiente e tinha maior conhecimento da lei, porém faltava-lhe no coração o amor, o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora. E o tempo agora é somente para Jesus e a mulher. A misericórdia e a miséria. O pecador e o perdão. Deus e o humano. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

Daquele momento em diante aquela mulher viverá uma vinda nova, caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor e da misericórdia de Deus. Ela voltará justificada com certeza, porque atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Que ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o amor e a misericórdia do Senhor? Olhando para os fariseus podemos também nos perguntar: quando é que agimos como aqueles fariseus e doutores da lei julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossos pecados, nossas fragilidades e nossos erros absurdos também.

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração. E por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais, pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

E chegando já para o final deste tempo quaresmal, nós somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, Ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, porque ama a todos dentro das suas limitações. Porém, nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade, que acontece mais visivelmente no Tempo da Quaresma e traz o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, nós teremos no próximo dia 10, Domingo de Ramos, o dia nacional da coleta da solidariedade. É importante saber que desta coleta financeira, 60% fica na própria diocese e é gerido pelo fundo diocesano de solidariedade, com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% arrecadados compõem o fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Por fim, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados e iluminados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, que Ele nos ajude a purificar nossas mãos das pedras da arrogância e dos julgamentos contra os nossos irmãos e irmãs, para podermos a Palavra e a Eucaristia, que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e irmãs e de corações livres para construir a paz e a fraternidade como sinais do Reino de Deus no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Tira-nos Senhor, as pedras de nossas mãos


Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser transformados pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.
*
Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que dificultam a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.
*
Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a própria prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.
*
Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.
*
Ilumina Senhor com a Tua Palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Seu amor e na Sua misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

IV Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas (Domingo Lætare)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 34(33); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Os Braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo Lætare (ou “o Domingo da Alegria”), nos motiva a contemplar a misericórdia de Deus que é compassivo com os que se perdem dentro e fora de Sua Casa. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-3.11-32, passagens que estão situadas no início da metade final da quinta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Subida para Jerusalém”(1).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor revelando a misericórdia de Deus aos publicanos e pecadores, que se aproximaram para ouvi-Lo, e aos fariseus e escribas, que criticavam sobre Jesus.

Com a parábola do “Pai das Misericórdias” (ou conhecida também como “parábola do filho pródigo”) a Igreja nos coloca diante da alegria preconizada por Isaías (cf. Is 66,10) e por São Paulo (cf. Fl 4,4). Também diante da alegria de Josué em escutar a confirmação da promessa da Terra Prometida (cf. Js 5,9a). Já o Papa Francisco nos recorda que a atitude de São José de acolher a Virgem Maria e Jesus pode ter sido uma das inspirações para a parábola do “Pai das Misericórdias”(2).

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: o filho mais novo, o pai e o filho mais velho. O mais novo toma a iniciativa de pedir a parte da herança, o mais velho também recebe a sua parte e o pai cede as duas partes.

O mais novo quer se distanciar para dissipar os bens. Quando acabou a última moeda e a última gota de vinho e diante da miséria social desejou matar a forme com a comida dos porcos (cf. Lc 15,16). Diante de sua angústia, renuncia ao seu orgulho e pensa em pedir perdão ao pai e a Deus e deseja ser tratado como empregado e não como filho. Depois disso, toma a iniciativa de voltar para a casa do Pai.

Ainda estava longe ele é alcançado pelo olhar e abraço do pai. O Pai dispensa as palavras do filho e acolhe com alegria, com veste, anel no dedo e sandálias e também com um banquete.

O mais velho ao retornar da jornada de trabalho é surpreendido com a festa e não acolhe o mais novo. O mais velho devia ter mais experiência, era trabalhador, mas não conhecia a misericórdia de seu Pai. Também o mais velho precisava renunciar ao seu orgulho para aprender sobre o amor que o Pai transmitia diariamente desde a ausência do filho mais novo.

O filho mais velho é a figura dos fariseus que conheciam a Lei mas não a Misericórdia e o amor. Também figura os cristãos que se acham autossuficientes e incapazes de acreditar no amor da misericórdia de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu, ou seja, a misericórdia e a alegria de Deus que, sem acolher o pecado, sempre acolhe Seus filhos pecadores, independente da sua dignidade.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da Sua Palavra e do Seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração, pela nossa volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a Ele e à Sua Casa.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

E neste IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, continuemos a nossa atenção e reflexão sobre o tema e o lema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Educação” e “Fala com amor, ensina com sabedoria” (cf. Pr 31,26). Na parábola do “Pai das Misericórdias”, Jesus nos fala com sabedoria sobre a ação do Pai misericordioso, de como o nosso Deus age com Seus filhos errantes. O Senhor também nos ensina com amor, nos educa para a vivência da misericórdia, para com o irmão que se perde e quer se reencontrar com o amor divino.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para renunciarmos ao nosso orgulho e possamos escutar o Filho e fazer a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém, o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. §§ 32.40 da Carta Apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Abraço Alegre do Pai


Nas minhas idas e voltas,
Peço-Te agora, ó Senhor,
Que me acolha no Teu amor,
No meu arrependimento,
Também no meu sofrimento,
Aliviando-me a dor.
*
E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como Teu Filho amado,
Na Tua simplicidade.
*
Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.
*
Preciso, então, aprender,
Ser filho, Contigo,
Sendo Teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.
*
Perdoando o pecado mal que fiz,
Te bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos revela o Pai das Misericórdias, ilumine o seu caminho! 

 

 

III Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Ex 3,1-8a.13-15; Sl 103(102); 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9

 

 

 

 

 

 

 

*   *   *

 

Que a Palavra e a Luz do Senhor, que nos ensina a paciência divina, ilumine o seu caminho!

 

 

II Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 27(26); Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar a Transfiguração do Senhor, segundo o evangelista São Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,28-36, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia”.

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está, segundo uma tradição, no Monte Tabor, na proximidade de Naim e há aproximadamente 40 quilômetros de Cafarnaum, a cidade do Senhor e que fica na margem norte do Mar da Galileia.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor mostrando toda a Sua glória, sinal da glória infinita de Deus e prefiguração de Sua Ressurreição, com o testemunho de Moisés e de Elias (o Antigo Testamento) e de Pedro, Tiago e João.

Com a Transfiguração em São Lucas, a Igreja nos coloca diante de portas para acessarmos o mistério de Deus. Aqui, Moisés e Elias aparecem revestidos de glória e conversam com Jesus sobre a Sua morte (cf. Lc 9,31), um dado que nos é revelado apenas pelo evangelista São Lucas. Durante a Transfiguração, os discípulos adormecem e quando despertam encontram Jesus em Sua glória.

Ao acordar, Pedro propõe armar as tendas para continuarem por ali, mas é interrompido pela manifestação da nuvem. Os discípulos entram nela e ouvem a voz do Pai que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). A Palavra nos indica que a escuta ao Filho é mais importante que a contemplação da glória do Filho, que o seguimento consciente é a marca do discípulo.

Deus, em sua pedagogia, nos mostra que a oração é a chave para viver os mistérios que Deus, através da Igreja, nos revela constantemente, inclusive as consequências da Missão. E a presença de Moisés e Elias confirma tudo o que foi prometido no Antigo Testamento e que Pedro, Tiago e João são os portadores da revelação, sobretudo a partir de Abraão.

Precisamos subir também ao Monte a partir do convite do Senhor para vivermos a oração pessoal e comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, de zona de conforto, mas para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo. E a tenda, mais do que um local para descanso, é uma referência à Tenda do Encontro de Moisés que encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Portanto, irmãos e irmãs, neste Tempo quaresmal em que somos convidados a vivermos mais intensamente a escuta da Palavra, orando e revendo nossa caminhada para, ao entrarmos na nuvem, possamos escutar o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” (Lc 9,35).

E a nossa escuta também deve estar dirigida à contemplação aos diversos gritos no mundo, os quais estão expressos nos angustiados, nos presos, nos doentes, nos órfãos, nos abandonados nas ruas, nas nações vítimas da cruel guerra, nos refugiados e nas vítimas da opressão econômica expressa no desemprego e na carestia.

E neste Domingo, queremos fazer mais uma abordagem da Campanha da Fraternidade que traz como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Tendo como referência o cartaz da Campanha, reserve um momento para olhar esse Cartaz. Dele, destacamos a mulher frágil e as pedras. A pessoa humana, representada pela mulher frágil, é o objeto da educação e a pedra representa o instrumento de correção e de punição.

No entanto, Jesus, Divino Mestre, oferece à frágil mulher e aos seus acusadores uma alternativa que não se limita à educação como transmissão de conhecimento, senão também como valorização da pessoa humana e a correção como condução pelo caminho reto(1). A mulher não ficou mais fragilizada e os seus acusadores saíram dali com um desafio: encontrar mecanismos de correção que supere o pecado, mas que preserve a vida e as relações humanas na vivência do amor e da misericórdia.(2)

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para sermos fiéis à missão de testemunhar plenamente a glória do Filho de Deus, isto é, escutando o Filho e fazendo a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Texto-Base CF 2022, n. 24-25.
(2) Cf. Texto-Base CF 2022, Apresentação.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vamos Subir ao Monte de Deus


Subamos ao Monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-Lo e contemplá-Lo na Sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é o Senhor da nossa história.
*
Desçamos do Monte
Em caminhada firmes, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continuemos firmes a sua oração.
*
Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do Seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.
*
Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do Monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!


*   *   *

 

Obra: “A Transfiguração”, de C. H. Bloch. In pt.wikipedia.org.

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho!

 

 

I Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 91(90); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Tentações de Jesus e as tentações do Cristão

Lc 4,1-13

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do I Domingo da Quaresma, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a experiência de Jesus no deserto, segundo o evangelista Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 4,1-13, passagem que conclui a terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Preparação do ministério de Jesus”(1).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está no deserto da judeia. A tradição diz que se trata de uma colina (conhecida como “colina da tentação”), situada há uns 10 quilômetros de Bethabara (cf. Jo 1,28), que quer dizer “Casa do Deserto” ou “Lugar da Passagem”, às portas de Jericó, local em que foi batizado por São João Batista.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor vivendo um tempo de penitência, não que Ele precisasse de uma penitência, pois não pecou. No entanto, Sua experiência de tempo penitencial, cujo ápice foram as tentações, é para nós um modelo de como viver o tempo quaresmal.

No deserto, Jesus vence as três tentações: quando chega a fome há uma tentação de transformar as pedras em pães (cf. Lc 4,3). Em um segundo momento, diante dos reinos do mundo, o tentador promete todas as riquezas para que Jesus as adore (cf. Lc 4,7). Por fim, Jesus é tentado a se jogar do ponto mais alto (cf. Lc 4,8).

Diante destas tentações contra a sua natureza humana, Jesus se faz fiel ao plano do Pai e, por isso, tem sempre uma resposta firme perante o tentador, pois é conduzido pelo Espírito.

Na fome, Ele se ampara no alimento imperecível que é a oração constante ao Pai e responde ao tentador que “não só de pão vive o homem” (Lc 4,4). Diante da tentação do poder, Jesus é fiel ao projeto do Reino, pois somente ao Deus verdadeiro se deve adorar e servir (cf. Lc 4,8). Diante da tentação da falsa segurança, não Se coloca no perigo, pois, pelas Escrituras, não podemos tentar a Deus somente porque que Ele se prevê poderoso.

O ser humano vive num constante deserto. Nele sofremos todo tipo de tentações para resolver nossas necessidades pessoais, nossas ambições perante coisas e pessoas ou mesmo tentando que Deus faça a nossa vontade. Entretanto, não percebemos quantas coisas boas o Senhor nos dá no deserto de nossa existência, com as quais enfrentamos nossas lutas, nossos desafios, nossas provações. Deus quer nos ajudar a vencer e para isso nos ensina muito mais do que os sucessos mirabolantes baseados apenas em interesses terrenos e perecíveis.

A fé cristã é exatamente a consciência de que em cada momento da nossa vida estamos caminhando para a eternidade, pois o Senhor está conosco nos fortalecendo pelos desertos de nossa da vida, nos dando a vitória rumo à libertação e à salvação.

O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma deste ano(2), nos exorta a cultivar relações humanas mais íntegras e integrais, concretizadas no corpo-a-corpo, numa prática alegre e generosa da esmola, inclusive a esmola do tempo, pois a Quaresma é tempo de visitar o solitário e de nos aproximarmos do irmão que sofre e que é necessitado da Providência de Deus.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, possamos vencer as tentações que enfrentamos nos desertos de nossa existência e fazermos a vontade de Deus em todas as circunstâncias de nossas vidas. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém (Paulus, 2013), o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. Papa FRANCISCO. Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/20211111-messaggio-quaresima2022.html>. Acesso em: 4 mar. 2022.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Deserto da Vida


No deserto desta vida,
Muitas coisas enfrentamos,
Tentações de todo tipo,
Que às vezes duvidamos,
Mas Jesus está com a gente,
Caminhando firmemente,
É nEle que acreditamos.
*
Muitas vezes ao caminhar,
O deserto fica quente,
Vem a sede e vem a fome,
Que vai castigando a gente,
Então vem a esperança,
O Senhor é a bonança,
Pois na vida está presente.
*
Temos tantas tentações,
No nosso mundo atual,
Consumir pra mais da conta,
Cultivando o capital,
Somos tentados a comprar,
E ainda adorar,
O ídolo material.
*
Não podemos esquecer,
Que a vida do cristão,
Deve ser simplicidade,
Vivendo a contemplação,
Com Jesus sem desistir,
O caminho a prosseguir,
Pra viver a conversão.
*
A caminhada é longa,
No deserto da existência,
Mas nós vamos aprendendo,
A viver com paciência,
Com jejum e oração,
Caridade em ação,
Santa e viva penitência.
*
Viver o tempo quaresmal,
Para o cristão é importante,
Faz muito a gente crescer,
E seguir perseverante,
A Palavra é fundamento,
Oração como alimento,
Testemunho a todo instante.


*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos ensina a vencer as tentações, ilumine o seu caminho!

 

 

Quarta-feira de Cinzas (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐
⇒ Dia de jejum e abstinência ⇐

 

Leituras: Jl 2,12-18; Sl 51(50); 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cinzas, Esmola, Oração e Jejum

Mt 6,1-6.16-18

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, neste Ano “Família Amoris Lætitia, dia de jejum e abstinência, nos motiva a continuar contemplando o “Sermão da Montanha”, hoje nos apresentando a esmola, a oração e o jejum. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 6,1-6.16-18, passagem que compõe a segunda parte do Evangelho Segundo São Mateus intitulada “A promulgação do Reino dos Céus”.

Com esta Liturgia, somos inseridos no Ciclo da Páscoa e na primeira etapa desse Ciclo: o Tempo da Quaresma. A Quaresma, um retiro universal, é um tempo de preparação para a festa mais importante do tempo litúrgico: a Páscoa do Senhor, o centro da experiência litúrgica. O período quaresmal nos proporciona, ainda, uma espiritualidade de penitência e conversão, com a qual recebemos diversas chaves para o retorno a Deus.

Na Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor, ainda no contexto do “Sermão da Montanha”, mas pela ótica do evangelista São Mateus, no qual apresenta a Boa-Nova pela trilha da prática da piedade através da esmola, do jejum e da oração, numa releitura da antiga aliança(1).

A fé, a esperança e a caridade são virtudes que nos sustentarão neste tempo de purificação aos pés do Senhor, pois com Ele caminharemos passando pelo calvário, pela Cruz e acordaremos na manhã da Ressurreição com um coração renovado para cantar O Aleluia pela vitória do Ressuscitado.

Nesta Liturgia, Jesus orienta quanto ao comportamento relativo às aparências e também que a esmola, a oração e o jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltadas para Deus.

A esmola, realizada em segredo, deve ter como recurso o resultado da nossa abstinência e destinada aos necessitados da Providência de Deus. Já a oração deve produzir uma escuta do que Deus fala em nossa vida e uma vida de mansidão nas relações humanas. Por fim, o jejum deve ser resultado de abstinências que mortifique nossas posses que nos socorrem diante das dificuldades humanas, nosso poder que nos faz ser atendidos pelos outros e também da nossa atitude que muitas vezes querer que Deus atenda nossas vontades.

O importante é que tais práticas tenham como fruto a nossa permanente conversão, reavaliando nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade (a esmola), na prática da fé (a oração) e de esperança no Reino (jejum). Esta experiência deve nos ajudar a sermos melhores pais de família, filhos, consagrados e ordenados, evangelizadores a serviço do Reino de Deus.

Lembremos do que diz o profeta Joel, na primeira leitura desta Liturgia: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. O apóstolo Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho.

Já iniciamos esta caminhada recebendo as cinzas em nossas cabeças e a atitude deve ser de simplicidade e de reconhecimento de que o nosso corpo é perecível e que necessita da vida infinita em Cristo Senhor.

Também nesta Quarta-feira de Cinzas a Igreja no Brasil está voltada para o início da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26), cuja coleta nacional ocorrerá no dia 10 de abril.

Recordarmos que neste mês as intenções do Papa Francisco, Vigário de Cristo, estão voltadas para a construção de resposta cristã aos desafios da bioética, promovendo a defesa da vida com a oração e a ação social.

Finamente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos ser guiados pelo o Espírito Santo, unção de todos os santos, pelo retiro quaresmal preparado pela Igreja, Corpo Místico de Cristo. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Nota de rodapé “e”, pág. 1710, referente ao título “2. Discurso: O Sermão sobre a Montanha”, da Bíblia de Jerusalém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Caminhos que Levam a Deus


Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Tendo caridade,
Na simplicidade,
Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.
*
Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor,
Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.
*
Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto,
Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.
*
Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado,
Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.
*
Quero, com o Senhor,
Viver seu amor,
E sempre encontrar,
Para se alimentar,
Na mesa da alegria,
Encontrar a harmonia,
No alimento eterno,
Que nos faz fraternos,
A Eucaristia.


*   *   *

 

Extrato da obra “O Sermão da Montanha” (1920), de H. Copping, In wikipedia.org – “File:Harold Copping – The sermon on the mount – (MeisterDrucke-52362).jpg”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, fonte e meta da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

VIII Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Eclo 27,5-8; Sl 92(91); 1Cor 15,54-58; Lc 6,39-45

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Autêntico Exame de Consciência

Lc 6,39-45

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VIII Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré, o Cordeiro de Deus, no “Sermão da Montanha”, hoje nos apresentando a necessidade de um profundo exame de consciência. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,39-45, sequência do Domingo passado.

Nesta Liturgia, Jesus ainda continua no contexto do “Discurso Inaugural”(1) nas proximidades de Cafarnaum, a cidade em que Ele habitou (cf. Mt 4,12;9,1) em cumprimento da profecia de Isaías que diz que Deus não deixará sem luz os que padecem na região da sombra da morte (cf. Mt 4,13-16).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta, ainda na sequência das bem-aventuranças, as quais vimos nos dois últimos Domingos, mais um recurso para o vocacionado, para o discípulo, para que ele alcance e anuncie o Reino de Deus: a permanente vigilância do que está cultivando no próprio coração. Convém recordar que na Bíblia o coração representa o território das emoções, dos sentimentos, mas principalmente o centro da razão e das decisões.

O Senhor quer que os Seus seguidores imprimam na alma uma nova forma de relação com as pessoas e também entre eles próprios. Jesus pergunta: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39). Como, em vista da missão, o discípulo poderia “guiar” as pessoas em busca do Reino se não percebesse também seus próprios limites e obstáculos?

Mais adiante, Jesus fala: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,42). Os discípulos, chamados a serem também luz do mundo (cf. Mt 5,14), necessitavam tirar de sua vida aquilo que os impediam de enxergar o mundo e as pessoas com os olhos de Deus. Não podemos ajudar o outro se não tirarmos as traves que nos impedem de nos reconhecermos como somos. O risco é de acabamos agindo hipocritamente, pois como podemos iluminar a vida das pessoas sem estarmos iluminados?

Jesus também lembra da árvore que deve ser reconhecida pelos seus frutos (cf. Lc 6,43). Os frutos do cristão deve ser a paz, a justiça, sabedoria, a fraternidade, o perdão, o cuidado com os pobres e necessitados da Providência de Deus. E do cultivo de tais valores no coração poderá brotar atitudes coerentes com o Evangelho.

As orientações de Jesus aos Seus discípulos também são destinadas a todos nós e refletem perfeitamente as palavras contidas na primeira leitura desta Liturgia. Diz o autor sagrado do Eclesiástico: “Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa, O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem.” (Eclo 27,6-7).

Portanto, irmãos e irmãs, a Liturgia de hoje nos estimula fortemente a fazermos um profundo exame de consciência, a ponto de tirarmos os obstáculos, as traves, que represam em nós o egoísmo, a ganância, o individualismo e a falta de convivência fraternal. Enxergando o seu caminho, sua vida e sua missão, o discípulo poderá, pelo seu exemplo, guiar outros a Jesus.

Somente a humildade, que nos leva ao reconhecimento de nossa condição humana, poderá nos fazer novas criaturas. O cultivo da sabedoria que vem de Deus nos fará produzir bons frutos em qualquer fase de nossa vida. O salmo 91 nos exorta: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.”

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, unção de todos os santos, para que tenhamos a atitude de confiança dos noivos das bodas de Caná, pois o vinho melhor é promessa para nós e através de nós. É com a graça e a força de Deus que podemos viver estas máximas de Jesus, sendo iluminados por Deus e sendo instrumento de Sua luz para o próximo. Amém.

*   *   *
(1) No Evangelho Segundo São Mateus é conhecido como “Sermão da Montanha” (cf. Mt 5,1-7,29).

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Sabedoria que Vem do Alto


Ações sábias alegram o coração de Deus,
Pois do Senhor brota o sumo bem,
Que alimenta a santidade do homem,
Que lhe faz coerente também,
Porque o coração cheio de amor,
Traz para a vida a força e o ardor,
Que aos bons e justos convém.
*
E os olhos limpos das tantas traves,
Fará o sábio para o mundo iluminar,
Porque a sabedoria vem da luz de Deus,
Que ao seu coração vem a orientar,
Para seguir em frente como caminheiro,
Pela longa estrada caminhará inteiro,
Firme e iluminado e sem tropeçar…
*
Quem for discípulo como seu mestre,
Carregará o amor como fundamento,
No ministério do seu dia a dia,
Será da paz em qualquer momento,
Nascerão bons frutos da sua missão,
No seu caminhar terá compaixão,
Seu testemunho será ensinamento.
*
Cristãos iluminados pelo Senhor,
Curados das trevas e das cegueiras,
Fazendo-os também a outros se guiarem,
E se livrarem das trilhas traiçoeiras,
Que às vezes tentam os atropelar,
Porque a vida é este trilhar,
Existência que se faz em nós verdadeira.
*
A comunhão nos traz a lucidez,
Pois o olhar do outro pode nos orientar,
E assim o encontro nos conduz à cura,
Em vista de a nossa vida transformar,
Porque a boa mensagem é fruto do seguidor,
Sentido e fortaleza que vem do Senhor,
Pela Boa Notícia a nos alegrar.

*   *   *

 

Extrato da obra “O Sermão da Montanha” (1920), de H. Copping, In wikipedia.org – “File:Harold Copping – The sermon on the mount – (MeisterDrucke-52362).jpg”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos apresenta mais uma fonte de recursos para realizarmos a nossa vocação, ilumine o seu caminho!