III DOMINGO DA PÁSCOA

Leituras: At 2,14.22-33; Sl 15(16); 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35

POESIA

FAZER ARDER O CORAÇÃO

Tua Palavra Senhor,
Faz arder o nosso coração,
Porque nos vem encorajar,
Mostrando-nos aonde ir,
Por onde e quando persistir,
Vencendo nossa solidão.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Dando-nos, ao caminhar o sentido,
Fazendo-nos à mesa sentarmos,
Para nos alimentarmos
Conduzindo-nos a santa comunhão.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Porque nos faz retornarmos,
Por um caminho de alegria,
Pelo amor nos reenvia,
Para o anúncio da ressurreição.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Tirando-nos das nossas fugas,
Para que voltemos a acreditar,
Na vida que faz brotar,
E que vence a desilusão.

Tua Palavra, Pão e vinho,
Faz-nos de novo reunirmos,
Para a partilharmos da vida,
À nossa Jerusalém voltarmos,
A viva alegria exalarmos,
Para a estrada prosseguirmos.

HOMILIA

Palavra e Pão que faz arder nosso coração

“Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão” (Lc 24,34). Esta é a conclusão a qual chegam aqueles dois discípulos fujões que vão a Emaús. É ainda naquele mesmo dia da Páscoa que os dois caminham sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o reino de Deus. A quem eles mais amavam e estimavam, tinha sido assassinado. Incialmente, este é o sentimento que nos passa o evangelho do 3º Domingo da Páscoa.

Mas a vida continuava e seria preciso caminhar para algum lugar, mesmo que seja fugindo para encontrar um repouso seguro e tranquilo. E no nosso caminhar, Deus caminha com a gente para nos ensinar com sua Palavra; para se fazer companheiro, solidário e se doar como o pão da vida com os que ele amou e ama; para fazer arder o coração da gente e nos motivar para o retorno na grande missão de anunciar que o Senhor está vivo e caminha com os seus discípulos.

Discípulos de Emaús também somos nós que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do caminhar vão acontecendo.

A narração dos discípulos de Emaús nos apresenta a estrutura da celebração Eucarística: Primeiro o nosso caminhar em busca do templo com o coração em Cristo; depois, a entrada do celebrante (Cristo) para se unir ao seu povo; em seguida ele nos fala através da sua palavra (cânticos e salmos) e continua a falar na homilia. Neste momento ele nos explica a sua ação na nossa vida e nos acontecimentos do mundo, fazendo arder o nosso coração. À mesa parte o pão conosco e nos faz reconhecê-lo como o Senhor da vida eterna.

E quando alimentados pelo corpo e pelo sangue do Senhor voltamos para a nossa “Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos companheiros de caminhada profissional, irmãos da comunidade, e outros que iremos encontrar durante a semana e a vida.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta-voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai, realizou milagres e sinais em favor do povo. Ele foi escolhido por muitos e rejeitados por outros até a morte na Cruz. ‘Mas Deus o ressuscitou, libertando-o da angústias da morte’, revelando a eficácia de sua doação a serviço do projeto divino de salvação.” (At 2, 22.24).

O Ressuscitado caminha conosco, nos alimentando e nos encorajando a continuar o caminho dos discípulos missionários na nossa vida diária. Como nos falou Pedro na sua carta, nós fomos resgatados “… pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1Pd 1,19).

Que a cada celebração, possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 15(16): “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós felicidade sem limites!” Amém.

II DOMINGO DA PÁSCOA – DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

Leituras: At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

POESIA

MEU SENHOR E MEU DEUS

Tomé somos nós,
Quando nos isolamos,
Quando duvidamos,
E ficando distantes,
Numa tristeza constante,
Fechados, sem acreditar.

Tomé somos nós,
Quando queremos comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
Querendo as feridas olhar.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e amor,
Para podermos recomeçar.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar obediente,
Sem medo e sem desistir.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
Pois, ele é o ressuscitado.

Como Tomé e os outros,
Nossa dúvidas todas rompamos,
Abramos as portas e sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o ressuscitado,
Que conosco quer caminhar.

HOMILIA

Cristo tem misericórdia dos que duvidaram

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, neste segundo domingo da Páscoa ressoa a voz do Ressuscitado: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo, 20,29). O Evangelho de João apresenta-nos dois momentos para nos mostrar a experiência dos discípulos em meio à Ressurreição. Estes dois momentos acontecem sempre no primeiro dia da semana (Dies domini), o domingo, porque foi no primeiro dia da semana que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (Jo 20,19-25), o evangelista nos fala que estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, portas fechadas… E o ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o príncipe da paz estava no meio deles, ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si.

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus, e nós tornamos incrédulos.

Oito dias depois os discípulos estão reunidos, inclusive Tomé, que dessa vez vê o Senhor. Novamente Jesus deseja a Paz e convoca aquele discípulo que não acreditou antes, e diz a Tomé: “‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28). A declaração de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no ressuscitado.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentir e tocar, as quais estão presentes nos crucificados deste mundo. Essas feridas aparecem nos que passam fome, estão desempregados, presos e nos que injustamente são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade das realidades políticas, econômicas e sociais. Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, e, por isso lutam por uma sociedade nova e cheia de vida e de paz.

Somente os que deixam as portas se abrirem e saem em missão para anunciar a vida nova em Cristo, e que deixam Jesus inundar de paz e coragem a sua vida, podem mostrar para o mundo o sentido verdadeiro da vida, da justiça e da esperança. Enquanto estivermos fechados em nosso egoísmo e individualismo e distantes da vida da Igreja que abre as suas portas, seremos discípulos infecundos e incrédulos.

Portanto, cada domingo também é como aquele oitavo dia, quando também professamos a nossa fé no ressuscitado. Em cada domingo, escutamos os ensinamentos dos apóstolos, louvamos, colocamos em comum a nossa oração, partilhamos o pão, fazemos nossas ofertas materiais e espirituais como as primeiras comunidades dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,46). Juntos, amamos o Senhor sem termos visto e esperamos a salvação que nos vem dele como nos fala São Pedro (cf. 1Pd 1,8).

Peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo e do nosso isolamento para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho, o qual se expressa na nossa alegria, na nossa paz, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!

DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

POESIA

CRISTO SENHOR DO NOVO DIA

Despertados na madrugada,
Quando as trevas ainda persistem,
Caminhamos para o Senhor vitorioso,
Que vence a morte e é glorioso,
Anunciar é preciso sem demora,
Porque já chegou a hora,
Porque Deus é vida, é poderoso.

Caminhar neste novo dia,
Precisa-se de fé e muito amor,
Sem medo de a verdade anunciar,
Com o Ressuscitado caminhar,
Pois é pela fé que continuamos,
Quando se acredita,
Segue-se caminhando,
E com firmeza se deve continuar.

Mesmo que tenhamos insegurança,
E entre desafios possamos caminhar,
Precisamos logo, logo correr,
E o medo da morte sempre vencer,
Porque para continuar a caminhada,
O amor nos torna firmes nesta estrada,
Dá-nos a esperança
E não nos deixa esmorecer.

Na ressurreição está a nossa fé,
Deste ponto tudo começou,
E esta semente foi aos poucos germinando,
Espalhada pela seara e frutificando,
Para chegar até onde nós estamos,
Por isso, o aleluia hoje cantamos,
Porque o Reino de Deus está se confirmando.

HOMILIA

Somos banhados pela ressurreição de Cristo

Irmãos e irmãs, desde a noite da vigília no sábado, também neste domingo da ressurreição, soam os cantos alegres de aleluia e de glória em toda a Igreja. Esta alegria da ressurreição do Senhor se estenderá por cinquenta dias como sendo uma festa única, um único dia. Vivemos o dia do Senhor marcados pela alegria verdadeira da sua vitória sobre as trevas da morte. Somos banhados em Cristo, somos novas criaturas, somos homens novos, por que o Senhor nos encheu da sua vida e da sua força renovadora.

Contemplamos Maria Madalena, marcada pela dor da morte de Jesus e da saudade. Ela não espera o dia chegar e quando ainda é escuro corre para o túmulo (cf. Jo 20,1). Vendo o túmulo vazio retorna e vai falar aos discípulos, Maria Madalena é a primeira a anunciar o grande acontecimento. Os discípulos vão confirmar o que a mulher lhes tinha falado.

Os discípulos, como estavam ainda marcados pelos últimos acontecimentos, não conseguiram vislumbrar a grande dádiva de Deus: Jesus tinha ressuscitado (cf. Jo 20,9). Tudo era muito novo, muitas coisas precisavam acontecer para que eles vivessem a certeza da ressurreição do Senhor.

Aquela manhã do primeiro dia da semana ficará marcada no coração dos discípulos como o dia do Senhor, o dia em que nasce a fé na ressurreição, por que o discípulo amado viu e acreditou e espalhou esta certeza entre os seus amigos (cf. Jo 20,8).

A notícia se espalhará por todos os cantos, a força do ressuscitado chegará ao coração dos discípulos e consequentemente ao povo. A fé agora será amadurecida na caminhada dos seguidores de Cristo até ao ponto de testemunharem sem medo tudo o que aconteceu.

Alimentados da esperança e pela certeza, os discípulos enfrentaram o mesmo destino do Senhor. Serão perseguidos, serão caluniados e martirizados, mas encontrarão a ressurreição e a vida eterna.

Pedro e os outros discípulos irão anunciar as verdades da ressurreição como vemos na primeira leitura de hoje: “Ele nos mandou proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,42). Esta mensagem animou os primeiros seguidores e os fez seguirem em frente, motivo do qual chegou até nós.

Por isso nos reunimos para encontrarmos com a Palavra viva para ouvirmos atentamente e também com a Eucaristia, corpo e sangue do Senhor, que nos alimenta na nossa peregrinação terrestre.

E nós, os cristãos neste dia de hoje, somos despertados para uma nova vida que se constrói a cada momento, que se renova em cada desafio vencido. A fé que temos no Senhor parte daquela madrugada de Madalena e dos discípulos. Somos os discípulos missionários os quais continuam a levar a mensagem de esperança e de vida nova ao mundo.

Devemos continuar com a mesma fé dos primeiros discípulos e como nos diz o apóstolo Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (Cl 3,1-3).

Que em nessa caminhada pascal, que se inicia, possamos semear esperança e alegria aos que encontrarmos. Nosso mundo precisa da alegria verdadeira do Evangelho para ser melhor e mais cheio de paz.

Sigamos em frente e meditemos neste período de 50 dias que se seguem, celebrados como sendo um, e cantemos confiante: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117/118). Amém.

DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR, ANO A

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Mt 21,1-11 (Procissão); Mt 27,11-54 (Paixão)

POESIA

O CAMINHO COM JESUS

Com alegria e liberdade,
Caminhamos com o Senhor,
Seguindo-o na simplicidade,
Com um cântico de louvor.

Vivendo na irmandade.
E como bons caminheiros,
A vida é totalidade,
E dela nós somos os herdeiros.

Com os ramos de palmeiras,
Seguimos sempre a cantar,
E com a cruz, nosso sinal,
Que vem nos santificar.

Pensando em nosso Senhor,
Seguimos a caminhar,
Vamos ao perfeito amor,
Que vem para nos salvar.

E chegando em sua casa,
Atentos, vamos ouvir,
A sua Palavra viva,
Que vem a nos invadir.

Ela ao fervor nos motiva,
Nos ensina e nos sustenta,
Numa caminhada ativa,
Que nos guia e orienta.

Vamos pra Paixão e morte,
Que Jesus também provou,
Como o servo que sofreu,
Quando na cruz se entregou.

Na condenação pereceu,
Porque o Pai o permitiu,
Mas a morte ele venceu,
E a vida ressurgiu.

Nós também temos a cruz,
Na vida do dia-a-dia,
Pois o nosso caminhar,
Muitas vezes nos desafia.

Mas vencemos com o Senhor,
Ele a pedra de firmeza,
Mestre da vida e do amor,
Que nos chama à sua mesa.

HOMILIA

O louvor dos homens e a Paixão de Cristo

Irmãos e irmãs, a celebração do Domingo de Ramos insere-nos no clima e sentido espiritual da Semana Santa. Nesta liturgia contemplamos Cristo que caminha livre para Jerusalém onde irá viver a sua paixão e morte. Lá nos dará como presente a vida nova, pois vencerá a morte para sempre e ressuscitará para também nos dá a ressurreição.

Na caminhada de Jesus para Jerusalém também vemos a sua simplicidade e a sua entrega como rei diferente. Montará num jumentinho emprestado para nos mostrar que o seu reinado sobre o mundo é marcado pelo amor e pela entrega total para a nossa salvação.

Em procissão, vamos também nós cantando “Hosana ao Filho de Davi, Bendito o que vem em nome do Senhor”. A nossa vida também é marcada pela caminhada rumo à cidade santa, a cidade celeste, em procissão para a casa da Palavra e do Pão, a qual nos orienta, nos alimenta e nos faz crescer como irmãos e irmãs.

Nesta caminhada também encontramos as muitas cruzes e mortes, como Jesus encontrou na sua missão. Mas também encontramos a vitória, pois ressuscitamos com ele, nos levantamos e seguimos em frente.

Somos ainda alimentados pela fé na ressurreição e por isso caminhamos para vida eterna que é a nossa meta principal como foi dos discípulos seus. Cristo vive entre nós e nos dá o seu Espírito para vivermos no mundo, seguindo os seus passos na construção do seu Reino de amor e paz.

A celebração de domingo de Ramos nos insere na Semana Santa, nos dando o clima e o tom de todo o percurso a ser vivido nos dias seguintes. O roteiro homilético da CNBB[1] nos lembra que nesta semana viveremos cinco movimentos os quais marcam não somente este tempo, mas também toda a nossa caminhada de fé, dentro do sentido de um itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão do domingo de Ramos usando a cruz à frente como sinal da paixão e da vitória de Cristo sobre a morte. Ele que nos guia no nosso caminhar de discípulos missionários seus. Como cristão, na nossa peregrinação terrestre, vivemos o louvor e o sofrimento, mas continuamos a caminhada pois estamos com o Senhor.

O segundo movimento acontece concretamente na sexta-feira santa, quando caminhamos para beijar a cruz. Ela é o sinal da glória de Cristo, representação do amor máxima de Jesus por nós, a explicação do limite o qual Jesus chegou para nos apresentar a face misericordiosa de Deus Pai pelos homens. Quando desprezamos esta dimensão espiritual da cruz, fugimos da nossa missão e nos desanimamos. A Cruz também é sinal de misericórdia e vitória.

No terceiro movimento, podemos dizer que é o mais forte e marcante para os cristãos, pois é o nosso caminhar atrás do círio Pascal, a luz verdadeira que brilha nas trevas. A noite da morte agora já não existe mais. Cristo ressuscitado agora nos guia e nos ilumina com sua luz. Caminhamos sem medo da escuridão das dores, das angústias e das tristezas, pois agora somos vencedores marcados pela alegria, coragem e paz no mundo. Cristo está vivo!

O quarto movimento diz respeito à nossa procissão rumo à mesa cujo o alimento é o corpo do ressuscitado, o seu sangue nos mata a sede e nos sacia para continuarmos firmes, marcados pela esperança num mundo novo cheio de fraternidade e vida nova para todos.

No quinto e último movimento, somos enviados em missão para proclamarmos que Cristo venceu a morte. Mas ele está conosco animando-nos com o seu Espírito. Lá fora da Igreja, no mundo, daremos testemunho de verdadeiros seguidores do Cristo. Seremos os continuadores de sua mensagem salvífica. Seremos presenças vivas entre os homens para mostrarmos a face do Senhor que é amor e a compaixão que deseja que todos sejamos irmãos.

Portanto, vivamos a semana das semanas, num espírito de oração, de penitência e jejum. Fiquemos atentos aos passos do Senhor na sua paixão, morte e ressurreição, pois é nesta verdade e neste acontecimento que está fundamentada a nossa fé. Amém.

[1] Roteiros homiléticos da quaresma, março e abril, ano A. 2014.

V DOMINGO DA QUARESMA, Ano A

Leituras: Ez 37,12-14; Sl 129(130); Rm 8,8-11; Jo 11,1-45

POESIA

VEM PARA FORA

O Senhor nos chama:
Vem para fora,
Sai do teu medo,
Da desesperança,
Para a confiança
E segue em frente,
Discípulo crente,
Levando ao mundo
O amor vivente.

O Senhor nos ordena:
Vem para fora,
Sai da omissão,
Do teu comodismo,
Do teu fanatismo,
Para testemunhar,
E pra proclamar
A ressurreição,
Sem desanimar.

O Senhor nos alerta:
Vem para fora,
Do teu orgulho,
Da tua indiferença,
Abraça a benevolência,
E vem construir,
Um encontro a unir
Na fraternidade,
Para a vida florir.

Ao Senhor escutemos,
Sua voz de esperança,
Abracemos a vida,
E então, levantemo-nos,
Desatemo-nos!
E pelo Pão, alimentados,
Saiamos fortificados,
Deixemos nossos túmulos,
Sigamos o ressuscitado!

HOMILIA

Desatemo-nos para a Vida

Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11,25-26).

O Evangelho deste 5º domingo da Quaresma nos apresenta o grande sinal de que Cristo é o Salvador do mundo e que, acreditar na sua palavra, nos leva a saborear as alegrias da ressurreição. A fé será a nossa grande resposta nesta certeza, que é a experiência de amor e de vida completa com o Senhor que nos chama a desatar a nossas amarras e caminhar sempre como ele.

A quaresma só terá sentido para cada um de nós se caminharmos rumo à ressurreição, num percurso de crescimento espiritual sempre marcado pela a alegria e pela esperança na nossa vitória, mesmo frente a tantas manifestações de morte que tentam nos tirar a certeza de vivermos na paz e na liberdade oferecida por Cristo.

Na narração da ressurreição de Lázaro encontramos modelos de fé em Cristo, os quais servem para que nos orientemos sobre nossa vida espiritual que também muitas vezes é marcada pelas tristezas, morte e falta de esperança.

O primeiro modelo é referente à Marta que professa sua fé no Senhor da vida: Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (Jo 11,27). Alimentada por esta esperança e certeza ela vai anunciar para a sua irmã sobre a presença de Jesus entre elas. A fé de Marta se expressa na condição de se colocar a caminho para anunciar a esperança na ressurreição já no tempo presente.

Quanto à Maria e os judeus, estes precisaram presenciar o sinal da ressurreição para poderem acreditar no milagre da vida nova. Lázaro que está no túmulo, enterrado há quatro dias, de mãos e pés atados e sem possibilidades de movimento. Jesus ordena: “Desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11,44b). Diante da ressurreição de Lázaro “muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele” (Jo 11,44-45).

Precisamos refletir sobre o sentido deste sinal de Jesus para o nosso crescimento espiritual e a nossa fé na ressurreição. A morte de Lázaro nos lembra toda a humanidade morta pelo pecado e é através de Jesus que todos têm acesso a vida que vence o pecado.

O batismo é a porta que nos traz de volta para a vida eterna, para a vitória sobre o pecado. O choro de Jesus nos lembra de que ele se compadece da nossa dor e por isso comove-se, porque caminha conosco sendo solidários aos nossos sofrimentos, cruzes e dores que acontecem na existência terrena de cada um de nós.

Quanto ao túmulo, lembramos que muitas vezes estamos quase que sepultados no nosso individualismo, na nossa indiferença, no nosso comodismo e no nosso medo de seguir em frente com o Senhor. Vivemos num mundo que muitas vezes proclama a morte e a desesperança. Quando falta-nos os elementos da fé, caímos nos abismos da morte e ficamos atados a insegurança.

Precisamos desatar as nossas mãos para que construamos a paz e a fraternidade. Precisamos desamarrar nossos pés das amarras do indiferentismo e da zona de conforto que muitas vezes nos impedem de seguirmos caminhando com Jesus como discípulos missionários pelas estradas do mundo.

Precisamos lembrar a 1ª leitura desta liturgia quando o profeta Ezequiel fala para o povo de Israel escravo na Babilônia: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor” (Ez 37,12-13).

Muitas vezes estamos presos ao sepulcro do pessimismo e da tristeza como escravos do comodismo e sem coragem para continuar a nossa caminhada. Diante disso escutemos o Senhor que diz: “Desatai-o e deixai-o caminhar.” (Jo 11,44b).

Na Eucaristia encontramos toda força para levantarmos e seguir em frente com Jesus para anunciar o evangelho pelo mundo a fora. Ele caminha conosco e nos dá a vida verdadeira, livra-nos das amarras da morte que nos aprisiona.

A Palavra do Senhor deve encher a nossa vida de alegria e esperança, para sermos sinais de Deus no mundo. Lembremo-nos o que diz o Papa Francisco no início de sua exortação apostólica; “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”[1].

Que o Senhor que dá vida nos encha de esperança e alegria e nos conduza para celebrarmos com profundidade, a sua Páscoa, a Festa das festas. Amém.

[1] Evangelii Gaudium, nº 1.

IV DOMINGO DA QUARESMA, Ano A

Leituras: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a; Sl 22(23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

POESIA

GUIA-NOS COM TUA LUZ

Como Luz em nós,
Faze-nos também brilharmos,
E nos entregarmos,
Para o mundo iluminar,
Com tua Palavra aconselhar,
E com tua bondade,
A nos inundar.

Como pastor supremo,
Que guia o nosso caminho,
Não nos deixa sozinhos,
Orienta-nos Senhor,
Com teu amor,
Com tua luz,
Com teu carinho.

Como Luz perfeita,
Que nos tira a cegueira,
Dá-nos a fé verdadeira,
Para vermos horizonte,
Bebermos em tua fonte
Sempre querendo chegar.
À tua vida inteira.

Como a luz da vida,
Cura-nos das incertezas,
Traz-nos a fortaleza,
Nas dúvidas perigosas,
Nas “verdades” duvidosas,
A nos tirar os horizontes,
Quando nas trilhas tortuosas.

E nas tuas fontes,
Vem com amor nos lavar,
Com suas mãos vem nos moldar,
E em homens novos, recapitulados,
Discípulos fiéis e transformados
E ao redor da tua santa mesa,
Todos os filhos alimentados.

HOMILIA

 O Senhor nos lava e nos molda

Neste 4º Domingo da Quaresma somos convocados a viver o domingo da alegria, pois já se aproxima a páscoa do Senhor, a festa da vida verdadeira e infinita. Somos atraídos pelas luzes infinitas da ressurreição a qual se aproxima, quando no sábado santo viveremos a maior festa do ano litúrgico.

A liturgia da Palavra nos leva a refletir que devemos livrar nossos olhos da cegueira, das miopias, que muitas vezes nos impedem de ver a presença do Senhor em nossas vidas e também os milagres que ele vai operando em nosso caminhar.

Vejamos a ação de Jesus na cura do cego de nascença: “Cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,6-7).

O que podemos aprender destes versículos do Evangelho de João? Jesus com a sua saliva e um pouco de terra faz lama. O barro nas mãos de Jesus nos lembra a criação, quando o homem esteve nas mãos de Deus, nosso perfeito artesão, para ser moldado e criado.

Em Jesus, o homem é recriado, recapitulado para sair da primeira cegueira: o pecado de Adão. O Senhor nos faz enxergar e nos refaz além do nosso físico, ou seja, além da nossa visão das cores, das coisas, dos outros. O Senhor nos ilumina com sua luz, para que, como vasos de barro que somos, não sejamos danificados com os perigos que as trevas poderão nos trazer.

Após a cura, o cego foi aconselhado a se lavar na piscina. A água nos lembra de que é através do batismo que somos restaurados e inseridos na multidão dos filhos e filhas, os quais participam da ressurreição do Senhor.

Pelo texto que meditamos neste domingo podemos perceber a tensão que existia no ambiente religioso, social e cultural em que estava aquele cego. Os doutores da lei, cegos da verdade e da luz divina, querendo reprimir o homem que agora enxergava, buscavam explicações nas leis humanas, também de forma obscura. Eles justificaram que em dia de sábado ninguém podia trabalhar, inclusive se fosse para fazer o bem.

Podemos ver que até mesmo os discípulos estavam contaminados pela ideologia dos doutores da lei: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” (Jo 9,2). Neste momento Jesus também precisou curar os seus colaboradores da cegueira espiritual que impedia ver a glória de Deus se manifestar.

O plano de Deus nos surpreende, porque ele age fora dos nossos parâmetros. Foi assim que agiu quando Israel precisou ungir o seu rei. O rei Davi aquele que ninguém esperava ser escolhido. Ele estava inclusive pastoreando o rebanho nos campos de Israel. “O Senhor disse: ‘Levanta-te, unge-o: é este!’ Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi” (1Sm 16,12-13).

Nós, muitas vezes, caímos nesta limitação humana: enxergamos com nossos parâmetros humanos e agimos segundo nossos critérios. Precisamos deixar que Deus nos ilumine com sua luz, vença nossas trevas. Trevas que aparecem nos nossos pensamentos de autoprestígio, de egoísmos, individualismo e regras preestabelecidas. Assim agiram os doutores da lei, eles tentaram ofuscar a ação de Deus na vida do cego.

Precisamos reconhecer que através do nosso batismo somos iluminados e banhados para sempre pela luz verdadeira e a água da vida que vem do Senhor. Neste sentido, somos convidados a ter em nosso coração a convicção que São Paulo nos fala na sua carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade” (5,8-9).

De acordo com estes versículos, acima, devemos não somente viver na luz de Cristo, mas também vivermos como luz do Senhor, no mundo, através da bondade, justiça e da verdade. O mundo necessita destas virtudes para que seja mais humano e justo.

Peçamos a luz e a força do Espírito Divino para que nos ilumine em nossa peregrinação terrestre. E que o Bom Pastor, luz das nações, nos conduza à vida verdadeira, nos livrando dos perigos que poderão nos levar a nos tirar do caminho do céu. Amém.

III DOMINGO DA QUARESMA, Ano A

Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94(95); Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

POESIA

DAI-ME DESTA ÁGUA VIVA

Senhor,
Dai-me desta água viva
Que sacia e me alivia,
Deixando-me forte,
Vencendo a morte,
Para chegar ao céu.

Senhor,
Dai-me desta água viva,
Que muda a minha vida,
E me faz caminhar,
Sem desanimar,
Rumo a tua fonte.

Senhor,
Dai-me desta água viva,
Que me faz sair,
E aos outros anunciar,
Sempre proclamar,
Tuas maravilhas.

Senhor,
Dai-me desta água viva,
Que me preenche,
Muda minha vida,
Amor sem medida,
Além do meu chão.

Esta água viva,
Quero sempre buscar,
Para purificação,
E a comunhão,
Que me dá sentido,
Sempre encontrar.

Esta água viva,
É tua Palavra eterna,
Que gera alimento,
E nos dá o sustento,
Para ir ao mundo,
Numa atitude fraterna.

HOMILIA

 Busquemos a fonte Viva e Eterna

Quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14).

Neste 3º Domingo da Quaresma o evangelista João nos apresenta Jesus em plena luz do dia, marcado pelo sol escaldante da Galileia, a beira do poço de Jacó. Cansado fisicamente da caminhada de peregrino, vai ao poço e aí acontece um encontro com uma mulher samaritana que, com certeza, sempre ia para aquele poço buscar água.

Aquela mulher viverá uma experiência de encontro, nunca esperada, pois, aquele meio dia, não foi comum como os outros. Algo mudou a sua vida completamente. Ela era de um grupo de pessoas descriminadas pelos judeus e, por isso, nunca esperaria um encontro com um mestre de Israel, um profeta, tão próximo, que lhe ouvisse e até ousasse pedir-lhe água para beber.

Para os discípulos também foi uma surpresa, porque, ao chegarem junto a Jesus, não entendem aquela conversa (cf. Jo 4,27). A aproximação de Jesus e o diálogo dele com a samaritana apresentam a ação de Deus que vem ao encontro das pessoas para oferecer a sua vida. Ele é a fonte de água viva e infinita, que sacia a sede de todos os que o buscam e o encontram.

A presença de Jesus junto àquela mulher mudou o jeito dela enxergar o seu caminho, de conceber a presença de Deus na sua vida, de buscar os anseios mais profundos da sua alma, pois, agora Deus se coloca no mesmo nível dela para poder se comunicar com ela e oferecer-lhe o sentido verdadeiro da vida.

Alimentada com o encontro e a experiência junto a Jesus, convencida da chegado do Messias ao mundo, a samaritana tornar-se missionária e vai anunciar. Imediatamente foi à sua cidade comunicar o encontro mais importante e mais marcante da sua existência, e de tão convicta que estava daquela realidade, fez o povo também ir a Jesus (cf. Jo 4,30;40-42).

A ação de Jesus em oferecer a verdadeira água para os samaritanos, nos lembra o povo no deserto, quando falta a água, reclama da sede, e, diante de Moisés, murmura chegando a duvidar de Deus (cf. Ex 17,7). Da rocha firme Deus faz brotar a água para saciar a sede do povo (cf. Ex 17,6). Moisés é o intercessor do povo, que o escuta e dirige a Deus em oração a sua súplica a favor do povo para solucionar os problemas que vão surgindo na caminhada pelo deserto.

Também a samaritana foi à ponte entre o seu grupo e Jesus. Foi por causa do seu anúncio sobre o Senhor que muitos correram ao encontro de Jesus, para matar a sede de amor e superar os tantos vazios e discriminações sofridas por parte dos doutores da lei e fariseus.

Jesus é a nossa fonte de água viva e eterna, na caminhada do deserto de nossa vida, quando muitas vezes sentimo-nos cansados, com sede e pouca força para continuar. Nele encontramos a esperança e a salvação e com ele anunciamos o Reino de Deus.

Pela água somos inseridos no novo povo de Deus através do Batismo, por ela somos purificados do pecado original e nelas somos mergulhados para nascermos de novo e desta vez para a eternidade. O Senhor é a fonte verdadeira que sacia a nossa sede existencial. O Batismo nos dá a dignidade de sermos filhos de Deus e de caminharmos com ele na nossa missão de falar para os outros do encontro que fizemos através da escuta da sua Palavra e do saciar-se do seu corpo e sangue.

Marcados pelo encontro com o Senhor, somos motivados a falar para os irmãos e irmãs como falou São Paulo aos Romanos: “E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rm 5,5).

Portanto, nesta quaresma somos convidados a meditar sobre a nossa experiência de conversão a que fomos chamados na quarta-feira de cinzas. Fomos chamados a vivermos o jejum, a oração e a esmola, como gestos e práticas que nos preparam para a Páscoa.

Os cristãos são chamados a deixar resplandecer, em suas atitudes, o rosto amável de Cristo junto aos irmãos necessitados. Àqueles que precisam não somente de pão material, mas também são carentes da água viva que dá sentido e força ao existir de todos que peregrinam neste mundo.

Rezemos por todos os cristãos para que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo e, sobretudo, pelos que fizeram uma experiência de encontro recente com ele para que perseverem no seu caminhar com o Senhor e que rezem sempre como o salmo 94(95): “Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva! Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos!” Amém.

II DOMINGO DA QUARESMA – Ano A

Leituras: Gn 12,1-4; Sl 32(33); 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9

POESIA

É BOM FICARMOS AQUI

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença santa de tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a caminhada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Saírmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

HOMILIA

 Da transfiguração à missão

Irmãos e irmãs, neste 2º Domingo da quaresma, o evangelista Mateus nos convida a subirmos a montanha com Pedro, Tiago e João e contemplarmos o rosto transfigurado de Jesus que, como o sol, ilumina todo homem fazendo resplandecer toda a beleza infinita. As roupas brancas como a luz, nos apresentam a santidade e a pureza do filho muito amado do Pai que também nos envolve com seu amor e nos faz santos como o Pai do Céu é santo.

A montanha é lugar do encontro com Deus, mas é também o lugar onde Jesus foi tentado, como nos apresentou a liturgia do 1º domingo da quaresma. Diante da transfiguração de Jesus, Pedro foi tentado a se acomodar e ficar somente na glória e não se envolver com a missão após a descida do monte (cf. Mt 17,4). Neste sentido, Deus Pai intervém apresentando o Filho e pedindo que o escutem (cf. Mt 17,5). É preciso viver o discipulado orientado pela Palavra de Jesus.

Há, ainda, a presença de Moisés e Elias na cena apresentada por Mateus. Eles representam a Lei e os profetas para nos afirmar que em Jesus a Lei é cumprida plenamente porque ele é o novo Moisés, aquele que conduz o novo povo de Deus. Em Jesus também está a profecia, o anúncio da justiça e da fraternidade, por que a Palavra de Deus agora se encarnou no meio dos homens, fala conosco como amigo.

Os discípulos se deliciam com a experiência mística da transfiguração e querem ficar lá, com tendas armadas para cada um. Isso confirma a vontade humana de ficarmos sempre num ambiente de conforto. São Leão Magno nos fala que a principal finalidade da transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo[1].

Apesar de que todos nós precisamos ficar um pouco usufruindo o bem-estar com a família, com os amigos, precisamos parar um pouco para nos abastecer no aconchego da nossa casa, saborear espiritualmente da maravilhosa e edificante força e encontro com a Eucaristia. Sempre precisamos louvar e buscar a alegria que preenche o nosso coração. Queríamos uma vida sem desafios, sem dor e sem problemas, mas não é possível neste mundo.

Precisamos nos levantar como o Senhor pediu aos seus discípulos, seguir em frente. Faz-se necessário descer o monte da transfiguração, para que iluminados e fortalecidos pela luz do Senhor continuemos caminhando, para prosseguir com Cristo e anunciar o Reino de Deus com o nosso testemunho e nossa perseverança.

Muitas vezes, faz-se necessário sairmos do nosso lugar de mesmice, cômodo, da nossa segurança material e bem-estar pessoal, como fez Abraão, que deixa sua terra e se abre a uma nova experiência de acordo com o que Deus chamou e, ao mesmo tempo, enviou. E a experiência de caminhar com Jesus na transfiguração e na missão é sempre feita junto aos irmãos, e nunca isolada. Devemos ficar atentos à voz do Pai que nos pede para ouvir o seu filho muito amado, para viver o seu Reino de justiça e de amor.

A quaresma é este tempo de rezarmos, silenciarmos, fazer penitência e buscar nos aperfeiçoar cada vez mais na nossa vivência cristã através do sacramento da confissão. Tempo de nos purificar dos apelos que nos tiram do caminho, nos deixando acomodados e preguiçosos. Devemos caminhar com Jesus e respondermos ao seu chamado, saindo de uma postura de refúgio para uma caminhada de entrega, a serviço da vida, numa postura ativa e olhos abertos às realidades do mundo.

Somos chamados a uma vocação santa, diz São Paulo (cf. 2Tm 1,8). Essa vocação vem de Cristo que, gratuitamente, nos chama, não pelo nosso merecimento, mas pela graça divina. Neste sentido, nós cristãos, discípulos de hoje, devemos agir como Abraão, quando deixou sua terra para responder ao projeto Deus. Como os discípulos de Jesus, que após a ressurreição saem pelo mundo anunciando a salvação a todo o mundo.

Deixemos que o Espírito Santo venha nos guiar com sua luz e nos faça obedientes ao que Deus Pai nos pede: Escutar o Filho. Que nas nossas subidas e descidas às montanhas de nossa existência possamos estar acompanhados de Cristo e de sua Palavra. E a nossa oração seja sempre voltada ao seguimento fiel de Cristo que nos chama a realizarmos nossa missão a favor de seu Reino de Amor e Paz.

[1]Dos sermões de São Leão Magno, Liturgia da Hora II, 2º Domingo da Quaresma.

I DOMINGO DA QUARESMA, Ano A

Leituras: Gn 2,7-9;3,1-7; Sl 50(51); Rm 5,12-19; Mt 4,1-11

POESIA

VENCER AS TENTAÇÕES COM CRISTO

Contigo, Senhor,
Sou vencedor,
Contra o tentador,
Que me faz escravo
Das suas falsidades,
Atrocidades,
Contrárias ao amor.

Em ti, Senhor,
Sou firme e forte,
Venço também a morte,
Que me traz as trevas,
Deixando-me perdido,
Como se fosse vencido,
Longe da tua sorte.

Por ti, Senhor,
Vou me entregando,
Sempre caminhando,
Rumo à vitória,
Meta dos teus seguidores,
Dos evangelizadores,
E o reino anunciando.

Para ti, Senhor,
Toda gratidão,
Nada é em vão,
Vamos sempre vencendo,
Vencemos o pecado,
O mal derrotado,
Em ti, novo Adão.

Contigo seguimos, Senhor,
Na fraternidade,
Sendo caridade,
Pelo mundo a fora,
Vivendo a oração,
Sendo comunhão,
Via da santidade.

HOMILIA

 Cristo nos ensina a vencer as tentações

A liturgia deste 1º domingo da quaresma nos apresenta através do Evangelista Mateus Jesus após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito ao deserto para enfrentar as tentações do diabo. Jesus sendo Deus não necessitaria ser tentado, mas foi tentado exatamente para nos ensinar como vencermos as tentações que encontramos no deserto de nossa existência. Diz Santo Agostinho: “O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”[1].

Na tentação dos nossos primeiros pais (Adão e Eva) percebemos a fraqueza e a desobediência. Diante dos resultados desta atitude, o casal se percebe na nudez de sua realidade humana. A nudez da qual narra o Gêneses é exatamente a descoberta de que não podemos nada sem Deus e que não podemos ser como Ele, pois somos suas criaturas e já carregamos algo muito precioso: a sua imagem e semelhança.

Meditando na liturgia da palavra deste 1º domingo da quaresma, aprendamos o que o Senhor nos ensina sobre as tentações que ele viveu antes de se entregar à sua missão salvífica.

A primeira tentação acontece no deserto após os quarenta dias de jejum, quando Jesus sente fome. “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” (Mt, 4, 30). Jesus nos ensina a vencermos esta tentação do ter. Esta tentação a qual nos leva a pensarmos que tudo se refere ao dado material e aos nossos próprios desejos e interesses. Sempre caímos na motivação diabólica de resolvermos as situações do mundo a partir de nossa autossuficiência. Esquecemos que não é somente dos bens materiais de consumo, do acúmulo e de nossos interesses, que vivemos, mas da Palavra proclamada por Deus nas Sagradas Escrituras (Mt 4,4).

A segunda tentação ocorre no templo. Jesus é tentado a se apresentar glorioso e inclinar-se ao triunfalismo e ao prestígio. A nossa vivência religiosa na Igreja não deve ser motivo de prestígio e de fama. Somos, às vezes, tentados a vivermos uma religião de refúgio e segurança individualista e também de status social. Faz-se necessário vivermos um cristianismo em virtude da justiça e do bem a favor dos outros. O Senhor nos ensina: “Não tentarás o Senhor teu Deus!”’ (Mt 4,7). Não podemos provocar Deus a fazer a nossa vontade em favor das nossas seguranças egoístas e do nosso prestígio.

A última tentação é a do poder. Jesus é levado a uma alta montanha onde se visualiza todos os reinos poderosos do mundo. Diz o diabo: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.” (Mt 4,9). Os reinos de satanás são governados pelo poder opressor, pelas maldades, mentiras, falsidade e corrupções.

Jesus nos ensina que não podemos nos dobrar às motivações diabólicas do poder que mata, que divide as pessoas e promovem as guerras. A tentação do lucro e do domínio por parte de muitos, crucifica os pobres e vulneráveis com práticas criminosas. Nós cristãos precisamos entender que o poder de Jesus está no amor e na entrega à cruz para a salvação do mundo. Porque somente a adoração e o culto ao Deus verdadeiro dignifica de verdade a vida das pessoas e traz a verdadeira paz.

Eis um dos ensinamentos desta liturgia: aprendermos a vencer as tentações, superar aquilo que é pecado em nós e que nos incomoda e que muitas vezes nos induz a adorarmos os ídolos deste mundo. Deixar de buscarmos as soluções de forma mágica com alicerces nas ilusões da vida terrena. Em Cristo e com Cristo, aprendemos e também vencemos as tentações da vaidade e dos prestígios que nos levam ao orgulho e a uma postura soberba contra os irmãos.

Joguemos fora a nossa prepotência de querermos conduzir nossa existência fundamenta somente sobre nossas pobres ideias e opiniões pessoais. A razão de nossa vida é Cristo, o novo Adão, Aquele que no deserto, lugar onde Israel foi tentado, venceu o diabo e nos ensinou também a vencê-lo. Deu-nos a vida verdadeira e nos renovou em seu amor. Quis ser alimento para nós e nos orienta com a Palavra viva em nosso peregrinar terrestre.

Peçamos perdão pelas vezes que nos deixamos vencer pelas tentações, às quais passaram por Jesus e que ainda hoje invadem a nossa vida material e espiritual. Que a luz do Espírito nos ilumine e nos encha de força para vencermos as tantas tentações que encontramos a cada dia. Que o nosso jejum, a nossa oração e a nossa esmola nos transformem em pessoas cada vez mais parecidas com Cristo nas atitudes e nas palavras. Amém.

[1] Dos comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo. Liturgia das Horas, 1º Domingo da Quaresma.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Leituras: Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18

POESIA

CAMINHOS QUE LEVAM A DEUS

Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Sendo caridade,
Na simplicidade.

Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.

Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor.

Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.

Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto.

Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.

Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado.

Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.

HOMILIA

 Cinzas, Esmola, Oração e Jejum

Caminhando com o Senhor entramos no Ciclo Pascal que traz inicialmente a Quaresma como tempo de preparação para a festa mais importante do ano litúrgico. A Páscoa do Senhor é, portanto, o centro da caminhada litúrgica anual.

Nesta quarta-feira de cinzas somos chamados a iniciar um itinerário espiritual tendo como base a esmola, a oração e o jejum. Já iniciamos esta caminhada recebendo em nossas cabeças as cinzas numa atitude de simplicidade e de reconhecimento da nossa fragilidade humana e de corpo perecível que necessita da vida infinita em Cristo Senhor.

É nesta esperança e fé na vida nova que começamos vivendo este tempo de penitência aos pés do Senhor. Com Ele queremos caminhar passando pelo calvário, pela Cruz e acordar na manhã da ressurreição com um coração renovado e alegre, para cantar o aleluia vibrante e cheio de convicção no ressuscitado.

O Evangelista Mateus nos apresenta Jesus orientando os seus discípulos para terem cuidado com as ações de justiças diante das pessoas somente para serem vistos exteriormente. Há algo que deve brotar do coração para que seja agradável a Deus. Por isso a prática da esmola, da oração e do jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltado para Deus, mesmo que ninguém veja.

A nossa esmola deve ser feita não para ser divulgada, mas no sentido da caridade para com os irmãos. Muitas vezes a nossa presença com o acolhimento e a misericórdia é concretização da esmola que o Senhor nos pede a realizar.

Nossa prática de oração deve ser mais interior e com um coração que leve os nossos ouvidos estarem mais atentos às súplicas dos outros. Estando nesta postura podemos também ouvir Deus que fala na nossa vida e nos pede que vivamos o amor entre os irmãos.

E o jejum não deve estar apenas dentro do nosso intimismo, mas na intensão e sensibilidade aos que têm fome. Como é belo e pleno de sentido os tantos cristãos que deixam de consumir certas coisas e depois oferecem o que juntou com as abstinências aos que necessitam de ajuda.

O importante é que toda esta prática espiritual tenha como fruto a nossa conversão para a santidade, onde reavaliamos nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade, na oração e no jejum. Esta experiência deve nos ajudar a ser melhores pais de família, melhores filhos, melhores evangelizadores a serviço do Reino.

Todo esse caminho exige de cada um, o esforço e luta contra as tentações materiais e espirituais. É importante estarmos conscientes que temos de sair do comodismo ou da zona de conforto para realizar este exercício de santidade.

Lembremos do que diz o profeta Joel: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. O Apóstolo Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho de santidade para a conversão do mundo.

Peçamos ao Espírito Santo a perseverança para que possamos seguir em frente com os nossos propósitos quaresmais e que ao chegarmos à páscoa tenhamos vencidos as tentações e então possamos dizer: agora sou um cristão melhor e quero continuar nesta busca constante de cada dia, ser mais santo e mais comprometido com o Evangelho. Amém.